Crônicas
Fantasmais I
(O
caso da casa esquerda)
por
Felipe Amaral
Minha
vizinha, do lado esquerdo do meu recinto, acordou, por volta das 2 da
madrugada de ontem, e se deparou com um espectro - daqueles
fumacentos! Sabe? - sentado numa das cadeiras de balanço da sala de
TV. A princípio, considerou ainda estar meio sonolenta, mas quando
esfregou os olhos, sem cabaceios ou tosquenejos, defrontou-se, mais
uma vez, com a imagem fantasmal reclinada na SUA CADEIRA AMADA de
balanço. O que fazer? Gritar? Não é polido. Resolveu chamar a
polícia, que lhe asseverou, de pronto, que não dispunha de
repartição específica para casos assim, então, recomendou-me. Eu
fui à casa da senhora, depois de ouvir tocar o meu celular (que
sempre fica desligado! Bendita hora, hein?! Mas era para fazer uma
cortesia. Perdoem-me os anjos por terem que ouvir tamanha
murmuração). Tentei encetar um papo com o danado do espírito, mas
vi-me em palcos de aranha (mesmo! A casa estava precisando de uma
limpeza! Brincaderiiiiinha! Só força de expressão mesmo), o mesmo
não estava para conversa. Também! Não sei como podê-lo-ia
entender. Acho que lhe faltavam todos os dentes da boca (da freente!
Façamos jus. A que ele tinha detrás do crânio tinha todos os
dentes bem alinhadinhos e bem tratados. Fiquei até com vontade de
perguntar qual dentista era o dele, mas acabei esquecendo de
inquiri-lo acerca disso. Também! Diante de um fato daqueles!... Quem
é que não olvida as coisas?!). Brincadeiras à parte, o caso é que
a gente entrou num acordo (imagine! Ela – a assombração – tinha
ficado obcecada pela cadeira! A vizinha nem hesitou. Mandou levar).
Passado o acordo, eu tornei para casa. Coisa mais pitoresca nunca se
viu... Quero dizer... Beeem... Deixa-me ver... Assim mesmo, não.
Mas, de vez enquanto, eu sou chamado para socorrer velhinhas
indefesas de assombrações não tão velhas. Em todo caso, chamem a
polícia mesmo. Falou.
Crônicas
Fantasmais II
(O
grito à meia-noite)
por
Felipe Amaral
Desta
vez foi com a vizinha da frente. Ouvi gritos de espanto terríveis.
Corri, fui acudir a senhora amiga. Quando cheguei, ela estava
sobressaltada. Falava-me muito rápido (impressiona, por que, quase
sempre, ninguém consegue falar “é” nada!). Eu quis entender.
Esforcei-me, mas acabei por me contentar em só ouvi-la. No mais,
findei ficando por ali um tempo, esperando a coitada acalmar-se.
Apareceram outras pessoas. Pessoas curiosas. Ninguém ainda conseguia
saber nada de certo. Talvez algum finado com assuntos para resolver.
Algum extraterrestre querendo abduzi-la. Algum Homem das Sombras.
Alguma coisa, por certo, só que não nos era dado saber. Na verdade,
coisas desencontradas até que dava para se ouvir. De certo,
daquelas coisas que seria necessário um detetive para desvendar o
que quer que fosse e quisesse passar de significativo. Certo é,
quando tudo se acalmou, ela apontou para a cozinha e – acredite! -
ainda estava lá a danada (da alma? Não!) da barata. Mas era de
perdoar-se todo o incômodo causado, visto ser aquela barata
assombrosa mesmo. Peguei a chinela e “taquei” na danada. Nunca
mais ouvi gritos (pelo menos vindos daquela casa!) à noite. Ufa!
Deixa-me tornar a dormir. Tchau.
Crônicas
Fantasmais III
(O
tataravô do velho)
por
Felipe Amaral
Doutra
vez, fui levado (desta vez, no fim da tarde de um sábado) até à
casa de um senhor que dizia comunicar-se, constantemente, com um
outro senhor que julgar ser (ou ter sido, em vida) seu tataravô.
Mas, como ele o reconhecera, era que era difícil de saber-se. Talvez
de vidas passadas... Não! Talvez só mesmo de fotos “passadas”.
Nada tão ruim de acreditar-se. Tem gente que é avô bem cedo. Não
vê Raí da seleção brasileira! Então... Mais simples, impossível.
