Boatos
que o Povo Conta
(por Felipe Amaral)
1
Na
cidade onde eu habito,
Do
solo emana um miasma
Que
provoca pestilência
Pra
qual não há cataplasma
E
o que da doença morre
Volta
à cidade e a percorre,
Vagando
como fantasma.
2
O
povo vive dizendo
Que
um horror espectral,
À
noite, torna a cidade
Um
caos espiritual.
E
há quem diga que não dorme
Com
a zoada disforme
Da
conversa fantasmal.
3
Tem
um assombro num beco
Que
assusta criança e adulto.
Dizem
que esse é um espírito
De
um indigente insepulto
Que
a população, adrede (^),
Deixou
passar fome e sede
E
agora avista o seu vulto.
4
Na
praça tem um espectro
Que
o povo chama abantesma.
Antes
era mais tranquila
E
hoje não é mais a mesma,
Pois
tem uma fantasmada
Que
anda ali pela calçada
Se
arrastando feito lesma.
5
Na
rua da escola Arnaldo
Também
habita um espanto
De
uma mulher que passeia,
Toda
coberta co'um manto,
E
assombra o povo que passa
Que,
quando avista a desgraça,
“Se
manda” daquele canto.
6
Tem
algo no Centenário –
Este,
uma antiga estalagem
Da
estrada do cemitério –
Onde
se avista a imagem
De
uma mulher que morreu,
No
entanto, nunca mais, eu
Avistei
essa visagem.
7
Na
rodoviária tem
Algo
que me deixa eufórico.
É
que eu já fui lá e vi
O
vulto fantasmagórico
De
um motorista (eu confesso!)
Que
trabalhou na Progresso,
Mas
já findou seu histórico.
8
Também
tem uma travessa (´)
Lá
detrás da prefeitura
Onde
reside um fantasma.
E
quem relata até jura
De
pés juntos que avistou
Esse
espanto e se assustou
Co'essa
criatura impura.
9
E
até nessa praça nova
O
povo já viu visonha.
Fica
ela vizinho à Câmara –
Que
é também muito medonha! –
Almas
se sentam nos bancos,
Contam-me
os relatos francos,
Mas
ir ver ninguém nem sonha.
10
Do
beco do cemitério
Eu
já peguei fui um trauma.
Já
vi tanta da marmota,
Que
até já perdi a calma.
De
coragem tô escasso,
Por
isso ali eu não passo,
Que
é pra 'evitar ver mais alma.
11
Tem
gente que me relata
Que
já se encontrou co'o Cão
Na
descida da ladeira
Da
rua de Zé Bolão
E
agora não quer passar,
Que
é só pra não se encontrar
Com
a mesma assombração.
12
Na
estrada da Borborema
Dizem
topar co'o crispim.
Os
motoristas relatam
Baterem
co'o Coisa-ruim
Tem
quem diz, como convinha,
Que
não faz mais essa linha
Pra
não topar co'o “Cãím”.
13
No
caminho pra'Água Branca –
Parece
até ser quimera –
Muitos
mototaxistas
Alegam
que a Besta-fera
Aparece
na jornada.
Dizem
que naquela estrada
É
o Tinhoso que impera.
14
Até
tem quem me relate
Que
já brigou co'o Rabudo.
Deu-lhe
umas tapas nas ventas,
Ao
entrar no'embate agudo,
E
acordou desacordado,
No
meio do asfalto, achado
Desorientado
de tudo.
15
Findo
aqui este registro,
Abrindo
espaço pra mais
Contos
sinistros de gente
Que
viu seres infernais
E
viveram pra contar
Aos
que param pra'escutar
Casos
sobrenaturais.
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