sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

O Acumulador Portátil - RF Amaral


O Acumulador Portátil
por RF Amaral

Um capacitor poderia mudar muita coisa. Imagine que uma pessoa conseguisse através de um capacitor construir algum tipo de acumulador de energia que possibilitasse recarga (por via de um giro numa simples manivela!) e uso contínuos. O que poderia acontecer? Se tal pessoa conseguisse ligar tudo em sua casa a essa engenhoca, com certeza, provocaria um caos. As concessionárias de energia elétrica se revoltariam (ainda mais se ela – essa pessoa visionária! - colocasse tudo à posição de todos!). Ninguém necessitaria do auxílio, em âmbito familiar, desse serviço. Rodar-se-ia uma manivela e, “voila”! (vualá!), estaria tudo bem. Energia sem fim. As empresas não gostariam. Afinal, por que a energia é tão cara? Tudo é uma desculpa para se arrecadar mais, oprimir mais, fazer você trabalhar mais para tentar lucrar mais para pagar mais, comprar mais. Grandes usinas fechariam as portas. Haveria muita morte nas ruas. Conspirações. A polícia seria chamada. Os adeptos dessa nova “energização” seriam tidos por nerds, loucos, negadores do processo “organizado” consolidado. Um giro de uma manivela seria uma afronta a toda “civilização ordenada”. Sobraria mais dinheiro. Você poderia ter outras coisas. Talvez alcançasse o “status” dos seus sonhos. Teria a mulher mais bonita (ou talvez só continuasse competindo, mas, ao menos, dessa vez estaria no páreo!). Os nerds seriam heróis. Todos encomendando um “Acumulador portátil”. A máquina do século (ou seria dos séculos dos séculos?). A economia mudaria. Onde estaria o petróleo? Onde estaria o biodiesel? O etanol onde estaria? A nova invenção criaria uma nova “religião”. Seguidores e seguidores. E, na rua de alguma cidade, mais um motim seria presenciado pelos que se negassem a obedecer. Mas é tarde demais. Todos estão tomados. O comércio não ouve mais as hidroelétricas. Os “novos capitalistas” querem ganhar dinheiro sem gastos, mas os “velhos capitalistas” também quererão continuar a ganhá-lo. Será o fim. O apocalipse é colocado em curso por causa de um simples capacitor eletrolítico [só o que preciso é de um “distribuidor-regulador” de voltagem, amperagem e resistência!]. Talvez até já existisse quem pensasse assim. Talvez essa pessoa tenha sido morta por agentes secretos da CIA. Tesla ficaria surpreso (se não fora ele o morto por tais agentes!). As boates, os bares, lanchonetes, cinemas... ninguém querendo desligar seus prazeres. Não haveria conta a pagar. A energia não se perde! O negócio paralelo de qualquer outra coisa poderia ser acelerado ao infinito só por esse não-negócio. Talvez fosse mesmo o caos. Quem plantaria? Quem colheria? Ou estaria eu errado a postular disparate tal? Sempre há mais dinheiro a ser ganho por via de outras vendas. O comércio não pararia. A energia elétrica transformar-se-ia em energia humana. O padre apelaria para que parassem. O pastor não deixaria os “novos capitalistas” em paz. Mas a sanha por dinheiro seria maior que qualquer reprimenda condenatória sacerdotal. As meninas estariam “perdidas”. Nas “baladas”, a energia infinda impulsionaria os outros excessos. Tudo seria diferente. Ah se tudo pudesse ser diferente! Na verdade, facilitando-se qualquer coisa para um povo degenerado, facilitar-se-á a exacerbação “populacional” degenerativa de qualquer coisa. O povo quer farra. Farra sem pagar. Sodoma e Gomorra. O povo quer o caos, mas se alguns, aparentemente polidos, evitarem-no, só o farão por razões financeiras que, por fim, não cooperam contra outro tipo de caos: o caos da fome, o caos da opressão governamental, o caos da cobrança, da busca por “status”, o caos do caos... Tive uma ideia de transformar nitrogênio (tem muito!) em energia elétrica e guardar para usá-la pelo resto da minha vida. Talvez meu curso de refrigeração me ajude nessa empreitada. Já pensou eu distribuindo a todos a ideia, só para ver o fim dos lucromaníacos?! Não?! Então pense! Seria mais do que o que Bill Gates fez pela fofoca virtual em todos os seus “mais áureos” tempos. Mark Zuker não sabe de nada! Ele deveria estar programando drones para pensarem em novos jeitos de fazer energia elétrica. Esse ainda continua o produto do século. Deixe acabar para você ver o fim da informática computacional (na verdade, não sei nem se há outra!). Meu computador está ligado aqui por que uma corrente permite que assim se faça... Mas as “correntes” dos impostos que eu pago são meu principal combustível para escrever o que escrevo agora, na esperança de que algum nerd (eu não o sou: que pena!) leia-o e ponha em prática minha imbecil ideia ficcional. Afinal, se a Relatividade foi descoberta, não acho que algo seja impossível mais de acontecer. Sou um literato e, por isso, estudo Refrigeração para tentar ganhar a vida. Eu poderia ficar dizendo as inúmeras implicações da descoberta mais sem sentido, mas tenho que tornar as minhas apostilas para tentar evitar a fome futura que já parece me espreitar... Creio que você terá um pensamento diferente da próxima vez que vir um capacitor em sua frente.

