sexta-feira, 15 de abril de 2016

Grimório Mental - RF Amaral

Grimório Mental

Vê-se densas nuvens obscurecendo mentes que já não divagam pelos campos do rebuscamento de ideias que só se encontram nos sarmentos da inteligência profícua e triunfal do espírito que capta todas coisas simbióticas da vida. Vê-se o gozo que morre na práxis do inútil. O abissal absconso recôndito das ideias frívolas revelado pelos cães aos cães. Marítimas águas que quisera perscrutar a mente hábil do discursista experimentado em obras alquímicas de sabedoria adamastórica. O zelo da língua pela palavra treinada e a guinada certa no momento exato em que todos os nobres seres admiradores do bem estão por desejar o clímax salutar do dêixis linguístico. A estátua incólume do êxito da fala ante espectadores auriculares de vívido esquadrinhar que deixam atrás momentos de incompreensão para entregarem-se ao nirvana da ciência convivencial dos sábios. Eloqüência hipnótica da alma que se dispõe a revelar coisas que do alto caem aos humanos que atentam para a perfeita lei da higidez mental que visa extrair o mais puro néctar do âmago terreno, considerando limites, mas não se deixando levar por limitações banais impostas por terceiros. Áurea verve que flui dentro do eu do poeta e mira o insopitável poder de conter plateias que antes estiveram em polvorosa. O plectro dos rapsodos, para os quais nunca faltaram palavras para descrever-se a vida de heróis em dias árduos de guerra ou horas alegres do prazer do repouso sobre os seios brancos das ninfas em volúpia. O mar que me chama. A terra que fica pequena para cnter tanta inspiração. Palavras que podem fazer-se ao ar e tomarem os céus, chamando a atenção de todos que se estarrecem a fitar as nuvens cheias da chuva fresca das mais laboriosas e incríveis ideias da retórica humana. Não há prisões, pressóes para os bardos cantantes que, ao som da lira, retiram do íntimo canções infindas que retratam cenas de heroísmo sem par e enlevam os ouvintes com a mais pura melopeia das fadas do Vallhala. Papiros mil não bastariam para conter as falas de um vate em êxtase. Ele conta as estrelas incontáveis. Parece conseguir enumerá-las todas. Como a mente do infinito que se abre. E, apesar de ser findo ser, não o parece quando canta seus versejos que fluem como as águas torrenciais do Dilúvio. O olhar zarco do céu contempla-o na sua sanha de descrever o quadro interminável da imensidão dos astros. O espaço não consideraria impossível tal trabalho se tivesse ouvidos para ouvir o poeta-cantor. A natureza não duvidaria. As árvores, que são muitas, também se sentiriam poucas. Pareco querer todas as palavras. Todas as ideias. E que veham muitas. Lanço-as fora. Fora, o povo as escuta. Alfarrábios, grimórios, incunábulos de antiga produção não têm o feitiço que oferto aos sons e o sons que oferto aos termos com os quais dirijo-me ao público, já estupefacto com minha oratória de poesia envolta. Mas as horas que passam parecem querer desafiar-me. Vêm-me cansar. Esgota-se a força, não o que teria ainda a falar. Para eu não quereria nunca. Fixar minha vista em laudas infinitas, sempre. A aurora que sobrevém à vida. E arrebol que liquida com o luzidio fulgir da tarde. Quero fôlego. Miro forças de titãs para continuar meu trabalho de escritor errante. Peregrino por pautas e as pautas conhecem-me. Elas são minhas servas. Sou delas servo. O coração que afraca, teme. O peito tento reanimar. A alegria ainda existe. A harmonia que já se esvai. Do som das sílabas dispostas no papel. O arco-íris que insiste em desfazer-se...  

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