segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

A História da Minha Vida - Fragmento 8 - Felipe Amaral

Fragmento 8
 

    Quando penso nos olhos dela a fitarem-me em fins de tarde... Quando me pego a perguntar por que ela partira para tão distante... Quando escrevo... Mas ela não está mais ao lado meu. Os poemas não têm a mesma essência. E todos nós sofremos mesmo com a distância em algum momento da vida. Se uma garota que alimentava a minha atração, tempos atrás, fora embora, decerto alguém já partiu da sua vida também, querido (a) leitor (a). Estamos todos sujeitos a coisas parecidas. E deve ser por isso que tudo parece tão clichê. Cartas de amor. Canções preferidas. Buquês. Juras. A pureza esvai-se a cada frase dita. Tudo, o mesmo.
    Contudo, todos querem ver-se novamente tomados pelos sentimentos passionais. Aspiram a isso. Vivem por isso. Já parou para perguntar-se por que tanto esforço para crescer na vida? Tudo, o mesmo. Crescer pode fazer-te atraente. É isso! Por que tantas festas? Por que tantas roupas? Por que tamanha opulência? É o mundo resumindo-se à busca do enlevo passional. Mas, não se iluda, não é amor.
    Fui à casa de um conhecido, faz algum tempo. Havia garotas lindas lá. Para enamorar-se não precisaria fazer muito esforço. Mas atrair-se por pura estética é tão banal. Leviano. Fútil. Não que eu não preze a beleza. Ela me leva ao êxtase. Porém a vida não se resume só à busca do belo corpo, belo rosto, bela voz, bel-prazer... A vida é mais. Não sou purista ou coisa parecida. Também não sou nenhum abestalhado que fica querendo aconselhar todo o mundo. Não sou nada. Nem quero ser. Pouco importa! Não digo que se apegar só à beleza é trivial por querer ser "certinho". Digo-o porque essa busca é vã mesmo! Há só reflexos de perfeição. E a perfeição glorifica a Deus. Mas, agora, achar que tudo tem que estar disposto conforme está em filmes, é querer demais, buscar demais, atoleimar-se. "Acorda desse sonho americano!"
    É só com o pouco que vivemos. Só com o pouco. Pouco a pouco vai-se perdendo a vida. Tudo muda. Fica muda toda a jactância diante da passagem do tempo. As luzes apagam-se. Os holofotes. Não há mais cena. O proscênio fechou-se. Não há mais coxia. Os artistas adormeceram. Melhor é saber antes que ocorra.
    ... eu rindo diante da TV. A novela que vende o impossível. O roteiro?! Uma droga! Se fosse por estética, deveríamos só assistir a novelas durante toda a nossa efêmera vida. Tudo tão plastificado. A fábrica dos traços corpóreos perfeitos... Mas, não se iluda, ainda não se vê nada de amor.
    Ontem à noite falava sobre um livro que pegara na biblioteca de uma escola próxima à minha casa. Vinicius de Moraes. "Livro de Sonetos". E, de madrugada, a falta da realidade afligia-me a alma. Achei-me inebriado demais com aquelas belas rimas. Só rimas. Não realidade. Pressinto calafrios. E as estrelas sempre me aguardam lá fora. Talvez engulam meus mais novos sonhos.
... e logo eu que não gosto de chorar.

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