domingo, 31 de maio de 2015

Soneto de Lutuoso Plectro - Felipe Amaral

Soneto de Lutuoso Plectro 
Felipe Amaral

I
No chão fétido de atro mausoléu
Vejo bichos gosmentos rastejantes.
Passam vultos escuros crocitantes.
O negrume da noite toma o céu.

Uma chama tremula no escarcéu
Lutuoso de espirros e rompantes
De "deploros (^)" e vozes soluçantes
Ante o féretro envolto em negro véu.

Ri a morte ao fitar do morto a face.
Uma rasga-mortalha, o desenlace
De alma e corpo, celebra em voz que arranha.

Eis um corvo imponente sobre a tumba.
Frente a tudo não há quem não sucumba
À tristeza que o óbito acompanha.

sábado, 30 de maio de 2015

Quadras Oníricas - Felipe Amaral

Quadras Oníricas
Felipe Amaral

1
Ventos sopram ante o azul do mar.
Horas passam perante a cerração.
As auroras se vão. Rubras se vão.
Os receios desfazem-se no ar.

Rosas crescem frente ao fulgor solar.
Barcos singram na azúlea imensidão.
Nuvens tomam o corpo da amplidão.
Toda a tarde respira alvor sem par.

Pensamentos se perdem no vagar.
As palavras não vêm à descrição.
A poesia preenche a alva visão.
E a beleza persiste em me encantar.

Ao cair da escuridão talar,
É a noite que traz insuflação.
O sossego me toma o coração
E me leva a sorrir e relaxar.

Estou livre pra vida decantar.
Sou um pássaro livre na amplidão.
Dou lugar ao elã dessa emoção
E uma brisa noturna vem soprar.

Minha mente divaga sem cessar.
O meu ser sobrevoa a imediação.
Minha cama é a bruma do ar loução;
O meu chão é o céu protocolar.

Tudo é riso e uma paz sem similar.
Dou à alma acalanto e atenção.
Meu espírito apraz-se e deixa o chão.
Tudo é leve, sublime e singular.

Não há dor nem torpor falimentar.
Desalentos não há nessa visão.
Sou liberto do mal e a sensação
Do prazer divinal faz-me voar.

Corro e sorvo da vida o ardor sem par.
Abro os braços e abarco a amplidão.
Mergulhando no espaço, estendo a mão
Pra tocar uma estrela a cintilar.

Vejo a face de Deus e o Santo Altar,
Atingindo a inaudita perfeição.
Deixo a terra, liberto da prisão
Que este chão me obrigava a aceitar.

Vejo a luz retratada em cada olhar.
Há no peito um amor sem proporção.
Há na alma uma forte pulsação
Que extasia meu ser com o bem-estar.

Tudo é lindo e eu não quero abandonar
Esse estado de coisas que me estão
A inspirar me trazendo a emoção
Mais intensa, sublime e singular.

Mas acordo do sonho e vejo o lar
Preenchido de dor e inquietação.
É o fim do fruir da perfeição;

E eu retorno ao sofrer patibular.

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Imperfeito que sou… - Felipe Amaral

Imperfeito que sou…
Felipe Amaral

Eu convivo com minha imperfeição.
Busco ser o melhor, mas meu buscar
Não deságua na imensidão do mar
Da pureza perfeita, e eu busco em vão.

Minha mente procura exatidão.
Não consegue no mundo a encontrar.
A justiça é injusta e a salutar
Humildade se faz vil presunção.

Tudo é vão. O viver se passa em vão.
Os esforços, em vão. E a singular
Atitude do bem não vê lugar
Neste mundo de inveja e dissensão.

Eu cansado me encontro neste chão
Alagado no lodo tumular
Do pecado quem vem agrilhoar
Nossos sonhos de alvor e perfeição.

Ó Senhor, eu não tenho condição
De ser isso que pedes e, em lugar
Do que pedes, pratico a irregular
Chula ação contumaz. Revel ação.

Deus, redime esse ser que o teu perdão
Pede, ao ver que não pode suportar
Tua mão sobre si. O teu sem par
Julgamento que traz condenação.

Sou a folha ante o ar da viração.
Sou um ramo distante do pomar.
Sou um galho a rolar. Gota do mar:
Seco (´) sem teu apego e atenção.

Não entendo este mundo fraco e vão.
Não consigo entender todo o penar
Que ele oferta ao vivente que, a vagar,
Busca o fim desse mal, dessa aflição.

Não consigo alcançar a perfeição!
Deus, não posso, mas quero a alcançar.
Vivo em dor. E essa dor vem me mostrar
Quão sou fraco, ante a vil desolação.

