domingo, 30 de novembro de 2014

A História da Minha Vida - Fragmento 7 - Felipe Amaral

Fragmento 7


    Um dia vi-me sentado contando estrelas. Pensava no futuro. Deu-me calafrios e a negra noite, que sempre me inspirou, tornou-se em monstro mítico que, agora, engolia todos os meus sonhos semidespertos. Admirei-me de não ver quem me socorresse. Admirei-me diante dos assombros do tempo. E como é veloz!... Passa e despedaça a quimera que a vida nutria.
    Estou acordado a maior parte do tempo, mas, parece-me que, para muitos, estou sempre embriagado do sono dos perdedores. Mas o que seria perder? Perder a identidade, creio eu, seria não só perder, mas perder-se completamente. Bem... Posso falar e falar e terminar por não ver ninguém converso. A neblina é muito espessa e não seriam duas ou três conversas que mudariam a situação. Para mim resta o continuar. O prosseguir. Sigo vendo a linha do horizonte que, para muitos, não pode ser real. "Vês miragens" - dizem os tais. Mas meus pés já sentem o sal do mar.
    Não que eu seja nada. Não sou. Para que correr atrás de inquietação tal? Impressionar nunca foi o meu forte. Não digo o que digo pelo simples soar das palavras. Meu lado poeta pode até influenciar-me na escolha das tais, mas meu lado destituído de paixão processa tudo. O que quero dizer é que, quando se é muito levado pelos outros, tem-se a tendência de repetir clichês. Papagaios há aos montes por aí. Falo de bordões, mas não precisaria ater-me a palavras. O que procuro escrever-te é que o andar sem se entender por que se vai em tal direção é o problema da grande massa. Falam coisas sem sentido. Priorizam o frívolo. E relegam o essencial ao esquecimento. A superfluidade é a essência para quem não sabe o que seja essência de fato. O meu anticonsumismo (cuidado! isso não quer dizer avareza!) soaria como piada aos ouvidos da elite (pena é que da plebe também. Coitada! deixou-se influenciar).
    Meus dezessete anos não foram muito animadores para mim como não o foram os meus trinta. Você pode estar-se perguntando: Por que logo "dezessete"? Ou mesmo "trinta"? Bem... Com dezessete (por incrível que possa parecer-te) eu gozava ainda de certa docilidade por parte de olhares curiosos quando em meio à parentela. Hoje (eis a resposta acerca dos "trinta")?! Até Diógenes teria vergonha de mim! Não o digo referindo-me à moralidade. Digo referindo-me ao conceito estereotipado de sucesso que apregoam por aí. Sou perscrutador, então não queira que me atenha ao que repetem por aí. Vejamos... "vamos pensar um pouco" (como dizia o Telecurso 2000, que, às vezes via de madrugada... Passa de madrugada também. Sabia? Pelo menos, no horário de verão!...). Suponhamos que você me dissesse que quer ser bailarina -  sendo você que me lê uma garota - ou ser astronauta (não que mulher não o pudesse ser!) - sendo você homem - ou qualquer outra coisa que exista de profissão neste planeta!... Pois bem, escolher ser dono de mercado ou trabalhador em açougue não diverge em nada de nada. Mas sei que irão questionar-me: Como não? Aqui (em Tabira) não dá para se pensar em ser astronauta! Nem bailarina! O primeiro erro desse raciocínio está no fato de não se dever nem "pensar em ser". Podemos pensar no que quisermos! Tudo surge ne mente (cuidado! Aqui não estou respaldando a ideia integral da tal Confissão Positiva). Os planos. Os propósitos. Objetivos. Tudo pode ser mental antes de se tornar vivenciado. O segundo erro está no fato de fazer parecer que se tem que estar falando que tudo ocorra numa cidadezinha ou em qualquer local determinado que for. Preste atenção! Eu disse "lugar determinado"! Em algum tem que ocorrer, mas não necessariamente no que se está ou se vive. Você pode mudar-se muitas vezes. Na verdade, a suma do argumento está em que se escolher seja lá o que for não poderá ser diferente de seja lá o que for. Tudo são escolhas! Só Deus poderia prever, com plena certeza o que vingaria ou não (Eclesiastes 11.4-6). Se tenho sede, busco água; se, fome, busco nutrir-me. Simples assim. Só a moralidade pode "tolhir-nos".
   

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

A História da Minha Vida - Fragmento 6 - Felipe Amaral

Fragmento 6


    Moças e rapazes passam rapidamente. Estou na praça central. Há gritos de crianças correndo ao lado. Há conversas bobas e "papo" adulto. Então assento-me no mesmo lugar e toco o meu violão. Há quem pare para ouvir. Há quem pare para criticar-me. Aquém de tudo o que realmente acontece, seja mau ou bom, está a minha estabilidade financeira. Oro a Deus para que consiga algo rápido. Preciso de palcos. Preciso de gente disposta a ouvir o que tenho para dizer. Preciso de espaço, mas os espaços são vendidos em troca de "status".
    Olhando as vitrines, passo a pensar como seria minha vida na grande cidade. Já morei uns meses no Recife. Não me adaptei. Na verdade, foi pelo fato de não sair muito. Não sair mesmo! Ficar em casa emparedado direto não é o meu forte. Alguns reclamam não me ver nas ruas. Saio à noite e eles dormem cedo. Sempre a isso deve-se essa falta de contato. Pensam que sou ou muito caseiro ou moro fora. Rio. Estou nesta cidade a maior parte do tempo. Queria estar fora - já que aqui não dá - vivendo como artista e ganhando a vida como artista. Aqui não ganho nada. Não me resta nada. Não há nada para fazer. A cidade algema seus pensamentos. É como uma espécie de ditadura mental. Não há palcos (para o certo! Certo?). Não há possibilidades. Há repetição. Há competição pelo mesmo. Há vaidade. Orgulho.
    Já tentei dar novo fôlego às ruas, mas ninguém quis seguir-me nessa empreitada. Montar um grupo de "free-stileiros". Formar um clube de leitura. Ter um programa, às doze horas da noite, de terror numa das rádios. Poemas de terror, sabe? Recitados com aquele tom macabro. O povo aqui não gosta do diferente. E, se for para pensar, aí é que não dá certo mesmo. Promover-se é o "lance". Seja com qualquer idiotice que a mídia imponha. Nas escolas - você tem que ver - tudo é uma verdadeira confusão anticultural. Deveriam ter vergonha. Mas ninguém tem. Ninguém grita. Ninguém se exalta. E ai de quem se irritar e reclamar. Deixa para lá! Só deixei mesmo... Ignoro. Não sou nenhum salvador da pátria. Isso não é trabalho para mim. Não tenho as ferramentas. Estão elas nas mãos de incompetentes. Hipocrisia é o que mais se vê. Conchavos. "Combinatas". Eu queria estar em outro lugar.
    Vejo que há pessoas que pensam. Mas como resgatá-las da imposição social? Elas estão submersas! Conformam-se. Sei que pensam pelo fato de, às vezes, conseguir captar coisas proveitosas das suas falas quanto ao andamento da cidade. Mas como fazer? O que fazer? Tudo o que eu falo é uma ilusão. Utópico Felipe Amaral. Esse deveria ser o meu nome. Utópico. Sim. Utópico. Deus meu! Onde me esconderei? Para onde iria? Por favor, ajuda-me. Sinto-me sufocado. O coro alteia vozes de afronta contra mim. Sobre mim tripudiam. Balançam os braços. Peitam-me. São desrespeitosos. Não aceitam outro tipo de visão. Como vou botar na cabeça dessa gente algo diferente de fato? São prisioneiros do prazer (abominável) de não mudar. São detentos. A rua arqueja.
    Escrevo e não sei quem lerá. Poderia "compartilhar" durante toda a minha vida. Se alguém pudesse me ouvir. Grito de dentro de uma caverna. Estou num fosso. É escuro e frio. E a única janela que se abre para mim é a do medo. Será que ninguém vê? Mas sou sempre eu o errado da história. Lendo. Tocando. Cantando. Compondo. Escrevendo. Poetando. Discursando. Estou fadado ao fracasso. Ó Deus, livra-me! Eu poderei vencer! Eu poderei mostrar para todos que é possível ser diferente e permanecer vivo. É possível fazer o que não fazem e continuar de pé. É possível. Preciso de uma brecha que, mesmo que eu me esgueire bastante, dê-me passagem. Preciso.

