sábado, 27 de outubro de 2012

Ninguém consegue escapar / Dos caprichos da paixão.

Ninguém consegue escapar
Dos caprichos da paixão.
1
A gente vive a mercê
Dos sentimentos que tem.
Os quais nos fazem refém
De algemas que não se vê.
Sem se entender o porquê,
Damo-nos à ilusão
De crer que tal emoção
Vem para nos libertar.
Ninguém consegue escapar
Dos caprichos da paixão.
2
A mente se desespera
Para entregar-se às algemas.
Finda afogada em dilemas;
Morre, ao nutrir a quimera...
Que a paixão em todos gera
Atitudes sem razão,
E a mente perde a noção
Do risco de se entregar.
Ninguém consegue escapar
Dos caprichos da paixão.
3
Todo ser humano chora...
Sua condição lastima...
Visto que superestima
Outro ser que não lhe adora.
A veneração implora,
Mas não há veneração;
Implora a libertação,
Mas insta em se aprisionar.
Ninguém consegue escapar
Dos caprichos da paixão.
4
Seus olhos se maravilham,
Sua imaginação voa,
Idolatrando a pessoa
Da qual não se desvencilham.
O rumo que seus pés trilham
Leva-o sempre em direção
A quem não mostra afeição
Ao brilho do seu olhar.
Ninguém consegue escapar
Dos caprichos da paixão.
5
A atração nos atrai
Para'a'armadilha da vida.
E a caça se consolida
Numa vida que se esvai.
Todo humano se distrai
Co'o tipo de diversão
Que o enclausura em um vão
Motivo de festejar.
Ninguém consegue escapar
Dos caprichos da paixão.
6
Todo ser é suicida,
Porque sempre se encarcera
No que pensa ser só mera
Emoção fugaz da vida.
E, ao fim, vê-se na ermida
Suplicando em oração
A liberdade que não
Quer, na verdade, aceitar.
Ninguém consegue escapar
Dos caprichos da paixão.
7
É o ser um sofredor
Que sente prazer no choro.
No riso não vê decoro,
Vendo decoro na dor.
É tolo, mas é doutor
Em matéria de ilusão,
Pois se entrega à decisão
De evitar não se entregar.
Ninguém consegue escapar
Dos caprichos da paixão.
8
A vida do apaixonado
É vã e irracional.
Parece sã, é mortal;
Parece alva, é de pecado...
Peca por trazer agrado
Que engana o seu coração,
Furtando à satisfação
A paz de se libertar.
Ninguém consegue escapar
Dos caprichos da paixão.
9
Cada canção é um erro;
Cada poema, um deslize;
Cada fala, uma reprise
De dor oculta em aferro.
Pois tudo, tudo é desterro
Do chão da paz para o chão
Do engano e da frustração
Pra nunca mais regressar.
Ninguém consegue escapar
Dos caprichos da paixão.

Autor: Roberto Felipe Amaral - RF Amaral

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