Roberto Felipe M. L. do Amaral
Programa “Histórias de Cemitério”
Fade In...
Entra a trilha sonora terrorífica...
Zé Zumbi (Felipe Amaral) - Histórias de Cemitério
- Larvas rastejam no lodo
Sepulcral da catacumba...
Eis o medo cataléptico
Que se levanta da tumba!
Boca de praga raivosa
A vociferar ruidosa
Ante o negror deletério.
Ergue-te tu, ó caveira
Da colossal esterqueira
Do fosso do cemitério!
João Finado (João Carlos Nogueira)
- Ó Zé Zumbi, ser mortígeno,
Ao teu servo mortuário
Um minuto aqui conceda
Conforme me é necessário.
Clamo aos temores da cova
Que me facultem a prova
D’aura funesta em mistério...
Que a larva lamba a saburra
Da alma langue que urra
No fosso do cemitério.
Pé Na Cova (Jefferson Messias)
- Entro a contemplar a gárgula
Que sobrevoa o sarcófago.
Vil morcego a saciar
Seu apetite hematófago.
Pairem medusas aladas,
Dragões de asas recurvadas,
Corvos tomando o hemisfério.
Eis o terror que se hospeda.
Ranço, fetidez que azeda
O fosso do cemitério.
Zé Zumbi -
- Ó sepulcral audiência,
Suplico-vos um instante
Para narrar uma história
De teor horripilante.
João Finado -
- Por volta das doze horas,
Fui aonde jaz o morto.
Retornei sobressaltado,
Sem ver pra alma um conforto.
Pé na Cova -
- Os olhos da criatura
Asquerosa e infernal
Posso ainda contemplar
Como na cena real.
Zé Zumbi -
- Fui só visitar a vala
Onde meu avô descansa.
Nada mais. E, sem motivo,
Pra nutrir nisso esperança.
João Finado -
- Fui, mas com desdém de tudo,
Só por que alguém pedira.
Sentei-me ante a sepultura
Cheio do amargor da ira.
Pé na Cova -
- Joguei as flores no chão.
Cuspi do lado do túmulo.
Senti vontade, e saí
Sentindo de ódio o acúmulo.
Zé Zumbi -
- Não iria mais ficar
Ali por promessa alguma!
Apressei-me e, então, saí,
Sem reverência nenhuma.
João Finado -
- Mas, ao abrir o portão
Do funerário local,
Senti forte calafrio
Na coluna vertebral.
Pé na Cova -
- Parei e olhei ao redor
Para ver se via alguém,
Mas já sabendo que antes
Não tinha vindo ninguém.
Zé Zumbi -
- Foi quando ouvi uma voz,
Sem empecilho nenhum,
Falando meu nome alto
Co’um timbre sobrecomum.
João Finado -
- Virei-me pra todo lado,
Buscando da voz a fonte,
Mas não achei coisa alguma
Nem de lado e nem defronte.
Pé na Cova -
- Ludibriando-me, fiz
Questão de me desligar.
Abri o portão e fui
Andando rumo ao meu lar.
Zé Zumbi -
- Mas, quanto mais eu andava,
Mas do lugar não saía.
Acelerei bem o passo
E em nada vi serventia.
João Finado -
- Sentia “agora” um fungado
Bem próximo à minha nuca.
Comecei a suspeitar
Que estava lelé da cuca.
Pé na Cova -
- Todavia aquilo tudo
Não era loucura minha,
Mas pura realidade
Que “agora” me sobrevinha.
Zé Zumbi -
- Não adiantou tentar
Correr daquele local.
Acabei no mesmo canto
Feio, sujo, atro e mortal.
João Finado -
- Por fim, um troço pegou
Pelo cós da minha calça.
Sensação tão verdadeira,
Mas que eu jurava ser falsa.
Pé na Cova -
- Mas vi não adiantar
Querer mentir pra mim mesmo.
Perdi a noção do mundo.
Terminei vagando a esmo.
Zé Zumbi -
- Tudo o que pude avistar
Naquele local horrendo
Foi espantoso e sem par;
Fenomenal e estupendo.
João Finado -
- Havia caveiras negras
Esvoaçantes no ar.
Fantasmas perambulantes.
E uma voz a murmurar.
Pé na Cova -
- Cabeças a se arrastarem
Pelo chão do cemitério.
Mãos e pernas desmembradas.
Boca a gritar impropério.
Zé Zumbi -
- Tudo vi naquele dia
E de nada esquecerei.
Só sei que, depois daquilo,
Nunca mais atreverei…
João Finado -
- … a desprezar coisa alguma,
Que eu sofri por essa causa.
Hoje me assombro com tudo.
E o meu pavor não tem pausa.
Pé na Cova -
- Escapei naquele caos
Quando o dia clareou.
Fugi daquela desgraça,
Mas o mal não me deixou.
Zé Zumbi -
- Vivo sonhando com isso.
Não tiro o fato da mente.
Tomo susto todo dia.
Minha vida é deprimente.
João Finado -
- Remédio não me acalanta.
Canção não traz refrigério.
Tudo isso por desfazer
Da peste dum cemitério…
Pé na Cova
- Opa! Desculpa! Foi mal.
Pois que ofender eu não quis.
Só quero findar o medo
Pra poder viver feliz.
Fade Out...
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