O destino me assola. A condição
Não permite-me ser e nem buscar
Ser aquilo que almejo me tornar.
Tudo é vão! Não há força. Não há, não!

Passo os dias buscando a solução
Pra o problema que vejo me cercar.
Estou preso, meu Deus! Vem-me ajudar!
Não me deixes prostrado neste chão!

Não, não deixes, Senhor da Salvação,
O meu ser sucumbir ante a vulgar
Podridão deste mundo de pesar
E cruel compleição. Vil compleição.

Não me leves no meio da fração
Dos meus dias velozes, apesar
De eu ser um pecador a procurar
O que nunca encontrei em minha ação.

Sou qual pó ante o vento. Sou visão
Que se passa. Sou sopro. O meu lugar
Desconhece o que vem me contemplar
Após grã tempestade e furacão.

Sem a tua celeste proteção,
Meu Senhor, sou um grão a se lançar
Na grandeza azul de imponente mar
E se perde nas águas da ilusão.

Mas contigo, Senhor, tenho razão
De seguir, muito embora a manquejar,
Que o teu braço me ajuda a caminhar
E o teu Ser me traz iluminação.

Continuo sem ter a perfeição
Que planejo alcançar no contemplar
Do teu Lar. Sigo até poder estar
Onde estás. E findar essa aflição.

Peço a Ti, ó Autor da Criação,
Que me guies ao caminho linear
Da justiça e me faças repousar
Em lugares de paz nessa missão.

Faz-me Tu descansar em proteção
De teus anjos e traz-me a salutar
Alegria da salvação sem par,
Que ao meu peito trarás consolação.

Que o sorriso, diante da aflição,
Eu consiga em meus trilhos encontrar.
E que a vida resguarde o bem-estar,
Apesar de qualquer tribulação.

....

quinta-feira, 28 de maio de 2015

5 Sonetos à Plebe Podre - Felipe Amaral

Sonetos Mórbidos - Felipe Amaral
1
Rua escura por onde passarão
Abantesmas de aspecto insalutar.
O negrume do caos a se espalhar
Pelas horas noturnas da amplidão.

Rua capra da qual advirão
Os fantasmas do povo inexemplar
Que em tropel dilapida a singular
Cortesia das horas que se vão.

Esse povo tem n'alma vermes vis.
Suas veias são cheias dos hostis
Gins laudânicos do atro abismo escuro.

Há no espírito dessa gente o nojo
Que apostema o viver, preso no bojo
Do existir mais revel e mais impuro.

2
Caminhando perante a multidão,
Só encontro imbecis e filisteus.
Quero a paz, mas a luz dos dias meus
Apagada é por tais que fiz menção.

Só espero da corja a ingratidão,
O desprezo e o desmando em apogeus.
Não há nada de novo nesses seus
Descaminhos de atroz devassidão!

Transformar essa gente é impossível.
É a malta que à lama (e é bem visível!),
Espojando-se, grunhe e faz careta.

Não há mente que pense. Não há bem,
Só, a sede por lodo que advém
Do palácio e deságua na sarjeta.

3
Meu lugar é com' os corvos crocitantes.
Que o negrume dos tais não faz-se impuro
Frente ao líquido azedo e assaz escuro
Que provém do viver desses andantes.

Mesmo as aves mais aterrorizantes
Não merecem do povo o esconjuro,
Pois que as mãos desse povo odioso e duro
Estão cheias de nódoas degradantes.

Quem preside é um néscio. O que advoga
É um podre. E o que está por trás da toga
Do juízo, não julga como apraz.

São cadáveres vivos que caminham.
São imundos defuntos que abespinham
Os honestos que vão aos tribunais.

4
Nessa vala feral chamada urbe 
O que vejo é a vã promiscuidade.
E esse lodo que escorre da cidade
Faz deveras que eu brade e me perturbe.

Que o inferno se ire, mova e turbe
Pra tragar esses servos da vaidade.
Que eu consiga um silêncio de verdade
Pra dormir sem que à noite eu me conturbe.

Abre a boca, sepulcro aterrador.
Eis o povo que aguardas. Por favor,
Põe a limpo o teor das discussões.

Desinfecta do mundo o chão sublime
Pra que eu possa sorrir, vendo que o crime
Jaz no cárcere atroz dos teus grilhões.

5

Sou da noite louçã cortejador.
Sou dos versos, das pautas, do prazer...
Sou poeta que preza o bem-viver.
Sou cantor dos amores. Sou cantor.

