quinta-feira, 15 de outubro de 2015

O Corvo de Edigar - Por Felipe Amaral

O Corvo de Edigar
Por Felipe Amaral
1
Um corvo malassombrado
Era aquele desse amigo,
Que ele criara no abrigo,
Desde pequeno, enjeitado.
O caso era que o danado
Só me atolava em azar,
Quando eu teimava em lhe dar
Atenção no tal recinto.
Era um terror – eu não minto! -
O corvo de Edigar.
2
Toda vez que eu me encontrava
Com aquele desgraçado,
Algum troço dava errado
E a coisa não engrenava.
O carro, que se mostrava
Funcionando sem falhar,
Pegava a” querer “ficar
No prego”, logo depois.
Que me dava azar por dois
O corvo de Edigar.
3
Ô corvo endemoniado
Era aquele impenitente!
Tinha um olhar diferente
E um crocitar engraçado.
Sempre trazia recado
Do além pra gente escutar,
Pois, era só corvejar,
Pra morrer algum vizinho.
Ia terminar sozinho
O corvo de Edigar.
4
Por vezes, ele sumia
Das vistas do meu colega...
E o povo da rua alega
Que ao cemitério ele ia.
Tinha gente que dizia
Que ele ia se transformar
Em vampiro pra chupar
O sangue coagulado
De algum recém-sepultado,
O corvo de Edigar.
5
Eita bicho intrometido!
Em tudo se apresentava...
Quando a gente conversava,
Ele vinha dar grunhido.
Fazia tanto ruído,
Que era obrigado parar
Pra ele poder falar
O que ele tava querendo.
E era um linguajar horrendo
O do corvo de Edigar.
6
Eu mesmo não me fiava
No que o povo me dizia,
Mas, bem verdade é que, um dia,
Vi uma cena que agrava...
O corvo, à frente, piava,
Numa noite de luar.
E eu, sozinho, a espreitar,
Ante exaspero (^) e afobo (^),
Vi se transformar num lobo
O corvo de Edigar.
7
Pensei ter tido um assomo
De devaneio ou delírio,
Mas não findei o martírio,
Não sabendo explicar como.
Às vezes, até retomo
A cena, que é pra tentar
O troço todo explicar,
Mas findo ainda no breu
Sem saber o que ocorreu
Co'o corvo de Edigar.
8
Até tentei exprimir
Pra o meu amigo o impasse,
Mas sempre achei sua face
Não inclinada a ouvir.
Então deixei de insistir
Em querer lhe repassar
Esse caso singular
E guardei tudo pra mim...
Talvez fosse só pantim
Do corvo de Edigar.
9
Zé Geraldo, um conhecido,
Disse pra mim, certa vez,
Que a mesma coisa ele fez,
E relatou o ocorrido.
O que tinha acontecido
Comigo, em dado lugar,
Não era mais de estranhar,
Que, diante das vistas dele,
Também transmutou-se aquele
Corvo infernal de Edigar.
10
Se ele anda se transmutando
Ainda naqueles lares,
Não sei, pois mudei de ares
E não o andei visitando.
Só tô me comunicando
Pela internet, em meu lar,
Mas, vezes, chego a pensar
Que, ao invés do meu amigo,
Quem tá “teclando” comigo
É o corvo de Edigar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário