segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Aguardo ansiosamente / A chegada do Natal.

Aguardo ansiosamente
A chegada do Natal.
1
Já vem chegando Novembro.
Outubro fica pra trás.
E ansioso o ano faz
Contagem pra ver Dezembro.
Da tristeza eu me desmembro
De uma forma gradual,
Ao que se achega o real
Motivo de estar contente.
Aguardo ansiosamente
A chegada do Natal.
2
O tempo muda de aspecto
Como esperando algo mais
Que tão somente os natais
Comportam no seu prospecto.
Se desfaz do lodo infecto
De datas sem algo igual,
Ouvindo o canto coral
Que alteia gradualmente
E aguarda ansiosamente
A chegada do Natal.
3
Janeiro é bonito e mágico
Por ser como uma extensão
Da natalina estação,
Mas, já Fevereiro, é trágico.
Faz-se menos hemorrágico
O comprimento* anual
Só quando beira o final
Com Novembro quase ausente...
Aguardo ansiosamente
A chegada do Natal.
*extensão
4
Passa Janeiro e o restante
Do' ano é de se lastimar.
Pois não se encontra em lugar
Nenhum um dia cantante,
Posto que a mais importante
Celebração anual
Só paira ante o ar mensal
Do dezembrino ambiente...
Aguardo ansiosamente
A chegada do Natal.
5
Tudo o que faço é buscar
Ficar tranqüilo ante os meses
Que me perturbam por vezes,
Visto andarem devagar.
Meu desejo é de abraçar
Parentes de outro local
Que me visitam em tal
Data festiva e ridente.
Aguardo ansiosamente
A chegada do Natal.
6
Os dias vazios do resto
Do' ano me deixam em crise.
E, embora odeie a reprise
Dos mesmos, à tal me presto...
É que aquilo que eu detesto
Não dá pra' evitar, por mal
Da existência vital
Mesclar paz e dor pungente.
Aguardo ansiosamente
A chegada do Natal.
7
Infelizmente Dezembro
Pouco dura e muito jura,
Mas quebra a jura se dura
Pouco; e eu à dor me remembro...
Antigos natais relembro,
Vendo da' angústia um sinal
Mesclado à memorial
Paz que se aviva na mente;
E aguardo ansiosamente
A chegada do Natal.
8
Natal pra mim é a busca
Finda de paz e alegria.
Concretização de um dia
Sem realidade brusca.
É a' estrela que corusca
No espaço sideral
Nos apontando o local
No qual Cristo está presente...
Aguardo ansiosamente
A chegada do Natal.
9
A vida se faz mais viva
Quando o Natal aparece.
O alvor em nós se enaltece
E a alma da dor nos priva.
Uma emoção lenitiva
Numa explosão visceral
Sai do íntimo figadal
E inunda o olhar da gente...
Aguardo ansiosamente
A chegada do Natal.
10
Não quero muito dinheiro,
Fama, opulência, honraria,
Poder, primor, galhardia,
Conquista, glória ou esmero,
Coroa ou posto altaneiro,
Louvor ou alta patente,
Muita instrução, grande mente,
Muito ardor, muita moral,
Só quero ver o Natal
Perdurar eternamente.

Autor: RF Amaral

domingo, 28 de outubro de 2012

E é porque eu não sei de nada. / Imagina se eu soubesse!

Mote de Zé Carlos do Pajeú; Glosas Minhas

E é porque eu não sei de nada.
Imagina se eu soubesse!

