quarta-feira, 3 de outubro de 2012

A “visão” de “Lobizuma”

Avisos: Podem surgir erros por falta de atenção. Perdoem-me. Avisem-me e corrigirei posteriormente. Boa leitura!

A “visão” de “Lobizuma”

1
Em noites de lua cheia
Impera uma sensação
De tremenda insegurança
Que transmite a impressão
De que algo sobrecomum
Paira na imensidão.
2
E em idêntica ocasião
Estava eu a passear
Pelas ruas da cidade
A fim de desopilar.
E, ao encontrar uns amigos,
Parei para conversar.
3
Comecei a papear
Devido à situação
Ser propícia para um “papo”
Cheio de descontração...
E fui das oito da noite
Às dez naquele rojão.
4
E em patente empolgação,
Ali, deixei-me levar
Pela tal conversação
Sem co’as horas me importar...
Até notar cada amigo
A querer se dispersar.
5
Só após averiguar
Das horas a marcação,
Convenci-me já ser tarde
Pra dar continuação
Àquele “papo” e optei
Pela finalização.
6
Ao apertar cada mão,
Despedi-me do lugar
Fazendo lenta partida
A fim de chegar ao lar.
Mas, no caminho, eu senti
Algo de estranho no ar.
7
Havia algo a me cercar
De medo e de indecisão.
Mas o “danado” é que eu
Não lhe notava a feição.
Então decidi por ter
Aquilo por algo vão.
8
Dando continuação
À caminhada sem par,
Resolvi tranqüilizar-me,
Já que era mais salutar
Que recear algum “troço”
Que eu não podia enxergar.
9
Só que eu, ao me deparar
Co’uma estranha aparição,
Deliberei recear
Outra vez... Mas com razão!
Posto que, “agora”, do fato
Detinha a comprovação.
10
Aquela estranha “visão”
Era algo sem similar:
Tinha aparência de gente
Co’um aspecto cavalar;
Um corpanzil de chacal
E um ronronar de um jaguar.
11
Ousei até cogitar
Ser uma alucinação.
Mas o “danado” do mostro
Mostrou de novo a feição,
Se escafedendo do jeito
Da primeira ocasião.
12
Deu-me uma má digestão
E o bucho “pegou” a’inchar...
A sorte foi que umas moitas
Havia em dado lugar.
Corri e, então, prontamente,
“Me acocorei” pra cagar.
13
Após passar o azar
Daquela má digestão,
Já com as calças vestidas,
Eu, naquela ocasião,
Já não via mais saída
Pr’aquela situação.
14
Usei a’imaginação
Pra tentar solucionar
Aquele impasse “medonho”
Que veio a se apresentar,
Mas não achei solução
Que ali pudesse encontrar.
15
O jeito foi conformar
A mente e o coração
Para, com diplomacia,
Ver se haveria uma ação
Que, em comum, solucionasse
Aquela amotinação.
16
Diante do rosnar do cão,
Não distante, a me encarar,
Pus-me em determinação
De tentar me aproximar
Para encetar um diálogo
Co’aquele ser singular.
17
- Ó ente peculiar,
Dai-me a vossa permissão
Para que nós resolvamos
A dada situação
Ao vislumbrarmos um meio
De pormos fim à questão.
18
Proferia a petição
À medida que, ao andar,
“Me aproximava” do monstro,
Ali, a “resfolegar”...
E, da forma mais cortês,
Pra não o’ encolerizar.
19
Mas testemunha ocular
Fui de um fato “sem noção”...
Pois não é que o tal monstrengo
De tão horrenda feição
Transfigurou-se em um lorde
E “fez-me” uma inquirição!
20
- Ó plebeu cuja instrução
Suplanta o’escopo escolar,
Dizei-me, vós de outras plagas,
Em que gleba haveis de estar?
Em que átrios vós assistis?
Que local tendes por lar?
21
Antes de algo explicitar
Com fineza e educação,
Olhei-o de cima a baixo
Para uma averiguação
Dos detalhes mais discretos
Da sua veste em questão.
22
Ele, à mão, tinha um bastão,
Uma vergasta exemplar.
Sobre a cabeça, a cartola,
Em tudo protocolar.
E, em frente os olhos, nasóculos
Camuflando-lhe o olhar.
23
Bem na perpendicular
Tinha os pés, em posição
