A Casa dos Falecidos
E os Vermes de
Itaporanga
por felipe Amaral
Caminhei até chegar
Na porta daquele lar.
Bati na porta, no
intento
De, quando do
atendimento,
Poder dizer a que vim.
Já sentia algo de ruim
No clima do ambiente.
Do qual quis ficar
ausente
Mentalmente, mas, em
vão,
Planejava tal missão,
Tudo ali já me causava
Um pavor que se
instaurava
Dentro do meu coração.
Bati. Bati. A intenção
Agora era ser ouvido.
Chegou um desconhecido
E disse que a tal
morada,
Há muito, estava
fechada.
Não sabia nem por que,
Já que a mesma, quem a
vê
Tem inteção de
alugar.
“Longe de eu querer
morar
Em lugar tão
esquisito!”
Pensei, mas fiquei
aflito
Com aquela informação,
Já que eu vinha por
razão
De uma encomenda
deixar.
E, se aquele tal lugar
Estivesse abandonado
Eu me veria obrigado
A voltar co'o tal
pacote.
Só que o patrão tinha
o lote
Por suspeito e eu não
queria
Causar nenhuma porfia.
Continuei a missão
De encontrar recepção.
O cara se despediu,
Cumpirmentou-me e saiu.
Mostrei-o que iria
estar
Ali até poder dar
Com alguém que me
dissesse
Quem lá morava e
pudesse
Indicar-me a moradia
De algum parente – se
havia! -
Daquele tal pessoal
Que abandonara o local.
Pude achar um curioso
Passando, bem vagaroso,
De frente da habitação.
Perguntei: “Ô meu
irmão,
Poderia me informar
Se existe em algum
lugar
Dessa cidade um alguém,
Já que aqui não tem
ninguém,
Pra receber a
encomenda?”
Como sem ter quem
entenda,
Ele mirou o pacote,
Deu na coxa um
piparote,
E respondeu, bem
cortês:
“Não sei por que a
mudez
Do povo quanto ao
recinto.
O cavalheiro é
distinto
E parece ser de fora,
Ficou aí mais de hora
E nada ainda
encontrou?”
Falei: “Não sei se
notou,
Mas a casa está
vazia”.
Ao que ele, na mesma
via,
Disse: “É mesmo, já
faz anos”.
Queria saber os planos
Que ele tinha em me
dizer
Coisa que, ao me
responder,
Causou-me medo e
estranheza.
Disse: “Irmão, por
gentileza,
Vossa Senhoria sabe,
Pra que o meu dilema
acabe,
Onde resida um parente
Dessa tão estranha
gente?”
Ele disse: “Tem um
moço
Que fraturou o pescoço
E é parente dos daí”.
Ouvindo aquilo, eu
sorri.
Fui com ele até à
casa.
O asfalto estava uma
brasa
E o céu uma chama só.
Ao chegar, bati o pó
Do calçado e
adentrei...
Falei: “És tu o
rapaz
Que morou, um tempo
atrás,
Lá naquela moradia?”
Ele respondeu: “Sou
sim.
Mas já faz tempo que
eu vim
Pra essa outra
habitação”.
Falei, chamando
atenção:
“É que o senhor cá
falou
Que és o único que
restou
Dos parentes do antigo
Morador daquele abrigo
Que fica na Rua Cinco”.
“Sou sim” - falou
com afinco
E eu balancei a cabeça.
Pensei “Embora pareça
Um cara meio sem jeito,
Vou entregar ao sujeito
A encomenda e partir”.
Disse: “É que eu
tenho um 'presente'” -
Falei co'um tom
sorridente
E ele assentiu co'a
cabeça.
“A papelada é
espessa,
Mas simples, o
'formulário'” -
Falei, rumando ao
contrário,
Em direção de saída.
Saímos, pois, da
guarida
E eu fui o troço
pegar.
Mas, na verdade, era um
par
De caixas grandes
pesadas.
Quando foram retiradas
De dentro do meu
furgão,
Eu fui e estendi a mão
Pra o formulário
trazer,
Dizendo: “Deve saber
Do que se trata a
encomenda...”
E ele respondeu-me:
“Não.
Não sabia da intenção
De alguém me
'presentear'”.
Sorri com sua anedota.
Já que não tinha mais
nota
A ser ali preenchida,
Entreguei-lho e fiz
partida,
Após o cumprimentar.
