terça-feira, 19 de novembro de 2013

De tudo eu como dobrado / No banquete da "Virada"


De tudo eu como dobrado
No banquete da "Virada".

1
Só gosto de fazer ceia
Com cardápio bem extenso,
Pois, em casa, eu não dispenso
Uma mesa grande e cheia.
No Natal a coisa é "feia"
E, no Ano Novo, é "pancada",
Que a comilança é "pesada"
No dia comemorado.
De tudo eu como dobrado
No banquete da "Virada".
2
Você não faz nem idéia
Do que eu sirvo em minha casa.
É tanta que se extravasa
A comida na' assembléia.
Que eu alimento a platéia
De uma forma "amundiçada"
E a ceia é acanalhada
Pra não deixar desagrado.
De tudo eu como dobrado
No banquete da "Virada".
3
Mas pra você se inteirar
Do que eu sirvo aos que convido,
Vou atender seu pedido,
Mesmo sem você rogar.
Tentarei enumerar
Os itens da ceia dada.
Segure aí a "carrada",
Que a lista é peso pesado.
De tudo eu como dobrado
No banquete da "Virada".
4
É torta, é bolo, é lasanha,
Charllote, merengue e molho,
Feijoada com repolho,
Carne com banha e sem banha.
Pistache, amêndoa, castanha,
Pé-de-moleque e cocada,
Lombo de porco e buchada,
"Picolé quente" e gelado.
De tudo eu como dobrado
No banquete da "Virada".
5
"Pizza", pudim e panqueca,
Chicória, alface e tomate,
Carne saída do abate,
Bobó, baguete e bisteca.
Xerém com leite e moqueca,
Salsicha com noz-moscada,
Lingüiça, tripa torrada
E alcatra de boi cevado.
De tudo eu como dobrado
No banquete da "Virada".
6
Brócolis, couve e salsinha,
Maxixe, espinafre e coentro,
E folhas de louro dentro
De um pernil com cebolinha.
Manjericão na sardinha,
Cheiro-verde na salada
E óleo e páprica picada
Por cima de um pato assado.
De tudo eu como dobrado
No banquete da "Virada".
7
Sorvete, musse e suflê,
Creme de leite e morango,
Crepe de limão e frango
Com azeite de dendê.
Calda de ameixa e glacê
Numa fatia cortada,
Bala, chiclete e coalhada,
Sopa e toicinho torrado.
De tudo eu como dobrado
No banquete da "Virada".
8
Ponche, Coca, Fanta e vinho,
Suco de manga e melão,
Melancia, uva e mamão,
Sukita, Skinka e "Toddinho".
Salame no "arrumadinho",
Almôndega fatiada,
Presunto na "malassada",
Queijo e manteiga de gado.
De tudo eu como dobrado
No banquete da "Virada".
9
Dropes, "tijolo" e sequilho,
Bolacha, biscoito e mel,
Paçoca, pavê, pastel,
Pirulito e pão-de-milho.
Canela em pó que eu polvilho
Por cima da goiabada,
Molho de macarronada
No espaguete espalhado.
De tudo eu como dobrado
No banquete da "Virada".
10
Rum no chá de erva-cidreira,
"Mojito*", vodca e burbom,
Vitamina feita com
O fruto da bananeira.
Chantili na batedeira
Misturado à marmelada,
Catupiri na empada,
Quibe e torresmo tostado.
De tudo eu como dobrado
No banquete da "Virada".
*lê-se "mô-rri-to"
11
"Baião-de-dois" com cuscuz,
"Sanduba", coxinha e nozes,
Conhaque servido em doses,
Vinagrete com chuchus.
Carne de ganço e avestruz,
Badejo, solha (^) dourada
Na panela, rodeada
De tomate picotado.
