Boatos
que o povo conta V
(A
Perseguição do "morto")
1
Fui
andar na rua, à noite,
E
avistei um papa-gente
Das
pernas desconjuntadas.
E
esse ser evanescente
Arrastou-se
atrás de mim
E,
embora eu corresse, ao fim,
Não
escapei desse ente.
2
Corri
pra uma floresta,
E
me acocorei na'alfombra.
O
medo era tão profundo
Que
me causava até “lombra”.
Via
a coisa já me vendo,
E,
nem andando ou correndo,
Me
afastava dessa sombra.
3
Até
fiz uma oração
Ali
perto duma grota
E
esperei que desse certo,
Mas,
aí, vi uma frota
De
espírito dali saindo
E
corri, escapulindo,
Ali
daquela marmota.
4
Ainda
estando ofegante,
Longe
da pirilampagem,
Fui
ligeiro à minha casa,
Mas
achei a mesma imagem
Lá
na minha residência
E,
então, corri com urgência
Pra
escapar da visagem.
5
Fui
à casa de um amigo
Pra
findar meu desconforto,
Mas,
lá, também vi o mesmo
Abantesma
andando torto,
Se
arrastando atrás de mim
E
pensei não ter mais fim
A
perseguição do “morto”.
6
Meu
amigo acompanhou-me
Também
vendo o avejão,
Mas
bem mais descontraído,
Fazendo
até irrisão
Dessa'alma
desencarnada,
Fotografando
a danada
Da
peste da'aparição.
7
E
eu correndo da mutreta
Ali
sem ter acalanto...
Mas,
quanto mais eu corria,
Não
constatava adianto
Na
tarefa de correr,
Que
ainda podia ver
A
“miséra” do espanto.
8
Até
me perdi do amigo
E,
aí, não tive mais gozo,
Que
estava, de novo, só,
Correndo
desse espantoso
Fantasma
que se arrastava...
Porém,
nunca se afastava
De
mim esse ente assombroso.
9
Gritei
a todo pulmão
Ali
por toda a cidade,
Porém
ninguém me escutava.
E
a peste da'assombridade
Ficava
ainda mais perto...
E,
quando o perigo é certo,
A
esperança se evade.
10
Fiquei
sem ter reação,
Quando
cansei de dar grito.
Foi,
então, que ouvi um guarda
Noturno
dando um apito,
Aí,
eu tomei coragem
E
apontei lá pra visagem,
Mesmo
ainda estando aflito.
11
O
guarda viu a visonha
E
sentiu um calafrio,
Deu
um grito e se afastou,
E,
alma dando assovio,
Respondendo
às apitadas
Que
pelo mesmo eram dadas
Nesse
ambiente sombrio...
12
Sendo
assim, ao ver o guarda,
Naquele
excedente horário,
Correr
pra pedir reforço,
Eu
não vi nada de hilário,
Mas
o fantasma, na via,
Dava
assovio e abria
Um
sorriso mortuário.
13
Minha
sorte foi que o dia
Já
clareava e a mutreta,
Por
gostar de escuridão,
Tornou
pra sua valeta.
E
eu, afinal, descansei
E,
nunca mais me encontrei
A
ver de espírito a faceta.
14
Voltei
pra igreja que havia
Frente
à minha habitação.
Nunca
mais me desviei
Do
caminho do perdão.
E,
hoje, só vivo na'igreja,
Dizendo
“louvado seja
O
Deus que salva o cristão”!
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