Caso é que, em tal
lugar,
Passar a noite eu
teria,
Visto que não poderia
Dirigir-me à longa
estrada,
Porque a noite
enluarada
Já havia aparecido.
Fui ao hotel conhecido
Do senhor que me ajudou
A chegar ao que tirou
De mim tal fardo
pesado.
Gostei da recepção.
Peguei a chave e o
cartão
Do lugar da hospedagem.
Fui, do mesmo, vendo a
imagem
E parti para o meu
quarto.
Quase morri de um
infarto,
Tamanha foi a'alegria
De ver a cama vazia
A me aguardar no
recinto.
Tirei a calça e o
cinto
E fui tomar um bom
banho.
Mas lá notei algo
estranho,
Ao adentrar o banheiro.
Senti, forte, como um
cheiro
De carne em putrefação.
Olhei na imediação,
Porém nada eu
encontrei.
Foi-se passando e eu
fiquei
Tranquilo depois
daquilo.
Tomei meu banho sem
“grilo”
E, após, deitei-me na
cama.
Pensei “acabou-se o
drama!”
Só que aí tudo mudou.
A atendente chamou
Sem devaveio ou
quimera,
Eu fui ver o que é que
era.
Estava nuinha em pêlo.
Arrepiei o cabelo
E emburaquei no meu
quarto.
Estava de tudo farto.
Fechei a porta co'o pé.
Nem botei naquilo fé
Que pudesse
complicar-me.
E, aí, ouvi um alarme.
Como um alarme de
incêndio.
(De tudo eu faço um
compêndio)
Abri a porta de novo.
Tava um bocado do povo
Já fora do tal hotel.
Pensei “ó dia
cruel!”
Apareceu o gerente
Acompanhando o parente
Do povo da encomenda.
Pensei “ô coisa
tremenda!”
Veio o moço furioso.
Havia aberto, ditoso,
Um dos pacotes levados.
Do tal saíram lavrados
Vermes que se
agigantaram,
Comendo tudo e tomaram
A urbe completamente.
A polícia,
urgentemente,
Chamou todos os
reforços,
Entretanto, tais
esforços
Não deram para conter
A sanha e, ali, manter
A ordem na via urbana.
A cena era tão tirana
Que só de contar faz
medo.
Não havia ninguém
quedo
Nem satisfeito
co'aquilo.
E eu fiquei todo
intranquilo,
Pensando na minha vida,
Receando uma investida
Por parte do pessoal.
Tava a desordem geral
Nos becos, nas
avenidas.
Tinham pessoas caídas
Nas calçadas da cidade
E o povo, a bem da
verdade,
Culpando-me por aquilo.
Já não havia sigilo,
Segurança nem sossego.
Pensei “perdi meu
emprego!”
Mas isso pouco
importava.
Agora o que me restava
Era achar a solução
Praquela revolução
Que se dava ali na
urbe.
Disse a mim “não se
perturbe.
No fim, vai dar tudo
certo”.
Mas quando fui pra mais
perto
Do povo da imediação,
Vi a imagem do Cão
Impressa em cada
travessa.
Disse: “Coisa como
essa
Nunca vi na minha
vida!”
Um verme em cada
avenida,
Um corpo em cada viela
E o alto da cidadela
Tomado de extrerrestres
Infernizando os
pedestres
Que corriam no exaspero
(^).
Era tanto o desepero,
Que eu 'desesperei'
também.
E não havia ninguém
Pra pôr fim no tal
conflito.
Mas era tanto do grito,
Que eu não ouvia mais
nada.
Diante daquela zoada
De misérias infernais,
Chamei até por meus
pais,
No entanto, não fui
ouvido.
Nada tenho de
aguerrido,
Então fiquei lá
parado,
Vendo a guerra e
ouvindo o brado
Das gentes que ali
morriam...
Como eu escapei
daquilo?!
Corri, encontrei asilo
Na casa de uma mocinha.
Peguei a mochila minha
E arrumei lá os meus
troços.
E, em meio àqueles
destroços,
Corri pra dentro dos
matos,
Bebi água nos regatos,
Comi peba na
floresta...
Fato é que, agora, o
que resta
É esquecer disso tudo.
Não comento. Fico
mudo.
Se falo, é que foi
legal.
Mas, se aquele pessoal
Daquela cidadezinha
Escapeou daquela
“tinha”,
Eu nem sei 'me'
responder.
Achei por bem esquecer
E seguir a minha vida,
Que agora é mais
divertida
Qual nunca haverá de
ser.
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