De tudo eu como dobrado
No banquete da "Virada".
12
Bolas de sorvete em taça
Com calda de framboesa,
Tofu, peru sobre a mesa,
Doce de leite e uva-passa.
"Pizza" quente cuja massa -
Fofa, lisa e arredondada -
Tem mozarela agregada
Ao seu formato "ovalado".
De tudo eu como dobrado
No banquete da "Virada".
13
Queijo-prato e panetone,
Azeitona no palito,
Atum, salmão com palmito,
Macarrão com peperone.
Ravióli e canelone,
"Risole", nhoque e gemada,
Pão-de-queijo de fornada
Que incensa a cozinha ao lado.
De tudo eu como dobrado
No banquete da "Virada".
14
Traíra, tilápia e truta,
Piaba, pirarucu,
Lambari, carpa e pacu,
Dos tais meu bródio desfruta.
Toda salada de fruta
E toda carne empanada,
Nabo, cenoura ralada,
Alho e quiabo picado.
De tudo eu como dobrado
No banquete da "Virada".
15
Arroz de leite e polenta,
Umbuzada e salpicão,
"Suspiro" e sopa com pão
E até pastilha de menta.
"Filé-mignon*" que se esquenta
Numa chapa laminada,
"Champignon*" e rabanada
E camarão que é pescado.
De tudo eu como dobrado
No banquete da "Virada".
*Lêem-se respectivamente:
"minhom" e "champinhom"
16
Macaxeira com inhame,
Batata frita com bofe,
Jerimum e estrogonofe
E "paella*" com salame.
E, pra que ninguém reclame,
Picanha, que, ao povo, agrada,
Maminha na brasa assada
E cerveja no engradado.
De tudo eu como dobrado
No banquete da "Virada".
*Lê-se "paêlha"
17
"Quiche", rosbife e "cannoli*",
"Petit Gâteau*", gelatina,
Cajuína, tubaína,
Chocolate e rocambole.
Geléia gelada e mole,
Lentilha quente e escaldada,
Esfirra bem preparada,
Canja, salsão e linguado.
De tudo eu como dobrado
No banquete da "Virada".
*Lêem-se respectivamente:
"Canóli" e "petí gatô"
18
Frangote, guiné, perdiz,
Rolinha, faisão e pinto,
Vinho bordô, branco e tinto,
Garnisé e codorniz.
Jabá que atiça o nariz
Quando a carne é cozinhada,
Charque, fiambre e camada
De bolo bem recheado.
De tudo eu como dobrado
No banquete da "Virada".
19
Marisco, polvo e corvina,
Dourado com berinjela
E galinha à cabidela
Untada na margarina.
Figo, Quiuí, tangerina,
Laranja e romã cortada,
Fricassê, ragu, peixada
E capão bem temperado.
De tudo eu como dobrado
No banquete da "Virada".
20
Acarajé, vatapá,
Cachorro-quente e "sucrilhos"
Mesclados sem empecilhos
No caldo do mucunzá.
Beiju, beijo-de-sinhá,
Tapioca amanteigada,
Beira-seca apimentada,
Broa e brote esfarelado.
De tudo eu como dobrado
No banquete da "Virada".
21
Mingau, rolete de cana,
Marmita de caçarola,
Pão-de-Ló e mariola,
Caldo de cana caiana.
Pelota, que a fome engana,
Fuba (ú), que é adocicada,
Bolo-de-caco e torrada,
Rabanete acebolado.
De tudo eu como dobrado
No banquete da "Virada".
22
Aveia e avelã colhido,
Farinha láctea com leite
E, ainda, pra o meu deleite,
Feijão com arroz mexido.
Ervilha, milho moído
Na pamonha colocada*
Na mesa bem arrumada
Pra o banquete mencionado.
De tudo eu como dobrado
No banquete da "Virada".