1
Sei que na Mesopotâmia
Houveram muitos combates.
Que, entre o Tigre e o Eufrates,
Provou-se a honra e a infâmia.
Tal qual flor de macadâmia,
Nessa região floresce
A Suméria que aparece
Qual luz na treva fechada...
E é porque eu não sei de nada.
Imagina se eu soubesse!
2
Sei que a escrita cuneiforme
É a' escrita que se tem
Como a mais velha e mantém
Ainda essa marca enorme.
Com a mesma, cada informe
De argila inda permanece
Gravado e se estabelece
Como fonte apreciada...
E é porque eu não sei de nada.
Imagina se eu soubesse!
3
Sei que da Ur dos caldeus
Foi que Abraão enviou
Eliezer e o mandou
Por-se entre os parentes seus
Pra trazer, de entre os hebreus,
Uma mulher que pudesse
Unir a' Isaque e lhe desse
A descendência almejada...
E é porque eu não sei de nada.
Imagina se eu soubesse!
4
Sei que o reino de Sargão
Tinha seu centro em Acad.
E que, mais tarde, a cidade
De Nínive teve ascensão.
E a Babilônia, em função
Do seu local, acontece
De vir a ser, por benesse,
A capital mais falada...
E é porque eu não sei de nada.
Imagina se eu soubesse!
5
Eu sei que na dinastia
De Ur foi unificado
O terreno margeado
Por rios em guerra tardia...
E a Mesopotâmia iria
Ver do elamita a messe
E do amorreu a “quermesse”
Co'a dinastia acabada...
E é porque eu não sei de nada.
Imagina se eu soubesse!
6
Sei que Assíria e Babilônia
Dominaram com vigor
A Mesopotâmia. E dor
Causaram sem parcimônia.
Mas a Pérsia a cerimônia
Das duas findou sem prece
E deu cabo sem estresse
Da' autoridade instaurada...
E é porque eu não sei de nada.
Imagina se eu soubesse!
7
Também sei que, após a Grécia,
Nas famosas Guerras Médicas,
Pôr fim às excelsas “prédicas”
Persas com tal peripécia,
Meteu-se em pândega néscia
Interna e, ao que se parece,
Desde aí, num “sobe-e-desce”,
Viu sua armada arruinada...
E é porque eu não sei de nada.
Imagina se eu soubesse!
8
Sei que a forte Macedônia
Do rei Filipe II
Tomou quase todo o mundo
E aos grandes causou insônia...
Reino virando colônia
Do reino que prevalece...
Desse aí ninguém esquece.
Nem a chã subjugada...
E é porque eu não sei de nada.
Imagina se eu soubesse!
9
Eu sei que Alexandre, o Grande,
Que foi filho de Filipe
Aprontou a sua equipe,
Não como um Mahatma Ghandi,
Pois lutou e fez de estande
O globo azul por “finesse”
Pra expor sem reza ou prece
A sua glória alcançada...
E é porque eu não sei de nada.
Imagina se eu soubesse!
10
Mas sei que jovem morreu
O Alexandre macedônico
E o império faraônico
Que um dia erigiu, cedeu.
E o reino que o sucedeu
Foi Roma que pôs o “S
Do seu SUCESSO e beneSSe
Sob a lâmina da espada...
E é porque eu não sei de nada.
Imagina se eu soubesse!

Autor: RF Amaral

sábado, 27 de outubro de 2012

Alimentando a' ilusão, / Não sofro a realidade.

Alimentando a' ilusão,
Não sofro a realidade.
1
Tudo é uma desventura
Para o ser que é sonhador,
Que tenta evitar a dor,
Mas ela sempre perdura.
Algo a sua alma perfura
E ele não vê, na verdade,
Qualquer sensibilidade
No que perpetra essa ação...
Alimentando a' ilusão,
Não sofro a realidade.
2
Eu sou também desse jeito.
Minha existência ilusória
Pode parecer simplória,
Mas é o que me enche o peito
De luz, de paz, do perfeito
Sopro de felicidade
Que é qual luminosidade
Em noites de escuridão.
Alimentando a' ilusão,
Não sofro a realidade.
3
Tento me manter de pé
Sempre co'um riso no rosto.
Se, às vezes, me acho indisposto,
Mas me esforço pela fé...
Que a realidade é
O inibidor da vontade
Que mata a capacidade
Do artista ganhar o pão.
Alimentando a' ilusão,
Não sofro a realidade.
4
Podem chamar-me de tolo,
Ingênuo, parvo, idiota,
Que eu não abandono a rota
Rumo ao alento e ao consolo
Que tracei sem ver “desolo”*,
Desmando e disparidade...
Não há racionalidade
Em negar a vocação.
Alimentando a' ilusão,
Não sofro a realidade.
*desolamento
5
Lamento não ter ajuda
Por parte de quem me escuta.
Mas não desisto da luta,
Embora se torne aguda.
Cada poro em mim exsuda
Furor e vitalidade
Para eu, co' impetuosidade,
Enfrentar essa missão.
Alimentando a' ilusão,
Não sofro a realidade.
6
Não quero ouvir quem me diz
Para mudar a rotina,
Que o desertor assassina
A chance de ser feliz.
Farei o que sempre quis
Fazer com seriedade:
Negar-se à sinceridade
É dar azo à frustração...
Alimentando a' ilusão,
Não sofro a realidade.
7
Deixem-me em paz pra viver
O sonho o qual alimento,
Pois, se a ilusão fomento,
Seguir-la-ei com prazer.
Porém haverei de ver
Se transformar em verdade
O que, pra mais da metade,
Não passa de ficção.
Alimentando a' ilusão,
Não sofro a realidade.

