quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Boatos que o Povo Conta II (por Felipe Amaral)

Boatos que o Povo Conta II
(por Felipe Amaral)
1
Eu fui inventar de ir,
Em noite de sexta-feira,
À praça do cemitério
E avistei uma caveira...
Não vou mais nessa “grenguena”!
Que só de pensar na cena,
Chega a me dar tremedeira.
2
Eu sei de outro que, ali,
Deu também co'um esqueleto.
Foi Zeto da Cachoeira
Que topou co'o Bicho Preto.
Não vou mais naquela praça
Pra não ver essa desgraça,
Que esse erro eu não cometo.
3
Zé de Aparício me disse
Que já topou co'um capeta.
Mas foi na frente do fórum
Que ele avistou o canheta,
Andando todo arrastado.
E tem um medo danado
Só de lembrar da mutreta.
4
Tem gente aqui em Tabira
Que resolveu dar um giro
Na sexta, lá pelas onze,
Mas da rua fez retiro
Após “pegar”, na calada,
Velhote em encruzilhada
Se transformando em vampiro.
5
Digo que aqui em Tabira
Tem gente que se abestalha,
Quando visita a cidade
E pela rua se espalha.
Na madruga faz tumulto,
Depois acaba sepulto,
Por ver a rasga-mortalha.
6
Do povo que narra os fatos
Suas razões não se somem.
De mulher virando bruxa
E homem virar lobisomem
Encheu-se a noite. E o mister
É ver mulher ser mulher
E homem ser mesmo homem.
7
Tem muito vulto em Tabira
Em cada casa e sobrado.
Dizem que a câmara é maldita
E o fórum, malassombrado.
Do medo eu não me liberto,
Por isso eu não vou nem perto,
Que de vulto eu não me agrado.
8
Esses relatos daqui
Pesam demais em meus ombros.
Há quem diga que vê vulto
Em toda casa, em escombros.
Sábio é quem reconsidera
Ideia de olhar tapera,
Que é pra não ver malassombros.
9
Também, pra mim, já disseram
Que tem vulto na cadeia.
Talvez de presos que outrora
Morreram levando peia.
E, embora ninguém se afoite,
Quem ali “tira pernoite”
Diz que a cadeia tá cheia.
10
De frente da prefeitura
Também tem alma vagante.
Só que o espírito se esvai
De uma forma interessante:
Só é olhar pro danado,
Que ele some esfumaçado,
Se encanta” no mesmo instante.
11
Dona Juleuza do Brejo,
Neta de Zé de Dijalma,
Diz que o bairro João Cordeiro
Também só lhe causa trauma.
Nem pode dormir direito
Com o barulho que é feito
Lá co'a conversa “das alma”.
12
Dizem que no Barro Branco
Também escutam risada
De espírito desencarnado
Falando co'alma penada.
E é tão bagunceira a turma
Que não tem “fébe” quem durma
Com tanta da gargalhada.
13
No Barro Vermelho tinha
Um vulto que, o dia inteiro,
Dava de” fazer visita
Ao povo, sem paradeiro.
Talvez, uma'alma num drama
Daquelas que o povo chama
De espírito forasteiro.
14
Caso é que aqui em Tabira
Tem muita'alma de defunto
Vagueando à meia-noite,
Que dá pra fazer conjunto.
Já ouvi, por perguntar,
Tanta história de assustar,
Que eu, agora, nem pergunto.
15
Ouvi do filho de Enoque,
Que vive vendo visagem.
Do irmão de Zé de Zuleide,
Que anda vendo a mesma imagem.
É tanto vulto com eles
Que, quando eu vou ao lar deles,
Eu só passo de passagem.
16
Peço, por amor “dos guarda”,
Que em casos ninguém me ponha,
Que eu não gosto de fantasma,
Alma, vulto, nem visonha.
E, embora até possa “crer”,
Faço tudo pra me ver
Longe de coisa medonha.


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