* "colocada" concorda com "pamonha"
e não com "milho moído". Cuidado!

23
Mesmo não vendo completa
A lista do que é servido,
Eu, cá, vou ser comedido
E vou tomar outra meta.
Visto que já fiz concreta
Minha palavra empenhada,
Findo aqui minha empreitada
Co'o pouco que foi citado,
MAS EU VOU COMER DOBRADO
NO BANQUETE DA VIRADA!!!


Autor: Roberto Felipe Melo Leite do Amaral

Vulgo: RF Amaral ou Poeta Felipe Amaral
Ou ainda MC Leitor

domingo, 5 de maio de 2013

Vinde ao prândio dezembrino, Epulários caperons!

Vinde ao prândio dezembrino,
Epulários caperons!
1
R.F - Convivas que, por prefácio,
O.A – Adentrais saguões reais,
R.F – Regozijai-vos nos tais.
O.A – Vede que o clima é malácio.
R.F – Apreciai o palácio
O.A – Refestelado em neons.
R.F – Vinde gitanos e rons
O.A – Ao esposório divino!
Vinde ao prândio dezembrino,
Epulários caperons!
2
O.A – Achegai-vos à cabilda.
R.F – Vede dos “piscas” o lume.
O.A – A rua alude ao costume
R.F – E a neve resfria a guilda.
O.A – A celebração não pilda
R.F – Em dias alvos e bons.
O.A – Há risos sem vis frissons
R.F – E falas de áureo refino.
Vinde ao prândio dezembrino,
Epulários caperons!
3
R.F – Contemplai do bródio o halo
O.A – De glória que envolve a flama
R.F – Do aprazível acroama
O.A – Do súdito e do vassalo.
R.F – Suseranos em regalo
O.A – De olhar e olhos mignons* (*minhons)
R.F – Moralizam sem destons
O.A – Com plebeus sem desatino.
Vinde ao prândio dezembrino,
Epulários caperons!
4
O.A – Fitai o argênteo fulgor
R.F – Do baile que mescla as classes
O.A – E não achereis impasses
R.F – Nesta pândega de amor.
O.A – Não há de haver estupor
R.F – De hostis nestes odeons,
O.A – Só afetos e entretons
R.F – De repouso “celestino”.
Vinde ao prândio dezembrino,
Epulários caperons!
5
R.F – O salão recebe as churmas
O.A – De camponeses e nobres.
R.F – Vê tu! Considera os dobres
O.A – Dos sons que embalam as turmas!
R.F – Não durmas, pois não esvurmas
O.A – O pobre dos teus cupons.
R.F – Sei que os amas e os jetons
O.A – Não negas ao peregrino.
Vinde ao prândio dezembrino,
Epulários caperons!
6
O.A – Por fim, ó plebe silente
R.F – E elite oculta entre jóias,
O.A – Meditai sem paranóias
R.F – Na’ humilde união de gente
O.A – Que, nesta data presente,
R.F – Faz, de remendos, plastrons,
O.A – De migalhas, champinhons
R.F – E do chão, o céu divino.
Vinde ao prândio dezembrino,
Epulários caperons!

Umas quadras e uma décima

Umas quadras e uma décima

Ser poeta é ser mais brando,
Sonhando um sonho estupendo:
Viver na vida sonhando
Sonhar na vida vivendo.


Pra o trovador de verdade,
Na sua mente, eu suponho,
Que o sonho é realidade
E a realidade, um sonho.


Todo o vate é visionário
E, por isso, é natural
Ter seu mundo imaginário
Como o seu mundo real.


Muitas vezes é normal
O bardo ter a’ impressão
Que a ficção é real
E o real é ficção.


Pra o poeta a ilusão
Ao fato é bem similar,
Que, pra ele, estar no chão,
É como no céu estar.


Poeta é, sem protocolo,
Envolto de estranho véu:
Se mantém os pés no solo,
Mas tem a mente no céu.

O vate, na qualidade
De alguém que o seu dom venera,
“Dispõe da” veracidade
Pra “se dispor” à quimera.


Todo segrel, por vontade
De divagar* sem receio,
Desmente a pura verdade
Pra’ afirmar seu devaneio.
*não é devagar é “divagar:
digredir, dispersar-se, sonhar,
fantasiar”.

O menestrel se motiva
E, numa troca total,
Faz a razão emotiva
E a emoção racional.


Bardo vê no feio o belo;
Acha no cheio um vazio;
Na desunião, um elo;
E no’ insulto, um elogio.


Vate vê no choro um riso;
No desvario, sensatez;
Na maluquice, bom siso;
Na’ inquietação, placidez.


Segrel, no nada, acha um tudo;
Na’ incerteza, uma certeza;
Na’ insegurança, um escudo;
E robustez na fraqueza.



