sábado, 26 de março de 2016

Sonetos Polimétricos - por Felipe Amaral


Sonetos Polimétricos
por Felipe Amaral
1
Olhar para as fúlgidas estrelas no ar.
Ver o cosmos por olhos de diamante transparente.
Naufragar no mar das palavras e não tornar
À casa onde vivi como mísero indigente.

Capaz de dialogar com um mundo corpuscular.
Tragar o vento que corre nas veias da vertente
Dos mares urbanos da urbe à beira-mar.
Um boêmio a cantar sua balada plangente.

Zeloso das ideias aurorais que me sobejam,
Desprender-me das realidades que me almejam
Sobre o chão sepulcral da necrópole fria.

Vencer a limitação que me prende a alma.
Elucidar as dúvidas vis que me tiram a calma.
E mergulhar na eternidade da filosofia.
2
Quero ver-me em explosiva inspiração.
Acionar o gatilho mental do infindo.
Brincar com as palavras da lépida canção
E achar um Novo Mundo novo e lindo.

Deitar sobre o colchão de estrelas da constelação
Que me brinda com a janela, sobrevindo
A mim “descabida” e colossal insuflação
Que me leve a conceber o Todo se exaurindo.

Que se esgote todo o léxico gigantesco
Que abriga de ideias aquele mais dantesco
Monstro draconiano que a mitologia imaginou.

Que se esgote o mar. Sequem fontes eternais.
Que eu cante tudo o que houver em madrigais
Que se estendam por céus que o ser jamais perscrutou.
3
Dançar sobre a lauda e golpear o vento,
Obtendo dele os termos certos que preciso.
Buscar e sempre achar a todo momento
O que procuro entre tudo o que diviso.

Meu barco que navega e voa lento
Pelo céu de azul do mar vasto que eternizo
Nas frases que da pena saco no alumbramento
Que me chega à mente quando o mentalizo.

Clamor ouvido e golpes de certeza alva e vestal
Que alcança os ares mais etéreos da caudal
Da perpetuidade nunca antes descritível.

Minha pena a ganhar os céus em cintilância.
O mistério da acuidade sacra da fragrância.
E o doce arfar da infinitude inatingível.
4
O inexcrutável sendo descortinado
Pela mão da mente audaz que o reverencia.
A boca a descrever o não denominado
Nome do “sem-fim” que vislumbra a astronomia.

As galáxias na palma de minha mão, ao lado
De grãos de areia que a brisa distancia.
O segredo desvendado, o arcano em brado
De lábio deblaterante que tudo contagia.

Nada enorme demais para ser descrito.
Nada tão grande que não possa ser proscrito
Para a terra do mundo subatômico.

Leito em que descansa a suprema inteligência.
Conhecimento infindo que a experiência
Galgou após um vivenciar randômico.
5
Lápide que demarca a terra da jazente
Finitude da mente de um louco racional.
Epitáfio que registra docemente
A morte do findo que prendia a luz mental.

Tudo sendo posto, em realce, bem à frente
Dos olhos que fitam o infinitesimal.
Poema que narra a luta de um ser valente
Contra o limite que o chão lhe impôs por ser mortal.

Enfim, o prêmio galardoado pelos céus
Para o intelecto que esquadrinha ebúrneos véus
De rutilâncias “primais” intermináveis.

Sonhos que se deleitam no respirar constante.
Devaneio que vence. E a ilusão diletante
Que se sustenta dos ganhos das visões inexplicáveis.


