Boatos
que o Povo Conta II
(por
Felipe Amaral)
1
Eu
fui inventar de ir,
Em
noite de sexta-feira,
À
praça do cemitério
E
avistei uma caveira...
Não
vou mais nessa “grenguena”!
Que
só de pensar na cena,
Chega
a me dar tremedeira.
2
Eu
sei de outro que, ali,
Deu
também co'um esqueleto.
Foi
Zeto da Cachoeira
Que
topou co'o Bicho Preto.
Não
vou mais naquela praça
Pra
não ver essa desgraça,
Que
esse erro eu não cometo.
3
Zé
de Aparício me disse
Que
já topou co'um capeta.
Mas
foi na frente do fórum
Que
ele avistou o canheta,
Andando
todo arrastado.
E
tem um medo danado
Só
de lembrar da mutreta.
4
Tem
gente aqui em Tabira
Que
resolveu dar um giro
Na
sexta, lá pelas onze,
Mas
da rua fez retiro
Após
“pegar”, na calada,
Velhote
em encruzilhada
Se
transformando em vampiro.
5
Digo
que aqui em Tabira
Tem
gente que se abestalha,
Quando
visita a cidade
E
pela rua se espalha.
Na
madruga faz tumulto,
Depois
acaba sepulto,
Por
ver a rasga-mortalha.
6
Do
povo que narra os fatos
Suas
razões não se somem.
De
mulher virando bruxa
E
homem virar lobisomem
Encheu-se
a noite. E o mister
É
ver mulher ser mulher
E
homem ser mesmo homem.
7
Tem
muito vulto em Tabira
Em
cada casa e sobrado.
Dizem
que a câmara é maldita
E
o fórum, malassombrado.
Do
medo eu não me liberto,
Por
isso eu não vou nem perto,
Que
de vulto eu não me agrado.
8
Esses
relatos daqui
Pesam
demais em meus ombros.
Há
quem diga que vê vulto
Em
toda casa, em escombros.
Sábio
é quem reconsidera
Ideia
de olhar tapera,
Que
é pra não ver malassombros.
9
Também,
pra mim, já disseram
Que
tem vulto na cadeia.
Talvez
de presos que outrora
Morreram
levando peia.
E,
embora ninguém se afoite,
Quem
ali “tira pernoite”
Diz
que a cadeia tá cheia.
10
De
frente da prefeitura
Também
tem alma vagante.
Só
que o espírito se esvai
De
uma forma interessante:
Só
é olhar pro danado,
Que
ele some esfumaçado,
“Se
encanta” no mesmo instante.
11
Dona
Juleuza do Brejo,
Neta
de Zé de Dijalma,
Diz
que o bairro João Cordeiro
Também
só lhe causa trauma.
Nem
pode dormir direito
Com
o barulho que é feito
Lá
co'a conversa “das alma”.
12
Dizem
que no Barro Branco
Também
escutam risada
De
espírito desencarnado
Falando
co'alma penada.
E
é tão bagunceira a turma
Que
não tem “fébe” quem durma
Com
tanta da gargalhada.
13
No
Barro Vermelho tinha
Um
vulto que, o dia inteiro,
“Dava
de” fazer visita
Ao
povo, sem paradeiro.
Talvez,
uma'alma num drama
Daquelas
que o povo chama
De
espírito forasteiro.
14
Caso
é que aqui em Tabira
Tem
muita'alma de defunto
Vagueando
à meia-noite,
Que
dá pra fazer conjunto.
Já
ouvi, por perguntar,
Tanta
história de assustar,
Que
eu, agora, nem pergunto.
15
Ouvi
do filho de Enoque,
Que
vive vendo visagem.
Do
irmão de Zé de Zuleide,
Que
anda vendo a mesma imagem.
É
tanto vulto com eles
Que,
quando eu vou ao lar deles,
Eu
só passo de passagem.
16
Peço,
por amor “dos guarda”,
Que
em casos ninguém me ponha,
Que
eu não gosto de fantasma,
Alma,
vulto, nem visonha.
E,
embora até possa “crer”,
Faço
tudo pra me ver
Longe
de coisa medonha.
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