O que busco é seguir sem ver a dor
Que destrói da ventura o riso e o ser.
O que quero é sorrir  e conhecer
Mais e mais da alegria e do amor.

Não me impeça de ter o que me foi
Outorgado por Deus. Que Ele perdoe,
Se hoje arrependimento seu houver.

Vê! A noite me chama calmamente!
É a vida que pulsa novamente!
E é mister fazer dela o meu affair (afér).

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Série "Assombrações de Tabira" - Lá no Fórum de tabira / Habita uma assombração


1
Lá no Fórum de Tabira
Uma documentação
Eu fui tirar, porém, quando
Entrei na' edificação,
Deu-me uma fraqueza estranha
Que eu quase caio no chão.
2
Sentei num banco que havia
Num recanto do lugar.
Aí, ocorreu um fato
Que dá trapalho explicar.
Um vulto passou por mim
E emburacou sem parar.
3
Entrava pelas paredes.
Corria sem direção.
Porém só eu avistava
A peste da' aparição,
Sendo assim, saí ligeiro
Sem nem dar satisfação.
4
Até voltar consegui
Pra os documentos tirar.
Mas não esqueço da tarde
Que aquilo veio a se dar,
Por isso eu evito ao máximo
Tornar àquele lugar.

Série "Assombrações de Tabira" - Em Tabira, a prefeitura / É cheia de assombração


1
Se você for a Tabira,
Faça questão de ir olhar
A prefeitura, pois nela
Você poderá chegar
A se deparar cum vulto
Que nela vive a vagar.
2
Eu mesmo fui, certo dia,
Fazer tal visitação
À noite e o vigia estava
Naquela edificação
E fez questão de mostrar-me
Dela toda a extensão.
3
Mas não é que eu me encontrei
Com o vulto "insalutar"
Que, já de antes, eu soubera
Que ali vive a passear!...
Parti em toda carreira,
Com' o guarda a me acompanhar.
4
Certo é que nunca mais quis
Ir a tal "repartição".
Pelo menos não de noite,
Que é pra não ver mais o Cão
Que anda por ali causando
Sobressalto em cidadão.

Série "Assombrações de Tabira" - Tem um fantasma esportista/ Lá na Quadra de Tabira


1
Lá na Quadra de Tabira,
Certo dia, eu fui jogar
Cuma turma tão pequena
Que eu nem preciso falar.
Nos preparamos pro jogo
E o tempo "pegou mudar".
2
Umas nuvens obscuras
Dando uma preparação
De chuva e um vento forte
Naquela situação...
Coisas não muito comuns
Nessa minha região.
3
Fato é que não choveu não,
Porém "pegou trovejar".
Mas a gente nem ligou
Pra o que estava a se dar.
Continuou a pelada
Sem com nada se importar.
4
Mas só que um troço infernal
Gritou com voz de trovão.
A gente saiu correndo,
Buscando uma habitação...
Depois disso, eu desisti 
Do futebol de salão.

Série "Assombrações de Tabira" - O fantasma voador/ Lá da praça do Carlota


1
Vá à praça do Carlota,
Se você for visitar
A cidade de Tabira,
Que você vai encontrar
Um "malassombro" sinistro
Por lá a sobrevoar.
2
Eu mesmo, num dia desses,
Tomei a má decisão
De passar naquela praça
Tarde da noite, e a visão
Que eu avistei por ali
Assusta qualquer cristão.
3
Vinha da rua central,
Me dirigindo ao meu lar,
Aí senti uma coisa
Esquisita a me tocar...
Mas, foi só passar mão,
Pra coisa se esvoaçar.
4
Ficou voando na praça
Frente à edificação
Dessa escola da cidade,
Que é cheia de assombração...
E eu só escapei da morte
Porque corri desse Cão.

Série "Assombrações de Tabira" - O fantasma do banheiro/ Da Câmara Municipal


1
Na câmara, certo dia,
O banheiro eu fui usar.
Forcei a porta e, sem êxito,
Chamei outro pra' ajudar,
Mas a danada emperrou,
Que deu trabalho pra, entrar.
2
Quando entrar eu consegui,
Fiz a utilização,
Mas, quando ia já saindo,
Tive uma forte impressão
Que alguém passara por mim
Bem naquela ocasião.
3
Sendo assim, eu me apressei
Pra sair do tal lugar,
Mas só que a porta emperrou...
E haja eu lá a empurrar!
De repente eu vi um vulto
E comecei a gritar.
4
A porta desemperrou
E eu saí em direção
À rua numa carreira
Que não tem comparação...
E não volto nunca mais
Pra' aquela edificação.