De tudo o que se acha ouvido,
O certo é que a poesia
Dá ao vate a ousadia
De dar à vida um sentido.
Faz o porvir mais garrido
E o presente menos vão.
Do passado, uma razão
Pra recordar e sorrir,
Que o riso é o elixir
Da força da’ inspiração!



Poeta Felipe Amaral

Segregação Cultural

Segregação Cultural
 Por Felipe Amaral


         Assisto à tv e consigo divisar tanta trivialidade que me abismo com o fato de a sociedade ainda tolerar o uso de concessões públicas para tal. Tirando certos programas até, digamos, “tragáveis”, o que sobra são porcarias de toda natureza, menos da correta.
         Dizer que tudo se resume a gosto e que gosto não se discute é simplificar muito o problema. Quando o gosto é imposto pela ditadura do reprovável e, por isso mesmo, resulta numa perpetuação de aprovação do impositor, o que, por sua vez, gera uma possibilidade de mais “imposição de gosto” (que, na verdade, não é livre gosto), dando tudo em um círculo vicioso, as mentes atentas sofrem, mas, sendo minoria, ficam à mercê de tal escabrosidade.
         Há prêmios por “exposições ao ridículo” e os galardoados ainda se acham por privilegiados. Mídias esforçam-se para passar essa realidade plastificada para as casas. São sons, imagens, textos, “atmosferas manufaturadas” que ocasionam anomalias vivenciais.
         O Youtube no Brasil dá “IBOPE” astronomicamente meteórico às vãs inclinações dos mortais. Não que a liberdade devesse ser cerceada. Ninguém aqui disse isso! A educação poderia minorar a profusão de aberrações do entretenimento.
         Certo dia, assistindo a um programa de entrevistas, deparei-me com um indivíduo que poderia ser tudo, menos um referencial artístico no país, mas, não só a entrevistadora, como toda a nação o tinha por tal. Coisa lamentável! Como eu disse: As mentes atentas sofrem...
         Dinheiro gasto com tudo de ruim: O governo apóia; a população sorri!... Eu não, mas quem estaria preocupado com o que um teclador pensa?!
         Não bastando disparidades tais, ainda se vêem complôs em cantos e cantos do nosso imenso chão. Patotas elitizadas que monopolizam a atividade cultural e, decorrente disso, trabalham como censores “a la” DOI-COD (não com tanta violência física, mas não com menor violência verbal).
         Você é um pintor (de óleos) e não galga reconhecimento simplesmente por que o local onde você está inserido não tem capacidade intelectual para entender o que faz. Isso é a expressa marca dos interiores! O que é “esquisito” ou “rebuscado demais” é deixado às traças. Reconhecimento terão os que “se aventuram” pelas estradas da mesmice. O leitor acha isso justo? Eu “acreditaria” que não.
         A coisa está tão arraigada que, quando se fala de opressão desse tipo, muitos só viram a cabeça para o lado e ouvem tudo como se fosse só mais um “puxamento de assunto sem importância”. E segue o reconhecimento na mão dos fracos. Não quero dizer que é sempre assim, mas muito assim (nem todos são fracos, mas para muitos o nome “fraco” ser-lhes-ia, ou, no mínimo, deveria ser, tido como um elogio... e grande elogio).
         O negócio é, baba o ovo de um magnata e terás prestígio. Isso não é novo. Nem a segregação é nova. Nada é novo mesmo! O ser humano inclinou-se em várias épocas a essas formas de viver (mal viver, não bem viver).
         Pelo menos no Brasil, o uso do dinheiro público, e bem público de qualquer tipo, não é fiscalizado como deveria ser. Os oligarcas ainda comandam. Plutocratas florescem como capim nas frestas do reboco das construções públicas. Parece que nada vai mudar.
         Fico eu aqui a teclar e esperar que alguém leia o que escrevo. E nada de ser tão (tão mesmo!) sincero, que é para não assustar o que a isso se aventura. Não queremos perder leitores sem nem antes mesmo termo-nos ganho!
         Fica a dica. Que os ditos “rebuscados” ou “esquisitos” possam ter um lugar para, quem sabe um dia, poderem angariar um reconhecimentozinho da vasta populaça, que, cá para nós, precisa e muito ser exposta a “rebuscamentos” e “esquisitices”.

