quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

A História da Minha Vida - Fragmento 15 - Felipe Amaral

Fragmento 15


            Nem o que escrevo é durável! Acho que, se nos sentíssemos leves a vida inteira, não sairíamos de casa ou, mesmo, contentaríamo-nos com qualquer recanto embaixo da ponte. Busco isso, mas minha carne faz-me desejar sempre mais. Isso é um "saco"! Eu poderia louvar a Deus, contente por estar onde estivesse. Mas não... Há uma inquietação no meu coração. Seria arriscado. Eu poderia não ter o que comer. Mas quem inventou a fome? Por que tinha que ser assim? Eu bem poderia resistir a tudo. Mas sou só um "raio" de um homem!

            Fico feliz quando me escutam. Não deveria. Fico triste com o desprezo. Mas o que é o desprezo? O psiquismo do ser humano o mata. É uma piada!
               
             Para que você quer tanto dinheiro? Você fica alegre quando os demais te idolatram. "Olha como você é bem-sucedido!" - exclamam. É irrisório! Mas eu não valho nada. Seu diploma é maior. É melhor. Eu sou um tolo. Continua irrisório. Mas será que eu não quereria ter tanto dinheiro assim? Afinal, por que opino? Perdoe-me por não poder ficar calado. Eu sou tão imprestável (não que seja mesmo)!

              O que significa de fato ganhar ou perder, quando se é um gênio idiota que acha graça em tudo? Os conformados são mais felizes. Mas eu nunca achei conformados perfeitos em seu conformismo. A revolta destrói parte do que eles constroem. Sempre. E eu sinto muito por encabeçar a lista dos revoltados.

               Ria de tudo. Esse é o remédio. Até de piadas sem graça. Tem fome, ria; quebrou a coluna, ria; terminou o namoro, ria; perdeu o emprego, ria... Para rir tanto, penso que se teria que ser imune a dor. E, mais uma vez, vai pelo ralo a nossa suposta fórmula mágica. Você pode estar rindo agora. Mas, saiba de uma coisa: Não vai durar. Não vai não.

           Defendo-me porque você provoca, instiga, aguça meu sistema natural de defesa. Quer-me bater? Busca "IBOPE"? Vê! Todas as câmeras estão desligadas. Não há ninguém para valorizar-te. Mas bem que poderias me agredir fisicamente pelo simples prazer da agressão. Mas eu poderei me defender sem medo que o faça para me promover. Não há audiência.

                   Dói-me não conseguir nem "ser nada" direito. Eu sonho conseguir não ser nada e não o consigo. Um dia, quem sabe? Desejos tomam-me. As pessoas que falam comigo. Convites. Mas eu sonho em - um dia - conseguir não ser nada. Ficar no meu cantinho e não ser nada. Não é fuga, é verdadeira vida. Fugir de quê? Às vezes, até a fuga constitui-se em um desejo de autopromoção. Eu não desejo, eu busco, "sem desejos", poder não ser nada e ponto. Deixe-me só. A paz é isso. Mas será que conseguirei me conformar? Ó Deus! Ó vida! Preparai-me.

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