segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

O Bebê de Rosimário (título paródia de O bebê de Rosemary)

O Bebê de Rosimário 
(parodiando o título "O bebê de Rosemary" do livro de Ira Levin)

1
Na cidade de Moscou,
Perto de Serra do Mar,
Ocorrera um casamento,
Comum em qualquer lugar,
De um padeiro e uma atendente
De loja de celular.
2
Compunha-se esse casal
De um indivíduo exemplar
Chamado de Rosimário,
E a mulher de Rosimar.
E, assim, fizeram-se os votos
Como é comum, ao casar.
3
Asseverou-se normal
A vida dos dois no lar
E co' um ano de casados,
Veio ela a engravidar.
Tudo muito natural
Como é de se constatar.
4
Só que se fez esquisito
O que não era de dar
Qualquer sinal de estranheza
Dentro do' âmbito popular,
Que, com seis dias apenas,
Sentia-se o bebê chutar.
5
Rosimar, ao seu marido,
Veio o fato revelar,
Mas ele pensou que a mesma
Estivesse a se enganar
E não deu muita atenção
Ao evento singular.
6
Quinze dias foi bastante
Pra bolsa dela estourar.
Correram pra o hospital.
E, ele sem acreditar,
Pensava ser um mioma
Vindo a se configurar.
7
No entanto, quando ele ouviu
De longe o bebê chorar,
Depois de ela dar a luz,
Já no leito hospitalar,
Correu pra o quarto e foi ver
Pra poder acreditar.
8
Aí o doutor Alfredo,
Obstetra do lugar,
Perguntou-lhe se a mulher
Poderia confirmar
Se fizera o pré-natal,
Praquilo se comprovar.
9
Ele trouxe os documentos
Pra consubstanciar
A sua asseveração
De que o evento sem par
Podia ser confirmado,
Posto ele poder provar.
10
Todo o hospital se assustou.
O médico não quis olhar.
A enfermeira de plantão
Não queria acreditar.
E, desde aí, os demais
Quiseram tudo “abafar”.
11
Mas aquele acontecido
Era pra noticiar
Em toda televisão
Pra se poder encontrar
Algum médico pelo mundo
Que o tal pudesse explicar.
12
Fato é que o casal voltou
Pra casa, após completar
Os dias de internação
No recinto hospitalar,
Ainda mais abismado
Co' o caso espetacular.
13
Rosimário até voltou
Ao hospital pra falar
Com quem registrava os partos
Ocorridos no lugar,
Só que acabou “foi” barrado,
Não podendo ali entrar.
14
É que a junta resolveu
O fato todo abafar,
Devido pensar que aquele
Homem viera a mostrar
Documentos sem valor
Co' a intenção de enganar.
15
Pensavam que aquele homem,
Por certo, quisera achar
Uma forma imediata
De na mídia se mostrar,
Citando o fato ocorrido
Como podendo provar.
16
Registrou-se o acontecido
Como havendo elementar
Constatação que pudesse
Tudo aquilo refutar
E, assim, o caso passou
Como um fato regular.
17
Rosimário até pensou
Em tudo denunciar
Ali na delegacia,
No entanto, deixou passar
Por não querer perder tempo
Com gente incrédula e vulgar.
18
Em casa, viu a mulher
Balançando devagar
O bebezinho e almejou
Também o neném ninar.
Então, pediu a criança
Pra podê-la segurar.
19
“Fez beiço” e bilu-bilu,
Estando a acalantar
A criança e, aquela imagem,
Veio à mãe emocionar.
Era o neném gargalhando
E, ele, o mesmo a balançar.
20
Só que naquele momento
Algo ruim veio a se dar.
Como que a mãe entalou-se
E ele gritou “Rosimar!
O que está acontecendo?”
E ela não pôde falar.
21
Rosimário, então, deixou
Uma mulher a cuidar
Do bebê e retornou
Ao recinto hospitalar
Com a mulher quase morta,
Mas não deixaram entrar.
22
Ele se desesperou
E começou a gritar.
Mas “acabou que” a mulher
Veio a morrer no lugar
Devido ao grande descaso
Do serviço hospitalar.
23
Isso é normal no Brasil.
Não se deve suspeitar
Que ele estivesse mentindo
Quando foi tudo contar
Ao delegado que o veio,
Logo após, a escutar.
24
Mas, como é muito comum
Nessa pátria “inexemplar”,
A polícia também nada
Fez para solucionar
O caso ali ocorrido
E ele voltou pra o seu lar.
