sexta-feira, 18 de março de 2016

Crônicas Fantasmais I -VII - Felipe Amaral


Crônicas Fantasmais I
(O caso da casa esquerda)
por Felipe Amaral

Minha vizinha, do lado esquerdo do meu recinto, acordou, por volta das 2 da madrugada de ontem, e se deparou com um espectro - daqueles fumacentos! Sabe? - sentado numa das cadeiras de balanço da sala de TV. A princípio, considerou ainda estar meio sonolenta, mas quando esfregou os olhos, sem cabaceios ou tosquenejos, defrontou-se, mais uma vez, com a imagem fantasmal reclinada na SUA CADEIRA AMADA de balanço. O que fazer? Gritar? Não é polido. Resolveu chamar a polícia, que lhe asseverou, de pronto, que não dispunha de repartição específica para casos assim, então, recomendou-me. Eu fui à casa da senhora, depois de ouvir tocar o meu celular (que sempre fica desligado! Bendita hora, hein?! Mas era para fazer uma cortesia. Perdoem-me os anjos por terem que ouvir tamanha murmuração). Tentei encetar um papo com o danado do espírito, mas vi-me em palcos de aranha (mesmo! A casa estava precisando de uma limpeza! Brincaderiiiiinha! Só força de expressão mesmo), o mesmo não estava para conversa. Também! Não sei como podê-lo-ia entender. Acho que lhe faltavam todos os dentes da boca (da freente! Façamos jus. A que ele tinha detrás do crânio tinha todos os dentes bem alinhadinhos e bem tratados. Fiquei até com vontade de perguntar qual dentista era o dele, mas acabei esquecendo de inquiri-lo acerca disso. Também! Diante de um fato daqueles!... Quem é que não olvida as coisas?!). Brincadeiras à parte, o caso é que a gente entrou num acordo (imagine! Ela – a assombração – tinha ficado obcecada pela cadeira! A vizinha nem hesitou. Mandou levar). Passado o acordo, eu tornei para casa. Coisa mais pitoresca nunca se viu... Quero dizer... Beeem... Deixa-me ver... Assim mesmo, não. Mas, de vez enquanto, eu sou chamado para socorrer velhinhas indefesas de assombrações não tão velhas. Em todo caso, chamem a polícia mesmo. Falou.

Crônicas Fantasmais II
(O grito à meia-noite)
por Felipe Amaral

Desta vez foi com a vizinha da frente. Ouvi gritos de espanto terríveis. Corri, fui acudir a senhora amiga. Quando cheguei, ela estava sobressaltada. Falava-me muito rápido (impressiona, por que, quase sempre, ninguém consegue falar “é” nada!). Eu quis entender. Esforcei-me, mas acabei por me contentar em só ouvi-la. No mais, findei ficando por ali um tempo, esperando a coitada acalmar-se. Apareceram outras pessoas. Pessoas curiosas. Ninguém ainda conseguia saber nada de certo. Talvez algum finado com assuntos para resolver. Algum extraterrestre querendo abduzi-la. Algum Homem das Sombras. Alguma coisa, por certo, só que não nos era dado saber. Na verdade, coisas desencontradas até que dava para se ouvir. De certo, daquelas coisas que seria necessário um detetive para desvendar o que quer que fosse e quisesse passar de significativo. Certo é, quando tudo se acalmou, ela apontou para a cozinha e – acredite! - ainda estava lá a danada (da alma? Não!) da barata. Mas era de perdoar-se todo o incômodo causado, visto ser aquela barata assombrosa mesmo. Peguei a chinela e “taquei” na danada. Nunca mais ouvi gritos (pelo menos vindos daquela casa!) à noite. Ufa! Deixa-me tornar a dormir. Tchau.