Valeu!

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Eis o ínclito protoplasto / Da verve pantagruélica.

Eis o ínclito protoplasto
Da verve pantagruélica.

1
R.F – Acapno fluido laudânico
O.A – Do elã que evoca ataráxico (cs)
R.F – Nirvana sem surto atáxico (cs)
O.A – De um parestésico pânico.
R.F – Fluxo elétrico galvânico
O.A – Que desfibrila autotélica
R.F – Écloga sã e arcangélica
O.A – Do dom mais nobre e mais casto...
Eis o ínclito protoplasto
Da verve pantagruélica.
2
O.A – Comensal vulto poético.
R.F – Ambrosíaco livor.
O.A – Ergástulo sem cruor.
R.F – Iantra peripatético.
O.A – Feixe de luz amulético
R.F – De cosmogonia télica
O.A – Que explica’ a’ existência célica
R.F – Do belo em todo o seu fasto...
Eis o ínclito protoplasto
Da verve pantagruélica.
3
R.F – Saber díctico-semântico
O.A – Que a semiologia exalça,
R.F – Mas que a suplanta e percalça
O.A – Ênfase tonal de cântico.
R.F – Epodo (^) de alvor romântico
O.A – Que defenestra a babélica
R.F – Cantata mefistofélica
O.A – Que enleva a alma ao nefasto...
Eis o ínclito protoplasto
Da verve pantagruélica.
4
O.A – Lúdico vigor crescente
R.F – Que guia o espírito ao plectro.
O.A – Da luz o fulgor do espectro;
R.F – Do amor o dulçor latente;
O.A – Da vida a calma silente;
R.F – Do céu a cantiga angélica;
O.A – Da terra a paz antibélica;
R.F – Da mente o saber “mais vasto”...
Eis o ínclito protoplasto
Da verve pantagruélica.
5
R.F – Doce prazer epicínico.
O.A – Usufruto epitalâmico.
R.F – Aromatismo balsâmico.
O.A – Virginal ar querubínico.
R.F – Estado antimiodínico.
O.A – Aptidão psicodélica,
R.F – Socrática, aristotélica.
O.A – Neoplatônico idioblasto.
Eis o ínclito protoplasto
Da verve pantagruélica.
6
O.A – Onirismo freudiano. (frói-diano)
R.F – Juguiano* misticismo. (*iunguiano)
O.A – Pitagórico ascetismo.
R.F – Foco keyserlinguiano. (caisserlinguiano)
O.A – Épico homérico plano.
R.F – Hesiódica e evangélica,
O.A – “Avassalante” e famélica
R.F – Unção que do’ estro é’o emplasto.
Eis o ínclito protoplasto
Da verve pantagruélica.

Paira uma essência poética / Na’ extensão intergalática.

Paira uma essência poética
Na’ extensão intergalática.

