O
Corvo de Edigar
Por
Felipe Amaral
1
Um
corvo malassombrado
Era
aquele desse amigo,
Que
ele criara no abrigo,
Desde
pequeno, enjeitado.
O
caso era que o danado
Só
me atolava em azar,
Quando
eu teimava em lhe dar
Atenção
no tal recinto.
Era
um terror – eu não minto! -
O
corvo de Edigar.
2
Toda
vez que eu me encontrava
Com
aquele desgraçado,
Algum
troço dava errado
E
a coisa não engrenava.
O
carro, que se mostrava
Funcionando
sem falhar,
“Pegava
a” querer “ficar
No
prego”, logo depois.
Que
me dava azar por dois
O
corvo de Edigar.
3
Ô
corvo endemoniado
Era
aquele impenitente!
Tinha
um olhar diferente
E
um crocitar engraçado.
Sempre
trazia recado
Do
além pra gente escutar,
Pois,
era só corvejar,
Pra
morrer algum vizinho.
Ia
terminar sozinho
O
corvo de Edigar.
4
Por
vezes, ele sumia
Das
vistas do meu colega...
E
o povo da rua alega
Que
ao cemitério ele ia.
Tinha
gente que dizia
Que
ele ia se transformar
Em
vampiro pra chupar
O
sangue coagulado
De
algum recém-sepultado,
O
corvo de Edigar.
5
Eita
bicho intrometido!
Em
tudo se apresentava...
Quando
a gente conversava,
Ele
vinha dar grunhido.
Fazia
tanto ruído,
Que
era obrigado parar
Pra
ele poder falar
O
que ele tava querendo.
E
era um linguajar horrendo
O
do corvo de Edigar.
6
Eu
mesmo não me fiava
No
que o povo me dizia,
Mas,
bem verdade é que, um dia,
Vi
uma cena que agrava...
O
corvo, à frente, piava,
Numa
noite de luar.
E
eu, sozinho, a espreitar,
Ante
exaspero (^) e afobo (^),
Vi
se transformar num lobo
O
corvo de Edigar.
7
Pensei
ter tido um assomo
De
devaneio ou delírio,
Mas
não findei o martírio,
Não
sabendo explicar como.
Às
vezes, até retomo
A
cena, que é pra tentar
O
troço todo explicar,
Mas
findo ainda no breu
Sem
saber o que ocorreu
Co'o
corvo de Edigar.
8
Até
tentei exprimir
Pra
o meu amigo o impasse,
Mas
sempre achei sua face
Não
inclinada a ouvir.
Então
deixei de insistir
Em
querer lhe repassar
Esse
caso singular
E
guardei tudo pra mim...
Talvez
fosse só pantim
Do
corvo de Edigar.
9
Zé
Geraldo, um conhecido,
Disse
pra mim, certa vez,
Que
a mesma coisa ele fez,
E
relatou o ocorrido.
O
que tinha acontecido
Comigo,
em dado lugar,
Não
era mais de estranhar,
Que,
diante das vistas dele,
Também
transmutou-se aquele
Corvo
infernal de Edigar.
10
Se
ele anda se transmutando
Ainda
naqueles lares,
Não
sei, pois mudei de ares
E
não o andei visitando.
Só
tô me comunicando
Pela
internet, em meu lar,
Mas,
vezes, chego a pensar
Que,
ao invés do meu amigo,
Quem
tá “teclando” comigo
É
o corvo de Edigar.
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