domingo, 5 de maio de 2013

Vinde ao prândio dezembrino, Epulários caperons!

Vinde ao prândio dezembrino,
Epulários caperons!
1
R.F - Convivas que, por prefácio,
O.A – Adentrais saguões reais,
R.F – Regozijai-vos nos tais.
O.A – Vede que o clima é malácio.
R.F – Apreciai o palácio
O.A – Refestelado em neons.
R.F – Vinde gitanos e rons
O.A – Ao esposório divino!
Vinde ao prândio dezembrino,
Epulários caperons!
2
O.A – Achegai-vos à cabilda.
R.F – Vede dos “piscas” o lume.
O.A – A rua alude ao costume
R.F – E a neve resfria a guilda.
O.A – A celebração não pilda
R.F – Em dias alvos e bons.
O.A – Há risos sem vis frissons
R.F – E falas de áureo refino.
Vinde ao prândio dezembrino,
Epulários caperons!
3
R.F – Contemplai do bródio o halo
O.A – De glória que envolve a flama
R.F – Do aprazível acroama
O.A – Do súdito e do vassalo.
R.F – Suseranos em regalo
O.A – De olhar e olhos mignons* (*minhons)
R.F – Moralizam sem destons
O.A – Com plebeus sem desatino.
Vinde ao prândio dezembrino,
Epulários caperons!
4
O.A – Fitai o argênteo fulgor
R.F – Do baile que mescla as classes
O.A – E não achereis impasses
R.F – Nesta pândega de amor.
O.A – Não há de haver estupor
R.F – De hostis nestes odeons,
O.A – Só afetos e entretons
R.F – De repouso “celestino”.
Vinde ao prândio dezembrino,
Epulários caperons!
5
R.F – O salão recebe as churmas
O.A – De camponeses e nobres.
R.F – Vê tu! Considera os dobres
O.A – Dos sons que embalam as turmas!
R.F – Não durmas, pois não esvurmas
O.A – O pobre dos teus cupons.
R.F – Sei que os amas e os jetons
O.A – Não negas ao peregrino.
Vinde ao prândio dezembrino,
Epulários caperons!
6
O.A – Por fim, ó plebe silente
R.F – E elite oculta entre jóias,
O.A – Meditai sem paranóias
R.F – Na’ humilde união de gente
O.A – Que, nesta data presente,
R.F – Faz, de remendos, plastrons,
O.A – De migalhas, champinhons
R.F – E do chão, o céu divino.
Vinde ao prândio dezembrino,
Epulários caperons!

Umas quadras e uma décima

Umas quadras e uma décima

Ser poeta é ser mais brando,
Sonhando um sonho estupendo:
Viver na vida sonhando
Sonhar na vida vivendo.


Pra o trovador de verdade,
Na sua mente, eu suponho,
Que o sonho é realidade
E a realidade, um sonho.


Todo o vate é visionário
E, por isso, é natural
Ter seu mundo imaginário
Como o seu mundo real.


Muitas vezes é normal
O bardo ter a’ impressão
Que a ficção é real
E o real é ficção.


Pra o poeta a ilusão
Ao fato é bem similar,
Que, pra ele, estar no chão,
É como no céu estar.


Poeta é, sem protocolo,
Envolto de estranho véu:
Se mantém os pés no solo,
Mas tem a mente no céu.

O vate, na qualidade
De alguém que o seu dom venera,
“Dispõe da” veracidade
Pra “se dispor” à quimera.


Todo segrel, por vontade
De divagar* sem receio,
Desmente a pura verdade
Pra’ afirmar seu devaneio.
*não é devagar é “divagar:
digredir, dispersar-se, sonhar,
fantasiar”.

O menestrel se motiva
E, numa troca total,
Faz a razão emotiva
E a emoção racional.


Bardo vê no feio o belo;
Acha no cheio um vazio;
Na desunião, um elo;
E no’ insulto, um elogio.


Vate vê no choro um riso;
No desvario, sensatez;
Na maluquice, bom siso;
Na’ inquietação, placidez.


Segrel, no nada, acha um tudo;
Na’ incerteza, uma certeza;
Na’ insegurança, um escudo;
E robustez na fraqueza.