Claridades de efusivo refulgir de vivo gozo - por Felipe Amaral



Claridades de efusivo refulgir de vivo gozo
por Felipe Amaral

Caminhava em desmedida carreira e o globo,
A fitar a luz da existência que almejava,
Abria-se todo para reter, em vívido “afobo” (^),
O menor raio do alvor que já brilhava.
Prazer em plectro de poesia celestial.
Anjos que cantam o doce das melodias brancas.
O visceral sentimento súbito e transcendental
Que revigora os sonhos e as opiniões mais francas.
Vida que goza a claridade eterna
Num bulício de ímpeto brusco e sobre-humano.
Claros veios de sóis sem o calor-caserna
Que incendeiam a alma do frígido ardor palaciano.
Passos à procura do fúlgido e são matiz
Das formas alvi-sidéreas da felicidade.
Anos de busca. Calmas horas de expectativa feliz
Invadindo o riso dos lábios da eternidade.
Meses de um incentivo ainda mais clari-luzente
Voltado para os oníricos dons da fantasia
Que se mostra real ante um cintilar patente
De lírios que infestam o descampar da serrania.
Amor em haustos de princesa loira.
Miscibilidade dos néctares do luar.
Inflorescência espiritual que doira
O arcano do amor puro que orna os umbrais do lar.
Mares de água cândida e límpido prodígio
De quimeras que se fazem valer dentro do eu,
Iluminando a atmosfera interna, sem litígio,
Clarificando o espírito e alçando a alma ao apogeu.
Clímax da trama vital de existir nivoso
Na brancura da clâmide láctea do riso.
Hora tranquila das manifestações do gozo.
Brisa prazenteira que penteia os cabelos de Narciso.
Longa jornada do enlevo que anima o peito.
Nascer de faustos em ávidas celebrações.
O alvor das primaveras nos campos em que me deito
Para fazer repousar devaneios e paixões.
O enamorar sem dor, sem hora de partida.
Um céu em flor. Um rio de brancas flores raras.
Alumbramento sem ilusões na vida.
Doce milagre que reaviva emoções já claras.
Embevecimento de proporções sem conta
No coração das intenções do gozo
Fazendo pulsar rios de desejo em monta
Descomunal que liberta um mar já caudaloso.
Inspirações sobrenaturais que bailam à roda
Dos pensamentos poéticos da criatividade.
Loucuras sãs da mente universal à moda
De bardos alados sobre nuvens de perpetuidade.
Danças de frêmitos audazes de prazer
Sempiterno que exala o néctar da ambrosia
Que fortalece o poeta em seu fazer
De santo artista que em rimas se extasia.
Estremecimentos de origem não contada
Que logram o êxito de tornar viçosa
A vida da célere nota executada
Pela “corda” vocal da boca mais jocosa.

sexta-feira, 18 de março de 2016

Crônicas Fantasmais I -VII - Felipe Amaral


Crônicas Fantasmais I
(O caso da casa esquerda)
por Felipe Amaral

Minha vizinha, do lado esquerdo do meu recinto, acordou, por volta das 2 da madrugada de ontem, e se deparou com um espectro - daqueles fumacentos! Sabe? - sentado numa das cadeiras de balanço da sala de TV. A princípio, considerou ainda estar meio sonolenta, mas quando esfregou os olhos, sem cabaceios ou tosquenejos, defrontou-se, mais uma vez, com a imagem fantasmal reclinada na SUA CADEIRA AMADA de balanço. O que fazer? Gritar? Não é polido. Resolveu chamar a polícia, que lhe asseverou, de pronto, que não dispunha de repartição específica para casos assim, então, recomendou-me. Eu fui à casa da senhora, depois de ouvir tocar o meu celular (que sempre fica desligado! Bendita hora, hein?! Mas era para fazer uma cortesia. Perdoem-me os anjos por terem que ouvir tamanha murmuração). Tentei encetar um papo com o danado do espírito, mas vi-me em palcos de aranha (mesmo! A casa estava precisando de uma limpeza! Brincaderiiiiinha! Só força de expressão mesmo), o mesmo não estava para conversa. Também! Não sei como podê-lo-ia entender. Acho que lhe faltavam todos os dentes da boca (da freente! Façamos jus. A que ele tinha detrás do crânio tinha todos os dentes bem alinhadinhos e bem tratados. Fiquei até com vontade de perguntar qual dentista era o dele, mas acabei esquecendo de inquiri-lo acerca disso. Também! Diante de um fato daqueles!... Quem é que não olvida as coisas?!). Brincadeiras à parte, o caso é que a gente entrou num acordo (imagine! Ela – a assombração – tinha ficado obcecada pela cadeira! A vizinha nem hesitou. Mandou levar). Passado o acordo, eu tornei para casa. Coisa mais pitoresca nunca se viu... Quero dizer... Beeem... Deixa-me ver... Assim mesmo, não. Mas, de vez enquanto, eu sou chamado para socorrer velhinhas indefesas de assombrações não tão velhas. Em todo caso, chamem a polícia mesmo. Falou.

Crônicas Fantasmais II
(O grito à meia-noite)
por Felipe Amaral

Desta vez foi com a vizinha da frente. Ouvi gritos de espanto terríveis. Corri, fui acudir a senhora amiga. Quando cheguei, ela estava sobressaltada. Falava-me muito rápido (impressiona, por que, quase sempre, ninguém consegue falar “é” nada!). Eu quis entender. Esforcei-me, mas acabei por me contentar em só ouvi-la. No mais, findei ficando por ali um tempo, esperando a coitada acalmar-se. Apareceram outras pessoas. Pessoas curiosas. Ninguém ainda conseguia saber nada de certo. Talvez algum finado com assuntos para resolver. Algum extraterrestre querendo abduzi-la. Algum Homem das Sombras. Alguma coisa, por certo, só que não nos era dado saber. Na verdade, coisas desencontradas até que dava para se ouvir. De certo, daquelas coisas que seria necessário um detetive para desvendar o que quer que fosse e quisesse passar de significativo. Certo é, quando tudo se acalmou, ela apontou para a cozinha e – acredite! - ainda estava lá a danada (da alma? Não!) da barata. Mas era de perdoar-se todo o incômodo causado, visto ser aquela barata assombrosa mesmo. Peguei a chinela e “taquei” na danada. Nunca mais ouvi gritos (pelo menos vindos daquela casa!) à noite. Ufa! Deixa-me tornar a dormir. Tchau.



