sexta-feira, 15 de abril de 2016

A Casa dos Falecidos E os Vermes de Itaporanga - RF Amaral



A Casa dos Falecidos
E os Vermes de Itaporanga

por felipe Amaral

Caminhei até chegar
Na porta daquele lar.
Bati na porta, no intento
De, quando do atendimento,
Poder dizer a que vim.
Já sentia algo de ruim
No clima do ambiente.
Do qual quis ficar ausente
Mentalmente, mas, em vão,
Planejava tal missão,
Tudo ali já me causava
Um pavor que se instaurava
Dentro do meu coração.
Bati. Bati. A intenção
Agora era ser ouvido.
Chegou um desconhecido
E disse que a tal morada,
Há muito, estava fechada.
Não sabia nem por que,
Já que a mesma, quem a vê
Tem inteção de alugar.
“Longe de eu querer morar
Em lugar tão esquisito!”
Pensei, mas fiquei aflito
Com aquela informação,
Já que eu vinha por razão
De uma encomenda deixar.
E, se aquele tal lugar
Estivesse abandonado
Eu me veria obrigado
A voltar co'o tal pacote.
Só que o patrão tinha o lote
Por suspeito e eu não queria
Causar nenhuma porfia.
Continuei a missão
De encontrar recepção.
O cara se despediu,
Cumpirmentou-me e saiu.
Mostrei-o que iria estar
Ali até poder dar
Com alguém que me dissesse
Quem lá morava e pudesse
Indicar-me a moradia
De algum parente – se havia! -
Daquele tal pessoal
Que abandonara o local.
Pude achar um curioso
Passando, bem vagaroso,
De frente da habitação.
Perguntei: “Ô meu irmão,
Poderia me informar
Se existe em algum lugar
Dessa cidade um alguém,
Já que aqui não tem ninguém,
Pra receber a encomenda?”
Como sem ter quem entenda,
Ele mirou o pacote,
Deu na coxa um piparote,
E respondeu, bem cortês:
“Não sei por que a mudez
Do povo quanto ao recinto.
O cavalheiro é distinto
E parece ser de fora,
Ficou aí mais de hora
E nada ainda encontrou?”
Falei: “Não sei se notou,
Mas a casa está vazia”.
Ao que ele, na mesma via,
Disse: “É mesmo, já faz anos”.
Queria saber os planos
Que ele tinha em me dizer
Coisa que, ao me responder,
Causou-me medo e estranheza.
Disse: “Irmão, por gentileza,
Vossa Senhoria sabe,
Pra que o meu dilema acabe,
Onde resida um parente
Dessa tão estranha gente?”
Ele disse: “Tem um moço
Que fraturou o pescoço
E é parente dos daí”.
Ouvindo aquilo, eu sorri.
Fui com ele até à casa.
O asfalto estava uma brasa
E o céu uma chama só.
Ao chegar, bati o pó
Do calçado e adentrei...
Falei: “És tu o rapaz
Que morou, um tempo atrás,
Lá naquela moradia?”
Ele respondeu: “Sou sim.
Mas já faz tempo que eu vim
Pra essa outra habitação”.
Falei, chamando atenção:
“É que o senhor cá falou
Que és o único que restou
Dos parentes do antigo
Morador daquele abrigo
Que fica na Rua Cinco”.
“Sou sim” - falou com afinco
E eu balancei a cabeça.
Pensei “Embora pareça
Um cara meio sem jeito,
Vou entregar ao sujeito
A encomenda e partir”.
Disse: “É que eu tenho um 'presente'” -
Falei co'um tom sorridente
E ele assentiu co'a cabeça.
“A papelada é espessa,
Mas simples, o 'formulário'” -
Falei, rumando ao contrário,
Em direção de saída.
Saímos, pois, da guarida
E eu fui o troço pegar.
Mas, na verdade, era um par
De caixas grandes pesadas.
Quando foram retiradas
De dentro do meu furgão,
Eu fui e estendi a mão
Pra o formulário trazer,
Dizendo: “Deve saber
Do que se trata a encomenda...”
E ele respondeu-me: “Não.
Não sabia da intenção
De alguém me 'presentear'”.
Sorri com sua anedota.
Já que não tinha mais nota
A ser ali preenchida,
Entreguei-lho e fiz partida,
Após o cumprimentar.
Caso é que, em tal lugar,
Passar a noite eu teria,
Visto que não poderia
Dirigir-me à longa estrada,
Porque a noite enluarada
Já havia aparecido.
Fui ao hotel conhecido
Do senhor que me ajudou
A chegar ao que tirou
De mim tal fardo pesado.
Gostei da recepção.
Peguei a chave e o cartão
Do lugar da hospedagem.
Fui, do mesmo, vendo a imagem
E parti para o meu quarto.
Quase morri de um infarto,
Tamanha foi a'alegria
De ver a cama vazia
A me aguardar no recinto.
Tirei a calça e o cinto
E fui tomar um bom banho.
Mas lá notei algo estranho,
Ao adentrar o banheiro.
Senti, forte, como um cheiro
De carne em putrefação.
Olhei na imediação,
Porém nada eu encontrei.
Foi-se passando e eu fiquei
Tranquilo depois daquilo.
Tomei meu banho sem “grilo”
E, após, deitei-me na cama.
Pensei “acabou-se o drama!”
Só que aí tudo mudou.
A atendente chamou
Sem devaveio ou quimera,
Eu fui ver o que é que era.
Estava nuinha em pêlo.
Arrepiei o cabelo
E emburaquei no meu quarto.
Estava de tudo farto.
Fechei a porta co'o pé.
Nem botei naquilo fé
Que pudesse complicar-me.
E, aí, ouvi um alarme.
Como um alarme de incêndio.
(De tudo eu faço um compêndio)
Abri a porta de novo.
Tava um bocado do povo
Já fora do tal hotel.
Pensei “ó dia cruel!”
Apareceu o gerente
Acompanhando o parente
Do povo da encomenda.
Pensei “ô coisa tremenda!”
Veio o moço furioso.