Autor: RF Amaral

Ninguém consegue escapar / Dos caprichos da paixão.

Ninguém consegue escapar
Dos caprichos da paixão.
1
A gente vive a mercê
Dos sentimentos que tem.
Os quais nos fazem refém
De algemas que não se vê.
Sem se entender o porquê,
Damo-nos à ilusão
De crer que tal emoção
Vem para nos libertar.
Ninguém consegue escapar
Dos caprichos da paixão.
2
A mente se desespera
Para entregar-se às algemas.
Finda afogada em dilemas;
Morre, ao nutrir a quimera...
Que a paixão em todos gera
Atitudes sem razão,
E a mente perde a noção
Do risco de se entregar.
Ninguém consegue escapar
Dos caprichos da paixão.
3
Todo ser humano chora...
Sua condição lastima...
Visto que superestima
Outro ser que não lhe adora.
A veneração implora,
Mas não há veneração;
Implora a libertação,
Mas insta em se aprisionar.
Ninguém consegue escapar
Dos caprichos da paixão.
4
Seus olhos se maravilham,
Sua imaginação voa,
Idolatrando a pessoa
Da qual não se desvencilham.
O rumo que seus pés trilham
Leva-o sempre em direção
A quem não mostra afeição
Ao brilho do seu olhar.
Ninguém consegue escapar
Dos caprichos da paixão.
5
A atração nos atrai
Para'a'armadilha da vida.
E a caça se consolida
Numa vida que se esvai.
Todo humano se distrai
Co'o tipo de diversão
Que o enclausura em um vão
Motivo de festejar.
Ninguém consegue escapar
Dos caprichos da paixão.
6
Todo ser é suicida,
Porque sempre se encarcera
No que pensa ser só mera
Emoção fugaz da vida.
E, ao fim, vê-se na ermida
Suplicando em oração
A liberdade que não
Quer, na verdade, aceitar.
Ninguém consegue escapar
Dos caprichos da paixão.
7
É o ser um sofredor
Que sente prazer no choro.
No riso não vê decoro,
Vendo decoro na dor.
É tolo, mas é doutor
Em matéria de ilusão,
Pois se entrega à decisão
De evitar não se entregar.
Ninguém consegue escapar
Dos caprichos da paixão.
8
A vida do apaixonado
É vã e irracional.
Parece sã, é mortal;
Parece alva, é de pecado...
Peca por trazer agrado
Que engana o seu coração,
Furtando à satisfação
A paz de se libertar.
Ninguém consegue escapar
Dos caprichos da paixão.
9
Cada canção é um erro;
Cada poema, um deslize;
Cada fala, uma reprise
De dor oculta em aferro.
Pois tudo, tudo é desterro
Do chão da paz para o chão
Do engano e da frustração
Pra nunca mais regressar.
Ninguém consegue escapar
Dos caprichos da paixão.

