domingo, 30 de novembro de 2014

A História da Minha Vida - Fragmento 7 - Felipe Amaral

Fragmento 7


    Um dia vi-me sentado contando estrelas. Pensava no futuro. Deu-me calafrios e a negra noite, que sempre me inspirou, tornou-se em monstro mítico que, agora, engolia todos os meus sonhos semidespertos. Admirei-me de não ver quem me socorresse. Admirei-me diante dos assombros do tempo. E como é veloz!... Passa e despedaça a quimera que a vida nutria.
    Estou acordado a maior parte do tempo, mas, parece-me que, para muitos, estou sempre embriagado do sono dos perdedores. Mas o que seria perder? Perder a identidade, creio eu, seria não só perder, mas perder-se completamente. Bem... Posso falar e falar e terminar por não ver ninguém converso. A neblina é muito espessa e não seriam duas ou três conversas que mudariam a situação. Para mim resta o continuar. O prosseguir. Sigo vendo a linha do horizonte que, para muitos, não pode ser real. "Vês miragens" - dizem os tais. Mas meus pés já sentem o sal do mar.
    Não que eu seja nada. Não sou. Para que correr atrás de inquietação tal? Impressionar nunca foi o meu forte. Não digo o que digo pelo simples soar das palavras. Meu lado poeta pode até influenciar-me na escolha das tais, mas meu lado destituído de paixão processa tudo. O que quero dizer é que, quando se é muito levado pelos outros, tem-se a tendência de repetir clichês. Papagaios há aos montes por aí. Falo de bordões, mas não precisaria ater-me a palavras. O que procuro escrever-te é que o andar sem se entender por que se vai em tal direção é o problema da grande massa. Falam coisas sem sentido. Priorizam o frívolo. E relegam o essencial ao esquecimento. A superfluidade é a essência para quem não sabe o que seja essência de fato. O meu anticonsumismo (cuidado! isso não quer dizer avareza!) soaria como piada aos ouvidos da elite (pena é que da plebe também. Coitada! deixou-se influenciar).
    Meus dezessete anos não foram muito animadores para mim como não o foram os meus trinta. Você pode estar-se perguntando: Por que logo "dezessete"? Ou mesmo "trinta"? Bem... Com dezessete (por incrível que possa parecer-te) eu gozava ainda de certa docilidade por parte de olhares curiosos quando em meio à parentela. Hoje (eis a resposta acerca dos "trinta")?! Até Diógenes teria vergonha de mim! Não o digo referindo-me à moralidade. Digo referindo-me ao conceito estereotipado de sucesso que apregoam por aí. Sou perscrutador, então não queira que me atenha ao que repetem por aí. Vejamos... "vamos pensar um pouco" (como dizia o Telecurso 2000, que, às vezes via de madrugada... Passa de madrugada também. Sabia? Pelo menos, no horário de verão!...). Suponhamos que você me dissesse que quer ser bailarina -  sendo você que me lê uma garota - ou ser astronauta (não que mulher não o pudesse ser!) - sendo você homem - ou qualquer outra coisa que exista de profissão neste planeta!... Pois bem, escolher ser dono de mercado ou trabalhador em açougue não diverge em nada de nada. Mas sei que irão questionar-me: Como não? Aqui (em Tabira) não dá para se pensar em ser astronauta! Nem bailarina! O primeiro erro desse raciocínio está no fato de não se dever nem "pensar em ser". Podemos pensar no que quisermos! Tudo surge ne mente (cuidado! Aqui não estou respaldando a ideia integral da tal Confissão Positiva). Os planos. Os propósitos. Objetivos. Tudo pode ser mental antes de se tornar vivenciado. O segundo erro está no fato de fazer parecer que se tem que estar falando que tudo ocorra numa cidadezinha ou em qualquer local determinado que for. Preste atenção! Eu disse "lugar determinado"! Em algum tem que ocorrer, mas não necessariamente no que se está ou se vive. Você pode mudar-se muitas vezes. Na verdade, a suma do argumento está em que se escolher seja lá o que for não poderá ser diferente de seja lá o que for. Tudo são escolhas! Só Deus poderia prever, com plena certeza o que vingaria ou não (Eclesiastes 11.4-6). Se tenho sede, busco água; se, fome, busco nutrir-me. Simples assim. Só a moralidade pode "tolhir-nos".
   

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