segunda-feira, 18 de abril de 2016

Atraso de Assombração - por Felipe Amaral


Atraso de Assombração
por Felipe Amaral

Fui à casa de Tereza
E, após me sentar à mesa,
Senti como um arrepio
E, diante do calafrio,
Falei que uma coisa estranha,
De conseqüência tamanha,
Viria a acontecer.
Embora, pra descrever
O que era, eu não me sentia
Apto, pois não residia
Em mim possibilidade,
Pela inefabilidade
Da premonição que tinha.
E eu fiquei ali no aguardo,
Carregando aquele fardo
De controlar os meus medos.
Passaram-se instantes quedos,
O que fez, lá, com que a gente
Dispersasse a nossa mente
E desse continuidade
À rotina, na verdade,
Pois parecia que nada
Acorreria na dada
Morada da minha irmã.
Mas foi aí que a pagã
Aura de medo surgiu
Na habitação novamente,
Quando veio à minha mente
Uma visão deletéria
Da realidade etérea
Que diz respeito a fantasma.
Deixei-os de mente pasma,
Ao relatar que tivera
Uma previsão severa
Do que iria acontecer.
Comecei a entender
Que, “agora”, não tardaria
Para que a coisa sombria
Fizesse-se manifesta.
Sou pessoa que detesta
Demora de qualquer tipo
E “é” que, quando participo
De qualquer atividade,
Prezo a pontualidade
E cumpro sempre o horário.
Àquilo me vi contrário
Pela razão pessoal,
Pois que o fantasma afinal
Vinha adiando demais
Seus horários fantasmais
E já estava me irritando.
Fui logo me preparando
Pra o encontro formidando,
Porém também pra dizer
Algumas coisas ao ser
Que estava por se mostrar
Naquele dado lugar.
Foi então que a criatura
Resolveu, àquela altura,
Aparecer no local,
Irritando o pessoal
Co'a impontualidade.
Então, com austeridade,
Ergui-me ali na cozinha
E falei, como já tinha
Planejado em minha mente:
“Mas, fantasma, francamente,
Jamais me passara ao siso
Que, no Além, fosse preciso
Lembrar às almas singelas
Os próprios horários delas!
Agora não vai dar não.
Estou de saída, então,
Passe aqui noutro momento,
Por que agora eu não intento
Demorar-me por aqui.
Eu uso a “net” daqui
Da casa da minha irmã
À noite ou pela manhã
E, ás vezes, até demoro,
Mas hoje o pai de Isidoro,
De Rita de Zé de Alfeu,
Já pela tarde, morreu
No dia de ontem e eu disse
A Chico de Zé de Eunice
Que iria passar por lá.
Então, fantasma, não dá
Pra aqui ficar para um papo”.
Fui jogar um guardanapo
De papel que utilizara
E ele ficou co'uma caaara!
Já sem jeito, despediu-se.
Numa fumaça, esvaiu-se.
Nunca mais apareceu
A qualquer parente meu
Nem mesmo a mim, por saber
Que, àquele dia, ao fazer
A gente ficar na espera
Por muito tempo, tivera
“Queimado” “a sua moral”.
Pode ser noutro local,
De gente que em tudo atrasa,
Todavia, em minha casa,
Fantasmeco impontual,
Sem horário e sem aval,
Nunca aparece, pois sabe
Que, por mais que ele se gabe
De voar e fazer medo,
Tem que aparecer mais cedo
E ainda ficar na fila,
Porque, lá na minha vila,
Não prezo gente atrasada,
Quanto mais alma penada
Que fica fazendo hora!
Não avisa nada e explora
Minha curta paciência.
Mas, na minha residência,
Se fora de hora chegar,
Não vai encontrar lugar
Pra se sentar um bocado,
Que eu saio desconsolado
Co'a desconsideração
E só torno à habitação
Quando o vulto tiver ido,
Porque fico aborrecido
Co'atraso de assombração.

Nenhum comentário:

Postar um comentário