Autor: Roberto Felipe Amaral - RF Amaral

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Entre Fúrias Licantrópicas - Prosa Poética

Entre Fúrias Licantrópicas

Minha alma dói. Meu ser aguarda boas novas. Sei não vê-las. Sei não tê-las. Só sei!
Por que falo tanto na dor? Por que insisto nisso? Acho que, até isso, traz-me dor. Mas não consigo evitar!
A ordem das coisas desordenou-se. A desorganização me toma. O cérebro já não consegue pensar direito. O temor é o que me resta. Festas não há. Risos, não mais. E a casa esvaziar-se-á. E eu olharei para dentro do recinto com um sortimento enorme de ideias pequenas que não me trarão qualquer certeza de futuro. Mas penso que atingirei objetivos almejados pelo fato de ter a atenção voltada para outros fatos. Inspirações fatídicas...
Agora o medo assalta, mas o estro não me deixa ficar parado ante as colunas, propileus, balaustradas, pilastras da desventura que me estaria à espera...
Eu sou um lobo. Uivos tristonhos não condizem com presas à vista. Dar-me-ei à pressa. A presa me espera. A caçada termina...

Somos Obrigados! - Prosa Poética

Somos Obrigados!

Nunca neguei que os meus sonhos são altos demais. Bem como, que não desistirei de nenhum deles.
A praça está sempre lotada. Ando. Passo em frente. E os rostos me focam. Pedem respostas que eu não tenho para dar. Silencio, mas continuo a caminhada. E hei de chegar a algum lugar. Sempre chego. Por que na vida seria diferente?
Cobro a verdade. Sou imperfeito, mas, mesmo assim, tenho sempre a cobrar. É uma necessidade. Não posso fazer nada a respeito. Se não cobrasse, descerebraria-me.
As cortinas já se abriram faz tempo. Não há mais razão para evitar subir ao palco. Mas dramatizar, isso, nem pensar! A vida real precisa encenar angústias reais. E furtar-me a elas seria uma enorme inutilidade de ser. O ser vive e cabe a ele lidar com suas dores. E elas não poupam a lida. A lida é uma dor. Afasto-me, mas não consigo não sentir nada. Não sinto que consegui.
Tranquei-me em meu quarto e, até à tarde, ficarei por aqui. Espero só que as mudanças não sejam tão cruéis comigo. Não quero tristeza! Não admiro lágrimas. E, quando for a hora de sair, partirei com um riso nos lábios. E a manhã, que me entristece, há de anoitecer mais cedo...

Maldita Inquietude -Prosa Poética

Maldita Inquietude

Nem mesmo as madrugadas estão conseguindo amenizar minhas inquietações. Meus contra-ataques emocionais. É por que não mando no meu próprio corpo. É por que sou fraco. Frágeis somos!
A milícia do tempo já se armou. Os canhões nos assustam. Não há apetrechos de defesa. A tempestade ruge. O frio da morte chega.
Magoei-me em dias recentes. Preferi ficar calado. Calo sempre. Sempre sofro. A cabeça não digere bem as dificuldades. E, embora pense não ser tudo o tudo, não tê-lo traz-me falta de êxito. Todos vêem e zombam. E eu nunca tenho algo a dizer.
É a fraqueza que bate à porta. Desespero que fervilha. Trilho que desencaminha. A areia movediça que nos toma de assalto. O medo que vence mais uma vez. O fim!

A Luta Inútil dos Inúteis - Prosa Poética

A Luta Inútil dos Inúteis

Debaixo de telhas de lodo os homens sonham. E não são mais que feitos do mesmo lodo. Mas não sei por que nós nos enganamos pensando sermos alguma coisa mais que todos em volta. Somos insistentes. Irritantes. A mente não nos deixa em paz. Temos que vencer. E, se não conseguimos glória, nossa glória se esvai, pois a glória que se deveria ter alcançado é sempre necessária para continuar a nutrir a precedente.
O mundo é um círculo vicioso. Estamos presos. Estamos mortos. A cobrança é tanta que os dias são sempre motivos de se estar sempre triste. E nada existe que nos faça sorrir. Por isso, às vezes, quero deixar este chão tão cedo. Mas estar em descanso. Não alimento ilusões. Justiças alimento.
Procuro um amor. Busco razões para ficar. Peço a Deus alegrias. Graças a Deus, tenho saúde! Mas sempre nos falta algo. Falta-me algo. E, enquanto estiver por aqui, sempre faltará.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

A Gente Quer Arriscar! - Prosa Poética

A Gente Quer Arriscar!
            
