Grimório Mental
Vê-se densas nuvens
obscurecendo mentes que já não divagam pelos campos do rebuscamento
de ideias que só se encontram nos sarmentos da inteligência
profícua e triunfal do espírito que capta todas coisas simbióticas
da vida. Vê-se o gozo que morre na práxis do inútil. O abissal
absconso recôndito das ideias frívolas revelado pelos cães aos
cães. Marítimas águas que quisera perscrutar a mente hábil do
discursista experimentado em obras alquímicas de sabedoria
adamastórica. O zelo da língua pela palavra treinada e a guinada
certa no momento exato em que todos os nobres seres admiradores do
bem estão por desejar o clímax salutar do dêixis linguístico. A
estátua incólume do êxito da fala ante espectadores auriculares de
vívido esquadrinhar que deixam atrás momentos de incompreensão
para entregarem-se ao nirvana da ciência convivencial dos sábios.
Eloqüência hipnótica da alma que se dispõe a revelar coisas que
do alto caem aos humanos que atentam para a perfeita lei da higidez
mental que visa extrair o mais puro néctar do âmago terreno,
considerando limites, mas não se deixando levar por limitações
banais impostas por terceiros. Áurea verve que flui dentro do eu do
poeta e mira o insopitável poder de conter plateias que antes
estiveram em polvorosa. O plectro dos rapsodos, para os quais nunca
faltaram palavras para descrever-se a vida de heróis em dias árduos
de guerra ou horas alegres do prazer do repouso sobre os seios
brancos das ninfas em volúpia. O mar que me chama. A terra que fica
pequena para cnter tanta inspiração. Palavras que podem fazer-se ao
ar e tomarem os céus, chamando a atenção de todos que se
estarrecem a fitar as nuvens cheias da chuva fresca das mais
laboriosas e incríveis ideias da retórica humana. Não há prisões,
pressóes para os bardos cantantes que, ao som da lira, retiram do
íntimo canções infindas que retratam cenas de heroísmo sem par e
enlevam os ouvintes com a mais pura melopeia das fadas do Vallhala.
Papiros mil não bastariam para conter as falas de um vate em êxtase.
Ele conta as estrelas incontáveis. Parece conseguir enumerá-las
todas. Como a mente do infinito que se abre. E, apesar de ser findo
ser, não o parece quando canta seus versejos que fluem como as águas
torrenciais do Dilúvio. O olhar zarco do céu contempla-o na sua
sanha de descrever o quadro interminável da imensidão dos astros. O
espaço não consideraria impossível tal trabalho se tivesse ouvidos
para ouvir o poeta-cantor. A natureza não duvidaria. As árvores,
que são muitas, também se sentiriam poucas. Pareco querer todas as
palavras. Todas as ideias. E que veham muitas. Lanço-as fora. Fora,
o povo as escuta. Alfarrábios, grimórios, incunábulos de antiga
produção não têm o feitiço que oferto aos sons e o sons que
oferto aos termos com os quais dirijo-me ao público, já estupefacto
com minha oratória de poesia envolta. Mas as horas que passam
parecem querer desafiar-me. Vêm-me cansar. Esgota-se a força, não
o que teria ainda a falar. Para eu não quereria nunca. Fixar minha
vista em laudas infinitas, sempre. A aurora que sobrevém à vida. E
arrebol que liquida com o luzidio fulgir da tarde. Quero fôlego.
Miro forças de titãs para continuar meu trabalho de escritor
errante. Peregrino por pautas e as pautas conhecem-me. Elas são
minhas servas. Sou delas servo. O coração que afraca, teme. O peito
tento reanimar. A alegria ainda existe. A harmonia que já se esvai.
Do som das sílabas dispostas no papel. O arco-íris que insiste em
desfazer-se...
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