De tudo o que se acha ouvido,
O certo é que a poesia
Dá ao vate a ousadia
De dar à vida um sentido.
Faz o porvir mais garrido
E o presente menos vão.
Do passado, uma razão
Pra recordar e sorrir,
Que o riso é o elixir
Da força da’ inspiração!



Poeta Felipe Amaral

Segregação Cultural

Segregação Cultural
 Por Felipe Amaral


         Assisto à tv e consigo divisar tanta trivialidade que me abismo com o fato de a sociedade ainda tolerar o uso de concessões públicas para tal. Tirando certos programas até, digamos, “tragáveis”, o que sobra são porcarias de toda natureza, menos da correta.
         Dizer que tudo se resume a gosto e que gosto não se discute é simplificar muito o problema. Quando o gosto é imposto pela ditadura do reprovável e, por isso mesmo, resulta numa perpetuação de aprovação do impositor, o que, por sua vez, gera uma possibilidade de mais “imposição de gosto” (que, na verdade, não é livre gosto), dando tudo em um círculo vicioso, as mentes atentas sofrem, mas, sendo minoria, ficam à mercê de tal escabrosidade.
         Há prêmios por “exposições ao ridículo” e os galardoados ainda se acham por privilegiados. Mídias esforçam-se para passar essa realidade plastificada para as casas. São sons, imagens, textos, “atmosferas manufaturadas” que ocasionam anomalias vivenciais.
         O Youtube no Brasil dá “IBOPE” astronomicamente meteórico às vãs inclinações dos mortais. Não que a liberdade devesse ser cerceada. Ninguém aqui disse isso! A educação poderia minorar a profusão de aberrações do entretenimento.
         Certo dia, assistindo a um programa de entrevistas, deparei-me com um indivíduo que poderia ser tudo, menos um referencial artístico no país, mas, não só a entrevistadora, como toda a nação o tinha por tal. Coisa lamentável! Como eu disse: As mentes atentas sofrem...
         Dinheiro gasto com tudo de ruim: O governo apóia; a população sorri!... Eu não, mas quem estaria preocupado com o que um teclador pensa?!
         Não bastando disparidades tais, ainda se vêem complôs em cantos e cantos do nosso imenso chão. Patotas elitizadas que monopolizam a atividade cultural e, decorrente disso, trabalham como censores “a la” DOI-COD (não com tanta violência física, mas não com menor violência verbal).
         Você é um pintor (de óleos) e não galga reconhecimento simplesmente por que o local onde você está inserido não tem capacidade intelectual para entender o que faz. Isso é a expressa marca dos interiores! O que é “esquisito” ou “rebuscado demais” é deixado às traças. Reconhecimento terão os que “se aventuram” pelas estradas da mesmice. O leitor acha isso justo? Eu “acreditaria” que não.
         A coisa está tão arraigada que, quando se fala de opressão desse tipo, muitos só viram a cabeça para o lado e ouvem tudo como se fosse só mais um “puxamento de assunto sem importância”. E segue o reconhecimento na mão dos fracos. Não quero dizer que é sempre assim, mas muito assim (nem todos são fracos, mas para muitos o nome “fraco” ser-lhes-ia, ou, no mínimo, deveria ser, tido como um elogio... e grande elogio).
         O negócio é, baba o ovo de um magnata e terás prestígio. Isso não é novo. Nem a segregação é nova. Nada é novo mesmo! O ser humano inclinou-se em várias épocas a essas formas de viver (mal viver, não bem viver).
         Pelo menos no Brasil, o uso do dinheiro público, e bem público de qualquer tipo, não é fiscalizado como deveria ser. Os oligarcas ainda comandam. Plutocratas florescem como capim nas frestas do reboco das construções públicas. Parece que nada vai mudar.
         Fico eu aqui a teclar e esperar que alguém leia o que escrevo. E nada de ser tão (tão mesmo!) sincero, que é para não assustar o que a isso se aventura. Não queremos perder leitores sem nem antes mesmo termo-nos ganho!
         Fica a dica. Que os ditos “rebuscados” ou “esquisitos” possam ter um lugar para, quem sabe um dia, poderem angariar um reconhecimentozinho da vasta populaça, que, cá para nós, precisa e muito ser exposta a “rebuscamentos” e “esquisitices”.

Valeu!