Ps.: talvez eu nem volte mais a escrever coisas tais. Ô “disgracêra infiliz”!

*Manifesto Contra a "Autopromoção Velada" por RF Amaral


*Manifesto Contra a "Autopromoção Velada"
por RF Amaral
Poderia estar vivendo outra vida. Ter mais conhecimento. Ser maior. Ser melhor. Não consegui nada. O futuro já me espreita. A cobrança é demais. Os desgastes psicológicos que me oprimem dia após dia. Eu tenho que ler e estudar uma coisa que eu não gosto. Tenho que buscar o que eu não quero. Não estou à procura de nada! Estou querendo crescer, não me oprimir. O mundo é cego, surdo, louco. Ninguém vê que o fim é a morte por estafa. Repouso não há. Eu estou cansado de ter que atender às expectativas. Só quero ter paz. Ficar calado. Sem disputas. Mas você tem que disputar com todo o mundo pra ver se consegue alguma atenção. Mas eu nem quero atenção. Eu quero silêncio. Não adianta gritar, sempre vai estar lá a cobrança, dizendo: "Faça mal ao seu corpo!" Eu não quero morrer estafado. Não consigo decorar esses montes de conceitos que me obrigam a ter que aprender. Eu quero escrever. Repousar num travesseiro e escrever. E isso não é preguiça, isso é arte. O imbecil pensa que só o que ele faz é digno de salário. O imbecil pensa que somos todos iguais. O imbecil oprime a si mesmo e não se contenta com a opressão do seu corpo só. Não! Ele quer ver os outros assim como ele está. Mas ele tenta rir pra mostrar que o que faz é bom pra si. Ele tenta viver de aparência. Talvez o próximo salário dele não dê pra quitar tantas dívidas, fruto do seu esforço de soberba. Eu não quero ser assim. O mundo me obriga a dizer que isso é bom. O mundo me diz que, se eu não for assim, eu não poderei nem comer. Tá bom! Alguém dirá que eu estou fazendo tempestade em copo d'água. Certo! Mas quem disse/diz o que nós devemos ser? Desde que não haja mal moral, o que tenho que seguir sempre estará à minha frente. Não há condição de eu saber nada mais do que já sei. E, se eu não sei, quem sabe? Talvez o que diz que sabe, só esteja em um surto de esquizofrenia. A fantasia é a autodefesa do irracional. Sou um ser pensante. E acabar com o corpo não é ser pensante. Sensato não seria maltratar o próprio corpo nunca! Na verdade, estaríamos comendo pra quê? Quando comemos, fazemo-lo pra termos força física, ânimo. Mas, muitas vezes, o mundo usa o vigor contra o portador do vigor: ele mesmo. É uma desgraça. Eu quero sorrir. E sorrir não é viver de inquietação. Aonde quer que eu vou eu encontro competição. O carinha que trabalha no supermercado é oprimido pelo dono, mas ele mesmo já oprime o novato que chegou há pouco. Na escola, o mesmo. Na turma da praça, o mesmo. No boteco, o mesmo. Na igreja, o mesmo. Será que ninguém sabe viver sem querer "ser alguém" não?! É o famoso "Lute pra você ser alguém na vida". Mas quem disse que o mendigo não é, ó mundo estúpido e materialista?! Só quando eu não sou humano é que eu sou alguém. Tenho que ostentar. Isso sim é ser alguém. "Lute pra ser alguém na vida" pode ser cambiado por "Lute pra ganhar muito dinheiro e ter os outros aos seus pés e nunca esqueça de fazê-los lembrar o quanto você 'é alguém': ostente!" Essa é a miséria da vida. Eu não preciso de reconhecimento, eu preciso só de sustento, mas pra ter sustento eu preciso que alguém me reconheça como capaz de fazer algo pra conseguir sustento (meus currículos espalhados pelo comércio que o digam! Eles imploram por trabalho que eu, na verdade, não almejo). A desgraça da vida! Até quando você ostenta currículos você ostenta sua sujeição a esse sistema de coisas. Eu quero só ficar "calado", mas o mundo não me deixa, pois se eu não "falar" eu não conseguirei alimento. Não que eu queira vegetar. Você sabe do que eu estou falando. Eu quero poder descansar sem