Crônicas Fantasmais III
(O tataravô do velho)
por Felipe Amaral

Doutra vez, fui levado (desta vez, no fim da tarde de um sábado) até à casa de um senhor que dizia comunicar-se, constantemente, com um outro senhor que julgar ser (ou ter sido, em vida) seu tataravô. Mas, como ele o reconhecera, era que era difícil de saber-se. Talvez de vidas passadas... Não! Talvez só mesmo de fotos “passadas”. Nada tão ruim de acreditar-se. Tem gente que é avô bem cedo. Não vê Raí da seleção brasileira! Então... Mais simples, impossível. Fato é que o amigo que me conduzira à morada do ancião (na verdade, nem tão ANCIÃÃÃO assim. Deveria ter seus 47 para 50 anos). Fui falar com ele (com ele só! A alma apareceu de penetra!) e um espírito interpôs nós dois ali, já no início do papo. O que eu queria era saber sobre males que diziam que tal vulto estava causando ao senhor tão comunicável. E, sendo que a ocasião era aquela, aproveitei para perguntar logo ao fantasma ofensor por que estava tratando seu suposto tataraneto daquela forma. O espírito tergiversou, rodou pra lá, pra cá e acabou concordando que tinha uma mania de fazer coisas sem pensar. Perguntei, então, desde quando aquilo acontecia. Ele deitou-se num sofá e, eu, como um psicanalista, comecei-o a ouvir. Disse-lhe: “Conte-me da sua infância”. “Preciso analisá-lo”. E ele: “Nos idos de mil e oitocentos, se me recordo bem, recebi uma pancada muito forte na cabeça, mas jamais passou pela mesma cabeça que isso afetaria até minha alma! Caso é que, agora, tenho lapsos e faço coisas desconexas”. E eu, de novo: “Vossa Senhoria deu-se sempre bem com o seu suposto tataraneto?” Respondeu-me: “Na verdade, só o vim a conhecer depois de morto e, como trago muito embaraço na mente depois da tal pancada na cabeça, nem sei ao certo se sou mesmo tataravô dele. Acho que só queria alguém com quem conversar”. Eu conversei com aquele fantasma por alguns minutos, mas, como não saberia receitá-lo nada que se venda (se é que se vende!) de remédio no mundo do Além, decidi por apresentá-lo a uma alma que conheci, tempos atrás, lá perto da minha casa. Era uma alma de um psiquiatra. Ela poderia tratá-lo melhor que eu. Dando-se assim o desenlace da “novela” toda, o senhor, suposto tataraneto, nunca mais teve o prazer (isso é, se tinha algum!) de conversar com aquele espírito, que o mesmo, depois de ter se tratado com a alma psiquiatra lá de perto de casa, não tornou mais a visitá-lo. Quando o vejo – confesso – enxergo uma certa solidão no seu olhar. Acho que ele “obrigara” “de boa vontade” a si mesmo a acreditar que fosse a aparição seu tataravô. Acho que, após a saída, em revoada, de todos os seus filhos de casa e a morte de sua esposa amada, ele se entregara a ideia de que deveria procurar alguém com quem papear, nem que esse alguém fosse um habitante do Além. Bem. Eu passo, de vez enquanto, para revê-lo. Conversamos por alguns minutos e eu sempre parto fazendo-lhe promessas de que irei aparecer noutro dia próximo. E ele: “Venha mesmo!” Aí, eu sempre “apareço”, mas, parece-me, que até fora do corpo (isso, a julgar pelo número de visitas que ele anda computando). Daí, termino me perguntando: “Né possível que algum vulto engraçadinho esteja se passando por mim só para 'pregar uma peça' no pobre senhor”. Mas, no fim das contas, acho que é melhor assim. Ando tão atarefado ultimamente, que um substituto não seria de todo negativo nestas horas.