Havia aberto, ditoso,
Um dos pacotes levados.
Do tal saíram lavrados
Vermes que se agigantaram,
Comendo tudo e tomaram
A urbe completamente.
A polícia, urgentemente,
Chamou todos os reforços,
Entretanto, tais esforços
Não deram para conter
A sanha e, ali, manter
A ordem na via urbana.
A cena era tão tirana
Que só de contar faz medo.
Não havia ninguém quedo
Nem satisfeito co'aquilo.
E eu fiquei todo intranquilo,
Pensando na minha vida,
Receando uma investida
Por parte do pessoal.
Tava a desordem geral
Nos becos, nas avenidas.
Tinham pessoas caídas
Nas calçadas da cidade
E o povo, a bem da verdade,
Culpando-me por aquilo.
Já não havia sigilo,
Segurança nem sossego.
Pensei “perdi meu emprego!”
Mas isso pouco importava.
Agora o que me restava
Era achar a solução
Praquela revolução
Que se dava ali na urbe.
Disse a mim “não se perturbe.
No fim, vai dar tudo certo”.
Mas quando fui pra mais perto
Do povo da imediação,
Vi a imagem do Cão
Impressa em cada travessa.
Disse: “Coisa como essa
Nunca vi na minha vida!”
Um verme em cada avenida,
Um corpo em cada viela
E o alto da cidadela
Tomado de extrerrestres
Infernizando os pedestres
Que corriam no exaspero (^).
Era tanto o desepero,
Que eu 'desesperei' também.
E não havia ninguém
Pra pôr fim no tal conflito.
Mas era tanto do grito,
Que eu não ouvia mais nada.
Diante daquela zoada
De misérias infernais,
Chamei até por meus pais,
No entanto, não fui ouvido.
Nada tenho de aguerrido,
Então fiquei lá parado,
Vendo a guerra e ouvindo o brado
Das gentes que ali morriam...
Como eu escapei daquilo?!
Corri, encontrei asilo
Na casa de uma mocinha.
Peguei a mochila minha
E arrumei lá os meus troços.
E, em meio àqueles destroços,
Corri pra dentro dos matos,
Bebi água nos regatos,
Comi peba na floresta...
Fato é que, agora, o que resta
É esquecer disso tudo.
Não comento. Fico mudo.
Se falo, é que foi legal.
Mas, se aquele pessoal
Daquela cidadezinha
Escapeou daquela “tinha”,
Eu nem sei 'me' responder.
Achei por bem esquecer
E seguir a minha vida,
Que agora é mais divertida
Qual nunca haverá de ser.







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