quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Boatos que o povo conta VI

Boatos que o povo conta VI
1
Lembro que eu vi um fantasma
Quando era ainda garoto.
Eu estava no meu quarto,
Quando vi o Capiroto
Dançando lá na parede,
Pegado ao punho da rede
E abrindo um sorriso escroto.
2
Tomei logo uma atitude
Diante desse avejão.
Repreendi o danado,
Mas minha repreensão
No tinhoso causou fúria
E, aí, fiquei na lamúria
Sem ter pr'aquilo uma ação.
3
Assombrei-me e fiz carreira
Pra escapar desse bruto,
Mas o danado voou,
Devido ser mais astuto,
E me alcançou, já na porta,
Que a minh'alma ficou morta
E a minha mente sem fruto.
4
Estava fungando muito
Devido ser grande a ira,
Puxou-me por uma perna
E, aí, eu fiquei na mira
Do seu furor tumular,
Sem saber como livrar
Minh'alma da ziquizira.
5
Mas, diante desse conflito,
Do ânimo eu fiz a permuta...
Decidi tomar coragem
E enfrentar aquela luta
Naquele quarto fechado
Pra acabar co'o fungado
Daquela visão fajuta.
6
Logo, de pronto, acertei-lhe
Socos no meio das ventas.
Ela até que revidou
Com suas feições sedentas
Por sangue (e isso eu notei),
No entanto, eu me desviei
De suas pancadas lentas.
7
E dei-lhe um rabo-de-arraia
De cima do tamborete,
Depois fastei a cadeira
Pra lhe puxar o tapete
E, aí, “deite e rolei”
Na pisota que lhe dei
Sem precisar de cacete.
8
Ela, ali, ficou chorando.
Disse que iria contar
Pra o fantasma do seu pai,
Pra ele vir me pegar,
E, aí, eu me amedrontei,
Mas, mesmo assim, eu fiquei
Esperando ela ir chamar.
9
Mas, foi só ele chegar,
Pra lhe dar uma lição.
Foi me pedindo desculpas,
Já chamando a atenção
Da alma ali no meu quarto
E o espírito se viu farto
De tanta repreensão.
10
É que essa'alma era criança
Que gostava de aprontar.
Seu pai lhe deu outra pisa,
Pra ela não mais entrar
No meu quarto nunca mais.
E aparições fantasmais
Nunca mais pude avistar.

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