Crônicas Fantasmais IV
(Sempre ligue a TV antes de dormir)
por Felipe Amaral

Liguei a TV de casa e tomei um susto. Vi um vizinho meu pedindo “ajuda com” a lâmpada do banheiro que estava queimada. Abri a porta e fui lá ver. Essas coisas paranormais costumam acontecer comigo. Sou avisado de todo imbróglio que haja ou que, por ventura, desfrute potencial de ocorrer. Às pressas, forcei a porta dele. Vendo-a fechada, bati com pancadas rápidas repetidas. Graças a Deus, ele deixou tudo o que estava fazendo (e que eu sabia muito bem o que era e no que poderia dar) e foi atender a porta. Era eu. Ele disse ter pensado mesmo na minha pessoa como um possível ajudante naquela tarefa temerária que estava por iniciar ali. Quando eu entrei no banheiro, estava o troço todo (as ligações perto do soquete da luz) soltando uma faíscas e, por incrível que possa parecer, o disjuntor teimava em não se desligar, como é de praxe. O cara iria tomar um mega choque. Feliz se não morresse! Por essas e outras é que, sempre, antes de dormir, eu ligo a televisão para ver o que está passando. Isso vale um “Ufa!”, de novo. Fui!

Crônicas Fantasmais V
(Pálido Rosto e O Estranho Ser)
por Felipe Amaral

Manhã de 15 de outubro de 1999 (preciso a data pelo que me causou), acordei aflito. Parecia que algo me levaria a ainda mais mais aflições naquele dia. Escovei os dentes. Lavei o rosto. E, ao arrumar o cabelo, dei com o espelho em vermelho-sangue. Tornei novamente a mim. Saí à rua e olhei o céu (de manhãzinha, sempre nublado por aqueles tempos). E eis que lá estava, suspenso no ar, um como semelhante a um anjo, mas de aparência estranha. Fitei-o, “agora”, sem medo. Não sei bem o que se dava comigo que não saí correndo. Fiquei ali. Ninguém acordou. Parecia estar em outra dimensão. Dimensão de sonolentos. Sem curiosos... Estranho! “Ao menos um cinegrafista amador” - pensava; e nada. Estava eu sozinho e sozinho a encarar aquele ser de feições esquisitas. Não havia em mim poder para ir à casa buscar minha máquina digital para, à pressa, registrar o fato. Alguma “distorção”, por certo. Por certo, algum fenômeno que só faz-se objeto de pesquisa para a parapsicologia. Meia hora e ninguém saindo à porta. Cinquenta minutos, e nada. Tornei à casa logo quando pude movimentar-me. Tornei ao lar sobressaltado. Na verdade, não entendia bem o que sentia. Uma mescla. Uma mistura de sentimentos inexplicáveis. Olhei o espelho e vi...vi...vi...*
....
....
....

*meu pálido rosto.

Crônicas Fantasmais VI
(As paredes não só têm ouvidos...)
por Felipe Amaral

A caminho da casa do amigo Jefferson Messias, poeta zeloso e performático vivaz, senti que algo me seguia. Olhei atrás, nada. Estava em ilusões, por certo. Não havia nada a “que” temer. Como no caso das batidas na porta do Poe. Julgara ser o vento, “nada mais!”. Mas que, ao fim, brindou-lhe com a figura negra alada a suplicar-lhe abrigo. Só que eu, diferentemente do Edgar, não haveria de me deparar com nenhum corvo. Talvez coisa pior. Uma gralha? Um mocho? Uma serpente voadora? Vagueações apenas. Acho que estava em busca de histórias e, não as encontrando, pus na cabeça, que nem as paredes estivessem imotas. Todavia, estava certo. Eram as paredes! Paredes de esquina. De travessas. Vielas. Becos retorcidos. Não iria chegar se, daquela forma, continuasse. Pedi para que parassem. E continuavam. Seguindo-me. Paredes. Paredes apenas. Talvez o café tivesse me feito mal. Talvez a vitamina de banana da noite anterior. Corri. Queria chegar. Contar tudo. Pedir-lhe ajuda. As paredes perseguiam-me. “Malditos blocos de pedra que vos deram vida, seres abomináveis!” - gritei corrido. “Malditos ladrilhos!” “Malditos pedreiros feiticeiros!”. “Malditos! Malditos! Malditos!” Descansaria eu em choupana “messiânica”?... Quando cheguei, nem me dei conta. Era noite e lá estava eu, novamente arrodeado de paredes. Ocultei-o tudo. Ele não dormiria em paz. “As paredes têm ouvidos!” - rematei em meu perturbado pensamento. Não falarei “nunca mais!” - disse a mim mesmo. E ouvi, de uma mais próxima a mim: “nunca mais!”