Crônicas Fantasmais III
(O tataravô do velho)
por Felipe Amaral

Doutra vez, fui levado (desta vez, no fim da tarde de um sábado) até à casa de um senhor que dizia comunicar-se, constantemente, com um outro senhor que julgar ser (ou ter sido, em vida) seu tataravô. Mas, como ele o reconhecera, era que era difícil de saber-se. Talvez de vidas passadas... Não! Talvez só mesmo de fotos “passadas”. Nada tão ruim de acreditar-se. Tem gente que é avô bem cedo. Não vê Raí da seleção brasileira! Então... Mais simples, impossível. Fato é que o amigo que me conduzira à morada do ancião (na verdade, nem tão ANCIÃÃÃO assim. Deveria ter seus 47 para 50 anos). Fui falar com ele (com ele só! A alma apareceu de penetra!) e um espírito interpôs nós dois ali, já no início do papo. O que eu queria era saber sobre males que diziam que tal vulto estava causando ao senhor tão comunicável. E, sendo que a ocasião era aquela, aproveitei para perguntar logo ao fantasma ofensor por que estava tratando seu suposto tataraneto daquela forma. O espírito tergiversou, rodou pra lá, pra cá e acabou concordando que tinha uma mania de fazer coisas sem pensar. Perguntei, então, desde quando aquilo acontecia. Ele deitou-se num sofá e, eu, como um psicanalista, comecei-o a ouvir. Disse-lhe: “Conte-me da sua infância”. “Preciso analisá-lo”. E ele: “Nos idos de mil e oitocentos, se me recordo bem, recebi uma pancada muito forte na cabeça, mas jamais passou pela mesma cabeça que isso afetaria até minha alma! Caso é que, agora, tenho lapsos e faço coisas desconexas”. E eu, de novo: “Vossa Senhoria deu-se sempre bem com o seu suposto tataraneto?” Respondeu-me: “Na verdade, só o vim a conhecer depois de morto e, como trago muito embaraço na mente depois da tal pancada na cabeça, nem sei ao certo se sou mesmo tataravô dele. Acho que só queria alguém com quem conversar”. Eu conversei com aquele fantasma por alguns minutos, mas, como não saberia receitá-lo nada que se venda (se é que se vende!) de remédio no mundo do Além, decidi por apresentá-lo a uma alma que conheci, tempos atrás, lá perto da minha casa. Era uma alma de um psiquiatra. Ela poderia tratá-lo melhor que eu. Dando-se assim o desenlace da “novela” toda, o senhor, suposto tataraneto, nunca mais teve o prazer (isso é, se tinha algum!) de conversar com aquele espírito, que o mesmo, depois de ter se tratado com a alma psiquiatra lá de perto de casa, não tornou mais a visitá-lo. Quando o vejo – confesso – enxergo uma certa solidão no seu olhar. Acho que ele “obrigara” “de boa vontade” a si mesmo a acreditar que fosse a aparição seu tataravô. Acho que, após a saída, em revoada, de todos os seus filhos de casa e a morte de sua esposa amada, ele se entregara a ideia de que deveria procurar alguém com quem papear, nem que esse alguém fosse um habitante do Além. Bem. Eu passo, de vez enquanto, para revê-lo. Conversamos por alguns minutos e eu sempre parto fazendo-lhe promessas de que irei aparecer noutro dia próximo. E ele: “Venha mesmo!” Aí, eu sempre “apareço”, mas, parece-me, que até fora do corpo (isso, a julgar pelo número de visitas que ele anda computando). Daí, termino me perguntando: “Né possível que algum vulto engraçadinho esteja se passando por mim só para 'pregar uma peça' no pobre senhor”. Mas, no fim das contas, acho que é melhor assim. Ando tão atarefado ultimamente, que um substituto não seria de todo negativo nestas horas.

Crônicas Fantasmais IV
(Sempre ligue a TV antes de dormir)
por Felipe Amaral

Liguei a TV de casa e tomei um susto. Vi um vizinho meu pedindo “ajuda com” a lâmpada do banheiro que estava queimada. Abri a porta e fui lá ver. Essas coisas paranormais costumam acontecer comigo. Sou avisado de todo imbróglio que haja ou que, por ventura, desfrute potencial de ocorrer. Às pressas, forcei a porta dele. Vendo-a fechada, bati com pancadas rápidas repetidas. Graças a Deus, ele deixou tudo o que estava fazendo (e que eu sabia muito bem o que era e no que poderia dar) e foi atender a porta. Era eu. Ele disse ter pensado mesmo na minha pessoa como um possível ajudante naquela tarefa temerária que estava por iniciar ali. Quando eu entrei no banheiro, estava o troço todo (as ligações perto do soquete da luz) soltando uma faíscas e, por incrível que possa parecer, o disjuntor teimava em não se desligar, como é de praxe. O cara iria tomar um mega choque. Feliz se não morresse! Por essas e outras é que, sempre, antes de dormir, eu ligo a televisão para ver o que está passando. Isso vale um “Ufa!”, de novo. Fui!

Crônicas Fantasmais V
(Pálido Rosto e O Estranho Ser)
por Felipe Amaral

Manhã de 15 de outubro de 1999 (preciso a data pelo que me causou), acordei aflito. Parecia que algo me levaria a ainda mais mais aflições naquele dia. Escovei os dentes. Lavei o rosto. E, ao arrumar o cabelo, dei com o espelho em vermelho-sangue. Tornei novamente a mim. Saí à rua e olhei o céu (de manhãzinha, sempre nublado por aqueles tempos). E eis que lá estava, suspenso no ar, um como semelhante a um anjo, mas de aparência estranha. Fitei-o, “agora”, sem medo. Não sei bem o que se dava comigo que não saí correndo. Fiquei ali. Ninguém acordou. Parecia estar em outra dimensão. Dimensão de sonolentos. Sem curiosos... Estranho! “Ao menos um cinegrafista amador” - pensava; e nada. Estava eu sozinho e sozinho a encarar aquele ser de feições esquisitas. Não havia em mim poder para ir à casa buscar minha máquina digital para, à pressa, registrar o fato. Alguma “distorção”, por certo. Por certo, algum fenômeno que só faz-se objeto de pesquisa para a parapsicologia. Meia hora e ninguém saindo à porta. Cinquenta minutos, e nada. Tornei à casa logo quando pude movimentar-me. Tornei ao lar sobressaltado. Na verdade, não entendia bem o que sentia. Uma mescla. Uma mistura de sentimentos inexplicáveis. Olhei o espelho e vi...vi...vi...*
....
....
....