Fato é que o amigo que me conduzira à morada do ancião (na
verdade, nem tão ANCIÃÃÃO assim. Deveria ter seus 47 para 50
anos). Fui falar com ele (com ele só! A alma apareceu de penetra!) e
um espírito interpôs nós dois ali, já no início do papo. O que
eu queria era saber sobre males que diziam que tal vulto estava
causando ao senhor tão comunicável. E, sendo que a ocasião era
aquela, aproveitei para perguntar logo ao fantasma ofensor por que
estava tratando seu suposto tataraneto daquela forma. O espírito
tergiversou, rodou pra lá, pra cá e acabou concordando que tinha
uma mania de fazer coisas sem pensar. Perguntei, então, desde quando
aquilo acontecia. Ele deitou-se num sofá e, eu, como um
psicanalista, comecei-o a ouvir. Disse-lhe: “Conte-me da sua
infância”. “Preciso analisá-lo”. E ele: “Nos idos de mil e
oitocentos, se me recordo bem, recebi uma pancada muito forte na
cabeça, mas jamais passou pela mesma cabeça que isso afetaria até
minha alma! Caso é que, agora, tenho lapsos e faço coisas
desconexas”. E eu, de novo: “Vossa Senhoria deu-se sempre bem com
o seu suposto tataraneto?” Respondeu-me: “Na verdade, só o vim a
conhecer depois de morto e, como trago muito embaraço na mente
depois da tal pancada na cabeça, nem sei ao certo se sou mesmo
tataravô dele. Acho que só queria alguém com quem conversar”. Eu
conversei com aquele fantasma por alguns minutos, mas, como não
saberia receitá-lo nada que se venda (se é que se vende!) de
remédio no mundo do Além, decidi por apresentá-lo a uma alma que
conheci, tempos atrás, lá perto da minha casa. Era uma alma de um
psiquiatra. Ela poderia tratá-lo melhor que eu. Dando-se assim o
desenlace da “novela” toda, o senhor, suposto tataraneto, nunca
mais teve o prazer (isso é, se tinha algum!) de conversar com aquele
espírito, que o mesmo, depois de ter se tratado com a alma
psiquiatra lá de perto de casa, não tornou mais a visitá-lo.
Quando o vejo – confesso – enxergo uma certa solidão no seu
olhar. Acho que ele “obrigara” “de boa vontade” a si mesmo a
acreditar que fosse a aparição seu tataravô. Acho que, após a
saída, em revoada, de todos os seus filhos de casa e a morte de sua
esposa amada, ele se entregara a ideia de que deveria procurar alguém
com quem papear, nem que esse alguém fosse um habitante do Além.
Bem. Eu passo, de vez enquanto, para revê-lo. Conversamos por alguns
minutos e eu sempre parto fazendo-lhe promessas de que irei aparecer
noutro dia próximo. E ele: “Venha mesmo!” Aí, eu sempre
“apareço”, mas, parece-me, que até fora do corpo (isso, a
julgar pelo número de visitas que ele anda computando). Daí,
termino me perguntando: “Né possível que algum vulto engraçadinho
esteja se passando por mim só para 'pregar uma peça' no pobre
senhor”. Mas, no fim das contas, acho que é melhor assim. Ando tão
atarefado ultimamente, que um substituto não seria de todo negativo
nestas horas.
Crônicas
Fantasmais IV
(Sempre
ligue a TV antes de dormir)
por
Felipe Amaral
Liguei a TV de casa e tomei um susto. Vi um vizinho meu
pedindo “ajuda com” a lâmpada do banheiro que estava queimada.
Abri a porta e fui lá ver. Essas coisas paranormais costumam
acontecer comigo. Sou avisado de todo imbróglio que haja ou que, por
ventura, desfrute potencial de ocorrer. Às pressas, forcei a porta
dele. Vendo-a fechada, bati com pancadas rápidas repetidas. Graças
a Deus, ele deixou tudo o que estava fazendo (e que eu sabia muito
bem o que era e no que poderia dar) e foi atender a porta. Era eu.
Ele disse ter pensado mesmo na minha pessoa como um possível
ajudante naquela tarefa temerária que estava por iniciar ali. Quando
eu entrei no banheiro, estava o troço todo (as ligações perto do
soquete da luz) soltando uma faíscas e, por incrível que possa
parecer, o disjuntor teimava em não se desligar, como é de praxe. O
cara iria tomar um mega choque. Feliz se não morresse! Por essas e
outras é que, sempre, antes de dormir, eu ligo a televisão para ver
o que está passando. Isso vale um “Ufa!”, de novo. Fui!
Crônicas
Fantasmais V
(Pálido
Rosto e O Estranho Ser)
por
Felipe Amaral
Manhã
de 15 de outubro de 1999 (preciso a data pelo que me causou),
acordei aflito. Parecia que algo me levaria a ainda mais mais
aflições naquele dia. Escovei os dentes. Lavei o rosto. E, ao
arrumar o cabelo, dei com o espelho em vermelho-sangue. Tornei
novamente a mim. Saí à rua e olhei o céu (de manhãzinha, sempre
nublado por aqueles tempos). E eis que lá estava, suspenso no ar, um
como semelhante a um anjo, mas de aparência estranha. Fitei-o,
“agora”, sem medo. Não sei bem o que se dava comigo que não saí
correndo. Fiquei ali. Ninguém acordou. Parecia estar em outra
dimensão. Dimensão de sonolentos. Sem curiosos... Estranho! “Ao
menos um cinegrafista amador” - pensava; e nada. Estava eu sozinho
e sozinho a encarar aquele ser de feições esquisitas. Não havia em
mim poder para ir à casa buscar minha máquina digital para, à
pressa, registrar o fato. Alguma “distorção”, por certo. Por
certo, algum fenômeno que só faz-se objeto de pesquisa para a
parapsicologia. Meia hora e ninguém saindo à porta. Cinquenta
minutos, e nada. Tornei à casa logo quando pude movimentar-me.
