sábado, 26 de março de 2016

Sonetos Polimétricos - por Felipe Amaral


Sonetos Polimétricos
por Felipe Amaral
1
Olhar para as fúlgidas estrelas no ar.
Ver o cosmos por olhos de diamante transparente.
Naufragar no mar das palavras e não tornar
À casa onde vivi como mísero indigente.

Capaz de dialogar com um mundo corpuscular.
Tragar o vento que corre nas veias da vertente
Dos mares urbanos da urbe à beira-mar.
Um boêmio a cantar sua balada plangente.

Zeloso das ideias aurorais que me sobejam,
Desprender-me das realidades que me almejam
Sobre o chão sepulcral da necrópole fria.

Vencer a limitação que me prende a alma.
Elucidar as dúvidas vis que me tiram a calma.
E mergulhar na eternidade da filosofia.
2
Quero ver-me em explosiva inspiração.
Acionar o gatilho mental do infindo.
Brincar com as palavras da lépida canção
E achar um Novo Mundo novo e lindo.

Deitar sobre o colchão de estrelas da constelação
Que me brinda com a janela, sobrevindo
A mim “descabida” e colossal insuflação
Que me leve a conceber o Todo se exaurindo.

Que se esgote todo o léxico gigantesco
Que abriga de ideias aquele mais dantesco
Monstro draconiano que a mitologia imaginou.

Que se esgote o mar. Sequem fontes eternais.
Que eu cante tudo o que houver em madrigais
Que se estendam por céus que o ser jamais perscrutou.
3
Dançar sobre a lauda e golpear o vento,
Obtendo dele os termos certos que preciso.
Buscar e sempre achar a todo momento
O que procuro entre tudo o que diviso.

Meu barco que navega e voa lento
Pelo céu de azul do mar vasto que eternizo
Nas frases que da pena saco no alumbramento
Que me chega à mente quando o mentalizo.

Clamor ouvido e golpes de certeza alva e vestal
Que alcança os ares mais etéreos da caudal
Da perpetuidade nunca antes descritível.

Minha pena a ganhar os céus em cintilância.
O mistério da acuidade sacra da fragrância.
E o doce arfar da infinitude inatingível.
4
O inexcrutável sendo descortinado
Pela mão da mente audaz que o reverencia.
A boca a descrever o não denominado
Nome do “sem-fim” que vislumbra a astronomia.

As galáxias na palma de minha mão, ao lado
De grãos de areia que a brisa distancia.
O segredo desvendado, o arcano em brado
De lábio deblaterante que tudo contagia.

Nada enorme demais para ser descrito.
Nada tão grande que não possa ser proscrito
Para a terra do mundo subatômico.

Leito em que descansa a suprema inteligência.
Conhecimento infindo que a experiência
Galgou após um vivenciar randômico.
5
Lápide que demarca a terra da jazente
Finitude da mente de um louco racional.
Epitáfio que registra docemente
A morte do findo que prendia a luz mental.

Tudo sendo posto, em realce, bem à frente
Dos olhos que fitam o infinitesimal.
Poema que narra a luta de um ser valente
Contra o limite que o chão lhe impôs por ser mortal.

Enfim, o prêmio galardoado pelos céus
Para o intelecto que esquadrinha ebúrneos véus
De rutilâncias “primais” intermináveis.

Sonhos que se deleitam no respirar constante.
Devaneio que vence. E a ilusão diletante
Que se sustenta dos ganhos das visões inexplicáveis.


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