terça-feira, 9 de dezembro de 2014

A História da Minha Vida - Fragmento 10 - Felipe Amaral

Fragmento 10


    Ah!... A boba ideia de ser reconhecido!... O alento logo ali. A namorada da escola. Os garotos que nos invejam. Tudo nos parece prender, mas estamos sempre propensos a pensar que tal cárcere social seja nossa verdadeira liberdade.
    Vida de enganos. Enganos em beijos. Ludíbrios em abraços sentimentais. Somos todos tão eloqüentes para desbocar-nos em sentenças sobre a nossa "tão sortuda vida". Não nos damos conta que a ilusão do reconhecimento só nos embriaga. A fama finda. O findo desengano. Finda a fonte de onde jorra a nossa vaidade protocolar. Mas continuamos pensando ainda ter classe.
    Como atores... Somos como atores. Encenamos no palco dos sonhos dos outros impostos à nossa paupérrima alma. Mas achamos que tudo advém do nosso querer. Nossa vontade mostra-se soberana. Só aparência. Imposição! E isto não é uma imposição "ideática" minha aqui para você! A verdade pode ser aguda, ferir como agulha, alfinetar como punhal, mas jamais se deixa quebrar na ponta. É como diamante. E os diamantes são raros. Demoram notarem-se já diamantes. Ficam sob a terra. Ali jazem. Como a verdade. Jazem.
    Recordo que a sua espádua branca atraía-me por demais. Seu pulso. Talvez fosse só fetiche! Ou mesmo seja ainda! Quero vê-la novamente. Beijar sua espádua. Recostar-me entre os seus seios. Inebriar-me com o castanho dos seus olhos. Mergulhar em paz. Na paz, sonhar. O sofá e dois seres sentimentais. Isso faz falta. Insisto em ver-me longe. É que não agüento ver uma realidade tão díspar. Quanto à minha visão, tudo se mostra sempre discrepante. Eu sou mesmo um arlequim existencial contratado para animar auditórios de cortes segregacionistas. Eu sou um pierrô. E talvez encontre riso em alguém...
    Louvo o sentimento cinematográfico dos dramas românticos. "A Culpa é das Estrelas" que o diga! Comprarei o livro. Já está vindo. Como pode alguém ser tão inclinado a isso? Como pode um ser ser tão ingênuo? Diga-me. Como pode? Quero estar lá. Quero conhecer o elenco e me certificar que são todos como são suas personagens. Quero! Sofro! Ó Deus, como sou criança ainda! Talvez, por isso, escreva. Talvez, por isso, doe tempo. Perca tempo. Estão todos empreendendo! Estão todos com os pés na realidade. Sou realista muitas vezes. Argumento racionalmente. Mas - como homem que sou - sou fraco. A fraqueza consome-me. Devora-me. Mergulho em enlevo e me embeveço olhando a avenida que penso ser a mesma da "película" dramática. Sou... Vivo... Deixo-me... Desfaleço... Cansei de esperar o real. Agora espero só acontecer o que Salvador Dali pintava. Rio de mim mesmo. E "mesmo" sempre rimará com "a esmo". Então deixe-me caminhar um pouco...

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