quarta-feira, 10 de junho de 2015

Quadras Idiossincráticas - Felipe Amaral

1
Catalépticos sons de cores plácidas.
Labirínticos sonhos bessarábios.
Absínticos néctares dos sábios.
Narcolépticos estros de auras ácidas.

Tabernáculo níveo de áurea inércia.
Epidérmica lua em doce idílio.
Antitérmica rua em acre exílio.
Receptáculo vão da controvérsia.

Episódico clima metabólico.
Alcaloide brutal de ânimo vândalo.
Polaroide noturna e astral do escândalo.
Espasmódico esgar sub-anabólico.

Corolário de verves em crisálida.
Ergonômico arfar helicoidal.
Dicotômico céu espectral.
Lampadário de fria chama cálida.

Numismática em busca de um corbã.
Arcangélico inflar paradisíaco.
Antibélico orfeu hipocondríaco.
Ortoprática pulcra desse elã.

Aletéica cesura de agapanto.
Vascular anuir de fantasias.
Modular elixir de nostalgias.
Epopéica caudal desse helianto.

Hediondo sorriso estrepitoso.
Ar vulcânico em lava diastólica.
Oceânico fluxo de água alcoólica.
Surdo estrondo fulcral e crepitoso.



segunda-feira, 8 de junho de 2015

Sonetos Sobre a Vida - Felipe Amaral

1
Há pessoas na praça, reunidas
Para a festa que o riso proporciona.
Sensações há da paz que vem à tona
A invadir corações, preencher vidas.

Vejo casas à noite revestidas
De alegria e abertas ao que abona
Dos transportes da noite uma carona
Para os bailes em festas promovidas.

Há cadeiras e mesas simplesmente
Apinhadas de gente sorridente
Envolvida em uma clima fraternal.

Violões há que doam melodia
Aos encontros passados na'harmonia
Do boêmio convívio social.
2
O sossego dos jovens a passar
Frente às casas de bairros luzidios.
Os casais joviais em balbucios.
As garotas alegres a chegar.

Bancos cheios dos mais que vêm sentar
Para em “papos” passarem fugidios
Tempos, rindo da vida em extravios
De momentos que Deus os vem doar.

Tudo mais em fugaz desfrute esvai-se.
Um lazer que em instantes sobressai-se
Como sendo infantil, embora alente.

Mas a vida é assim, luz que divaga:
O sorriso se esgota, o alvor se apaga.
Faz-se o show, mas seu fim já se pressente.
3
Boemia de brilho e de ilusão
Que convence os viventes citadinos
De imortal existência; e dos destinos,
Devaneios e ais faz omissão.

Boemia de fama e emoção
Que cativa do ser seus genuínos
Sentimentos e os torna em desatinos
No final de um prazer vazio e vão.

Em resumo, tudo é só vaidade:
Num abismo de morte, a paz se evade;
Num desfecho de vida, a luz sucumbe.

Catacúmbicas covas nos esperam.
Vão-se os corpos aos solos onde imperam
Vermes vis, sobre os quais a mosca zumbe.
4
Toda vida é um vento que se passa.
Uma brisa que vem pra se esvair.
Um afeto que, ao fim, vem convergir
No exaspero sem fim que nos abraça.

O sorriso atual, a dor transpassa.
O vigor de hoje, a morte faz partir.
Bens e fama não são de resistir
Aos acintes do tempo que os enlaça.

Nas algemas humanas da velhice
O folguedo definha e a fanfarrice
Desmorona, apesar da relutância.

Com o tempo, se vê que tudo é vão.
O sucesso se acaba; a ilusão

Vai abaixo; e desaba a jactância.

domingo, 7 de junho de 2015

Surreal Visão Pictórica - Felipe Amaral

I
Há olhos de ígnea neve
Nos céus do asfalto noturno
Do brilho escuro dos prédios
Pintados de pétrea carne.
Lobos forjados no ventre
De vulcões enevoados
Por halitosas bafagens
De dóceis selvagens garbos
Em oceano de medos
Que destila óleos cinéreos
Por sobre o campo das casas.
Dobras de rochosas redes
Que apanham monstros da terra
Que sobrevoam o verde
Da rua de luz que apaga
O alvor do negro infinito,
Molhando a terra do rio.
Segredos que nada escondem
Dos ouvidos palatáveis
Das artérias pediais
De um coração argiloso
Feito de sangue e suor
Derramados sobre a areia.
Uma estrela auri-terrestre
Que cintila no toucado
Da relva do firmamento
Nas grades do sol nascente
Que oscula o temor da noite.
Palavras cor de marfim
Revestido de sabores
Claros  e psicodélicos
Em meio à gama do som
Que é comido pelo vago
Cosmos do abismo mental
Da língua do pensamento
Que descreve a sensação
Carnal da pedra que sente
O toque da cor, ouvindo
O gosto da plenitude
Da vasta micropartícula
Do seio da natureza
Que verdeja no marítimo
Pavimento da avenida
Que leva ao desfiladeiro
Do caos das ordens prescritas
Que, juntas, se subordinam
Ao aéreo chão das almas
Que vagueiam no horizonte
Da ponte material.
Tudo como um precipício
De nuvens alvas de barro
Jogado pelos espaços
Preenchidos de ilusões
Realistas de sortidos
Sentimentos sazonais
Que aparecem dia a dia
Em instantes recebidos
Como um indeciso tempo
Para tomar decisões.
O lugar todo parece
A dentição de um ladrilho
Epidérmico estelar
Que se prende ao chão de pérolas
De vidro, xisto e cobalto,
Escorrendo pela tez
Do urbano ambiente vago
Da mata setentrional.

sábado, 6 de junho de 2015

Quadras A Realidades Poético-Surreais - Felipe Amaral

1
Os olhares da noite constelada.
O frio ósculo de ar anuviado.
Os abraços do vento regelado.
Silenciosos cochichos na calada.