1
O.A – Entre sondas e quasares,
R.F – Satélites e nebulosas
O.A – Vagam pulsações fibrosas
R.F – Quais radioestrelas pulsares.
O.A – São “auras” tomando os ares
R.F – Numa vibração fleumática
O.A – Trazendo à vida a dramática
R.F – Sensibilidade estética.
Paira uma essência poética
Na’ extensão intergalática.
2
R.F – Buracos negros não podem
O.A – Sorver dessa essência o fleuma,
R.F – Que vagueia sem celeuma
O.A – Por entre as anãs* que explodem.
R.F – Sentimentos dela eclodem,
O.A – Apesar da sua apática
R.F – Serenidade hipostática,
O.A – Vaga, absconsa e hermética.
Paira uma essência poética
Na’ extensão intergalática.
*anãs brancas (de grande massa) e vermelhas (de pequena massa)
3
O.A – Qual fluido subjacente
R.F – Que sob o cosmos escorre,
O.A – Essa essência que decorre
R.F – De um não-sei-quê, faz-se ingente.
O.A – Perscruta do ser a mente.
R.F – Inquire de tudo a prática.
O.A – Indaga e traz problemática
R.F – A se instar na dialética...
Paira uma essência poética
Na’ extensão intergalática.
4
R.F – Há nessa essência um mistério
O.A – Tanto cimério e brumal
R.F – Quanto ávido, enérgico e vital
O.A – Que adeja no vácuo etéreo:
R.F – Nenúfar, plectro funéreo;
O.A – Ebúrneo aljôfar, cismática
R.F – Contemplação catedrática
O.A – De dogmática patética.
Paira uma essência poética
Na’ extensão intergalática.
5
O.A – Bem no cósmico subsolo
R.F – Do éter primal da linfa
O.A – Vital, poética qual ninfa
R.F – Divina que imerge ao colo
O.A – Do’ halo espectral que isolo
R.F – Como a substância enfática
O.A – De um eclegma de alopática
R.F – Terapia “intragenética”...
Paira uma essência poética
Na’ extensão intergalática.
6
R.F – Enfim, tal fôlego primígeno
O.A – Subjetivo e profundo
R.F – Rasteja no vão fecundo
O.A – Cósmico do matiz noctígeno
R.F – De almas de um antimorbígeno
O.A – Eflúvio de profilática
R.F – Ação psicossomática
O.A – Inspiracional e ascética.
Paira uma essência poética
Na extensão intergalática.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Eu sou mais um fractal / Em uma sopa caótica. (mote de Clécio Rimas)

Eu sou mais um fractal
Em uma sopa caótica.

(mote de Clécio Rimas; glosas minhas)

1
O.A – Eu sou como uma voluta
R.F – Ante o espaço intergalático,
O.A – Ácido como um líquido lático
R.F – Que a dentição executa.
O.A – Uma adefagia hirsuta
R.F – Contra ação antibiótica,
O.A – Qual turba antipatriótica
R.F – No Congresso nacional.
Eu sou mais um fractal
Em uma sopa caótica.
2
R.F – Eu sou porta-voz do caos,
O.A – Devastação apoplética,
R.F – Vil convulsão epilética,
O.A – Pirexia de altos graus,
R.F – Guerra entre Camboja e Laos,
O.A – Roma após a’ invasão gótica,
R.F – Autoridade despótica
O.A – De reino unilateral.
Eu sou mais um fractal
Em uma sopa caótica.
3
O.A – Na’ imprevisibilidade
R.F – Locomovo-me qual fóton:
O.A – Indetectável “bóton”
R.F – De luz numa imensidade.
O.A – Heisenberg, na verdade,
R.F – Em visão “nanobiótica”,
O.A – Descreveu a minha ótica
R.F – Subatômica habitual.
Eu sou mais um fractal
Em uma sopa caótica.
4
R.F – Erwin Schrödinger descreve
O.A – Minha matéria volátil
R.F – Ora qual onda vibrátil,
O.A – Ora qual partícula leve.
R.F – E nenhum “Einstein” se atreve
O.A – A solapar esta exótica
R.F – Descrição microbiótica
O.A – Da minha ação corporal.
Eu sou mais um fractal
Em uma sopa caótica.
5
O.A – Niels Bohr não me compreendeu,
R.F – Sommerfeld também não
O.A – E Einstein ficou sem ação
R.F – Diante do meu apogeu.
O.A – Broglie até que mereceu
R.F – Apologia sinótica,
O.A – Mas, ao fim, fora(^) anedótica
R.F – Toda obra intelectual.
Eu sou mais um fractal
Em uma sopa caótica.
6
R.F – Nem mesmo bosquejos quânticos,
O.A – Biológicos, matemáticos,
R.F – Filosóficos pós-socráticos
O.A – Ou literário-românticos
R.F – Podem descrever semânticos
O.A – Aspectos da apoteótica
R.F – Ação dialítica e osmótica
O.A – Da minha vida, afinal,
Eu sou mais um fractal
Em uma sopa caótica.

Glosadores: Roberto Felipe Amaral e Osvanildo Almeida "Imaginário"