terça-feira, 9 de dezembro de 2014

A História da Minha Vida - Fragmento 9 - Felipe Amaral

Fragmento 9


    Minha história é confusa. Assim mesmo! Porém não me surpreendo com minhas digressões. Sou divagante tanto quando escrevo, como quando falo com os meus amigos na praça central. Acho que a vida reservou-me esta aura de poeta confuso. E os dias vão-se à pressa... Quando olho fora, já avisto o raiar do sol. Pior momento esse. Queria ver a madrugada durar mais. É que, ao menos nos filmes, parece perpetuar-se. Vem o sol e a minha inspiração morre, dando lugar ao enfado que me leva a deitar-me.
    Sei que sou um observador inveterado. Não consigo não o ser. Fito tudo. Mais à noite, claro! As pessoas passam. A rua parece melhor. Há amigos vindo aonde paro. Estava pensando em uma bela estrofe. Deixa para lá! ...as conversas irão estender-se bastante. Quando iniciamos, não deixamos espaço para muitas reflexões silenciosas. Talvez até tenhamos medo do silêncio. Todos sempre têm muito a dizer. A brisa insta em trazer-nos ideias bobas. E a hora passa, escapando pela tangente... O riso fácil. Tudo continua bem. Então a rua anui toda a nossa boêmia disposição. Somos jovens alegres. Eufóricos sempre. Sempre viva, a ideia do infinito leva-nos ao êxtase. Pensamos viver para sempre. O sempre sempre está por perto. Sempre ali. Tola ideia. Jovem ideia. Hebetude ao sabor do vinho da fugacidade que se ilude pensando ser eterna.
    Às vezes, inquieto-me pensando que o futuro poderá tirar-nos o riso dos lábios e os sonhos do coração. O repouso da mente. Aí, tudo fica nebuloso. Temo e recorro a Deus. Não podemos perder o que nos faz sermos nós mesmos. O que nos faz melhores. O brilho...
    Fui ao comércio em uma Quinta pela manhã. Ou fora Sexta?! Não me lembro bem. Fato é que o humilhante momento da necessidade destrói-nos. Fui entregar uns currículos. Não vi muita atenção. Tentei me convencer que iria dar certo. Não deu. E aqui estou eu novamente a narrar a história da minha, agora, tão triste vida. Eis-me de novo a sonhar... Os sonhos são sempre tão suaves!... Doce é a oniricidade da quimera. Ó Deus, doce como o riso de quem, um dia, abriu-me o coração. Talvez sofra a falta de atenção que dispensara ao coração alheio...

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