25
A mulher foi enterrada,
Depois, num vão tumular.
Vieram poucos parentes
Ao funeral e, apesar
De uns até se revoltarem,
Ação ninguém quis mostrar.
26
E, assim, ficou Rosimário
Sozinho para cuidar
De uma criança incomum,
Mas, não sabendo lidar
Com tudo ali, cogitou
Uma babá contratar.
27
A babá era Diana,
Uma mocinha exemplar
Que fazia faculdade
Ali naquele lugar.
De dia “olhava” a criança
E de noite ia estudar.
28
Porém, depois de alguns meses,
Algo de se admirar
Já ocorria na casa,
Pois que o bebê singular
Já se vestia sozinho
E até fazia o jantar.
29
Diana já não sabia,
De modo particular,
Explicar o que se dava
Ali naquele lugar,
Pois nunca vira um bebê
Tão rápido “aprender andar”.
30
Já fazia até piada,
Com um alto linguajar.
E, destacando-se em tudo,
Até resolvera dar
Aulas de reforço a ela,
Lá, de álgebra linear.
31
Porém comia demais
O “feto” espetacular.
E muito não demorou
Pra que viesse a se achar
Sofrendo de obesidade
E tendo que se tratar.
32
Todavia, mesmo gordo,
Devido à lábia sem par,
Acabou por se envolver
Com a babá em seu lar
E ela findou concebendo
Por co' a criança deitar.
33
Pedofilia não veio
A se caracterizar,
Já que o menino aceitou
Ao juiz se apresentar
E responder por seus atos
Na comarca do lugar.
34
Mas o que assustava o povo
Era algo peculiar
Àquela enorme criança
Que habitava aquele lar:
É que o seu corpo mudara
E o rosto não quis mudar.
35
Então andava a criança
Co' um rosto corpuscular,
No entanto, co' um corpo obeso
De proporção cavalar
E ninguém podia, ao menos,
Aquilo tudo aclarar.
36
Passara por vários médicos
O bebê, ao se tratar,
Porém, nem os mais dotados
De entendimento escolar,
O tal fenômeno, podiam
A Rosimário explicar.
37
E o bebê de Rosimário
Passou no vestibular
De Medicina da USP
E decidiu estudar
Ele mesmo aquele caso
Para ele mesmo explicar.
38
Avançando nos estudos,
Já estava pra chegar
Nos resultados finais,
Mas, aí, veio a se dar
Um negócio inusitado
Que não pôde elucidar.
39
Uma voz assustadora
Disse pra ele parar
De pesquisar sobre aquilo
E começou a falar
Que alguém o amaldiçoara
Antes de ele se gerar.
40
O bebê de Rosimário,
Então voltou pra o seu lar,
Desistiu da faculdade
Pra co' um ramo extraescolar
Começar a se envolver
E tudo solucionar.
41
Virou, então, ocultista
E “danou-se” a estudar
A cabala dos hebreus,
Por decidir se tornar
Um maçom, um rosa-cruz
Ou um “troço” similar.
42
Num livro ficou sabendo
Do fenômeno se tratar
De uma “Inversão de Idades”
E soube que, após passar
Um ano, após ter sabido
Disso, algo iria mudar.
43
É que o Alfarrábio Hermético,
Livro extra-curricular,
Dizia que aquele fato
No Egito veio a se dar
E o pai do “bebê maldito”
Dele tomou o lugar.
44
Vou explicar ao leitor
O que ali veio a constar.
É que o corpo do bebê
Envelheceu sem parar
E o pai rejuvenesceu
Pra no bebê se tornar.
45
Depois que ficou sabendo
Da informação basilar,
Saiu o bebê correndo
Pra “tudo que era lugar”
Atrás de achar algum meio
Da maldição desmanchar.
46
Mas não pôde achar maneira
Disso se concretizar.
A partir daquele instante
O pai pegou a mudar
E a babá teve um bebê
Que não “chegou registrar”.
47
Isso, porque esse neném
Veio de ela engravidar
De um já amaldiçoado
E ela não quis duplicar
Ainda mais o problema
Indo ao prédio hospitalar.
48
Pois iriam promover
Dissoluções no lugar.
O médico perguntaria
Sobre coisas, sem parar,
As quais Diana e o bebê
Não poderiam contar.
49
Tudo coisa concernente
À criança que, apesar
De, “agora”, ter se gerado
Depois de uns meses contar,
Bem poderia não ser
Normal e a todos chocar.
50
O bebê de Rosimário
Viu que ter ido estudar
Medicina lá na USP
Fora (^) bom, pois, no lugar,
Aprendera a fazer partos,
E decidiu arriscar.
51
Esterilizou as pinças
E os bisturis para dar
Início à cesariana,
Pois não dava pra tentar
Ali um parto normal,
Visto o bebê ser sem par.
52
Sem ajuda de parteira,
O bebê pôde ganhar
O mundo e quando saiu
Do ventre, deu-se a falar
Que até seu pai se assustou
Co' aquilo, em particular.
53
“Algo paradoxal
Viera ali a se dar”,
Pensou o progenitor
Do bebê familiar,
Pois que tinha o mesmo rosto
Do pai, sem nada mudar.
54
Na verdade, o que assombrou
O pai, ali, a pensar,
Foi que a maldição lançada
Não poderia se achar
Mais uma vez confirmada,
Vindo a se desbaratar.
55
É que o bebê que nascera,
Mesmo sendo “insalutar”,
Exigiria que o pai
Viesse, um dia, a se olhar
Como um bebê, porém isso
Não poderia se dar.
56
Ele era um bebê crescido
Que, apesar de se encontrar
Com um corpo de adulto,
Ainda vinha a contar
Como bebê pelo rosto
Que, em nada, veio a mudar.
57
Mas, foi só ele dizer
Essas palavras sem par,
Pra ressoar uma voz
Ali dentro do seu lar
Dizendo que, mesmo assim,
Tudo iria concordar.
58
Viu o seu pai ficar novo.
Seu bebê se transformar.
Sua aparência já não
Era a mesma, no lugar.
E o que tinha acontecido
Não dava pra se explicar.
59
Na verdade, o seu bebê
É que viera a se achar
Portador da maldição,
Pois que o que veio a se dar
Só fez mesmo a maldição
Ali mudar de lugar.
60
Estava sobre o bebê,
Que veio a engravidar
Uma, que, por sua vez
Deu à luz outro sem par,
Mas, não obstante, tudo
Em nada veio a mudar.
61
Já que a maldição ficou.
Claro que vindo a trocar
De hospedeiro, ante a mudança
Da circunstância exemplar!
Mas, no final, deu no mesmo,
Não vindo a se dissipar.
62
Dois foram ficando novos,
Mas um a continuar
Envelhecendo no corpo,
No entanto, o rosto a ficar
Do mesmo modo de outrora
Sem nada modificar.
63
Mas, antes que falecesse,
O “feto espetacular”,
Rebento de Rosimário,
Começou a planejar
Como acharia o culpado
De a maldição perpetrar.
64
Perguntou a toda gente.
Correu por todo lugar.
Perscrutou livros antigos.
Passou a se enfeitiçar.
Mas nada de resolver
Aquele horrendo penar.
65
Deixou a Maçonaria
E a Rosa-Cruz, sem olhar
Nem para trás, pois que aquilo
Tudo não podia dar
Solução aos seus problemas
Que estavam a aumentar.
66
O pai, neném, faleceu.
Diana quis se matar.
Enforcou-se numa ripa,
Perto da sala-de-estar
E ele ficou “se atando”
Com o bebê, pra cuidar.
67
Só que o mesmo já estava
Grande demais, pra pensar
Em contratar empregada
Pra da criança cuidar.
Era buscar só a cura
Pra maldição e expirar.
68
Estava ficando velho
Co' o corpo a apresentar
Juventude, mas ao ver
Que seu pai fora (^) a tombar
Com bem menos juventude,
Deu-se a se preocupar.
69
Buscou com mais ousadia
A solução encontrar.
O bebê já ajudava.
Mas ninguém podia dar
O paradeiro do bruxo
Que a maldição foi causar.
70
Fato é que, já transformado
Em bebê, viu-se em seu lar,
No quarto onde o pai, “há pouco”
Estava a “lhe” balançar,
Deitado dentro do berço,
Já sem poder mais falar.
72
Lembrou seu pai lhe embalando
Sentado em dado lugar
Sobre uma antiga cadeira
Daquelas de balançar
E ele vendo tudo aquilo,
Mas evitando falar.
73
Olhou pra porta do quarto,
Aí, pôde divisar
Seu filho vindo, com jeito,
O seu rosto acarinhar.
Fechou seus olhos na hora
E abriu, querendo acordar.
74
No entanto, não era um sonho
O que estava a avistar.
Do jeito que Rosimário
Fazia, estando em seu lar,
Agora o seu filho tenro
Fazia sem hesitar.
75
Narrador:
E “acaba que”, na cadeira
De balanço, ele ficou.
E, como ele havia feito
Também co' o filho, encontrou
O mesmo a fazer com ele
E, sem poder dar àquele
Ritual belo e macabro,
Um desfecho decisivo,
Paliativo ou lenitivo,
Viu da vida o brilho vivo
Como a luz de um candelabro.

Autor: RF Amaral
Poeta Felipe Amaral


quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

A Cabeça Voadora - Cordel de Assombração

A Cabeça Voadora
1
Certo dia, que não lembro,
Lembro que fui viajar.
Pus a mochila nas costas
E parti, vindo a parar
Em um lugar esquisito,
Devido ao carro quebrar.
2
“Comecei analisar”
Do povo a estranha feição.
A cidade parecia
Co' as que, na televisão,
Servem pra rodar-se cenas
De filmes de assombração.
3
Da pouca acomodação
Ou nenhuma, quis me achar
Inteirado e perguntei
Ao povo ali do lugar
Se havia uma hospedaria
Onde eu pudesse ficar.
4
Mas ninguém quis me falar
Nada, ante a indagação.
E eu fiquei até com medo
Dessa total negação
Popular de me ofertar
A devida informação.
5
Não tinha a mínima intenção
De aborrecer nem irar
O povo que ali se achava,
Mas não pude precisar
O que foi que fiz ali
Praquele povo irritar.
6
Cheguei num dado lugar
Por ler uma informação
Que, numa placa, dizia
Que aquele tal casarão
Servia de estalagem,
E eu tava com precisão.
7
Só naquela instalação
Foi que pude divisar
Gente mais receptiva
E pude, enfim, me instalar
Naquele antigo ambiente
Para, afinal, repousar.
8
Era de se admirar
O estado do casarão.
Tinha fungos nas paredes
De toda a sua extensão.
Mas era o único lugar
Para uma acomodação.
9
Agora, a imensidão
Do recinto era sem par.
Havia bastantes quartos
Nos quais se podia achar
Espaço para um casal
Ficar sem se reclamar.
10
Que até dava pra pensar
Que a devida instalação
Fora (^) construída lá
Só para acomodação
De comitivas reais
Devido à sua amplidão.
11
Praquela imediação
Da janela pude olhar.
Tinha gente que parava
E apontava, ao comentar
Algo que eu não distinguia
E não sabia explicar.
12
Fato era que a “insalutar”
Sensação que, com razão
Eu sentia, me dizia
Que aquela população
Estava me observando
Lá por alguma questão.
13
Então eu, sem proteção,
Quis logo me retirar
Daquele canto e partir
Para algum outro lugar
Onde, decerto, pudesse
À vontade me encontrar.
14
Três dias pude ficar
Em tal localização.
No quarto, já de manhã,
Fui rápido à recepção
Pra quitar o pagamento
Lá da minha instalação.
15
Tomei banho. Pus loção.
E os dentes vim a' escovar.
Vesti-me  rapidamente.
Penteei-me devagar,
Todavia, ao ver a hora,
Vim, de novo, a me apressar.
16
Nem café eu quis tomar,
Devido a tal emoção
Que me dizia que lá,
Essa estranha região
Não era mais um setor
Bom pra minha instalação.
17
Chegando à recepção,
Com alguém pude falar.
Era uma mocinha doce
Quem, a recepcionar
Se achava de prontidão
No referido lugar.
18
Pediu-me para aguardar
Uns instantes, por razão
De ter que pegar ali
Os papéis da relação
De pessoas hospedadas
Naquela acomodação.
19
Tão meiga... Não fiz questão.
E me sentei pra esperar.
Mas foi se passando o tempo
E eu comecei me indagar
Em que canto havia entrado
Pra tanto vir demorar.
20
Cheguei a me aperrear
Quando a mocinha em questão
Demorou mais meia hora
Dentro da repartição,
Então levantei do banco
Para inquirir-lhe a razão.
21
Porém, ao ver lá no chão
A roupa peculiar
Co' a qual estava vestida,
Comecei a me assustar.
E lá não havia portas
Pelas quais pudesse entrar.
22
Arrodeei pra adentrar
O local, mas foi em vão.
Não havia mais ninguém
Naquela recepção.
E também, já parecia,
Que em nenhuma região.
23
Corri co' a mochila à mão
E pra fora fui olhar.
Não havia povo algum
Nas calçadas, a passar,
E aquele esvaziamento
Eu não sabia explicar.