A História da Minha Vida - Fragmento 5 - Felipe Amaral

Fragmento 5
 

    Lembro dos fins de ano passados em meu lar. Chamava os mais chegados amigos. Fazíamos a festa, mesmo sem muito requinte. Conversávamos por horas. Tudo começava às sete e meia ou oito da noite. Tomávamos todo o tempo falando de como foi o ano. Ríamos muito. Só depois das doze, pegávamos um carro para Água Branca. Abríamos o champanhe sempre antes de irmos. Mas tudo fica para trás e temos que entender mudanças. Aprender com elas. Viver de olho na estrada à frente. Às vezes o saudosismo erra. Sou um calejado saudosista que já falhou muito. É que o passado, às vezes, inebria-me.
    Por falar em "inebriar", há uma garota no meu "facebook" que está despertando em mim algo que não sentia há muito. Ela não é uma modelo. Sua perfeição é módica, mas seu riso cativa. Mas ela é linda. É linda. Gosto de fitar seus olhos nas fotografias. Adicionei-a faz pouco tempo. Ela começou a dar-me estranha atenção quando me vê na rua. Achei o máximo. Não poderia deixar de adicioná-la. Mas ainda não tive coragem de chamar a sua atenção. E é nesse meu hesitar constante que eu noto o quanto tenho medo de ser reprovado. Há pessoas que nem ligam. Finjo não ligar, mas, no fundo, ligo. Se ela, ao menos, fizesse algo escancarado...
    Não irei a muitas formaturas neste ano. Creio que meus dias de formatura estão por aniquilarem-se. Mas você diz: Bailes?! E eu digo: Não há bailes aqui. Há só artistas que se dizem forrozeiros de verdade, mas não passam de misturebas da moda musical rotulada que tocam sempre com a pior intenção possível. A intenção do que toca preocupa-me. Deve ser por isso que tanto critico o EMO. É um estilo para angariar atenção, mas não doar verdade. Dos trejeitos vocais às indumentárias, tudo não passa de show. Mas a vida não é um show constante! E, quando se acorda para a realidade, o que se tem é um bando de moços de cabelo estranho competindo por atenção entre as patricinhas do "rock". Isso nunca será música. É só o sistema. Só o show, sem a realidade. Mas não que isso não aconteça com outros gêneros musicais rotulados. A ruim e velha competição pela atenção. Na verdade, tudo se resume a má e velha busca por "status". Deve ser por isso que tantos fazem Direito ou Medicina. Os EMO's são como estes. Só que na "música".
    A tola atenção que dou à minha opinião, muitas vezes coloca-me em maus momentos. Há quem esbraveje comigo. Há quem saia com raiva. Há quem demonstre repulsa. O que as pessoas querem mesmo é viver do jeito que a maioria ditar. Há quem dite o certo. Nunca será o indivíduo certo a ditá-lo. Não sei por que, mas nunca é. O que o povo quer mesmo é que jamais seja. O certo é sempre cafona! Retrógrado. Piegas. Sei lá! O correto não agrada. A massa quer a confusão. Ela aspira ao caos. Não adiantaria lutar. Estou há algum tempo neste mundo para ter tido um tempo voltado para tentar saber disso. Tentar resignar-me. É triste, mas é a verdade.
    Não deixando de lado coisas tais, vejo-me impressionado com as meninas que crescem e, logo, viram desencaminhadas. São tantas. Ficarias estupefato (a) com o número. É crescente. O que vinga é mesmo a vulgaridade.
    Estou prestes a enlouquecer com a cobrança ditatorial deste mundo. Não prezo a canseira intensa. Não gosto de dores de cabeça. Não me envolvo com coisas que não são as da minha área do conhecimento. Meu cérebro obriga-me a recusar ofertas. Diante disso, penso sobre o quanto a propensão natural que temos pode ditar nossas vidas. Facilidades que temos em algumas áreas. Prazer que temos de estudar determinados assuntos. Isso vem de berço. Parece nos aprisionar, mas - creio eu - que, ao final, não nos encarcera, guia-nos. Se dissesse para mim mesmo que faria algo estranho ao meu pendor, estaria mentindo. Acho que nunca o fiz, quando não obrigado. A escola impôs-me infinitas exceções. Mas ela me prenderia por pouco tempo. Libertei-me das amarras que impediam movimentos espontâneos. Não que a escola não tenha me ensinado coisas importantes. Mas o amontoado de questões que coloca diante de todos nós a todo tempo não nos dá tempo nem de respirar, "que dirá" de aprender de fato. Era preciso dizer para os doutrinadores que emaranhados nunca poderão dar à luz os simples. Quando na escola, não o disse. Agora quero dizer constantemente. Falta-me a sala de aula. Falta-me o levantar da mão. Falta-me a terceira carteira da fila do meio. Falta-me espaço. Falta-me vontade de retornar a uma sala de aula. Estou perdido! Será que o futuro depende mesmo disso? Será que é só eu que estou errado mesmo? E, isso, não que eu não estude dia após dia. Mas tudo que faço não tem valor algum para o mercado. Posso tocar, compor, cantar, escrever, recitar, fazer arranjos harmônicos dissonantes para canções simples... Nada tem valor! Seria uma perseguição? Não consigo parar de ser eu. Quem poderá me defender? Quem há de ir por mim? De vir por mim? Ó Deus, tem misericórdia da minha pobre alma inconformada com a cópia. Tem piedade de mim. Só o Senhor para me ajudar nessa hora. Desespero-me. Sou só um humano. Humanos são assim mesmo. Perdido estou entre sombras angustiantes. Entre gritos de miséria. Entre leitos de lágrimas. Por que tem que ser assim? Quem ditou as regras? E, quando não há estipulado nada sobre o que é, verdadeiramente, certo ou errado? Como agir? Copiar? Um pedreiro dispõe-se a construir, um poeta dispõe-me a poetificar a vida. Nada errado. Tudo é escolha. Mas quando o poeta é esquecido, como um cachorro na sarjeta imunda, a vida cala e o fedor do viver mecânico toma o ar. Favor não me obrigar a deleitar-me com coisa tal! Gosto de andar bem perfumado.

