segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Só basta um carro e um som/ Pra ser feliz em Tabira.

Só basta um carro e um som
Pra ser feliz em Tabira.
1
Co' um carro financiado
Em trinta e seis prestações
E o som tocando Aviões
Com um volume alterado
Sai o “playboy” “arrochado”
Co' uma “boyzinha” na mira...
Se dana a contar mentira
Só pra dizer que é o bom...
Só basta um carro e um som
Pra ser feliz em Tabira.
2
Um bando de “alienado”
É o que se vê na rua.
Mas, se eu critico, se amua,
Briga e diz que eu tô errado.
Calo-me, após ser xingado,
Pois se trocar com quem “gira”
Mal da cabeça “não vira”,
Só finda em grito e frisson...
Só basta um carro e um som
Pra ser feliz em Tabira.
3
As meninas, já “perdidas”,
Saem com roupas da moda,
Mas nenhuma se incomoda
Com as dívidas contraídas.
De cerveja, abastecidas,
Na boate, as “mina pira”.
Num carro, após, “se retira”
Pra' um quarto à luz de neon.
Só basta um carro e um som
Pra ser feliz em Tabira.
4
“Mina” buchuda é comum
Encontrar por essas bandas.
Nem requer mais propagandas,
Nem alarde, nem zumzum.
Sai mês entra mês e um
“Playboy” de fora se atira
Na fornicação e vira
Papai, mas sem achar bom.
Só basta um carro e um som
Pra ser feliz em Tabira.
5
A cidade está lotada
De rapazes sem estima
Por tudo aquilo que prima
Por uma vida regrada.
Saem co' a cara atolada
No “mé”, que a testa transpira.
E, ainda o povo admira
E acha isso de bom tom.
Só basta um carro e um som
Pra ser feliz em Tabira.
6
Aqui só o que se vê
É festa sem ter proveito,
Politicagem sem jeito,
Perversão e fuzuê.
E a boa instrução, cadê?
A isso ninguém aspira!
Que o povo quer ziquizira
E esse é seu “sine qua non”.
Só basta um carro e um som
Pra ser feliz em Tabira.
7
Se há talentos de verdade,
Porém são comissionados
Por grupos estilizados
Que cantam' obscenidade.
A boa arte da cidade
Perdeu o arpejo da lira
E hoje o povo só respira
Ar que não lhe inspira o dom.
Só basta um carro e um som
Pra ser feliz em Tabira.
8
Oro pra que ninguém leia
Estes meus versejos críticos
De modos antianalíticos
Tendo a mente de ira cheia.
Tomara que, quem ler, creia
No melhor e adquira
Visão, renegando a ira;
Saber, mantendo o bom tom...
Só basta um carro e um som

Pra ser feliz em Tabira.

Na ceia eu vou me fartar/ De tudo o que é de alimento

Na ceia eu vou me fartar
De tudo o que é de alimento
1
A casa vai ficar cheia
De amigos e visitantes
E eu vou servir, como antes,
Uma copiosa ceia.
E todos, na minha aldeia,
Desfrutarão do momento
Gozando do provimento
Que, à mesa, eu vou colocar.
Na ceia eu vou me fartar
De tudo o que é de alimento
2
Eu vou servir salpicão,
Coxinha, empadão, croquete,
Pastel, bisteca, baguete,
Vinagrete, requeijão,
Talharim com parmesão,
Sorvete em congelamento,
Pão ázimo e pão com fermento,
Moqueca, torta e manjar.
Na ceia eu vou me fartar
De tudo o que é de alimento
3
Vou servir aveia e mel,
Cereal, leite e geléia,
Carne de arraia e moréia,
“Vitamina” e coquetel,
Vinho branco e moscatel,
Pernil inda em cozimento,
Pato e peru suculento,
Escargô e caviar.
Na ceia eu vou me fartar
De tudo o que é de alimento
4
Vou botar na mesa bolo,
“Pizza”, quiche e canapé,
Pavê, panqueca e até
Bala, bombom e “consolo”,
Lingüiça servida em rolo,
Salsicha pra o incremento,
Suco e “refri” pra o sedento,
Salada e frutos do mar.
Na ceia eu vou me fartar
De tudo o que é de alimento
5
Vou dispor patê com passas,
Batata frita e maxixe,
Pão-de-queijo, sanduíche,
Champanha pra' encher as taças,
Doces, pastas, pães e massas
Do mais amplo sortimento,
E um grande abastecimento
De frutos que há no pomar.
Na ceia eu vou me fartar
De tudo o que é de alimento
6
Vou oferecer farofa,
Estrogonofe e lasanha,
Porco cozido na banha,
Cerveja que o bucho fofa,
Água fria ao que se esbofa
Devido' a' um engasgamento
Co' uma espinha no intento
De da traíra provar.
Na ceia eu vou me fartar
De tudo o que é de alimento
7
Vou ofertar fricassê,
Crepe, brioche e bisnaga,
Musse, pudim e, na vaga,
Glacê na broa e suflê,
Chantili pra o “patetê”
Ter um cabal complemento,
Brote e fubá farofento
E bolacha circular.
Na ceia eu vou me fartar
De tudo o que é de alimento
8
Vou expor na mesa espeto
De churrasco de novilho,
Chocolate no sequilho,
Carne de frango em graveto,
Chá de boldo e café preto,
Leite de cabra e rebento
De avestruz pra o implemento
Do banquete do jantar.
Na ceia eu vou me fartar
De tudo o que é de alimento.
9
Vou colocar pra o banquete
Mortadela, atum, presunto
E almôndega pra servir junto
Co' as “nascas” do rabanete,
Creme e bolas de sorvete
Por cima, escorrendo lento,
Nozes pra o revestimento
E pistache pra' enfeitar.
Na ceia eu vou me fartar
De tudo o que é de alimento.
10
Vou passar amendoim
De mão em mão agilmente
Pra servir de aperiente
Com pedaços de alfenim...
Chá de romã e alecrim,
Malva, mastruz e “sarmento”
De raiz que dê sustento
Pra o corpo fortificar.
Na ceia eu vou me fartar
De tudo o que é de alimento.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

