quinta-feira, 28 de maio de 2015

5 Sonetos à Plebe Podre - Felipe Amaral

Sonetos Mórbidos - Felipe Amaral
1
Rua escura por onde passarão
Abantesmas de aspecto insalutar.
O negrume do caos a se espalhar
Pelas horas noturnas da amplidão.

Rua capra da qual advirão
Os fantasmas do povo inexemplar
Que em tropel dilapida a singular
Cortesia das horas que se vão.

Esse povo tem n'alma vermes vis.
Suas veias são cheias dos hostis
Gins laudânicos do atro abismo escuro.

Há no espírito dessa gente o nojo
Que apostema o viver, preso no bojo
Do existir mais revel e mais impuro.

2
Caminhando perante a multidão,
Só encontro imbecis e filisteus.
Quero a paz, mas a luz dos dias meus
Apagada é por tais que fiz menção.

Só espero da corja a ingratidão,
O desprezo e o desmando em apogeus.
Não há nada de novo nesses seus
Descaminhos de atroz devassidão!

Transformar essa gente é impossível.
É a malta que à lama (e é bem visível!),
Espojando-se, grunhe e faz careta.

Não há mente que pense. Não há bem,
Só, a sede por lodo que advém
Do palácio e deságua na sarjeta.

3
Meu lugar é com' os corvos crocitantes.
Que o negrume dos tais não faz-se impuro
Frente ao líquido azedo e assaz escuro
Que provém do viver desses andantes.

Mesmo as aves mais aterrorizantes
Não merecem do povo o esconjuro,
Pois que as mãos desse povo odioso e duro
Estão cheias de nódoas degradantes.

Quem preside é um néscio. O que advoga
É um podre. E o que está por trás da toga
Do juízo, não julga como apraz.

São cadáveres vivos que caminham.
São imundos defuntos que abespinham
Os honestos que vão aos tribunais.

4
Nessa vala feral chamada urbe 
O que vejo é a vã promiscuidade.
E esse lodo que escorre da cidade
Faz deveras que eu brade e me perturbe.

Que o inferno se ire, mova e turbe
Pra tragar esses servos da vaidade.
Que eu consiga um silêncio de verdade
Pra dormir sem que à noite eu me conturbe.

Abre a boca, sepulcro aterrador.
Eis o povo que aguardas. Por favor,
Põe a limpo o teor das discussões.

Desinfecta do mundo o chão sublime
Pra que eu possa sorrir, vendo que o crime
Jaz no cárcere atroz dos teus grilhões.

5

Sou da noite louçã cortejador.
Sou dos versos, das pautas, do prazer...
Sou poeta que preza o bem-viver.
Sou cantor dos amores. Sou cantor.

O que busco é seguir sem ver a dor
Que destrói da ventura o riso e o ser.
O que quero é sorrir  e conhecer
Mais e mais da alegria e do amor.

Não me impeça de ter o que me foi
Outorgado por Deus. Que Ele perdoe,
Se hoje arrependimento seu houver.

Vê! A noite me chama calmamente!
É a vida que pulsa novamente!
E é mister fazer dela o meu affair (afér).

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