A História da Minha Vida - Fragmento 4 - Felipe Amaral

Fragmento 4

    Não consigo, no presente momento, contemplar o céu noturno e as estrelas refulgentes sem pensar o que estou fazendo com a minha vida. Talvez devesse mesmo fazer o que todos fazem com ela. Ser comum. Vergar a vontade e me entregar ao marasmo cotidiano imposto pelo sistema que respira à roda de mim.
    Fiz uns concursos. Não passei. Disso tiro o tamanho da minha burrice. E será que o meu destino fora escrito mesmo antes de eu nascer? Embora já tenha me inquirido a respeito disso, nunca cri que um concurso seja solução para tudo. A estabilidade pode vir de onde menos se espera. Mas a cidade carece de boas oportunidades...
    Diante de pensamentos inquietantes, coloco o amor que sinto por ser poeta (modéstia à parte!). Porque, por ser poeta, sinto o amor. Os sentimentos levam-me a olhar a vida com outros olhos. A ver o impossível. Acho que Cruz e Sousa também deveria se sentir assim, em muitos momentos da sua tão aflitiva existência. Augusto dos Anjos também. Tomara Deus, não morra na miséria!
    Esse amor que sinto faz-me imaginar cenas românticas que o cinema teria inveja por não as ter exibido. Eu vivo muito comigo mesmo. Ando comigo (e Deus!). Solitário sou, mas minha mente parece um turbilhão de pessoas falando ao mesmo tempo. Pena é que, quase sempre, a voz da revolta é a única que se destaca em meio ao burburinho. Queria não ser assim, mas sou. Revolto-me com o fato de não ver chances abundantes para todos. Para que não vivam se matando. Para que aceitem competições; sem nenhum rancor sentirem, diante da perda. O mundo é louco! E, enlouquecidas, as pessoas fazem-se lacaios idolatrando seu mestre. O mundo é mesmo louco!
    Escreverei sonetos por toda a minha vida. Não consigo me livrar destas rimas que me afogam as idéias. São tantos. Não os decoro. Nem consegui, de modo algum, granjear admiradoras com as suas quatorze linhas. Nunca mesmo. Os clássicos morreram! O que resta agora é a ostentação. É o declínio.
    Estava pensando em arranjar uma garota. A inspiração tomar-me-ia de assalto. Sempre toma, quando o assunto é mulher. Mulher é algo açucarado. Da sua espádua sorvo a verve. Do seus lábios, a seiva poética do riso. Ah, os seus seios! São como o regato onde o sedento encontra sobrevivência. Estava pensando... Mas hesito sempre frente à realidade devastadora de sonhos. Frente ao ar pesado. Frente às músicas de baixo calão. Frente a frente com o medo de ser apenas um bobo. O amor é difícil. O que veneram por aí é a atração sexual. Nada parece certo. E eu paro. Revolto-me e não quero mais pensar sobre isso. Vou à praça e esqueço... esqueço que o tempo passou para mim.

A História da Minha Vida - Fragmento 3 - Felipe Amaral

Fragmento 3

    Deixei-me guiar por sentimentos na vida, em vários momentos. Adormeci sobre plumas; e acordei nas nuvens. Tipos de fraseados como este são típicos dos amantes.
    Românticos genuínos são raros. Não são de fazer muito sucesso, a não ser que tenham uma boa aparência e bastante dinheiro para rasgar. E, convenhamos, os que têm muita grana não estão nem aí para algo que significaria mostrar-se vulnerável. Os afortunados e de boa aparência estão rodeados de mulheres como de taças de champanhe e amigos oportunistas. Não ligam para isso de fiel sentimento.
    As músicas falam - quando têm poéticas letras - do amor com tal propriedade que chega a ser espantoso. Mas descrevem, não a realidade, mas a fantasia inexperienciável. Não que eu queira com isso dizer que não podemos viver um amor verdadeiro. Podemos! Porém nunca ninguém viverá, dia após dia, o que propagam as canções e filmes adocicados. A rotina existe! O que é corriqueiro mata o que é mágico. E o suportar o cotidiano, isso sim, é o verdadeiro amor.
    Houve uma menina. Seu nome? Perdoe-me não poder mencionar. Ela era tão doce! Hoje está um pouco diferente. Vi-a passar em frente à praça central. Num passado não muito distante, eu me vi envolvido em sentimentos com ela. Dar-lhe-ei um nome fictício para que possa seguir a narrativa mais delimitadamente.
    Vívia era um céu em flor. Gostava de ser diferente também. Tinha um anel no polegar. Um riso jovial nos lábios e um monte de sonhos por realizar.
    Hoje a vejo mais séria. Fita-me com olhos quase que arregalados! Talvez a rotina tenha-a deixado mais propensa à tal transformação, que aconteceu - creio eu - regada com muito suor e lágrimas. Não queria que isso lhe tivesse sobrevindo! Sofro por vê-la tão adulta! Penso que a maturidade não precise ser, necessariamente, a perda da meiguice. Sei que muitas mulheres feitas se dizem meigas, porém não acredito muito nelas, não.
    Vívia foi chegando aos poucos. Um amigo nos apresentou, em um dia que tiramos para "passarmos" umas músicas minhas no violão. E o ela ter vindo à minha casa deve ter-se devido a algum convite prévio desse meu amigo também! Foi chegando, chegando e, de repente, eu estava envolvido em amores.
    Lembro ter que acordar de manhã para pegá-la na escola e levá-la em casa. Para mim sempre fora desconfortável acordar de manhã. Estudei uma pequena parte da minha vida em período matutino. Quando estudava à tarde, ainda tinha por costume o acordar de manhã. Mas, quando passei para o período escolar noturno, deixei de acordar cedo. E, quando eu me envolvi com a Vívia, eu já estava formado! Não queria acordar de manhã de jeito nenhum! Nem quero hoje!
    Ao parar de ir buscá-la na escola, por pura negligência, demonstrei falta de afeto para com ela. Ela revoltou-se. Tinha toda a razão! Sou um bruto mesmo! Senti muito perdê-la. Acho que só pensei em mim. Na verdade, eu queria poder sair com ela à noite. Por causa dos seus pais - se eu me lembro bem - ela não podia sair à noite. Era um tanto nova! Mas - penso eu - dezesseis já é idade para se sair à noite! Ora bolas! Tudo bem. Nossa história acaba aqui. Findou-se em poucos meses, por isso só conto relacionamentos como sendo eu um simples "ficante", não um namorado. Vívia foi a de maior tempo... E o sol, raiando ao meio-dia, fez murchar a rosa.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

A História da Minha Vida - Fragmento 2 - Por Felipe Amaral

Fragmento 2


    Perdoe-me Deus, mas quero viver sem contemplar a dor. Disse “perdoe-me”, porque sei que Deus a permite. Não sei o porquê de tal permissão, mas continuo acreditando n’Ele, pois, sem Ele, eu não poderia saber, verdadeiramente, nem o que venha a ser o significado de “porquê”; e nem nada. Tudo seria só matéria, mas matéria não pensa no que é ser matéria!
    Desespero-me, às vezes, justo porque não me conformo com o sofrimento. As pessoas vivem suas vidas e nem se dão conta do que vivem. Não vivemos uma vida boa de verdade! Tudo é injusto. O desconsolo permeia tudo! E, se temos algum  tipo de prazer efêmero, esse não consegue, de modo algum, redimir todo o resto.
    Perdoe-me! Vou ver se deixo você em paz. livrar-te-ei (ou tentarei, juro!), de agora em diante, de minhas reflexões filosóficas existenciais.
    Mudando de foco… Lembro quando me apaixonei. Senti um gelo na barriga. Escrevi muitos sonetos. Basta! Fiz o que todos fazem quando se apaixonam.
    Não percebi que aquela garota tão bonita, ao perceber que eu a encarava com um olhar diferente, colocara-se à disposição do meu amor. “Que sorte a sua!” - diziam todos. Uma linda garota! Uma inexorável beleza!
    É da paixão o deixar-nos bobos. Os racionais sempre se viram doidos com os paradoxos da atração passional. Não sou um gênio, mas nunca me vi à vontade diante de tal sentimento. Fato é que, quando se está apaixonado, a gente pensa muita bobagem. A gente se deixa levar pela maré. Tudo é riso. E o riso dos bobos.
    Posso dizer que, hoje, sou mais “pé no chão”. Ainda assisto a muitos filmes românticos... São tocantes, admito! Todavia, ao fim, desligo a TV e o coração. Abrindo os olhos para a realidade, vejo só a dúvida e a dor. E sei que você pode estar se perguntando: “como pode um cara que crê em um Deus Todo-poderoso enxergar assim o mundo”? Respondo: Embora eu não o enxergasse assim como o vejo, ele continuaria sendo da mesma forma, em detrimento do que eu quisesse ver ou estivesse vendo. É lógica, não paixão.
      Ó Deus, peço-te que escuses o que falo. Sou tão fraco. E somos todos assim mesmo. Certo é que a gente pode até pensar ter ímpeto para viver de modo plenamente contemplativo e objetivo, mas, ao final, desfalecemos. Mas sei bem que alguns vão querer me questionar. “A vida é boa!” - dizem vários. Penso sobre o tanto que esses vários pararam para pensar sobre a vida. Mas - cuidado! - não estou dizendo que a mesma vida não tem seu fulgor prazeroso. Este livro não é sobre o triunfo do vazio e a derrota do gozo! Nós temos com o que nos alegrar nesta vida, embora isso nunca me seja o suficiente, racionalmente falando.

     Agora lembro dos presentes que ganhei. Nada nunca se compara com a primeira vez de tudo. A primeira vez de olhar algo novo. O riso é muito intenso. Não pensamos em outra coisa. A beleza feminina também nos reserva momentos assim. Grandes “performances” nossas. Grandes promoções. Belas composições. Um filho! A primeira casa, quitada depois de anos. Tudo é só alegria! Impressiona!