O Messias Galileu

Meu Poema de Natal
O Messias Galileu
(por Felipe Amaral)
1
O Divino Galileu
Muitas terras percorreu
E, Quem, em Belém, nasceu
Atendeu por Nazareno.
Não importando a alcunha,
Teve Deus por testemunha
De cumprir o que dispunha
A cumprir de um modo pleno.
2
Divino, se fez terreno
Para, de um modo sereno,
Vir dissipar o obsceno
Pecado que o chão manchava.
Por reles foi reputado.
Por seu povo rejeitado.
Mas carregou de bom grado
O que sobre nós pesava.
3
Boa Nova anunciava
Aquele que se mostrava
Ser aquilo que pregava
Diante dos fariseus.
Operou muitos sinais.
Citou frases doutrinais.
Dialogou co' os rivais,
Pelos tais, rogando a Deus.
4
Tido por Rei dos Judeus,
Foi a nobres e plebeus.
Pois, entre os ouvintes seus,
Não discriminava a classe.
Sem acepções pregou,
Tocou, curou e ensinou,
Porque sempre se importou
Co'o coração, não co'a face.
5
Não foi causador de impasse.
Tencionava o reenlace
Do ser com Deus no repasse
Daquilo que proferia.
No entanto, o ser preferiu
Desunir-se do que agiu
Em seu favor e seguiu
Caminhos de apostasia.
6
Ó plebe suja e esguia,
Ó elite frouxa e fria,
Gente de toda fatia
Deste corpo social,
Este que vos anuncio
Neste dia luzidio
Sem desvio ou desvario
É o Cordeiro Pascoal.
7
Deus, o Pai, de forma tal,
Amou o homem mortal,
Que deu seu Filho eternal
Pelo mundo que pecou.
Ei-lo Jesus, o Messias,
Que morreu e, após três dias,
Ressurgiu das enxovias
Da morte e se levantou.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Lírica

