quinta-feira, 15 de outubro de 2015

O Expresso da Meia-Noite - Da Avenida Fantasmal (por Felipe Amaral)

O Expresso da Meia-Noite
Da Avenida Fantasmal
(por Felipe Amaral)
1
Quando eu ando à meia-noite
E percebo o clima quedo,
Todo envolvido em mistério,
Permeado de segredo,
Me pego a imaginar
Cenas de espanto sem par
E começo a sentir medo.
2
Gosto da noite, mas vejo
Que o seu semblante profano
Guarda algo muito esquisito
Que a reveste de um arcano
Que reflete um específico
Clima, em um ar terrorífico
De um parecer inumano.
3
O pavor que toma a noite
É um translado sem porto,
Um enfado sem descanso,
Dor de pesar sem conforto,
Existência sem convívio,
Inquietação sem alívio
Da qual só se livra morto.
4
A noite é tomada por
Um sentimento colérico
De assombro que envolve a todos
De um ânimo atroz histérico.
E o povo fita o semblante
Do monstrengo horripilante
Desse espanto cadavérico.
5
Tem a noite um teor vil
De algum poder magnético
Que atrai a pessoa ao medo,
Mesmo o indivíduo mais cético.
E, se a lua está vermelha,
Seu aspecto se assemelha
A um fantasma esquelético.
6
O ar noturno resguarda
Um tom megalomaníaco
Que mata sem ar o asmático
E de infarto o cardíaco.
Seu quadro retrata o drama,
Que existe em seu panorama
Um esboço demoníaco.
7
Reside na noite negra
Como que um torpor alcoólico
Que infesta a alma de choro
Ante o aspecto melancólico
De um céu preto inexcrutável
Que expressa o inefável
Palanfrório diabólico.
8
Um clima frio que se faz
Parecer mais infantil,
Mas que afeta o coração
Co'a desilusão mais vil.
Eis o clima atroz da noite,
Flagelo, azorrague, açoite
Cortante, gélido e hostil.
9
O tom negro que reserva
O que há de mais obscuro,
Um credo sem confiança,
O porto mais inseguro,
A certeza mais mortal,
Frieza mais glacial
E o lupanar mais impuro.
10
A noite é a cova fria
Onde o espanto retumba.
Golpe mais forte e certeiro,
Pra que o vivente sucumba.
O plano atroz de Morfeu
Que promete o leito seu
E, ao fim, nos conduz à tumba.


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