sábado, 13 de dezembro de 2014

A História da Minha Vida – fragmento 24 – Felipe Amaral

Fragmento 24


Falam comigo como que por piedade. “Talvez isso alivie meu carma”. - devem pensar. Estranho tudo. Ignoro o que estranho logo após. Sou dado a rir em alguns momentos. Tudo dá a impressão de fazer-me propenso. Estou inclinado. Vejo-me tomado. E as falas saem com desenvoltura. Isso é que é ser tolerante com os – muitas vezes – petulantes!
Sou franzino. Meu porte não me levaria longe. Abraço o meu destino... Mas já as escolhas não têm porte! Com imposições volitivas teimo. Aí sim, irrito-me.

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A pessoa não tem paciência para assistir a um filme curta-metragem inteiro, e ainda diz que o inconstante sou eu!... É hilário. Repulsivo seria o termo ideal aqui.
Outro “amola-me” com a mesma conversa sempre. Um avarento que pensa que o mundo todo está errado (e está – não discordo – mas receio que não quanto ao que ele pensa) Queria (ele) comprar algo de preço irrisível. Teimou. Não quis pagar o valor. Não vendo o comerciante mudar de idéia quanto ao preço, decidiu – furiosamente – não comprar. E o culpou o restante do mês. “Miserável! Dois reais eu não pago!” - alugou meus, já tão calejados, uma noite dessas.

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Irrito-me com pessoas que tentam me desacreditar. Desencorajar-me. Se digo que estou planejando algo, discordam que tal seja promissor.
Meu único alívio: o vento passa trazendo repouso. O vento. Leve brisa. O som soproso da boca de Éolo.
Devo sempre me conter. Parar e contar até cinco. Ou dez! Não penso sempre. Não paro sempre. Não sou de conter-me sempre. Então, danem-se!
Não tenho o progresso que ditam por aí. Sou só um perdedor sarcástico para muitos. Mas continuo a rir.

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Como pode alguém não ser reconhecido do tanto que sou (não reconhecido!)? O tanto que já escrevi... Formações acadêmicas não duram tanto. Cursos passam. Eu já deveria ter-me formado. Não em áreas por aí. Na verdade, já me formei nas áreas em que me esforço ainda (só não “oficialmente”. Mas o que é ser ou não ser oficial quando se trata de arte?). Sou lapidado. O que não tenho é remuneração. Ninguém me paga. Ninguém. Filhos de Mamom não sempre assim. O bolso deles cheio, não importa o que se diga, não importa o quanto (o outro!) sofra, não importa. Portas fechadas. Eu sofro problemática tal por não querer que me humilhem.

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Começaria a ser pesado aos demais se começasse a pedir (nem cobrar!) minha remuneração. Sentiria vergonha de mim mesmo. Envergonhar-me-iam. Não poderia suportar. Queria que “se tocassem”. Resmungam.
O não importar para algumas pessoas é uma pecha que tenho que carregar por toda a minha vida. E, ainda que fosse importante para as tais, creio que não seria realidade, só dissimulação. A verdade não precisa ser motivada por esse tipo de grau de importância (as pessoas não precisariam amar “de verdade” só diante do ouro!). Mas, não sendo nada, posso repetir isso até endoidar. Nada...

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Você se inscreve para fazer vestibular de Artes Plásticas (não que eu o tenha feito! é só ilustração) e tem que lidar, na prova, com regras avançadas de Língua Portuguesa. Isso só pode estar errado. No Brasil, as pessoas encarregadas do ensino vivem dopadas. É tanta falta de nexo, da Didática do professorado à “prática” (vai sonhando...) do alunado, que eu chego a arrancar os cabelos da cabeça. Mas eu “é” que sou o louco da história. A grade curricular é uma verdadeira bagunça ( e torturante também), e eu “é” que sou o sem-juízo. Brincadeira! Só pode ser brincadeira um negócio desses!

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Quando converso com algumas pessoas, na praça ou noutro lugar, percebo – às vezes – um interesse até sincero, mas, é só mencionar a minha não-remuneração, para a coisa mudar de quadro. Talvez as notas de cem “é” que devessem falar. Não vêem que é justo por isso que eu não sou remunerado?!! Os pagos de outras áreas não se importam com o relevante. Estão mais interessados em beber, fumar e fornicar. Ostentar. Coisas afins. Decerto, a intenção que os move é a autopromoção. Parecem humildes; não o são. E continuo sendo o prescindível pequeno revoltado.

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