sexta-feira, 11 de setembro de 2015

U Véi do Beco do Arnaldo - Por Felipe Amaral


U Véi do Beco do Arnaldo
Por Felipe Amaral
1
Em Tabira há uma istóra
Que o povo conta na rua
De um véi que sai de noitinha,
Já no quilaro da lua,
Pra assustá as pessoa,
Que acha de passá à toa
Lá no beco dessa escola.
Ele se vira em cachorro,
Sobe morro e desce morro,
Dispois avôa e se evola.
2
Sá Bernadete de Donga
Já me contô do fantasma.
Ela tava ali, passano,
Quando ficô de aima pasma
Cum essa visão terrive.
O véi tinha a cara horrive
E os dente tudo aguçado.
Correu pra cima de Berna
E agarrô-la pelas perna.
Le dano um susto danado.
3
Már, dispois desse agarrão,
Pu sorte, sortô-le os pé.
Aí, ela se apressô,
Correu, fazeno banzé,
E todo mundo iscutô.
Zé de Inoque até chegô
Pra ajudá a bendita,
Mas, chegano, num viu nada,
Que o fantasma, im debandada,
Fugiu de fóima isquisita.
4
Ninguém sabia ispricá
O qué que tinha ocurrido,
Intão fôro tudo imbora
E o caso foi isquicido…
Até que, um dia, Mané,
Sôgo de Dona Izabé,
Viu u véi no mêrmo canto
Fumano um pacai de paia,
Correno cuma navaia
E isso causô-le ispanto.
5
O caso é que o tá do véi
Vuava um paimo do chão
E se muvia cum tanta,
Tanta da aceleração
Que num tem hôme que pegue -
Nem besta, pôrdo, nem jegue
Curria daquele jeito!
Már quando chegô lá perto,
Se evolô no céu aberto,
Que nem Mané viu direito.
6
Coisa pu coisa, o que importa
É que o beco é assombrado.
Num passe lá de noitinha
Pra num baté cum danado,
Que o troço é discunhicido,
Ataca muié, marido,
Fii, genro, nora e subrin.
É mió mantê distança
Que infrentá aquela istança
E batê cum coisa-ruim.
7
Um dia desses, Zuleide,
Subrinha de seu Tunico,
Num acreditano em nada,
Risorveu abri o bico.
Dixe que aquilo era troça
E acho que o Cão que se apossa
Daquele beco iscutô.
Quando ela passô á noite,
Levô nas costa um açoite
Que quage mijô da dô.
8
Saiu gritano no beco,
Sem ninguém pra le acudi.
E o fantasma cum chicote,
Correno e dano assuvi.
U istalado de chibata
Inda se uviu nessa data,
Mas ninguém deu atenção.
Inda bem que ela iscapô
E o bicho se isvuaçô
Pr’ôta localização.
9
Dispois disso, nem pastô
Nem pade disacredita.
Todo mundo evita o beco,
Pruque u que num evita
Sofre da aima tinhosa
Persiguição assombrosa
Que num tem reza que acabe.
Mió circundá pur ôto
Lugá pra num vê u iscrôto,
Antes que a coisa disabe.
10
Já faz uns dez, onze ano
Que os negóço acunticeu.
De lá pra cá, nunca mais
O mêrmo fato ocorreu.
Már eu, que num só de ferro,
Evito carrêra e berro
Onde o vento dá de açoite.
Que eu num nasci pra “pacheco”:
Num qué vê o véi do beco?
Num passe no beco á noite!


Autor: Roberto Felipe Amaral

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