Tornei ao lar sobressaltado. Na verdade, não entendia bem o que
sentia. Uma mescla. Uma mistura de sentimentos inexplicáveis. Olhei
o espelho e vi...vi...vi...*
…....
…....
…....
*meu
pálido rosto.
Crônicas
Fantasmais VI
(As
paredes não só têm ouvidos...)
por
Felipe Amaral
A
caminho da casa do amigo Jefferson Messias, poeta zeloso e
performático vivaz, senti que algo me seguia. Olhei atrás, nada.
Estava em ilusões, por certo. Não havia nada a “que” temer.
Como no caso das batidas na porta do Poe. Julgara ser o vento, “nada
mais!”. Mas que, ao fim, brindou-lhe com a figura negra alada a
suplicar-lhe abrigo. Só que eu, diferentemente do Edgar, não
haveria de me deparar com nenhum corvo. Talvez coisa pior. Uma
gralha? Um mocho? Uma serpente voadora? Vagueações apenas. Acho que
estava em busca de histórias e, não as encontrando, pus na cabeça,
que nem as paredes estivessem imotas. Todavia, estava certo. Eram as
paredes! Paredes de esquina. De travessas. Vielas. Becos retorcidos.
Não iria chegar se, daquela forma, continuasse. Pedi para que
parassem. E continuavam. Seguindo-me. Paredes. Paredes apenas. Talvez
o café tivesse me feito mal. Talvez a vitamina de banana da noite
anterior. Corri. Queria chegar. Contar tudo. Pedir-lhe ajuda. As
paredes perseguiam-me. “Malditos blocos de pedra que vos deram
vida, seres abomináveis!” - gritei corrido. “Malditos
ladrilhos!” “Malditos pedreiros feiticeiros!”. “Malditos!
Malditos! Malditos!” Descansaria eu em choupana “messiânica”?...
Quando cheguei, nem me dei conta. Era noite e lá estava eu,
novamente arrodeado de paredes. Ocultei-o tudo. Ele não dormiria em
paz. “As paredes têm ouvidos!” - rematei em meu perturbado
pensamento. Não falarei “nunca mais!” - disse a mim mesmo. E
ouvi, de uma mais próxima a mim: “nunca mais!”
Crônicas
Fantasmais VII
(Acontecimentos
Paralelos)
por
Felipe Amaral
Frente
ao cemitério poderia até ter tido aquilo que tive. Súbito suor.
Suor frio. Noturno. Mas, frente... a um parque de diversões?!...
Nunca! Jamais! Só que a vida prega-nos peças. Comecei a suspeitar
de todos. Esquizofrênico nunca fui. Hipocondríaco, muito menos.
Sempre mostrei-me alegre, mesmo em momentos desconfortáveis. Poderia
ficar raivoso, mas tristonho, não. Se bem que as coisas andavam “de
mudada” naqueles recentes dias. Torno ao caso. Detalhes costumam
embaraçar-me. Certo é que, ali, frente ao parque. Luzes. Risos.
Crianças aos montes. Sentia-me inseguro. Perscrutava tudo.
Esquadrinhava cada pedaço de chão. Examinava cada canto. Não via
nada, mas suspeitava ver. Desconfiava mais e mais. Havia algo a
observar-me. E, de repente, uma mão no ombro. Era um amigo. Trouxera
seus filhos para “andarem” no parquinho. Carrosséis. Rodas
gigantes. E eu, ali, estagnado. O amigo começou a achar estranho o
meu comportamento, mas a informação era sigilosa demais para eu
partilhar com qualquer vivente. Encafifado em minhas ideias, pensei
em deixar o lugar. Não pude. Isso sempre acontecia. Algo me prendia.
Como quando dera de cara com aquele tipo de “anjo” no céu na
manhã de 15 de outubro. Outra “distorção”? Talvez. Outra volta
posterior à realidade? Não sabia. Eu só queria que aquilo parasse.
Como no caso das “paredes perseguidoras”. Todos foram indo-se
embora e eu ali... Todos indo-se... indo-se...indo-se... e... eu ali.
Embasbacado. Ao desligar-se as luzes, pensei: “Estou ferrado. Vou
passar a noite todinha aqui sem poder me mover. Pode um troço
desses?!” Quando a última pessoa saiu, foi que eu pude contemplar
o que me contemplava. Um senhor. Um aceno. Chamamento bobo. Meu pai.
De uma outra dimensão. “Sai do carrinho, filho”- dizia ele. E eu
vi quando eu mesmo, só que ainda criança, passei por mim, todo
sorridente depois de ter “andado” nos carrinhos de batida. Mundos
paralelos sempre me surpreendem. E é comum que ocorra isso.
Continuamente o que aqui aconteceu ainda se passa, muito sutilmente
diferente, em algum lugar. Mas onde? Esse é assunto para outro
programa. Até breve, amiguinhos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário