Sonetos
Filosóficos – A Imperfeição
por
Felipe Amaral
1
Quando
penso no aspecto da vontade
Que
o humano possui de desejar
Perfeição,
todavia, não achar,
Sou
lançado na contrariedade.
Veja
bem. O que vejo é a verdade
De
que tudo é manchado, insalutar.
Desde
nossa certeza basilar
Até
nossas ações em liberdade.
Nós
não somos perfeitos, mas queremos
Ser
perfeitos, no entanto, não podemos.
Sendo
assim, por que tanto o desejamos?
Não
há lógica em vir a insistir
Em
querer o que não vai conseguir,
Todavia,
o queremos e buscamos.
2
Por
que tudo é assim tão imperfeito?
Por
que vemos a imperfeição em tudo?
Talvez
seja ilusão, mas já me iludo
Desde
quando nasci, vendo o defeito.
Eu
chorava por que queria o peito,
Num
incômodo infindo, mau e agudo...
Por
que somos tão frágeis? Por que é mudo
Nosso
ser, que não mata esse conceito?
Há
cobrança na vida por demais.
Obstáculos
há. Lutas! Rivais!
Mas
não há um porquê pra ser assim.
Mesmo
a morte, que uns veem qual descanso,
Não
escapa da pecha vil do ranço
De
defeito do nosso corpo, enfim.
3
Irritamo-nos
com a insegurança,
Mas
vivemos sem ter certezas plenas.
Limitados
que somos, duras penas
Nós
sofremos, sem riso e esperança.
Por
que não nos tornamos, por vingança,
Imortais
contra as falhas mais amenas
E
findamos as dores, as pequenas
E
as enormes, que ferem como a lança?
Repetimos
que vamos muito bem,
Mas,
ao fim, percebemos que ninguém
Foi
invicto nas lutas que travou.
Quedas
há, mas por quê? Não necessita!
É
o ser imperfeito, e não hesita
Em
querer perfeição que nunca achou.
4
Por
que nós procuramos achar ordem?
Por
que nós precisamos ter saúde?
Por
que tanto buscamos a virtude,
Se,
no todo, os defeitos se remordem?
Talvez
nada devamos... – Ei! Acordem! -
Talvez
nada devamos, na atitude
Do
desejo, buscar, pois tudo ilude,
Faz
que os males dos ais em nós transbordem.
Pra
que leis? Pra que normas se promulgam,
Se
são frágeis também os tais que julgam
Como
frágeis são nossos julgamentos?
Não
há certo e errado. Não há nada!
No
imperfeito não há certeza alçada
Que
nos possa remir os pensamentos!
5
Nem
consigo remir isto que digo.
Pois
que digo sem ter em mim certeza.
Paradoxos
deságuam na destreza
Das
palavras que falo e que persigo.
Mesmo
assim, sou levado e, assim, prossigo
Neste
meu inquirir, numa indefesa
Ilação,
numa falha sutileza
De
perguntas banais, por vil castigo.
Só
sei mesmo que o todo é todo incerto.
Não
há vero seguir e, nem de perto,
Nós
podemos, ao menos, contemplá-lo.
Caminhemos,
então, sem paradeiro,
Que
o viver é um show, mas sem roteiro,
Mesmo
assim nos dispomos a encená-lo.
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