Crônicas Fantasmais VII
(Acontecimentos Paralelos)
por Felipe Amaral

Frente ao cemitério poderia até ter tido aquilo que tive. Súbito suor. Suor frio. Noturno. Mas, frente... a um parque de diversões?!... Nunca! Jamais! Só que a vida prega-nos peças. Comecei a suspeitar de todos. Esquizofrênico nunca fui. Hipocondríaco, muito menos. Sempre mostrei-me alegre, mesmo em momentos desconfortáveis. Poderia ficar raivoso, mas tristonho, não. Se bem que as coisas andavam “de mudada” naqueles recentes dias. Torno ao caso. Detalhes costumam embaraçar-me. Certo é que, ali, frente ao parque. Luzes. Risos. Crianças aos montes. Sentia-me inseguro. Perscrutava tudo. Esquadrinhava cada pedaço de chão. Examinava cada canto. Não via nada, mas suspeitava ver. Desconfiava mais e mais. Havia algo a observar-me. E, de repente, uma mão no ombro. Era um amigo. Trouxera seus filhos para “andarem” no parquinho. Carrosséis. Rodas gigantes. E eu, ali, estagnado. O amigo começou a achar estranho o meu comportamento, mas a informação era sigilosa demais para eu partilhar com qualquer vivente. Encafifado em minhas ideias, pensei em deixar o lugar. Não pude. Isso sempre acontecia. Algo me prendia. Como quando dera de cara com aquele tipo de “anjo” no céu na manhã de 15 de outubro. Outra “distorção”? Talvez. Outra volta posterior à realidade? Não sabia. Eu só queria que aquilo parasse. Como no caso das “paredes perseguidoras”. Todos foram indo-se embora e eu ali... Todos indo-se... indo-se...indo-se... e... eu ali. Embasbacado. Ao desligar-se as luzes, pensei: “Estou ferrado. Vou passar a noite todinha aqui sem poder me mover. Pode um troço desses?!” Quando a última pessoa saiu, foi que eu pude contemplar o que me contemplava. Um senhor. Um aceno. Chamamento bobo. Meu pai. De uma outra dimensão. “Sai do carrinho, filho”- dizia ele. E eu vi quando eu mesmo, só que ainda criança, passei por mim, todo sorridente depois de ter “andado” nos carrinhos de batida. Mundos paralelos sempre me surpreendem. E é comum que ocorra isso. Continuamente o que aqui aconteceu ainda se passa, muito sutilmente diferente, em algum lugar. Mas onde? Esse é assunto para outro programa. Até breve, amiguinhos. 

Minhas Crônicas - Tudo o fazemos... por Felipe Amaral


Minhas Crônicas

Tudo o fazemos...
por Felipe Amaral

Tudo o que a gente faz é vão. A gente é que pensa ser útil. Quando me pego a escrever ou quando leio por horas a fio, vejo que o mundo lá fora não se interessa por essas coisas. Não importa como você ganhe dinheiro: ganhe! Você é o que você consegue. Se, como um suposto rei sem trono, você se mantém, pode não aguentar o desprezo no olhar de cada pessoa que passa. Uma ilusão é pensar que a inteligência (conhecimento, conexões cerebrais) alcançada nessas horas lendo irão redimir cada passo seu. Não se iluda! A vida é muito curta para se viver de ilusão. O povo quer ver dinheiro. Quer ver fama. Status. Não pense no melhor, quando o melhor para os demais (dominantes) é só uma conta gorda no banco. O quadro que a gente pinta da vida é constantemente manchado pelos comentários dos outros. Mesmo eu dizendo a mim, todos os dias, para não dar bola para tudo o que se diz de mim, não consigo suportar. Uma hora ou outra, acabo caindo no mesmo erro de dar atenção aos robôs do sistema. Mas alguém poderia me questionar quanto a essa expressão “robôs do sistema”. Poderia exclamar: “Temos que nos sustentar de alguma forma! Assim nos mantemos vivos! Talvez alguém te tenha mantido vivo até agora, sendo isso que você acabou de falar”. Bem. Eu sei que a vida é dura. Estou escrevendo e, muitas vezes, não atino para isso. Mas não posso simplesmente negar o que faço há anos e dizer “pare tudo!”. Posso até morrer pela causa. Talvez. Não penso que, ao fim, tudo irá dar errado. Sou cheio de defeitos. E o mundo aí também. Na verdade, nem sei por que o mundo questiona tanto meu jeito de encarar a vida se ele nem sabe mesmo o que é certo ou errado. Todos deveriam se manter em silêncio. Mas esse é o erro do mundo: falar. Rebaixam-me, mas eu continuo firme, seguindo. E o meu objetivo é nobre, apesar de eu não o ser (financeiramente) como exigem todos. Uma tia minha chamou-me de louco (meio que indiretamente). Disse que eu precisava me tratar. Um psiquiatra poderia me receitar algumas doses de “conforme-se ao sistema!”, sabe? Isso é o que todos dizem. Todos querem crescer em áreas diferentes, mas acabam por fazer sempre as mesmas coisas. Tudo bem. Há uns que querem mesmo fazer o estão fazendo. Outros se amoldam bem à ditadura. Claro que eu sempre penso que, no fim, o que querem de fato é fazerem o que estão fazendo, visto que não se dão valor o suficiente. Mas eu sei também que isso de não se darem valor pode soar contraditório. Visto que esse povo todo vive de querer me dizer o que devo fazer para crescer na vida. É que são incongruentes mesmo! Eles não podem admitir “é” que estejam sós nessa de se viver a vida como um robô. Se você é rebelde, eles te xingam. Vociferam. Deblateram. Não podem se conter diante do diferente. Eles querem te matar, se possível. Mas acabam por se conter de modo relutante, pois isso de matar seria incivilizado demais, mesmo para eles. Então estou eu aqui, seguindo minha vida. Não sei bem de nada, porém permaneço caminhando. Já faz bastante tempo que eu sigo por essa via. Não quero mudar. Estudo todos os dias. Leio mais do que aqueles que me criticam. Reflito sobre tudo. Dou asas à imaginação. Não sou um inútil que pensa que é útil. Paradoxal? Oximórico? Veja bem. Apesar de o começo deste texto começar dizendo que nada que fazemos é proveitoso, não quer dizer que não o quereremos fazê-lo. Acho que o fazendo permaneço no páreo. Parar é “jogar a toalha”. Na verdade, tudo, no fim, é vaidade, então por que me criticam ainda? Ora bolas!