             Sou pequeno demais para brincar de gigante. Meu caminho é cheio de sonhos irrealizados. E talvez o próprio caminho o seja.
             Pergunto a todos que passam. Pergunto acerca dos devaneios. Fato é que perguntas às vezes se comportam como os próprios devaneios que dão azo a perguntas públicas. E eu, ao fim, publico estultícias. Nada mais.
             Certo é que nos arrabaldes os homens procuram o centro da vida. Nas periferias, o círculo elitista dos bairros nobres. Buscam em lugares errados.
             Mas estamos todos na mesma barca. O navio não suporta muito tempo. O peso foi excedido. O mar está em fúria. Tempestades se aproximam. E tudo é temor.
             Conhecendo uma linda garota, as coisas poderiam mudar... Deveria ser assim. Nunca é. Não se engane. Em frente!
             Paixão traz alguns risos; Amor, conformação. Convém fazer um balanço de tudo.
      A experiência diz que a paz sempre estará de bom tamanho. Nada além... Mas somos todos rebeldes.

Por Não ter Sangue Azul... - Prosa Poética

Por Não ter Sangue Azul...
            
             Olho a rua. Pretendo dar um passeio rápido. Meu medo é não saber voltar. Por Deus estou guardado. Então, insisto.
             Talvez encontre uma linda garota com quem poderia passar um longo tempo. Talvez. Ultimamente venho pensando nisso demais. As horas não dão trégua. O tempo voa!
             Minhas decisões são sempre tão propícias à decepção. E decepciono muitos ao meu redor. Possa ser isso só impressão! Bem provável é que não possa.
             Lastimo-me. E há sempre alguém para não me apoiar. Mas me fazer rir não é fácil, diante de horas como essas. Mas, mesmo sem volta, insistem. Talvez a teimosia seja algo contagioso.
             Queria algo certo! Algo em que me apoiar. Mas o mundo físico não é um bom fundamento. É perecível.
             Minha carreira chega ao fim sem nem ter dado os primeiros passos em direção ao sucesso. Mas dizem que a fé milita contra qualquer coisa.
      Abri-vos portas já enferrujadas, que eu pretendo ainda adentrar o recinto. Abri-vos. Abri-vos. Eia! Escancarai-vos!

Os Bobos Também Vivem - Prosa Poética

Os Bobos Também Vivem

             Sou um bobo a olhar luzes de fulgir intermitente. Sou um simples ser humano. Os anos passam e eu não consigo evoluir o tanto que pretendia.
             Pessoas me vêem como um indolente. É a falta de oportunidades que gera essa aparente indolência. Ela evidencia o aparente fracasso. Se bem que tudo não passa de uma pretensa impressão.
             “Todos se guiam pelas aparências”, dizem. “Não pode ser verdade”, penso. Engano-me. É verdade! A vida é mesmo uma máquina sem préstimo. Ferramenta inútil! Coisa vã, diante daquilo que ela nos faz saber. Repugnante! Mas devemos vivê-la, apesar de tudo. Correr seria um desperdício de força. Fugir, um equívoco. Parar seria ir ao encontro do nada.
             Nascemos dotados de uma capacidade de suportar calamidades. Nascemos. Iremos morrer logo, logo. Mas há ainda uma pequena diversão antes de partir.
      Mas – digo eu – mesmo que ninguém atendesse, ainda continuaria a bater à porta.

A Nulidade da Beleza - Prosa Poética

A Nulidade da Beleza

             A formosura ofusca a inteligência e nos faz contemplar momentos de incapacidade completa de resistência.
             Ficamos bobos. E, embora, saibamos que a perfeição jamais se divisará neste mundo, contentamo-nos com a quase perfeição.
             Um instante e estamos apaixonados. Mas tudo parece uma bobagem. Afinal, tudo é ilusório e passageiro. Conflitos acorrerão ao encontro das circunstâncias.
             Lamento não poder ser sempre cortês. Peço desculpas. Nem diante da face mais bela... Nem diante do sol mais evidente... Meu coração fraco grita. Meu riso entristece. Sou eu. A minha humanidade é má. Que Deus me perdoe por isso. E acho que é por isso que eu prefiro a distância.
             Não me queira tão bem assim. Você se magoará.
          Almejo a paz. Não a encontro. Prefiro ficar só.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Para um Riso Chorado - Prosa Poética