Braços brancos de neve derramada
Sobre o rosto do solo já molhado.
Canta a boca da paz e o descampado
Adormece na terra desforrada.

Os ouvidos da tela abobadada
Do celeste infinito sombreado
Ouvem passos sidéreos no avultado
Coração da galáxia espiralada.

Caracol de neons frente à fachada
Do vazio do cosmos descerrado.
Uma porta de luz ante um eirado
De uma atroz vacuidade amortalhada.

Lua viva de face iluminada
Que da Terra perscruta o azul toucado
Das cabeças do mar vasto estirado
Sobre as placas de terra hoje alagada.

Eis cometas de cauda afogueada.
Os dragões do universo em seu valado.
As serpentes de um fogo espicaçado
Pelo atrito com’a Terra alvi-azulada.

As pestanas da chã esverdeada.
Lábios verdes de mato chacoalhado
Pelo sopro do vórtex circinado
Sobre a capa da pele da chapada.

Ventre etéreo de luz. Dourada arcada
De alvo sol que afugenta o frio estado
Da campina, do cerro e do aplanado
Frontispício da terra esboroada.

Alvorada de dentição ornada
De um elã virginal ruborizado
Como aurora de dia iniciado
Que se mostra também crepusculada.

Tudo sorve, respira, infla e translada
Para o bardo de plectro apaixonado
A essência do casto amor sagrado
Que mantém sua alma extasiada.

.........................................................










sexta-feira, 5 de junho de 2015

Histórias De Um Ficcionista - Felipe Amaral - Em 5 Doses

A Quebra do tempo
1
Fui ao centro da cidade
Atrás de uma distração.
Mas, no caminho de ida,
Já tive uma sensação
Do que iria acontecer
Em futura ocasião.
2
Notei um salto espantoso
No tempo. E, ao averiguar
Com atenção as pessoas,
Pude algo estranho apontar
Entre as ações que ocorriam
Por todo aquele lugar.
3
Vi uma mudança drástica
Das roupas do pessoal.
Pra “como aquilo ocorrera”,
Não tive ideia formal.
E, ainda hoje, eu me pergunto
Se o que ocorreu foi real.
……………………………

A Quebra Dimensional
1
Acordei, em dado dia,
De um sonho peculiar.
Tinha sonhado com coisas
Difíceis de se explicar:
Eu me teletransportara,
No sonho, sem desejar.
2
Fato é que, quando acordei,
Ouvi a convocação
Da minha mãe pra que eu fosse
À sala na’ocasião.
Daí, me vi noutra casa,
Andando sem direção.
3
Mas, quando menos espero,
Me vi na sala-de-estar
Da minha casa, sozinho,
Sem poder algo explicar
De tudo o que acontecia
Naquele dado lugar.
………………………………..

Transferência de Subjetividade
1
Fui ao circo divertir-me
E, ao chegar para adentrar
Aquela grande estrutura,
Eu não pude acreditar…
Vi-me co’os olhos dos outros
Sem o meu corpo deixar.
2
Entrei e vi tudo dentro
Daquela enorme extensão
De espaço que se mostrara
Repleta da’agitação
Tão peculiar ao circos
Que chegam à região.
3
Só que com o ingresso à mão
Ainda achava de estar.
Fora daquela extensão
Do interior do lugar.
Ao “me tocar”, despeitei,
Mas nada pude explicar.
………………………………….

Singular Clarividência
1
Estava na “pizzaria”,
Quando, em imaginação,
Fui remetido ao futuro,
Mas vi-me sem condição
De aquilo compartilhar
Com alguém na’ocasião.
2
Porém, em situação
De êxtase, eu quis me expressar.
E, ao responder a pergunta
Que alguém viria a lançar,
Surpreendi o indivíduo
E, aí, não pude parar.
3
Falei do que ocorreria,
Apontando com a mão
Para cada mesa cheia
De gente, na’ocasião.
Mas nunca mais consegui
Outra igual revelação.
…………………………………



O Acesso A Registros Akáshicos
1
Nunca fui de montar nada
De muita complicação,
Mas, um dia, eu me encontrei
Em uma situação
De pleno avivo mental
Que me “chamou atenção”.
2
Alguém montava um motor
De uma engenhoca sem par
E eu, mesmo sem nunca ter
Nem a visto funcionar,
Montei a mesma todinha
Sem nem sequer demorar.
3
Fiz outras coisas, as quais
Não sabia e fiz questão
De retornar no outro dia
Pra ter a constatação
Que só consegui tal feito
Em dada situação.
………………………………