quarta-feira, 16 de março de 2016

Sonetos Filosóficos II – Blocos de Causas por Felipe Amaral


Sonetos Filosóficos II – Blocos de Causas
por Felipe Amaral
1
Mesmo um simples defeito numa peça
De uma máquina gera, na verdade,
Sofrimento e cruel contrariedade,
Que o conserto requer paciência à beça.

O que gera o defeito, quando é essa
Uma peça de tal facilidade
Em lidar-se na funcionalidade
Do sistema, que é'o que nos interessa?

Fora o material ou o ambiente
Responsáveis pelo inconveniente
Do defeito se dar aqui e agora?

Ou será que a vil culpa só recai
Sobre o agente que a fez e, assim, atrai
Nosso olhar para o mesmo nesta hora?
2
Mas se dado vivente montou tudo
Como manda a ciência da montagem?
Talvez seja o fator da armazenagem
Ou transporte o motivo atroz e agudo...

Bem. O caso é complexo, pois o estudo
Requer mais que uma simples abordagem.
Que até átomos entram na triagem
Do que seja importante ao conteúdo.

Medições, medições e experimentos
São precisos, mas há casos, momentos
Em que a peça se expõe a outro clima.

Qual fator é primário neste bloco
De fatores que aqui exponho ao foco
Da questão, que é vital que assim se exprima?
3
Veja bem que um defeito gera em nós
Muita perda de tempo, irritação,
Muito gasto e, ademais, inquirição
Racional que nos pinta um quadro atroz.

Talvez antes de termos a feroz
Desmontagem e a cáustica missão
Do conserto, não déssemos à mão
Ao fluir em conflitos de alta voz.

Brigas sérias, questões insipientes,
Odiosas visões, iras presentes
Advindas de um ânimo abalado.

Tudo gera vis predisposições
A motins, desbocando em conclusões
De que tudo no mundo é vão e errado.
4
Mas pergunto: Você não acha injusto
Esse bloco de causas que nos priva
Do descanso contínuo d'alma viva
Que só quer repousar num Céu Augusto?

Circunstâncias que geram dor e susto.
Fatos maus que nos levam à cativa
Emoção que nos prende e que motiva
Discussões que só dão num mal robusto.

Como presos no mundo nós estamos.
Às revéis circunstâncias nos doamos,
Mesmo contra a vontade, por vivermos.

Isso tudo resume-se em motivos:
Não podemos morrer e estarmos vivos
E somente vivemos nestes termos.

Sonetos Filosóficos – A Imperfeição por Felipe Amaral


Sonetos Filosóficos – A Imperfeição
por Felipe Amaral
1
Quando penso no aspecto da vontade
Que o humano possui de desejar
Perfeição, todavia, não achar,
Sou lançado na contrariedade.

Veja bem. O que vejo é a verdade
De que tudo é manchado, insalutar.
Desde nossa certeza basilar
Até nossas ações em liberdade.

Nós não somos perfeitos, mas queremos
Ser perfeitos, no entanto, não podemos.
Sendo assim, por que tanto o desejamos?

Não há lógica em vir a insistir
Em querer o que não vai conseguir,
Todavia, o queremos e buscamos.
2
Por que tudo é assim tão imperfeito?
Por que vemos a imperfeição em tudo?
Talvez seja ilusão, mas já me iludo
Desde quando nasci, vendo o defeito.

Eu chorava por que queria o peito,
Num incômodo infindo, mau e agudo...
Por que somos tão frágeis? Por que é mudo
Nosso ser, que não mata esse conceito?