ser incomodado pelo desejo das outras pessoas que desejam que eu venha a desejar o que elas desejam. Eu não quero desejar. Eu quero só viver. Pode me deixar só viver? Mas não adianta. Preciso me formar nisso, porque isso não está à disposição. Tenho que ler isso, porque aquilo não dá dinheiro (ou a conjuntura das circunstâncias impostas fez que não desse!). Tenho que aquilo e aquilo outro. Tenho, tenho, tenho, tenho... e tenho! Nada é: "Estás fazendo isso. Que bom! Faça o que você quiser, mas guarde-se de macular os outros! Claro que terás o que comer! Aqui não há circunstância imposta. Vamos nos ajudar. Há espaço pra todos! Há ferreiros, pedreiros, poetas, professores, cantores, marceneiros, chaveiros, pintores e o que mais tenha que 'existir naturalmente' e todos têm direitos de serem o que são". Ah, o mundo não é assim. Tudo é uma grande imposição. Mas quem disse que tem que ser assim? Nada precisa ser do jeito que é. Tudo pode mudar. Temos escolha. O triste é que só escolhemos ir pelo caminho mais pedregoso. Isso por que parece que esse caminho é o que traz mais glória (verta "glória" por "autopromoção velada"). Mas querer se mostrar não é coisa boa. Isso tanto faz que você tenha que atender todas as expectativas que você mesmo erige sobre si como que todos tenham que optar por esse tipo de autoflagelação (posto que a mairia já está atolada até o pescoço mesmo!). Ainda é tempo de mudar. Eu quero mudança. Mas não é possível que só eu pense assim. E, se for - perdoe-me - mas acho que esse será meu único orgulho. Mundo imbecil! Mundo desgraçado! Eu quero gritar e nem posso fazer isso. Chamariam-me de louco. Mas o mundo está errado. Isso é a verdade, queiram ou não ouvir. Posso ser só, mas sou só certo. Não me curvo. Nunca me curvarei. Posso estar estudando o que não quero para continuar a falar contra o que não quero, mas sou genuíno e vou continuar sendo, embora discordem de mim quanto a isso. Preciso sobreviver, mas vou sobreviver lutando contra essa filosofia satânica do "preciso sobreviver". Vou sim. E não me importo com o que dizem/disserem. Vão todos à merda. Estão errados. Não os redimirei desse mal. Os poetas também pensam. Os cantores também argumentam. Violonistas também escrevem. Qual a de vocês? Irão morrer logo, logo. Um dia a mais, um dia a menos, qual a diferença pra quem já não vivia mesmo? Mais cedo ou mais tarde a morte chegará. Estão só apressando-a. Estão loucos. Todos! Babacas! Idiotas! Pra que vocês querem viver? "Pra ostentar" vocês dizem. São imbecis. Acéfalos! Descerebrados inúteis! Eu sei como vocês oprimem seus criados. Eu sei como vocês são diante dos menos abastados ou menos informados. Mas vocês nem são tão ricos quanto pensam nem tão inteligentes quanto tentam demonstrar ser. São pobres de genuinidade e faltos de racionalidade. Vocês não são nada! Iludem-se em festas regadas a um falerno de orgulho bobo e autodestrutivo. Vocês me envergonham. Eu só quero descansar, mas não posso diante do vezerio de vocês. Diante das buzinas dos vossos carros. Diante do barulho de vossas músicas imorais. Não posso dormir com um zumbido de moscas-varejeiras rondando a minha casa. Tudo o que vocês fazem é errado. Não cuidam do bem. Veneram o mal. Amantes do dinheiro, esse que vos oprime. Imbecis. Tolos de toda espécie. Vós sois a vergonha da criação. Não tenho tempo para zelar pela paz enquanto perco tempo na produção escravocrata de vossas mercearias. Tenho que comer. Ó Deus, tenho que comer! Ó Deus, eu queria poder comer sem ser incomodado pela ideia que como pra animar minha pobre carcaça que, à frente, será oprimida por imbecis. Escravocratas! Ditadores vis! Não tenho forças nem pra chorar. "Tudo é vaidade!" - já disse o grande filósofo. É sim! É "correr atrás do vento".