Para um Riso Chorado

Não sei se quero chorar. Só, muitas vezes, não sei. Não sei só!
Chorar é para os fracos! Acho que isso seja verdade quando o choro não passa de uma perda de tempo. É bem melhor erguer a cabeça e ir em frente. É por isso que a beleza engana. Que, quando não há mais mais beleza para se ver, não há mais sentido para se viver. Mas isso não passa de uma imbecilização que o sistema – seja esse qual for! – incute nas mentes influenciáveis.
Há sempre bons motivos para sorrir. Não que isso signifique que a vida seja perfeita ou que tudo vá dar sempre tão certo. Ainda não acordou dessa ilusão?
É que sorrir é um prêmio de algum valor em meio a coisas sem valor algum. Sorrir nem sempre é remédio, mas pode curar a obstinação de se estar sempre triste.
O mundo não te ensinou a ver o mundo com bons olhos. A treva sempre sufocou tua visão. Mas pensas que não?
Convencer tolos. Todos bobos. Mas perdoem-me todos. Muitas vezes – eu mesmo! – ajo como um também. Produto da imperfeição.
Mas ainda há razões para sorrir.

A Ilusão É uma Realidade - Prosa Poética

A Ilusão É uma Realidade
Assisto a um filme e me iludo um pouco. Você não? Até mesmo os “misócines” encontram algo com que se iludirem. Ora pois!... Será que ninguém ainda teve a idéia de iludir-se com a própria realidade?! Temos tantos lapsos. Cometemos tantos erros. O orgulho de pensar que não se comete erros seria uma destas ilusões. E não precisa estar sonhando para cometer esse erro.
E a vida cansa... As folhas que caem cansam. A vista cansa. Tudo tão igual. Tudo tão sem sentido. Verdade mesmo! Só isto aqui – este mundículo – não basta. Está vendo como alguns se iludem com a realidade! Parece que para alguns basta.
Era a perfeição que eu queria. Pois, já dizia o sábio: a paz é sem cobranças! E, se sou cobrado, ainda não tenho do que reclamar?!
Tudo aqui é um colapso. E o som não deixa dormir. A rua...
Ainda bem que sempre durmo sem me dar conta que já estou dormindo. E talvez estas linhas sejam um sonho.

Com o Pé no Acelerador - Prosa Poética

Com o Pé no Acelerador

Eu brinco com fogo a muito tempo. Nasci para brincar. Ninguém pode me dissuadir desta minha missão. E, se eu não me der bem, não tenho culpa de ocupar-me com a minha inclinação natural.
Nem nas pessoas da rua há alguma sinceridade...
É melhor deixar de lado pensamentos bobos de que tudo vai dar sempre certo. Mas, mesmo assim, eu creio. E talvez seja esta minha teima meu melhor estilo “de sair”. Estou sempre ávido de não me importar com coisas bobas.
Olho as lojas. Compro poucas coisas. O resto é a vida que passa em frente à minha janela. E daí? O que importa mesmo?!
Manias idiotas de chamar a atenção de todos existem, mas eu nunca dei muita atenção a elas. Sou o que Deus queria que eu fosse. Ele mesmo me inclinou a isso. Eu sou inclinado a isso!
Cuidado! Não se engane com a idéia “boa” de coação. Não digo que não sou responsável pelo que faço, digo que sou inclinado. Estou propenso, não obrigado. Mas, parece-me, sempre bom seguir a minha propensão...
Desconfortável... ser-me-ia... não segui-la.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

A “visão” de “Lobizuma”

Avisos: Podem surgir erros por falta de atenção. Perdoem-me. Avisem-me e corrigirei posteriormente. Boa leitura!