Há cobrança na vida por demais.
Obstáculos há. Lutas! Rivais!
Mas não há um porquê pra ser assim.

Mesmo a morte, que uns veem qual descanso,
Não escapa da pecha vil do ranço
De defeito do nosso corpo, enfim.
3
Irritamo-nos com a insegurança,
Mas vivemos sem ter certezas plenas.
Limitados que somos, duras penas
Nós sofremos, sem riso e esperança.

Por que não nos tornamos, por vingança,
Imortais contra as falhas mais amenas
E findamos as dores, as pequenas
E as enormes, que ferem como a lança?

Repetimos que vamos muito bem,
Mas, ao fim, percebemos que ninguém
Foi invicto nas lutas que travou.

Quedas há, mas por quê? Não necessita!
É o ser imperfeito, e não hesita
Em querer perfeição que nunca achou.
4
Por que nós procuramos achar ordem?
Por que nós precisamos ter saúde?
Por que tanto buscamos a virtude,
Se, no todo, os defeitos se remordem?

Talvez nada devamos... – Ei! Acordem! -
Talvez nada devamos, na atitude
Do desejo, buscar, pois tudo ilude,
Faz que os males dos ais em nós transbordem.

Pra que leis? Pra que normas se promulgam,
Se são frágeis também os tais que julgam
Como frágeis são nossos julgamentos?

Não há certo e errado. Não há nada!
No imperfeito não há certeza alçada
Que nos possa remir os pensamentos!
5
Nem consigo remir isto que digo.
Pois que digo sem ter em mim certeza.
Paradoxos deságuam na destreza
Das palavras que falo e que persigo.

Mesmo assim, sou levado e, assim, prossigo
Neste meu inquirir, numa indefesa
Ilação, numa falha sutileza
De perguntas banais, por vil castigo.

Só sei mesmo que o todo é todo incerto.
Não há vero seguir e, nem de perto,
Nós podemos, ao menos, contemplá-lo.

Caminhemos, então, sem paradeiro,
Que o viver é um show, mas sem roteiro,
Mesmo assim nos dispomos a encená-lo.


Sonetos de Persistência por Felipe Amaral


Sonetos de Persistência
por Felipe Amaral
1
Ventos ávidos, ventos de além-mar
Que infestais minha vida de ilusão!
A liteira onde vai, em procissão,
Rei dos sonhos que deixo de sonhar.

Far-se-ia melhor este ofegar,
Que é constante pungir de coração
Que persiste a bater, na intenção
De, rebelde, insistir em me enganar?

Far-se-ia melhor esta existência?...
É o golpe mortal da persistência
Que me põe à mercê deste sepulcro.

Sem esteio, caminho a rir doidices,
A falar coisas loucas, chocarrices...
Corpo frio sem escora; alma sem fulcro.
2
Vejo ao longe ideal realidade,
Mas, por mais que caminhe, não alcanço.
Não há riso na vida; e, sem descanso,
Não há vida na vida, na verdade.

Barco solto, sem velas, na vontade
De querer ganhar mares sem avanço.
O insistir em cair no solo manso
Do marasmo que mata a liberdade.

É a doce e onírica quimera
Que se esvai no silêncio da cratera,
No arquejar do sepulto corpo inglório.

O notório porvir sem ar notável;
O correr sem chegar; o inexorável
Prantear de um viver vão merencório.
3
O ilusório sonhar dos esquecidos
Talvez seja o motivo do ostracismo
Que os eleva ao altar do fundo abismo
De ilusões, a torná-los mais perdidos.

O ilusório viver desses caídos
Na valeta, sarjeta, num batismo
De desgraças que matam o lirismo
Que bem fora-lhes graça, em tempos idos.

Mas não há mais aplausos nem sorrisos.
Nem o palco mais doa os áureos pisos
Aos seus pés já cansados de seguir.

Não há nada nas ruas para o louco.
Não há nada... Não há... Nem há tão pouco
Piedade em seu mísero porvir.
4
É um pobre mendigo que manqueja
Pelas ruas, pedindo o pão diário.
É retrato de um homem que o fadário
Transformou numa coisa que rasteja.

É o pó sem o dó que o ser deseja.
É um só como um Jó que um emissário
Estarrece co'as novas, em horário
De banquete que as mesmas não enseja.

Só que tudo se faz desnorteante...
Só que agora o prazer deixa o instante
Para que algo tão fúnebre se avulte.

O desejo decai, o ser suspira.
Toda a força se esvai e, assim, expira
Um varão pra que a mão do mal sepulte.
5
Antes risos sem fim, mil maravilhas,
Mas agora um tufão de vendavais.
Resta ao ser relembrar uma vez mais
Os momentos de paz em suas trilhas.