Ps.: Ainda que o chamem de "autopromoção patente"...

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

7 Sonetos Letais - Poeta Felipe Amaral

7 Sonetos Letais
Felipe Amaral
1
Treda casa do medo onde reside
O negror cadavérico da cova,
O fantasma da noite que renova
O terror que ao denodo traz revide.
O mortífero caos que reincide
Contra a ordem quieta que desova
No remanso o conforto que reprova
O furor comensal que a alma agride.
Porta aberta ao mortal desconhecido.
Sensação contumaz que há desferido
Na coragem o golpe mais cruel.
Já resfólega o ser no último arquejo.
Eis a tumba onde jaz. Vede o cortejo
Dos lesmáticos vermes em tropel...
2
A caveira risonha se aproxima
Não trazendo em seu riso o reconforto,
Mas a negra caudal de um rio morto
Que no lodo adormece e desanima.
Não há fluxo venoso que reimprima
Nas artérias do ser, já absorto,
Reavivos de paz. Não há um porto
De seguro vigor que a dor dirima.
Desfalecem os sonhos mais vitais.
Deperecem os planos e os sinais
De esperança fenecem frente a chaga.
O silêncio o cultua, o luto o vela;
O caixão o deseja, a cova o anela;
O cortejo o lastima; e a história o apaga.
3
Tumulares futuros nos esperam.
O “nascer” e o “se pôr” são duas faces
Dessa nossa existência onde os impasses
Mais atrozes nos tragam e encarceram.
Vede as flores que murcham quando alteram
Seu vigor se entregando aos desenlaces
Que o carpir tanto aclama em seus repasses
De tristezas que não se degeneram.
O “rubor” se desfaz “crepusculando”
O viver que sucumbe, abandonando
A existência terrena na partida.
O letífero golpe leva ao chão
A sequóia dos sonhos e, no vão
Sepulcral, jaz a vida falecida.
4
Eis o esquife levado pelas mãos
Dos que, em fúnebre marcha, vão carpindo.
Eis a dor que no peito faz bem-vindo
O deploro de crentes e pagãos.
O painel da tristeza toma os vãos
Que os sorrisos deixaram, num infindo
De lamúria que mata o sonho, rindo
Dos anseios de jovens e anciãos.
O martelo batido, não há nada
A fazer. A contagem foi chegada.
É a hora de ir sem questionar.
Um abutre, mais perto, sobrevoa
Vendo um corvo inquieto que entoa
A canção do cruor patibular.
5
Cruzes brancas aos montes lá estão.
A necrópole sorve a energia
Dos que vêm sepultar a alegria
Juntamente co'o morto no caixão.
Os sepulcros caiados da visão
Dão requinte a essa atra cercania.
Porém dentro dos tais a terra fria
Guarda pútridos féretros no chão.
O ataúde que desce leva ao pó
O cadáver que jaz no mesmo só
Com a roupa do corpo que apodrece.
Na jornada, talvez a alma siga
E, encontrando outra alma, ao pó bendiga,
Mas, se não, irá só sem riso e prece.
6
Viam ter no Além um guardião.
Hoje nada restou que o mesmo guarde.
Talvez seja só pó e o “fim de tarde”
Represente o desfecho da missão.
Mas a alma padece em propensão
De insistir em querer ser “sol que arde”
Num eterno de paz sem ver alarde
No partir desta terra de ilusão.
Talvez nossos espíritos tão fracos
Achem brechas nos vãos que há nos buracos
Pra os quais mandam os corpos já de ida...
E, escapando do solo, fitem céus
Onde habitem distante de escarcéus
Que na terra sufocam nossa vida.
7
O teor cabalístico da morte
Aparenta-nos ser nau de mistério,
Que há nas covas sem fim do cemitério
Uma espécie de lúgubre transporte...
Que nos leva aos recônditos do forte
Onde vivem os mortos num etéreo
Benfazejo prazer supra-sidéreo
Que, diante do fim, seja um suporte.
Eu, que creio, não vejo na matéria
Esperança que, contra a deletéria
Morte atroz, reavive o ser que jaz...
Já que é cego este pó que me encarcera,
Preferi postular “uma outra” “esfera”
Na qual possa, algum dia, encontrar paz.