Lírica
1
Veja o céu como enfatiza
O arrebol que ruboriza
A face do infinito.
O sol que morre se vai
E o negror se sobressai,
Deixando o “astro-rei” proscrito*
*degredado
2
Começa então a ser rito
Os sopros que dão ao mito
Da noite um tom de leveza.
Mas que carrega guardado
Dentro um aspecto assustado,
Embora de astral beleza.
3
A eterna chama acesa
Da' infinita sutileza
Da noite à brisa se afaz.
Tudo fica mais solene
Pra que a poesia se engrene
Aos ambientes da paz.
4
O boêmio satisfaz
Seu coração e se apraz
Co' a essência que permeia
As ruas e o faz poeta
Decantando a mais completa
Canção da paixão alheia.
5
Um tom escuro sombreia
Becos, por onde vagueia
Um casal enamorado.
A lua brilha e o vento
Preenche de sentimento
O caminho a ser trilhado.
6
Há todo um prazer guardado
No cenário abobadado
De um céu de noite boêmia.
E, entre tudo o que se passa,
Não há gente que se faça
Desse prazer abstêmia.
7
A noite é parente fêmea
Do dia e uma irmã gêmea
Das muitas que surgem nuas,
Erotizando as vielas
E tornando bem mais belas
As silhuetas das ruas.
8
Vê-se nas calçadas duas
Almas e, as palavras suas,
“Se misturam” co'o cenário
De essencial poesia
Que desejo a tudo envia
E o que mais lhe é necessário.
9
Vitrines luzem no horário
Que o noturno campanário,
Através de muitos sinos,
Avisa que tem seu posto
Garantido em seu proposto
Negrume de trajes finos.
10
Anoitecendo, os meninos
E as moças, sem desatinos
Permitem-se conhecer
Tanto mais sensivelmente
Quanto mais intimamente,
Por ansiarem o prazer.
11
É no frio anoitecer
Que as ruas levam o ser
A querer-se apresentar
Como disposto a sorrir
E caminhar sem sentir
Que a noite possa acabar.
12
Há encanto no luar
E acalanto em cada olhar
De jovem querendo expor
Seus sentimentos ocultos,
Embora “cheio” de adultos
Pra “lhe explicarem” o amor.
13
Tudo se enche de um sabor
“Bom-vivã”, onde o teor
De algo na vida se faz
Mais saliente, à medida
Que o que mais cresce na vida
É' o que mais nos satisfaz.
14
O horizonte por traz
Da escuridão perfaz
Percursos em meio ao halo
De mistério que circunda
O Vão da noite e inunda
O mesmo, a fim de abarcá-lo.
15
Há um espectro vassalo
Que serve como de embalo
E incentivo aos poetas
Que são como suseranos
Delineando os seus planos
Na tela viva das metas.
16
Existem cenas discretas
E outras de escândalo repletas
Pairando na amplidão
Do vão da noite em surdina
Vaga, urbana, citadina
E serva da multidão.
17
Roja-se audaz pelo chão
A serpente da' incursão
Da volúpia esquiva e ardente.
Quem tenta se ver distante
Vê como é forte e pulsante
Seu veneno impenitente.
18
Surgem desvarios da mente
Quando o noturno ambiente
Carrega-se de imperícia.
O corpo arqueja ante o assédio
Por não encontrar remédio
Pra tamanha impudicícia.
19
Prazeres vãos, em milícia,
Vêm ao corpo que, a delícia
Sensual de tudo prova.
O ser é refém do medo,
Porém não guarda em segredo
O impudor que em si reprova.
20
Uns indivíduos à cova
Vão em noite que desova
Na' areia do mar da vida
Sedições incomplacentes
Que levam seres viventes
Ao desfavor que os liquida.
21
A boca da noite olvida
Os assobios de homicida
Melodia que perpetra.
bados caem nas calçadas
E as madrugadas geladas
Resfriam quem as penetra.
22
Morfeu em trevas soletra
Sonhos os quais cronometra
Co' as ampulhetas da noite.
O abismo acorre à negrura
Pra repousar na candura
Dos ventos que dão de açoite.
23
Pra que o mistério se amoite
Na' escuridão e se acoite
No coração dos abismos
A noite oferta prodígios
Aos céus que alentam* vestígios
De espanto em seus cataclismos.
*acolhem
24
Arcanos e exotismos
Em meio aos esoterismos
Diversos que a treva abriga.
Tudo dá à noite linda
Uma aura de paz infinda
Que seda (´) o ser que a' investiga
25
A madrugada fustiga
O ser co' o frio que castiga
O corpo e regela a alma.
O firmamento, inda escuro,
Põe em seu seio o obscuro
Forro espectral sem ver trauma.
26
À noite reina uma calma
Tão transcendental que espalma
O alvo céu e aplaina a bruma...
Dos ares me vejo mais
Perto em momento em que os ais
Vão-se em sopros como a pluma.
27
Assim a noite costuma
Fazer quando “se averruma”*
Nas experiências minhas.
De todo me surpreende,
Estimula, inspira e prende
Nas parras das suas vinhas.
*penetra como broca
28
Lá pelas casas vizinhas
Cagam lembranças sozinhas
Em busca de alguém que as busque.
Pois que há nas recordações
Risos, os quais são razões
Pra que ninguém as ofusque.
29
Embora muito corusque
A lua, pra que rebusque
A noite de oníricos brilhos,
O negror é mais intenso
E tem por corpo o imenso
Cosmos de astros andarilhos.
30
Porém não há empecilhos
Para os muitos estribilhos
De canções da boemia.
Soam, alentam, animam
E, sublimes, aproximam
Os seres da poesia.
31
É visto que a rua envia
Inspiração que irradia
No vasto espaço estelar
Quando a luz do dia morre
E se embriaga co' o porre
Que a noite vem lhe ofertar.
32
Ao ver o claro lunar
Começo a estimular
O coração a sentir
Seu toque frio e obscuro,
Mas que contém o mais puro
Estro que possa existir.
33
Visto-me, então, pra sair,
Pois quero me divertir
E aproveitar o lazer
Que os ares noturnos põem
À mão dos que se dispõem
A festejar o viver.
34
Porém, o amanhecer,
Chegando, chega a fazer
Meu ser menos motivado.
ssaros chilreiam no turno
Que se apresenta diurno...
Quero o noturno e me enfurno
Pra, à noite, estar acordado.

Autor: Poeta Felipe Amaral