Perde o sonho. Da vida, perde as filhas.
Os rebentos dos sonhos figadais.
Não há quem se apiede dos umbrais
Do seu lar de ilusões: imersas ilhas!

Pede a Deus para ver de novo gozo.
Suplicante, humilhado, ao Poderoso
Ele implora o socorro divinal...

Ninguém sabe explicar sua desdita.
Não há sábios por perto e a bendita
Esperança perece no final.
6
Deus que aos pobres ouvis, ouvi, suplico-vos,
Meu clamor de tristeza e desalento.
Recriai novo espírito, um rebento,
Nesta alma... Eis que a fé – por fé – dedico-vos.

Deus que o mundo criais, fazei. Aplico-vos
Minha fé – pobre fé! - neste momento.
Operai, ó Eterno, em advento
De Alegria, o socorro que adjudico-vos.

Pai das almas, tornai a dar a vida
A um, vosso lacaio, que a ferida
Da cruel provação fez claudicante.

Pai do cosmos, salvai este leproso!
E que a paz torne a dar à vida gozo
Pra que o corpo jubile e a alma cante.

Minhas Crônicas A Vida sem Impossibilidades por Felipe Amaral


Minhas Crônicas

A Vida sem Impossibilidades
por Felipe Amaral

Sonhamos em morar em qualquer lugar. Ter o espaço do cosmos todo para nós. Teletransportarmos para lugares distantes. A comunicação se tornaria desnecessária para quem pode estar no lugar que quer a qualquer hora. Morar no Éter. Numa bolha transparente. Vendo as estrelas brilhantes. Se se der para vê-las brilhar, na verdade, em posição tal! Mas daria. Sem Newton nem Eistein preveriam tais possibilidades! Pedir que tudo em volta se faça diferente a cada gosto que se tenha para o dia. Chamar amigos para uma festa e não se importar com que horas são, pois que o tempo é manipulável. O lixo acumulado, “enviável” para outra dimensão. Sua dimensão sempre limpa. A água sempre pura. Você sem mácula, sem falhas, sem desencontros e problemas a resolver. Tudo sempre novo. Surpreendente. A novidade em cada objeto. Em cada olhar, nova perspectiva. Todas elas perfeitas. Os amigos que se juntam para conversar mesmo estando em lugares-luz de onde se emite a voz. A paz de Deus. Nada de orgulho. Nada de confusão. As dores todas inexistentes. Não sentir cansaço. Dormir por hobby. Sonhar e ver totalmente possível o realizar o que se sonha. Moldar a realidade. Moldar o próprio cosmos. Andar em levitação. Deslizar. Surfar entre estrelas. Sair para falar com os colegas e manter o “papo” sempre motivante. Emocionante ventura de viver. Tudo lindamente ornado de eternidade. Sem preocupações. Sem cobranças que geram incômodo. Tudo sempre belo. A arte em cada parte. Por toda parte. A parte, o todo; o todo, tudo o que é possível. Tudo possível! Não ser limitado. Não ver limites para a vida. Viver sem amarras. Liberdade do Bem. Causas perfeitas; efeitos impecáveis. O nosso mundo deveria ser assim. E a vida, nossa vida seria eterna como eternos são nos sonhos os prazeres impolutos.

Crônicas Minhas A Crônica de uma Coruja por Felipe Amaral


Crônicas Minhas

A Crônica de uma Coruja
por Felipe Amaral

Não sabia bem por que vivera assim tanto tempo sem se dar conta que era humano, mas em corpo de coruja. Sobrevoou o mercado e pensou em ir às compras. Mas, aí, deu-se de novo que era uma ave e que aves não costumavam fazer compras em mercados. No máximo, em florestas fechadas! Sua passada encarnação talvez tivesse lhe sido mais confortável. Lembrar ser humano e achar-se em corpo de ave não era algo muito salutar para o seu ego. Queria se libertar desse pesadelo, mas não achava oportunidade para tal. Nem jeito, diga-se de passagem! Olhou para baixo e viu as pessoas passando. Pensou que era uma delas. Indo à escola ou ao trabalho: coisas frívolas da vida terrena dos seres humanos. Tornou à sua condição de coruja mentalmente outra vez e lamentou ter tido só um leve lapso de momento. Queria falar, não dava. Queria fazer coisas que humanos fazem, mas nada lhe era possibilitado. Uma prisão. Merecera? Ninguém saberia explicar-lhe tal. Respostas não havia. Havia uma condição insólita e fim. Daqui a pouco iria começar a chover. Voara para se abrigar debaixo das árvores frondosas que ainda escapavam aos cortes contínuos perpetrados por homens maus na cidade grande. Quando chegou ao lugar desejado, acordou. Era mais um daqueles sonhos de coruja mesmo e só. Ainda continuava uma coruja...