sábado, 12 de setembro de 2015

U Assombramento da Praça (A Visão do Inferno De Dante) - Por Felipe Amaral


U Assombramento da Praça
Por Felipe Amaral
1
No dia nove do sete
Do ano de noventa e três,
Eu fui passá pela praça,
Repasso a todos vocês,
Já era de madrugada,
Topei cuma’ aima penada
Se virano im lubizômi.
Nu’iniço era inguál a gente,
Dispois passô de serpente
Pra’ argo que eu nem sei dá nome.
2
Se arrastava pelo chão
Quá cara toda invergada.
Se conturcia dum jeito
Que ár mão ficava virada.
Tinha os pé chein de pêlo,
No côipo tanto cabelo
Que num sei nem a que ponto...
Uma mistura de fera,
De lubizômi e pantera
Que eu nem sei cumé que conto.
3
O bicho pegô uivano
E, cum pôco, a cachorrada
Tava todinha ali perto
E a praça já rudiada.
Era tanto do cadélo,
Que a contage eu nem revelo
Pra num passá pu mintira.
E eu ali no mêi do lote,
Já cum medo do magote,
Tumado de ziquizira.
4
Apariceu-se ôtos troço
Virado no “mói de quento”
E eu sem pudê nem corrê,
Preso na praça, ali dento.
Até lembrei do “Pai-Nosso” -
Mas, cum barui eu num posso
Me cuncentrá na’oração.
Dicidi ficá calado,
Já veno o piso babado,
Foimano pôça no chão.
5
Intão a tá critura,
Queu num sei nem discrevê,
Cumeçô falá cumigo
E eu arrispondi sem crê…
Que aquilo era um troço estrãi,
Tinha um linguajá mêi fãi
Cum fungado de nariz…
A coisa era muito fêa.
Chega o côipo se arrupêa
Só de pensá na’infiliz.
6
Dixe pra mim: - Você, hoje,
Vai pu’inferno, cidadão!
Eu arrispondi: - Discurpe,
Már hoje eu num posso não.
Tenho uns troço a risorvê.
Nôto dia, pode sê,
Már hoje, tá compricado.
Nem avisei a famia.
Fica pra um ôto dia.
Desde já, muito obrigado!
7
O bicho, intão, se irritô
Ante a justificativa.
“Meteu o pau” a rosná,
Cuns ói já im brasa viva.
Dixe: - Você vai quá gente!
Eu dixe, educadamente:
“Seu bicho”, é que num dá não!
Fosse, ao meno, feriado,
Eu ia, cum todo agrado,
Visitá a região!
8
Nessa hora, o bicho pegô-me
Pela “gargola” e puxô.
Nóis entremo pelo chão,
Que, logo, se iscancarô.
Aí eu fui cunhicê
Quá era o tipo de sê
Que habitava aquela “praça”.
A cachorrada fui junto
E mais um mói de difunto,
Que era um cambôi da disgraça!
9
Chegano lá, incontrei
Cum Tunico Trapacêro,
Cum Zé Dadô de Calote,
Cum Arfredo Trambiquêro…
Pulítco, tinha de lote,
Que arreparei o magote,
Nadano no chumbo quente.
Era tanto desse lodo,
Que eu pensei que’o’inferno todo
Só era só pressa gente.
10
Do Senado e do Congresso,
Tinha a corja toda quage.
De presidente daqui,
Perdi até a contage.
Passei lá um dia intêro
Contano pulitiquêro
No chumbo quente queimano.
Era tanto salafráro,
Que eu excidíi o horáro
Que eu era pra tá vortano.
11
Adispois dessa viage,
Agradici o fantasma,
Que foi me dexá de carro
Invôrto de “equitoplasma”.
Saí e me dispidi
E ele dixe que prali,
Quando eu morrê, num iria.
Que só me levô pra lá
Preu pudê arrepará
Quá era o povo que ia.
12
Dixe preu falá pru povo
Que correligionáro
De pulítco inganadô
Tem esse destinatáro
Bem como é cum seu patrão,
Que róba e mata a nação
Cum ação discomedida.
E, ali, pru meu interesse,
Falô que prum traste desse
A viage é só de ida.

Autor: Roberto Felipe Amaral




Nenhum comentário:

Postar um comentário