Sonetos
em “Ais”
Por
Felipe Amaral
1
Sou
da noite soturna um serviçal.
Peregrino
entre valas sepulcrais,
Catacúmbicas
covas em que o sal
Degenera
os defuntos humanais.
Vou
à rua à procura da caudal
De
ilusões mortuárias e ferais
Que
parecem tomar, em seu total,
As
centrais avenidas colossais.
Sorvo
o medo que o ar abantesmal
Traz
à tona, no urbano ritual...
E
os sorrisos desfazem-se ante o cais...
Gritos
há que se escutem no local.
O
terror manifesta-se letal.
E
a moléstia viral ceifa os mortais.
2
Há
um lobo na rua lateral
Que
devora os mais belos ideais,
Ao
trazer zombaria sem igual
Aos
que, em vida, anteveem seus finais.
Ouço
a voz de uma larva fantasmal
Que
se roja no chão das catedrais.
Diz
que o fim está próximo e que o mal
Já
selou suas vis credenciais.
Não
há nada a fazer. O temporal
Sobrevém.
E a discórdia universal
Constitui-se
já parte dos sinais.
Eis
o quadro da morte! Eis o real
Panorama
atual! Vede o infernal
Monstro
capro em sorrisos triunfais!...
3
Lodo
vil: a chacina figadal
Que
se espalha nas chãs sacramentais.
Lamaçal
de aparência sem igual.
Vala
podre. Putrefações dos sais.
Ares
de hálito sujo e feretral.
Cripta
escura onde os restos corporais
Decompõem-se
e exalam gás mortal
Em
sutis fogos-fátuos viscerais.
Quando
a noite retumba no portal
Da
calada, o temor, como um punhal
Transpassante,
perfura órgãos vitais.
Salivando,
o terror concede o aval
Pra
que o mal aziago e sepulcral
Sorva
a vida das almas virginais.
4
O
prodígio do medo em funeral
De
sorrisos passados nos quintais
Da'alegria
mais límpida e vestal
Vaticina
hora sobrenatural.
Chega
o tempo em que a morte pontual
Chega
para sorver do ser as tais
Alegrias
da vida e pôr final
Nos
momentos que tem por seus rivais.
Tomba
o corpo no báratro abismal.
Vermes
sentem da carne o ar mortal.
Larvas
comem do morto as carnes tais.
Tapurus,
que se nutrem da letal
Hecatombe,
na seiva intravenal,
Dessedentam
desejos diabrais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário