sábado, 12 de setembro de 2015

A Inflação do Além (Da série Assombrações de Tabira ) - RF Amaral


A Inflação do Além
Por Felipe Amaral
1
Fui passiá na madruga
Após tê pirdido o sono.
Cheguei na praça pra vê
Se achava argum cão sem dono.
Már num achei foi ninguém.
Parti de vorta sem nem
Tê cum quem me acumpanhá.
Porém, na vorta, eu sinti
Um medo grande e previ
Que a coisa ia piorá.
2
Deu-me um frii nos ispinhaço
Que me gelô pu compreto.
Pensei num tá mais sozin,
Már num quis sê indiscreto.
Cotinuei prossiguino,
Imbora, um negóço fino
Já caminhasse a meu lado.
Era franzino o isprito,
Tinha um andado isquisito,
Már caminhava calado.
3
E eu num quis puxá cunvessa
Cum aquela assombração.
Tarvêiz tivesse vortano
Lá da sua ocupação
E se mostrasse cansada,
Num quereno falá nada
Nem pará pra coisa arguma.
Intão dicidi ficá
Im silenço e só andá
Sem tentá coisa ninhuma.
4
Már num é que, após uns passo,
Ela isboçô uma ação!
Gesticulô, fez careta,
Tentano aproximação
E adispois chegô pra mim,
Dixe como tava ruim
O negóço prus fantasma.
Tava ajuntano uns “reá”,
Már num pudia comprá
Um televisô de plasma.
5
Ao que falei: - É a crise!
Tá duro pra todo mundo!
Dizem que, até no Além,
Já passam cheque sem fundo!
E o isprito arrematô:
- É verdade sim, sinhô!
Eu já sufri desse gópe.
Que fantasma brasilêro,
É quáij tudin trambiquêro.
Pra robá num tem “istópe”.
6
Eu balancei a cabeça
E preguntei sem pensá:
- Quá mansão você assombra
Ô tá pensano assombrá?
E ele arrespondeu, traqüilo:
- Tô assombrano um asilo.
Már o saláro é piqueno.
Bem antes dessa inflação,
Eu assombrava mansão,
Már num tão mais me quereno.
7
-Três boca pra’alimentá
E esse meu útmo patrão
Me dispensô do imprego
Sem quaiqué tramitação.
Nem me pagô os direito.
Falô “Isso eu num aceito!”
“Procure um adevogado!”
Tenho um, até, na famia.
Tô só isperano o dia
Do peste virá finado.
8
Cunvessei umas três hora
Cum aquele falecido.
Preguntei dos presidente
Que pra lá tem, presidido.
Ele me falô uns nome
Duma cambada de home
Que já passô nesse chão,
Que eu chega fiquei irado…
E, hoje, eu só viro finado,
Se fô numa’ôta nação!

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