quarta-feira, 27 de abril de 2016

Como Não Deixar Que Tolos Falem - RF Amaral


Como Não Deixar Que Tolos Falem

A primeira coisa a que se deva apegar, para que se possa fazer cativa a audiência, é ao interesse comum. E, logo, a pergunta que vem à mente é: E se o alvo do interesse sempre for frívolo? Bem... Nesse caso, para quem pretende enveredar pelos caminhos da condução da mesma a vias de mais produtividade intelectual, deve-se deixá-la estupefacta ou mesmo "lançá-la ao chão" contínuas vezes até que os integrantes dela fiquem tão quebrantados que nem possam sequer intentar mais reações, quanto mais colocá-las em prática. O estarrecer dos ouvintes pode vir pelo uso de diversos recursos. A erudição segura, demonstrada com extrema naturalidade no falar, pode ser um meio. Agora, é claro que, se formos citar assuntos (não recursos legítimos!) que prendem a atenção de todos (não há tantas exceções assim!), teremos que listar coisas tais como: acidentes (com parentes!), mortes, assaltos, falências, escândalos sexuais, espacamentos (envolvendo entes em evidência), abandonos de incapaz e específicas burlas políticas. Há coisas outras que poderiam ser acrescentadas, mas as tais já bastam. A expressão "lançá-la ao chão" posta linhas anteriores diz respeito à confrontação e triunfo seguidos diante do que tenta levar a conversa para velhas estadias comuns e sem proveito intelectivo. Mas ainda pode apontar para o fato de se lançar uma enchurrada de ideias bem concatenadas que possam minar as energias dos retrucantes. O ouvinte tem que ser sempre ouvinte. Deixemo-no falar por cortesia o que já sabemos que falaria e, logo, tomemos as rédeas da conversa com argumentações tão altas que o mesmo não ousaria nem pensar em questionar. Não é uma ditadura. Todos podem ir embora quando der vontade. Mas o caso é que só irão de fato diante do frágil controle mantido pelo orador. Mulheres mantêm outras em grandes rodas contando-lhes mexericos, mas homens que buscam resultados nobres apegam-se ao conhecimento para conseguirem isso. Deixar a turba seguir com seus "papos" de bebedice, prostituição e ostentação é coisa temerária, pois, à frente, o ensurdecedor som de conversas imprestáveis pode vir a acordar-nos no meio da noite.
O que temos a fazer, por fim? Vejamos. Quando se vai à praça, por exemplo, senta-se num banco onde já estão outros conhecidos e se tenta manter algum vínculo com os tais frente à realidade que se vê já configurada. Sabendo-se que o assunto gira em torno de, por exemplo, consertos de motocicletas quebradas (que não é de todo ruim!), mas, tendo-se a nítida impressão de que os proponentes de tal assunto digladiam, buscando cada qual para si a maior atenção e reconhecimento, entra-se na "arena", procurando-se desviar o foco, mas isso, correlacionando as ideias sem deixar-se que possa ser notado o desvio. Tipo, quando conversamos, muitas das vezes, nem nos damos conta de como viemos parar em assuntos últimos. Isso se dá, à medida que se ache implicações ligadas visceralmente ao que já se fala. Dessa forma, torna-se natural a mudança de assunto, pois, dada a complexidade da implicação a qual se chega, os dialogantes não se encontram ou preparados para vencê-la rapidamente, ou tão atidos às falas precedentes para tornarem às mesmas, deixando-se levar. E dali a coisa toma proporsões gigantescas, indo a horizontes bem desconhecidos. Cabe, ao que desvia o assunto de forma premeditada, levar os, agora ouvintes, ao campo desejado.

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