*meu pálido rosto.

Crônicas Fantasmais VI
(As paredes não só têm ouvidos...)
por Felipe Amaral

A caminho da casa do amigo Jefferson Messias, poeta zeloso e performático vivaz, senti que algo me seguia. Olhei atrás, nada. Estava em ilusões, por certo. Não havia nada a “que” temer. Como no caso das batidas na porta do Poe. Julgara ser o vento, “nada mais!”. Mas que, ao fim, brindou-lhe com a figura negra alada a suplicar-lhe abrigo. Só que eu, diferentemente do Edgar, não haveria de me deparar com nenhum corvo. Talvez coisa pior. Uma gralha? Um mocho? Uma serpente voadora? Vagueações apenas. Acho que estava em busca de histórias e, não as encontrando, pus na cabeça, que nem as paredes estivessem imotas. Todavia, estava certo. Eram as paredes! Paredes de esquina. De travessas. Vielas. Becos retorcidos. Não iria chegar se, daquela forma, continuasse. Pedi para que parassem. E continuavam. Seguindo-me. Paredes. Paredes apenas. Talvez o café tivesse me feito mal. Talvez a vitamina de banana da noite anterior. Corri. Queria chegar. Contar tudo. Pedir-lhe ajuda. As paredes perseguiam-me. “Malditos blocos de pedra que vos deram vida, seres abomináveis!” - gritei corrido. “Malditos ladrilhos!” “Malditos pedreiros feiticeiros!”. “Malditos! Malditos! Malditos!” Descansaria eu em choupana “messiânica”?... Quando cheguei, nem me dei conta. Era noite e lá estava eu, novamente arrodeado de paredes. Ocultei-o tudo. Ele não dormiria em paz. “As paredes têm ouvidos!” - rematei em meu perturbado pensamento. Não falarei “nunca mais!” - disse a mim mesmo. E ouvi, de uma mais próxima a mim: “nunca mais!”

Crônicas Fantasmais VII
(Acontecimentos Paralelos)
por Felipe Amaral

Frente ao cemitério poderia até ter tido aquilo que tive. Súbito suor. Suor frio. Noturno. Mas, frente... a um parque de diversões?!... Nunca! Jamais! Só que a vida prega-nos peças. Comecei a suspeitar de todos. Esquizofrênico nunca fui. Hipocondríaco, muito menos. Sempre mostrei-me alegre, mesmo em momentos desconfortáveis. Poderia ficar raivoso, mas tristonho, não. Se bem que as coisas andavam “de mudada” naqueles recentes dias. Torno ao caso. Detalhes costumam embaraçar-me. Certo é que, ali, frente ao parque. Luzes. Risos. Crianças aos montes. Sentia-me inseguro. Perscrutava tudo. Esquadrinhava cada pedaço de chão. Examinava cada canto. Não via nada, mas suspeitava ver. Desconfiava mais e mais. Havia algo a observar-me. E, de repente, uma mão no ombro. Era um amigo. Trouxera seus filhos para “andarem” no parquinho. Carrosséis. Rodas gigantes. E eu, ali, estagnado. O amigo começou a achar estranho o meu comportamento, mas a informação era sigilosa demais para eu partilhar com qualquer vivente. Encafifado em minhas ideias, pensei em deixar o lugar. Não pude. Isso sempre acontecia. Algo me prendia. Como quando dera de cara com aquele tipo de “anjo” no céu na manhã de 15 de outubro. Outra “distorção”? Talvez. Outra volta posterior à realidade? Não sabia. Eu só queria que aquilo parasse. Como no caso das “paredes perseguidoras”. Todos foram indo-se embora e eu ali... Todos indo-se... indo-se...indo-se... e... eu ali. Embasbacado. Ao desligar-se as luzes, pensei: “Estou ferrado. Vou passar a noite todinha aqui sem poder me mover. Pode um troço desses?!” Quando a última pessoa saiu, foi que eu pude contemplar o que me contemplava. Um senhor. Um aceno. Chamamento bobo. Meu pai. De uma outra dimensão. “Sai do carrinho, filho”- dizia ele. E eu vi quando eu mesmo, só que ainda criança, passei por mim, todo sorridente depois de ter “andado” nos carrinhos de batida. Mundos paralelos sempre me surpreendem. E é comum que ocorra isso. Continuamente o que aqui aconteceu ainda se passa, muito sutilmente diferente, em algum lugar. Mas onde? Esse é assunto para outro programa. Até breve, amiguinhos. 

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