quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

A História da Minha Vida - Fragmento 13 - Felipe Amaral

Fragmento 13


    O pôr-do-sol é leve. Busco tal suavidade para as minhas pobres linhas. Procuro um leve suspiro. Quero aprisionar-te sem tornar-me despótico. Quero doar o que não tens. Fazer-te esquecer. Não é dinheiro. Nem seriam orgias. Nem ouro ou prata. Nada de fama. Reconhecimento. Mas o que é necessário para sobreviver. Tudo o que fosse sobremodo certo. Certo de usufruir lugar nas nossas vidas. Pobres vidas! Mas não são tão pobres assim. Temos o sonho. Doar-te-ia o que queres, mesmo sem saber o que queres. Como um condutor de sonhos. Como um manipulador de fantoches. Você seria minha marionete, mas não se importaria de sê-lo. Você quereria sê-lo. Gostaria. Sorriria. Como o "crack". Viciante do mesmo modo ou ainda mais. Cocaína literária. Ácido Lisérgico da mente ávida por floreios lingüísticos. Semântico enleio. Correia verbal que prende. Luz que encarcera. Uma "Coca-Cola" para os olhos. Um café da manhã para o lado do cérebro que se dedica às letras. A letra enclausurante. Você seria um monge. Meu servo. Meu lacaio. "Ajoelhe-se!" Seguiria as minhas ordens. Porém nunca me veria como um manipulador de bonecos. Autômata sensação prazerosa de se estar preso e querer estar preso. Preso para sempre. E a riqueza me alcançaria. Venderiam meus escritos como comercializam água. Ou café. Valeria o preço dos diamantes, mas seria tão imprescindível quanto o oxigênio. Chegaria ao ápice. Ao cume do êxtase. Ver-te-ia a gargalhar. Você esqueceria até de comer para ler-me. Esqueceria o banho. A janta. O ódio. O amor, só sentiria quando eu o suscitasse. Mas essas são palavras vãs. O compatibilismo é uma ilusão de liberdade. Deixe-me pobre; e que você me despreze. Isso é o verdadeiro amor. A liberdade é o amor. Comandos... Mais comandos... Ninguém precisa!... Nada é útil. Só esta prosa. Somente este som. Apenas (sorrio)...
    Você está, à noite, em um ônibus vazio. Lotado? Cheio de quê? Talvez cheio (de gente). Ou cheio de cogitações acerca do porvir. Talvez você não consiga largar mais este pedaço de papel. Mas não se preocupe com isso. Eu não ficaria preocupado (eu ainda rindo aqui comigo). Ó doce prisão. Consegui. Aí, você desliga. E - veja! - estou só novamente. Não faça isso.
    Ainda que tenha crescido, o ser humano é sempre bisonho. Os dias reservam-lhe o novo. O novo assusta. Há algo inexpugnável no novo. Os dias são sempre assim. O futuro (impossível manietá-lo! que porcaria! e logo eu que visava ser um "amoroso ditador"...). A marcha dos viandantes. Transeuntes à procura da bagagem perdida. O quadro é sempre o mesmo. Mas as cores chocam. E a notícia não demorará a vir. Medo...

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