quarta-feira, 20 de abril de 2016

A Vida de Jó (poeta Felipe Amaral)


A Vida de Jó
(poeta Felipe Amaral)

Na terra de Uz existia
Um homem que a Deus temia,
Denominava-se Jó.
Esse não vivia só,
Mas, sem contar empecilhos,
Com três filhas, sete filhos
E servos em grande soma.
Seus bens - a história retoma:
Contava-se sete mil
Ovelhas no pastoril;
Três mil camelos cevados;
Quinhentas juntas, nos prados,
De bois do melhor que há;
Quinhentas jumentas lá
Espalhadas no terreno;
De sorte que era pequeno
Todo abastado que houvesse
Naquela terra e tivesse
Muita coisa em seu poder.
Poder-se-ia se dizer
Que o maior do Oriente
Era Jó, devidamente.

Reciprocamente, os filhos
Visitavam-se, nos brilhos,
De datas celebrativas
E chamavam pras festivas
Comemorações as três
Irmãs. E, por sua vez,
Cada qual dava um banquete
Sem nem carecer lembrete.
Porém, tendo decorrido
Número estabelecido
De dias dessas festanças,
Jó os chamava à mudanças
De prática e os colocava
Diante de Deus e mandava
Cada um se santificar.
Também Jó, ao acordar
De madrugada, lembrava
Dos tais e sacrificava
Segundo o número deles.
Por que suspeitava que eles
Pudessem ter cometido
Pecado, esse concebido
Dentro dos seus corações.
De Jó essas tais ações
Eram contínuas na lida
Cotidiana da vida.

Ora, houve um dia marcado,
O qual já era chegado,
Em que se apresentariam
Os "filhos de Deus" que haviam
De vir em reunião.
Só que, em meio à legião
Dos anjos celestiais,
Veio o maior dos rivais
Do Criador Soberano.
Era o horrendo e profano
Acusador Satanás,
Que, entre suas idas más,
Resolveu aparecer
Ante Deus para poder
Contemplar a convenção.
Vendo Deus sua feição,
Perguntou: - Donde vens tu?
E, Satanás, sem lundu,
Disse assim para o Senhor:
- De rodear o setor
Da terra por Ti criada.
Disse mais a Satanás
O Senhor, de modo audaz:
- Notaste o meu servo Jó?
Ali no terreno pó
Não há outro semelhante,
Um homem justo e constante,
Que me teme e o mal despreza.
Ao que Satã retrucou:
- Porventura eu não estou
Vendo que Tu o cercaste
De bens e o abençoaste
Sobremaneira na terra?
Por isso é que ele Te segue,
Por tudo que foi entregue
Nas suas mãos por Você,
Pois lhe está tudo à mercê!
Mas estende a tua mão
E tira a sua porção
Lá na terra dos viventes
E verás perante as gentes
Se ele não blasfemará
Diante da Tua face.
E Deus disse a ele: - Passe
Por cima do que ele tem.
Ponho agora cada bem
Que possui no teu poder.
Só não podes estender
A mão sobre a vida dele.
E Satã, então, saiu
Diante de Deus e partiu.
Assim, num devido dia,
No qual um banquete havia
E os filhos de Jó se achavam
Festejando, e os bois lavravam,
E pastavam as jumentas,
Deram hostes violentas
Sobre os muitos animais
E os levaram dos currais,
Matando uns servos de Jó.
Sendo que um deles, um só,
Restou pra contar-lhe o fato
Do que se deu lá no mato.
Mas, ele ainda falava,
Quando alguém se apresentava,
Vindo trazer-lhe outra nova:
- A minha vista comprova!
Que fogo de Deus caiu
E queimou o que se viu
Estar nos demais currais.
Consumiu os animais,
Mas eu somente escapei
E vim aqui, pois achei
Que o meu senhor deveria
Saber o que acontecia.
Porém, por grande desdita,
Enquanto o servo ali cita
O acontecido, outro vem
E põe-se a falar também:
- Patrão, vieram caldeus,
Eram três bandos dos seus,
E deram sobre os camelos
E os levaram sem apelos,
Matando servos à espada.
Vendo isso eu tomei a estrada
E vim contar ao patrão
O acontecido em questão.
Mas este ainda narrava,
Quando outro servo chegava,
Todo ofegante e suado,
Vinha dar outro recado
de outro caso que se deu.
Disse: - Cada filho teu
Estava feliz e eu, perto,
Vi soprar, lá do deserto
Um vento num torvelinho
Que causou um desalinho
Nas estruturas da casa
E, como um tufão que arrasa
Tudo que vê pela frente,
Fez vir sobre aquela gente
A estrutura todinha
E eu corri, por que convinha
Trazer-lhe sem imperícia
A referida notícia.

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