A História da Minha Vida - Fragmento 1

     A História da Minha Vida


Por Felipe Amaral

 Fragmento 1

     Olá! Tudo bem?... Então tá.
    Bem, a história da minha vida não é extraordinária. Revoltante seria o termo mais apropriado.
    Creio que não viera ao mundo para ser habitante da cidadezinha na qual sempre morei (pelo menos, até agora! já faz trinta anos!). Sempre tive um quê de diferente ou de querer ser diferente. Não seguir imposições, sabe? Pena é que, agora, a esta altura, tudo o que posso fazer - só humanamente falando - é espernear. Mas Deus há de cuidar de tudo.
    Não entendo porque as pessoas fazem o que fazem. Elas se esfalfam. Lutam demais. E, porque não aceito tal combate inútil, sou reputado por leniente (Deus o sabe!).
    Já na entrada para a adolescência, minha vida foi começando a ficar nublada. Começaram a me inquietar com toda essa imposição de crescimento que todos nós estamos acostumados a ver por aí: “Faça isso!” “Faça aquilo outro!”... Ó Deus, livrai-me de tais inquietações!
    Para a esmagadora maioria das pessoas, você só é alguém quando consegue obter “status”. E “status” consegue-se com dinheiro, quase todas as vezes. Ninguém jamais vai ligar para você, a menos que você se enquadre. Você pode ser um Diógenes ou um Alexandre, o Grande, mas, com toda certeza, na visão puramente mundana, nunca há de haver uma terceira via a ser trilhada.
    Tenho muitos amigos (graças a Deus!), mas, para falar a verdade, muito pouco reconhecimento: os debates provam isso! Sou um amigo que deve se colocar no seu lugar. Ouvir. Rir, às vezes. Mas jamais altear a voz (o que costumo fazer, até inconscientemente). Resumo: não sou reconhecido como alguém que tenha, na verdade, algo novo e factual a repassar.
    Conheço algumas garotas também. Sou sempre um amigo. Não creio que pudera nunca ser mais que isso. O fato é que a falta de “status” me desvirtua de tal forma que, o que me resta são só títulos que subentendem piedade, nada mais.
    Não podendo ser injusto comigo mesmo e com tão poucas garotas, permito-me alegrar minha pobre alma com um pequeno detalhe a ser revelado: eu tive “ficantes”! Se parece surpreendente e contraditório - visto que mencionei acima que “sempre fui um amigo” - dou a satisfação devida. Não é porque se é um “ficante” que não se possa ser “um amigo”. Nunca fui um “ficante ficante”, na verdade. Sou muito pouco sabedor do que fazer em horas de clímax voluptuoso. Abracei-as, cheirei-as, beijei-as, mas nunca - creio eu - nunca consegui fazê-las sentirem-se “super- amadas”, “super-realizadas”, sei lá.
    Eu sou assim. Um menino que pensa que, apesar de tudo, deva ser o que é mesmo. Não seria eu, se não o fosse! Veja! Dramatizar, teatralizar, fingir… Isso eu deixo para os “boyzinhos” de plantão. Eu vivo a vida. Não importa se tenho, ou irei ter, algum dia, um carro da hora ou uma fama estratosférica. Eu sou eu mesmo! E não me permitiria ser outra coisa. Afinal de contas, eu não viveria os meus dias. Seria algum tipo de “coisa” ou “entidade” que eu deixaria se apossar do meu corpo, se me deixasse iludir pelo fingimento.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Cordel Urbano - Ângela - Poeta Felipe Amaral

Ângela
Poeta Felipe Amaral


1
Eu me mantive parado,
Olhando o céu estrelado,
Imaginando poder
Haver a pequena chance
De viver doce romance
E acabei por me envolver.
2
Era uma noite de Abril.
Num esforço pueril,
Eu tentava não fitar
Àquela que ali sorria.
Meu coração já sofria,
Mesmo antes de se entregar.
3
Fora a ação mais doída
Que já fizera na vida,
A de entregar-me à paixão.
Sofri por muito temer.
Não queria me envolver.
Mas sucumbi à pressão.
4
Eram os olhos mais lindos.
Claros, de alvores infindos.
O azul de um noturno mar.
A brisa nos seus cabelos.
E eu, sorridente por vê-los,
Não conseguia evitar...
5
A paz que advinha dela
Era a paz que se revela
Nos loucos vôos da’atração.
Seu riso. Sua alegria.
A mais perfeita magia
Que cativa o coração.
6
Vi-a naquela avenida.
Tive a alma revestida
De sentimento sem par.
O seu amor desejei,
Porém não me apresentei
Por temer me aproximar.
7
Ângela de céus nivosos!
Oh encantos donairosos!
Oh rebelde obsessão!
Renegara a fantasia,
Até que, naquele dia,
Algo nublou-me a razão.
8
Não conseguia dormir.
Decidi me decidir.
E, ao hesitar hesitar,
Vi-me buscando um amor,
Pra mim, imerso no alvor
Angelical do luar.
9
Era ilusão a certeza.
Meu coração sem defesa...
Minh’alma sem proteção...
Dera tudo e nada tinha.
Tal ilusão advinha
Dos caprichos da paixão.
10
Minha razão relutara,
Mas a emoção ganhara
O confronto de uma vez.
Estava eu abandonado.
O coração quebrantado.
Ó dia! Ó maldito mês!
11
Ela já tinha um amor.
Não haveria dulçor
Pra minh’alma angustiada.
A guerra fora perdida.
A vida perdera a vida.
Tudo fez-se um grande nada.
12
Hoje a avenida é triste.
A dor em mim subsiste.
O céu, o brilho perdeu.
Fora embora a linda jovem.
As lembranças me comovem.
A esperança morreu.
13
Eis os olhos da verdade.
Severa realidade.
Licor de fel. Desventura.
A minha vida acabou.
Não sei mais nem quem eu sou.
  • Vê! Este mal É sem cura! (2x).

sábado, 22 de novembro de 2014

Útimos Escritos

À Susposta "Zona de Conforto": Será que você existe mesmo?!
Poeta Felipe Amaral


Racionalmente, vamos pensar um pouco! Todos esses chavões (expressões batidas) que repetimos a vida toda nada mais são que imposições psicossociais (refiro-me aqui, mais especificamente, à expressão "zona de conforto"). Vejamos:

Um escritor que gosta de escrever para viver; um poeta que ganha a vida poetificando-a e sente prazer nisso; ou um corretor da bolsa de valores, que não passa de um "workaholic", oficia sendo-o e se sente bem sendo-o... Todos estariam em uma "zona de conforto" (eis um bordão regurgitado demasiadamente), simplesmente porque sentem prazer fazendo o que fazem?

Agora se alguém me diz que o que A ou B fazem não é trabalho e sim hobby, pergunto: quem estipulou a regra do que pensar como trabalho ou como hobby? O leitor pode ganhar a vida só lendo, da mesma forma o escritor escrevendo , ou o limpador de janelas limpando, ou o pedreiro construindo, ou o lixeiro varrendo, ou o "consertador" de qualquer coisa consertando... O problema está em que nem todos têm a oportunidade de se sustentarem fazendo o que fazem bem e com prazer. Mas, daí, não decorre que estão errados. Podem até não atenderem às expectativas, todavia, errados errados mesmo, não estão, ainda que padeçam necessidades.


Brincando de Pensar
Poeta Felipe Amaral

Eu sou um bobo. Um bobo sorridente. Passo em frente às casa da cidade tocando violão na esperança de que alguém queira, ao menos naquele curtíssimo espaço de tempo, desvencilhar-se da porcaria musical que o aprisiona.
    Mas eu não tenho “status” a distribuir. Não tenho roupas caras. Não sou um cara que siga a moda. Sou um bobo que passa tocando seu violão. Um bobo bobo.
    Talvez você me encontre por aí e me faça a mesma pergunta que todos costumam-me fazer. Sempre tão desconcertante! Sempre tão ridícula. A mesma pergunta sem o mínimo de criatividade. Ou, então,  queira me provocar. Ah... isso acontece também.
    Havia uma menina que estudou tanto para atingir um certo objetivo que acabou com dor de cabeça e zero na prova. Sabemos que o emocional conta muito. Mas o mundo vive dizendo que somos máquinas. Não devemos nos preocupar com isso. Somos tão fortes quanto o Homem de Ferro do cinema.
    O citado acima tem tudo haver com a inquirição que sempre me fazem. Mas não importa o que eu diga, só o que valerá alguma coisa para os tais será o que convém ao sistema, esse sistema de dores, sistema que fabrica pessoas que adoecem. Os que suportam são sortudos, nada mais. Queria ver se eles começassem a ficar tão debilitados que não pudessem fazer mais nada... O que iriam fazer? O fazer mal ao corpo é como uma divindade a ser reverenciada todos os dias.
    São pessoas que não param para sorrir um pouco. E quando o fazem, não é com sinceridade. Ainda continuam fazendo um esforço sobre-humano para serem aceitas, para serem as mais sorridentes, para serem alguém, serem vistas… A vida dessas pessoas é fétida como os detritos o são. Não se dão conta.
Para que tanto sofrimento? E muitos nem sequer acreditam em Deus. Isso é, no mínimo, hilário e, no máximo, uma estupidez sem precedentes… Tenho que ir dormir agora. Mas, com certeza, não irei deitar pensando em como devo deitar ou no que devo sonhar para ser visto como um modelo a ser seguido, idolatrado, divinizado, sei lá mais o quê. Fui!


Contemplações da Razão
Poeta Felipe Amaral


    Sobrevém-me um medo. Estou só. Os meus planos não são respeitados como se adviessem de alguém que tem mesmo uma mente pensante. É que quero deixar tudo em aberto. Quero acreditar em Deus. Não penso ser justo o ser obrigatória a acomodação da vida às ordens de uma sociedade automatizada. Deus o sabe.
    Já passei por algumas dores que duraram um tempo considerável, mas, ao fim, não permaneceram. Não penso que Deus irá deixar que tudo dê errado. Não posso acreditar que preciso me deixar robotizar. Não há nada de lógico nisso!
    Meus amigos todos estão conseguindo o sustento mediante comprovação, via diplomas, de suas potencialidades, mas, todo dia, quando eu olho para a TV, eu fito uma realidade na qual o que menos importa é um diploma. O dinheiro parece brotar como mato. Todo mundo é ridente. Tudo é - aparentemente - tão bonito!
Sou um escritor! Componho às vezes. Faço meus próprios arranjos para as canções que “pego de ouvido”. Alguns dias meto-me a glosador. Canto também. Perdi as contas do tanto de coisas que já escrevi, compus, criei. Sou - modéstia à parte - uma máquina de criar. Crio neste exato momento. Porém, tudo o que faço é reputado por lixo, nada, refugo.
É revoltante ver gente que, por simples orgulho, adentra os salões da arte. Claro que, no fim, nunca é arte o que é feito. É lodo. Lama. A “playboyzada” é especialista nessa “parada”.
Então, fico só. Solitário, crio os meus personagens. Solitário, canto minhas canções. Solitário, recito. Solitário, solitário, solitário. Dane-se! Perco a paciência.
Não consigo ainda ver nitidamente o que me espera, mas creio que Deus há de reconhecer meu potencial e me colocar no lugar onde devo estar. Não que eu queira ser nada! Quando falo isso quero dizer que não quero ser mais que ninguém. Quero só ser eu. É possível? Tomara seja...

Motes e glosas de natal - Felipe Amaral


Abra a sua moradia
E deixe entrar o Natal
1
Adorne toda a varanda
Com luzes resplandecentes.
Ponha dourados pendentes
Presos à linda guirlanda
Pra que a data meiga e branda
Do Natal seja um total
Deslumbre; e especial,
Cheia de alvor e alegria.
Abra a sua moradia
E deixe entrar o Natal.
2
Chame os colegas à ceia
E a vizinhança também,
Que alegre é o lar que tem
Toda a sua extensão cheia,
Porque essa união clareia
A vida espiritual.
Sorria co’o pessoal
Que, à mesa, se delicia.
Abra a sua moradia
E deixe entrar o Natal
3
Faça uma festa sem par
Em riso em empolgação.
Demonstre satisfação
A quem visita o lugar.
Chame todos pra cantar
Neste desfecho anual.
Celebre de forma tal
Como ninguém poderia.
Abra a sua moradia
E deixe entrar o Natal
4
Envie cartões postais
Para todos os parentes
E distribua presentes
Entre os mendigos locais.
Cantatas e recitais
Não evite, que é normal
Celebrar todo final
De’ano com canto e poesia.
Abra a sua moradia
E deixe entrar o Natal
5
Pela manhã não hesite
Em fazer reunião
Para uma celebração;
E nem rejeite convite.
À tarde, abra o apetite
Da parentela local
Co’uma matinê formal
Da ceia, durante o dia.
Abra a sua moradia
E deixe entrar o Natal
6
Toda noite faça festa,
Porque este mês dezembrino
É todinho natalino;
E isso ninguém contesta.
O riso se manifesta
No ar residencial
E a paz individual
Pra o coletivo irradia.
Abra a sua moradia
E deixe entrar o Natal
7
Faça orações a Jesus
Inda mais intensamente.
Vá ao culto e, no ambiente
Da’igreja, se entregue à Luz
Que incentiva e que conduz
O ser à paz divinal.
Promova o Essencial
Da data dia após dia.
Abra a sua moradia
E deixe entrar o Natal
8
Vá à rua e sorva a verve
Do amor que refulge e canta.
Sinta’a’unção que se levanta
Na’alma e a mesma conserve.
Fale, celebre e observe
A beleza estrutural
Da riqueza ornamental
Envolta em brilho e magia.
Abra a sua moradia
E deixe entrar o Natal


Escancare o coração
Pra emoção do Natal.

1
Prepare a sua morada
Pra receber os parentes.
Faça a compra dos presentes.
Vá à varanda adornada.
Veja a rua ornamentada.
Fique mais sentimental
Pra desfrutar, afinal,
O máximo da emoção.
Escancare o coração
Pra emoção do Natal.



Possa você desfrutar
Da emoção natalina.
1
O Natal nos brinda com
Sentimentos indizíveis.
As sensações são incríveis.
Porque o Natal é um dom.
Tudo é muito mais que bom.
A beleza nos fascina.
A emoção nos domina.
E o amor nos faz cantar.
Possa você desfrutar
Da emoção natalina.


Motes e Glosas de Natal - Felipe Amaral

Sopra a brisa natalina
Na avenida iluminada.
1
O Natal chega trazendo
Com ele amor e alegria.
E a quimera e a fantasia
Ofertam vigor tremendo
Ao fantástico e estupendo
Sonho infantil pra que invada
A enternecida morada
Toda envolvida em neblina.
Sopra a brisa natalina
Na avenida iluminada.


O Natal tem o poder
De me tornar mais feliz.
1
Saio a à rua e vejo amigos
Que vêm à minha cidade.
O bem a minh’alma invade
Como a luz toma os abrigos.
Dores, mágoas e perigos
Vão-se e a alva flor-de-lis
Do amor brota da raiz
Do mais sublime prazer.
O Natal tem o poder
De me tornar mais feliz.



Chegando o Natal, eu faço
Um banquete a cada dia.
1
Arrumo tudo certinho
Com esmero e com capricho.
Relego angústias ao lixo
E adorno de vivo alinho
O meu lar, inda sozinho,
Pra, depois, em companhia
De amigos, na moradia,
Preencher de amor todo o espaço.
Chegando o Natal, eu faço
Um banquete a cada dia.


Tudo fica mais bonito
Co’a chegada do Natal
1
Orno a varanda singela
Com luzes de brilho infindo
E o meu lar fica mais lindo
E a minha vida mais bela.
É que essa data revela
De uma forma especial
O que há de mais virginal,
Dissipando o vil conflito.
Tudo fica mais bonito
Co’a chegada do Natal.


Pra mim, nada se compara
Co’a emoção do Natal
1
Tudo é lírio e fantasia.
A casa se enche de graça.
A brisa suave passa.
A rua inspira magia.
É que a mágica do dia
Natalino é sem igual.
Reencontro o pessoal
E o meu coração dispara.
Pra mim, nada se compara
Co’a emoção do Natal.



Há um segredo escondido
Na magia do Natal.
1
Não sei bem o que motiva
O ser a pensar assim.
Menciono isso só pra mim,
Evitando alheia oitiva.
É que há um dom que incentiva
Meu coração fraternal
Nessa festa sazonal,
Mas não lhe abarco o sentido.
Há um segredo escondido
Na magia do Natal.



Tudo fica mais risonho
Quando é noite de Natal
1
O ar destila inspiração.
As vitrines resplandecem.
As amarguras decrescem
E amor ganha impulsão.
Bate forte o coração.
E o ser, mais sentimental,
Canta canções em coral
E nada faz-se enfadonho.
Tudo fica mais risonho
Quando é noite de Natal.


Poemeto de Natal - Felipe Amaral

Mote:
Todo Natal reaviva
O fulgor da esperança.

1
É chegar dezembro, eu sinto
Que tudo está diferente.
Há, definitivamente,
Neste mês, algo distinto.
A paz adentra o recinto
E a brisa suave e mansa
Evidencia a mudança
De maneira conclusiva.
Todo Natal reaviva
O fulgor da esperança.
2
É como que ressoasse,
Todos os dias do mês,
Um som ante a vividez
Das luzes, sagrando o enlace
Da paz e do amor, em face
Da’incompassiva cobrança
Da vil rotina que avança,
Mas jaz, mesmo em recidiva.
Todo Natal reaviva
O fulgor da esperança.
3
Tudo é agapanto e lírio!
O prazer imerge a alma
Num oceano de calma
Que flui do divino Empíreo.
Sucumbe a dor. O martírio
Cede lugar à bonança
Que alenta a perseverança
Da fé, antes inativa.
Todo Natal reaviva
O fulgor da esperança.
4
Vou à rua, onde cintilam
Miríades de alvas luzes
Como uma explosão de obuses
E estrelas que, em brilho, oscilam.
As angústias se aniquilam
E os risos, vindo em pujança,
Dão certeza à confiança
Que a vida há de ser festiva.
Todo Natal reaviva
O fulgor da esperança.
5
Esse infantil panorama
Deleita a alma que aspira
Ao terno toque e suspira,
Sorvendo o fulgor da chama…
Cada ação, cada programa;
Cada canção; cada dança
Têm um quê de uma lembrança
De uma infância sempre viva.
Todo Natal reaviva
O fulgor da esperança.
6
Há bailes de formatura;
Festas há, de casamento;
Banquete, a todo momento;
“Shows” e mostras de cultura;
Um sino em miniatura
Que bimbalha, ao que balança;
E um desejo de criança
Que da’ilusão não se esquiva.
Todo Natal reaviva
O fulgor da esperança.
7
Há confraternização
De amigos e conhecidos,
Que, embora o sejam, são tidos
Por familiares e tão
Próximos quanto o irmão
Que, ao chegar em segurança
Da viagem, já se lança
À reunião “massiva”.
Todo Natal reaviva
O fulgor da esperança.