Em que cada calcanhar
Toca no outro, em junção
Que dificulta o equilíbrio
Devido à mesma união.
24
Precisei co’exatidão
A idade secular
Dessa sua indumentária,
Para mim, familiar
Só por assistir a filmes
Que ainda a vêm retratar.
25
O aspecto particular
Deu-me a exata impressão,
A julgar pelos babados
Quase a lhe cobrir a mão,
Que do século dezessete
Era o seu terno em questão.
26
- Ó ser de rara visão,
Esta gleba é o meu lar.
Respondi-lhe finamente,
Ao contemplar-lhe o olhar.
E ele, em dúvida, retrucou
Ainda a me questionar:
27
- Se sois vós um popular
Que nesta plaga em questão
Habitais há longos anos,
Dizei-me qual a razão
De eu nunca vos ter achado
Em natural região?
28
- Bem... À vossa inquirição
Faz-se boa e salutar.
Na verdade, eu não costumo
A estas horas andar,
Porque me assusta o escuro
E me intimida o luar.
29
- Falai-me, ó ente solar,
Por que a noturna incursão
Traz-vos tanto desespero,
Temor e exasperação?
Ó, vos evoco, falai-me
O porquê desta asserção!
30
- Bem... Esperai-me... Perdão...
Com “Ó” hei de começar!
Ó lorde dos séculos idos,
Hei-vos de pronunciar
O porquê do meu passeio
Tão tarde nunca se dar!
31
- Ó... É por que o lugar
Onde faço habitação
É distante pra “cachorro”...
E ainda existe a razão
De eu não querer me topar
Com nenhuma assombração.
32
- Sois vós, ó transmutação,
Também um cão a vagar?
Como eu, sois um lobisomem
Cativo da luz lunar?
Pois pra cachorro é distante
O que o venha humanizar.
33
- Ó lobisomem lunar,
O sol é minha prisão.
- Quereis dizer que vós sois
De “uma outra” espécie de cão?
Dizei-me, então, qual a tua
Diabólica maldição.
34
- “Pra cachorro” é expressão
Que aqui se costuma usar.
Tá na hora de você
Transmutar o linguajar,
Por que falar na segunda
Do plural é “de lascar!”.
35
- Ó ser, vos hei de narrar
Minha horrenda maldição.
Sou filho de Montezuma,
Filho de “uma outra” nação.
Hernán Cortés condenou-me
À tão vil execração.
35
- Pergunto: Por que razão
Você fala um linguajar
De um Portugal seiscentista
E não um do “teu” lugar?
Pois não é “Tenoctitlan”
A capital do “teu” lar?
36
- Ó criatura vulgar,
Não tendes mera noção
Do que falais. Ó mortal,
Perdi a minha nação.
E vivo como um anátema
Vagando sem direção.
37
Nesta hora o falastrão
Pôs-se a se encolerizar.
Rasgou toda a sua veste
E começou a uivar.
“Aí”, eu corri com medo
Pra tentar me resguardar.
38
Pra minha sorte, ou azar,
Apareceu ante o vão
Outro ser inveterado
Com uma vergasta à mão.
Parecia o conde Drácula.
Fui olhar. Não era não.
39
A lua caiu no chão.
O asfalto virou pomar.
As estelas se apagaram.
A treva pôs-se a brilhar.
E o sol caiu e “apagou-se”
Dentro das águas do mar.
40
Um círculo triangular
Viu-se na’imediação.
Apareceu uma múmia
Co’esparadrapo na mão.
E uma jumenta parida
Aterrissou em Plutão.
41
Perante tal incursão,
Eu “me danei” gritar.
“Meti o pau” a correr,
Tentando encontrar lugar,
Mas um morcego gigante
Pegou-me e não quis largar.
42
Jogou-me em Madagascar
E alguém, numa imprecação,
Lançou-me um “papo” qualquer
E, numa transmutação,
Transformei-me em lobisomem
Pra assombrar a nação.
43
- Ó vós que esta narração
Ouvistes sem mal-estar
Ou lestes em lauda branca,
Queirais vir-me auxiliar,
Porque falar deste modo
É revel e eu me incomodo,
Pois não é coisa usual.
À licantropia aberto,
Co’os lobisomens me acerto,
Mas só quero ser liberto
Da segunda do plural.


Autor: Felipe Amaral

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