A “visão” de “Lobizuma”

1
Em noites de lua cheia
Impera uma sensação
De tremenda insegurança
Que transmite a impressão
De que algo sobrecomum
Paira na imensidão.
2
E em idêntica ocasião
Estava eu a passear
Pelas ruas da cidade
A fim de desopilar.
E, ao encontrar uns amigos,
Parei para conversar.
3
Comecei a papear
Devido à situação
Ser propícia para um “papo”
Cheio de descontração...
E fui das oito da noite
Às dez naquele rojão.
4
E em patente empolgação,
Ali, deixei-me levar
Pela tal conversação
Sem co’as horas me importar...
Até notar cada amigo
A querer se dispersar.
5
Só após averiguar
Das horas a marcação,
Convenci-me já ser tarde
Pra dar continuação
Àquele “papo” e optei
Pela finalização.
6
Ao apertar cada mão,
Despedi-me do lugar
Fazendo lenta partida
A fim de chegar ao lar.
Mas, no caminho, eu senti
Algo de estranho no ar.
7
Havia algo a me cercar
De medo e de indecisão.
Mas o “danado” é que eu
Não lhe notava a feição.
Então decidi por ter
Aquilo por algo vão.
8
Dando continuação
À caminhada sem par,
Resolvi tranqüilizar-me,
Já que era mais salutar
Que recear algum “troço”
Que eu não podia enxergar.
9
Só que eu, ao me deparar
Co’uma estranha aparição,
Deliberei recear
Outra vez... Mas com razão!
Posto que, “agora”, do fato
Detinha a comprovação.
10
Aquela estranha “visão”
Era algo sem similar:
Tinha aparência de gente
Co’um aspecto cavalar;
Um corpanzil de chacal
E um ronronar de um jaguar.
11
Ousei até cogitar
Ser uma alucinação.
Mas o “danado” do mostro
Mostrou de novo a feição,
Se escafedendo do jeito
Da primeira ocasião.
12
Deu-me uma má digestão
E o bucho “pegou” a’inchar...
A sorte foi que umas moitas
Havia em dado lugar.
Corri e, então, prontamente,
“Me acocorei” pra cagar.
13
Após passar o azar
Daquela má digestão,
Já com as calças vestidas,
Eu, naquela ocasião,
Já não via mais saída
Pr’aquela situação.
14
Usei a’imaginação
Pra tentar solucionar
Aquele impasse “medonho”
Que veio a se apresentar,
Mas não achei solução
Que ali pudesse encontrar.
15
O jeito foi conformar
A mente e o coração
Para, com diplomacia,
Ver se haveria uma ação
Que, em comum, solucionasse
Aquela amotinação.
16
Diante do rosnar do cão,
Não distante, a me encarar,
Pus-me em determinação
De tentar me aproximar
Para encetar um diálogo
Co’aquele ser singular.
17
- Ó ente peculiar,
Dai-me a vossa permissão
Para que nós resolvamos
A dada situação
Ao vislumbrarmos um meio
De pormos fim à questão.
18
Proferia a petição
À medida que, ao andar,
“Me aproximava” do monstro,
Ali, a “resfolegar”...
E, da forma mais cortês,
Pra não o’ encolerizar.
19
Mas testemunha ocular
Fui de um fato “sem noção”...
Pois não é que o tal monstrengo
De tão horrenda feição
Transfigurou-se em um lorde
E “fez-me” uma inquirição!
20
- Ó plebeu cuja instrução
Suplanta o’escopo escolar,
Dizei-me, vós de outras plagas,
Em que gleba haveis de estar?
Em que átrios vós assistis?
Que local tendes por lar?
21
Antes de algo explicitar
Com fineza e educação,
Olhei-o de cima a baixo
Para uma averiguação
Dos detalhes mais discretos
Da sua veste em questão.
22
Ele, à mão, tinha um bastão,
Uma vergasta exemplar.
Sobre a cabeça, a cartola,
Em tudo protocolar.
E, em frente os olhos, nasóculos
Camuflando-lhe o olhar.
23
Bem na perpendicular
Tinha os pés, em posição
Em que cada calcanhar
Toca no outro, em junção
Que dificulta o equilíbrio
Devido à mesma união.
24