Autor: Poeta Felipe Amaral


Reflexões Sobre a Vida
Poeta Felipe Amaral

O mundo nos propõe sempre duas escolhas:  viver como um robô ou morrer como um Diógenes. Mas é claro que alguns vão dizer que se adaptam bem ao que o mundo apregoa.
Na verdade, você não é nada, a menos que dê o sangue. Mas por que tem que ser assim?
Dar o sangue até pode parecer uma expressão corriqueira e leve, mas resguarda, no fundo, uma ideia opressiva que sempre passa desapercebida.
Para explicar melhor, proponhamos uma realidade: Um menino nasce numa família de classe média. Cresce presenciando toda a correria dos seus pais que “ralam” muito para sustentá-lo. Quando chega em idade de ingressar nos estudos, começa então a ter contato com algo já predefinido para fazê-lo “se desenvolver” intelectualmente. E a vida estudantil é toda um microcosmos do mundo de competição que o espera depois da fase colegial: “Seja o melhor”. “Tire dez em matemática”. “Você errou um parágrafo inteiro?!”. “Olha quem está ficando com a mais gata da escola”. “Você pode comprar tudo o que você deseja?... Não? Mas eu posso”.
Decerto, a mente humana criou tudo isso. Não precisa ser assim. Temos uma veneta louca que nos leva a querermos complicar as coisas. Mas, se for fácil, então não presta. Eis o mantra: O fácil é do Diabo !
Caso o menino da historieta hipotética acima não se enquadre nos padrões, tudo “desabará” sobre sua cabeça. E lá vai a mãe dizendo: “Nosso filho não terá futuro!” Lá vai o pai: “O que fiz para merecer isso?”
Ele - o menino - só quer fazer poesia. Ele quer montar um grupo de música “folk”. Quer viver livre! Ele só quer viver. E viver de verdade para ele é, de fato, viver, viver mesmo! Só que todos vão questioná-lo. “É louco!” Dirão. “Esse filho dos vizinhos… Pobre garoto. Sempre será pobre”.
O menino pode não ligar para isso ou para aquilo. Pode continuar vivendo. Talvez saia de casa. Vá morar longe. Trabalhe em um bar. Talvez durma algum dia debaixo da ponte. Talvez vá se recostar nos bancos compridos da rodoviária. Mas o que o povo vai pensar? “Quem se importa?” Retrucaria o menino.
Há pedreiros, estagiários, office boys, aeromoças, bancários e limpadores de janela, mas só o que ele faz não é trabalho. Só o que ele faz! Unicamente o que ele faz. Quem disse ao mundo que o que ele faz é um hobby? Quem disse que, no futuro, ele poderá pensar em se divertir? Quem disse que haverá futuro? Quem é como Deus? Acho que o sistema se porta como um deus.
Deixe o menino fazer o que gosta. Deem-lhe oportunidades. Não alimentem um rancor infundado. Não há razão para se odiar quem é diferente. Odiar o que esse diferente faz. Odiar o que ele diz.  Deixem-no.
Aqui está tão frio. Mas são poucos o que não vão ficar surpresos se, ao entrarem, encontrarem a lareira acesa e o chocolate quente na mesinha de centro. Eles não querem facilidade. “Então, corram! Embrenhem-se na floresta congelada atrás de gravetos para fazer o fogo. Eu vou ficar aqui no aguardo”. Mas alguns diriam: “Por que você?” Ao que o “folgado” responderia: “E por que não? Alguém tem que ocupar essa vaga! E, já que ninguém se dispôs - e , isso, até inconscientemente - eu o fiz. Bye”.


Sonetos ao Vento
Poeta Felipe Amaral

1
Busco flores em meio à tempestade.
Ouço o vento bater contra as janelas.
Corro à rua à procura das singelas
Alegrias das quais tenho saudade.

É num beijo que as dores, na verdade,
Findam dando lugar àquelas belas
Sensações que desfazem as mazelas...
E a procela se vai co’a claridade.

Dança o riso de outrora. Ri a vida.
Vejo as ondas daqui. E eis a guarida,
Que o amor construiu, toda adornada.

Há canções passionais. Há sons que ecoam.
O perfume do amor. Frases que soam.
O prazer de uma paz eternizada.

2
Levo flores. Transporto as esperanças
Que motivam a rir quem já não ri.
Levo beijos. E, a paz que antes senti,
Reavivo. Renovo as alianças.

É o vento a soprar!... Inseguranças
Que se vão ante a luz que nunca vi
Tão brilhante. É a rosa. O colibri
Que voeja. É a vida. A brisa mansa.

Tudo lindo. O descanso que restaura.
Céu azul. Mar azul. Sol que se instaura
N’alma, dando ao meu ser novo vigor.

A bonança. É a dança. É o lirismo.
Nessa festa, eu repouso. E o cataclismo
Evapora ante a égide do amor.


Sonetos do Nada - Poeta Felipe Amaral

1
Sou o abismo da vida. Encarcerei-me
Nos recônditos vãos. Sigo. A neblina
Direciona-me ao breu... Que me defina
A ilusão de poeta! Aprisionei-me.

A clausura é-me doce. Norteei-me
Pela luz do prazer. A cristalina
Alvorada desprezo. Eis a campina
Obscura da noite. Acomodei-me.

Sou agora esse grânulo de ideias.
Afogueio o semblante das plateias.
Não atendo nenhuma expectativa.

Sou um livre funâmbulo das horas
Cambiando o crepúsculo de auroras
Pelas trevas da noite convulsiva.

2
É na sombra das horas que me escondo.
Levo versos ao caos da existência.
Sou poeta de dores. A vivência
Conduziu-me ao torpor. Nada respondo.

Não me chame. Não clame. Correspondo
Aos que não se emocionam-me. Paciência!
Pare tudo! Não grite! A conseqüência
Desse medo retumba em tredo estrondo.

Eis os rios da paz. Eis as colinas.
Ao sossego da vida tu te inclinas.
Ao sossego eu me inclino. Livre estou.

Quando a luz ressurgir, eu dormirei.
Quando a noite erigir-se, acordarei.
Sou poeta. Sou pó. Sou vento. Sou!

3
Leve sopro. Caminho. Falo baixo.
Estou só. Só me elevo. Busco flores.
O lugar me permite que os alvores
Veja. São de artifício, ao que me encaixo.

Não me encontro tristonho, cabisbaixo.
É tranquilo viver na noite. As cores
Desse breu aviventam-me os amores.
O prazer de sorrir. A dor rebaixo.

Relegando o temor ao vil exílio,
Penso versos de amor. O domicílio
Aparenta os Etéreos Aposentos.

Cada riso, uma ode. O madrigal
Da sonata noturna. O sideral
Acalanto de Elísios Firmamentos.


Sonetos Sonantes - Poeta Felipe Amaral

1
É a brisa que guia a minha vida.
É o barco da paz que me transporta.
Leve traço de riso. Alma que aborta
Embriões da tristeza concebida.

Campos. Aves. O vôo. Alva jazida.
O repouso. O descanso que conforta.
Noite negra dos sonhos. Dor já morta.
Vida viva. Passeio. Aura florida.

Pele nívea. Paixões primaveris.
Emoções sazonais. Versos febris.
As cantigas boêmias do prazer.

Violões de plangência grave-aguda.
O labor da cadência. Luz desnuda.
Eis o plectro que embala o meu viver!

2
Flautas. Vozes. Canções e melopéias.
Violões que conversam num diálogo
De cadências harmônicas análogo
Ao das almas amantes. Panacéias.

O remédio do espírito. As idéias
Que, dos céus, vêm à Terra. Ordem. Decálogo
De boêmio viver. Ao ser, catálogo
De emoções, logopéias, fanopéias.

Brinca o riso. Arfa o canto. Sorve a doce
Existência o poeta… Se o não fosse,
Morreria do tédio que lacera.

Soa a música. A mente, em paz, divaga.
O alentoso momento cura a chaga.
A canção da poesia reverbera.