24
Foi quando pude notar
Que deixara no balcão
Da recepção a minha
Carteira, na' ocasião,
Mas, não querendo voltar,
Fiz ligeira hesitação.
25
Mas parecia que não
Daria pra me virar
Sem o dinheiro da mesma,
Embora pudesse achar
Algum na minha mochila
Depois de a' escarafunchar.
26
Certo é que vim a tornar
Ao medonho casarão.
E, foi só entrar, pra o clima
Ter total transformação.
A chuva “pegou cair”
E anoiteceu sem razão.
27
Fiquei ali sem noção
Do que viera a se dar.
Mas tentei manter a calma
E fui, então, procurar
Um local onde pudesse
O botão da luz achar.
28
Mas, não podendo encontrar
O “danado” do botão,
Decidi enfrentar mesmo
A chuva na' ocasião,
Pois era melhor molhar-me
Que ficar no casarão.
29
Foi quando inda vi à mão
Um isqueiro e o quis pegar.
Estava no lusco-fusco,
Por isso inda pude achar
O determinado isqueiro
Que ajudou a clarear.
30
E, ao começar a voltar
Em direção ao portão
Do casarão pra sair
Lá daquela habitação,
Vi que tudo ia ficando
Mais distante a cada ação.
31
“Aí” tive a impressão
De ter podido avistar
Como que uma cabeça
Sem o corpo a levitar
No vão que dava pra porta
De saída do lugar.
32
Foi só identificar
Direito aquela feição
Pra começar a correr
Lá dentro do casarão
Gritando desesperado
Em grande aceleração.
33
Tendo inda o isqueiro à mão,
Mas o notando esquentar,
“Acaba que” resolvi
Ali no chão o atirar,
Pois que já não suportava
O “infeliz” a me queimar.
34
Dava ainda pra enxergar,
Mesmo mal, a extensão
Das divisões do recinto
E eu “me danei” pra o salão
Pra ver se ali poderia
Praquilo achar solução.
35
Mas a cabeça em questão
Vinha voando no ar
Atrás de mim, gargalhando
Com uma voz tumular,
E, “aí”, eu me vi perdido
Sem a saída encontrar.
36
Assombro sem similar
Era aquela aparição.
Porém eu tomei coragem
Pra encarar-lhe a feição.
Parei e esperei a mesma
Chegar àquele salão.
37
Não vendo mais condição
De daquilo me esquivar,
Resolvi saber de quem
Era o rosto elementar
Que na citada cabeça,
Lá, vinha a se apresentar.
38
Quando pude concentrar
Na mesma a minha atenção,
Notei que o tal se tratava
Da moça que, no balcão
Da recepção ficava
Pra atender o povão.
39
“Daí”, a circulação
“Começou acelerar”.
O coração bateu forte....
Minha perna a bambear....
O corpo todo esquentando
E eu começando a suar...
40
Não se encontrando lugar
No qual visse proteção,
Meu ser, já exasperado,
Lá, não viu outra opção,
Senão a de enfrentar tudo
E resolver a questão.
41
Peguei, então, um bastão
Que, ali, deu pra encontrar
E esperei ocasião
Pra co' a cabeça lutar.
“Aí” ela apareceu
E a gente “pegou brigar”.
42
Ela vinha abocanhar
Pescoço, pé, braço e mão
E eu, co' o bastão, evitava
Daquilo a consumação,
Batendo-lhe com bastante
Força na’ horrenda feição.
43
É que a cara da visão
Viera a se transmutar.
E a beleza da mocinha
Que, ao me recepcionar,
Ria, deu lugar a uma
Aparência “de assustar”.
44
Mas findei tendo o azar
De sofrer co' a dissenção.
Fui pela mesma engolido
E, depois da digestão,
Acabei nesse local
Fazendo esta narração.
45
Do meu punho a descrição
Ao leitor eu quis deixar.
Não sei onde estou agora.
Não dá pra localizar.
Mas consegui por um anjo
Ela a você entregar.
46
Queira o leitor estudar
Da mesma a revelação
E tentar localizar
Essa horrenda habitação
E matar essa cabeça
Que me pôs nessa prisão.
47
Fiz de tudo e toda ação...
Estou já “pra me acabar”.
Lamento não ter vencido.
Infeliz venho a me achar.
Possa o leitor ler a carta
E um dia vir me salvar.
48
A cabeça singular
Me vigia na prisão.
Aparência cavalar
Retrata, em transformação,
Agora, e tudo o que quero,
Logo, é só libertação.

Autor: RF Amaral