Precisei co’exatidão
A idade secular
Dessa sua indumentária,
Para mim, familiar
Só por assistir a filmes
Que ainda a vêm retratar.
25
O aspecto particular
Deu-me a exata impressão,
A julgar pelos babados
Quase a lhe cobrir a mão,
Que do século dezessete
Era o seu terno em questão.
26
- Ó ser de rara visão,
Esta gleba é o meu lar.
Respondi-lhe finamente,
Ao contemplar-lhe o olhar.
E ele, em dúvida, retrucou
Ainda a me questionar:
27
- Se sois vós um popular
Que nesta plaga em questão
Habitais há longos anos,
Dizei-me qual a razão
De eu nunca vos ter achado
Em natural região?
28
- Bem... À vossa inquirição
Faz-se boa e salutar.
Na verdade, eu não costumo
A estas horas andar,
Porque me assusta o escuro
E me intimida o luar.
29
- Falai-me, ó ente solar,
Por que a noturna incursão
Traz-vos tanto desespero,
Temor e exasperação?
Ó, vos evoco, falai-me
O porquê desta asserção!
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- Bem... Esperai-me... Perdão...
Com “Ó” hei de começar!
Ó lorde dos séculos idos,
Hei-vos de pronunciar
O porquê do meu passeio
Tão tarde nunca se dar!
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- Ó... É por que o lugar
Onde faço habitação
É distante pra “cachorro”...
E ainda existe a razão
De eu não querer me topar
Com nenhuma assombração.
32
- Sois vós, ó transmutação,
Também um cão a vagar?
Como eu, sois um lobisomem
Cativo da luz lunar?
Pois pra cachorro é distante
O que o venha humanizar.
33
- Ó lobisomem lunar,
O sol é minha prisão.
- Quereis dizer que vós sois
De “uma outra” espécie de cão?
Dizei-me, então, qual a tua
Diabólica maldição.
34
- “Pra cachorro” é expressão
Que aqui se costuma usar.
Tá na hora de você
Transmutar o linguajar,
Por que falar na segunda
Do plural é “de lascar!”.
35
- Ó ser, vos hei de narrar
Minha horrenda maldição.
Sou filho de Montezuma,
Filho de “uma outra” nação.
Hernán Cortés condenou-me
À tão vil execração.
35
- Pergunto: Por que razão
Você fala um linguajar
De um Portugal seiscentista
E não um do “teu” lugar?
Pois não é “Tenoctitlan”
A capital do “teu” lar?
36
- Ó criatura vulgar,
Não tendes mera noção
Do que falais. Ó mortal,
Perdi a minha nação.
E vivo como um anátema
Vagando sem direção.
37
Nesta hora o falastrão
Pôs-se a se encolerizar.
Rasgou toda a sua veste
E começou a uivar.
“Aí”, eu corri com medo
Pra tentar me resguardar.
38
Pra minha sorte, ou azar,
Apareceu ante o vão
Outro ser inveterado
Com uma vergasta à mão.
Parecia o conde Drácula.
Fui olhar. Não era não.
39
A lua caiu no chão.
O asfalto virou pomar.
As estelas se apagaram.
A treva pôs-se a brilhar.
E o sol caiu e “apagou-se”
Dentro das águas do mar.
40
Um círculo triangular
Viu-se na’imediação.
Apareceu uma múmia
Co’esparadrapo na mão.
E uma jumenta parida
Aterrissou em Plutão.
41
Perante tal incursão,
Eu “me danei” gritar.
“Meti o pau” a correr,
Tentando encontrar lugar,
Mas um morcego gigante
Pegou-me e não quis largar.
42
Jogou-me em Madagascar
E alguém, numa imprecação,
Lançou-me um “papo” qualquer
E, numa transmutação,
Transformei-me em lobisomem
Pra assombrar a nação.
43
- Ó vós que esta narração
Ouvistes sem mal-estar
Ou lestes em lauda branca,
Queirais vir-me auxiliar,
Porque falar deste modo
É revel e eu me incomodo,
Pois não é coisa usual.
À licantropia aberto,
Co’os lobisomens me acerto,
Mas só quero ser liberto
Da segunda do plural.


Autor: Felipe Amaral