Atraso de Assombração
por Felipe Amaral
Fui à casa de Tereza
E, após me sentar à
mesa,
Senti como um arrepio
E, diante do calafrio,
Falei que uma coisa
estranha,
De conseqüência
tamanha,
Viria a acontecer.
Embora, pra descrever
O que era, eu não me
sentia
Apto, pois não residia
Em mim possibilidade,
Pela inefabilidade
Da premonição que
tinha.
E eu fiquei ali no
aguardo,
Carregando aquele fardo
De controlar os meus
medos.
Passaram-se instantes
quedos,
O que fez, lá, com que
a gente
Dispersasse a nossa
mente
E desse continuidade
À rotina, na verdade,
Pois parecia que nada
Acorreria na dada
Morada da minha irmã.
Mas foi aí que a pagã
Aura de medo surgiu
Na habitação
novamente,
Quando veio à minha
mente
Uma visão deletéria
Da realidade etérea
Que diz respeito a
fantasma.
Deixei-os de mente
pasma,
Ao relatar que tivera
Uma previsão severa
Do que iria acontecer.
Comecei a entender
Que, “agora”, não
tardaria
Para que a coisa
sombria
Fizesse-se manifesta.
Sou pessoa que detesta
Demora de qualquer tipo
E “é” que, quando
participo
De qualquer atividade,
Prezo a pontualidade
E cumpro sempre o
horário.
Àquilo me vi contrário
Pela razão pessoal,
Pois que o fantasma
afinal
Vinha adiando demais
Seus horários
fantasmais
E já estava me
irritando.
Fui logo me preparando
Pra o encontro
formidando,
Porém também pra
dizer
Algumas coisas ao ser
Que estava por se
mostrar
Naquele dado lugar.
Foi então que a
criatura
Resolveu, àquela
altura,
Aparecer no local,
Irritando o pessoal
Co'a impontualidade.
Então, com
austeridade,
Ergui-me ali na cozinha
E falei, como já tinha
Planejado em minha
mente:
“Mas, fantasma,
francamente,
Jamais me passara ao
siso
Que, no Além, fosse
preciso
Lembrar às almas
singelas
Os próprios horários
delas!
Agora não vai dar não.
Estou de saída, então,
Passe aqui noutro
momento,
Por que agora eu não
intento
Demorar-me por aqui.
Eu uso a “net”
daqui
Da casa da minha irmã
À noite ou pela manhã
E, ás vezes, até
demoro,
Mas hoje o pai de
Isidoro,
De Rita de Zé de
Alfeu,
Já pela tarde, morreu
No dia de ontem e eu
disse
A Chico de Zé de
Eunice
Que iria passar por lá.
Então, fantasma, não
dá
Pra aqui ficar para um
papo”.
Fui jogar um guardanapo
De papel que utilizara
E ele ficou co'uma
caaara!
Já sem jeito,
despediu-se.
Numa fumaça,
esvaiu-se.
Nunca mais apareceu
A qualquer parente meu
Nem mesmo a mim, por
saber
Que, àquele dia, ao
fazer
A gente ficar na espera
Por muito tempo, tivera
“Queimado” “a sua
moral”.
Pode ser noutro local,
De gente que em tudo
atrasa,
Todavia, em minha casa,
Fantasmeco impontual,
Sem horário e sem
aval,
Nunca aparece, pois
sabe
Que, por mais que ele
se gabe
De voar e fazer medo,
Tem que aparecer mais
cedo
E ainda ficar na fila,
Porque, lá na minha
vila,
Não prezo gente
atrasada,
Quanto mais alma penada
Que fica fazendo hora!
Não avisa nada e
explora
Minha curta paciência.
Mas, na minha
residência,
Se fora de hora chegar,
Não vai encontrar
lugar
Pra se sentar um
bocado,
Que eu saio
desconsolado
Co'a desconsideração
E só torno à
habitação
Quando o vulto tiver
ido,
Porque fico aborrecido
Co'atraso de
assombração.
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