segunda-feira, 14 de setembro de 2015

A História de Betânia - Felipe Amaral - (Cordel-Tragédia)

A História de Betânia

1
Betânia vivia longe
Do mundo da capital.
Levava a vida a serviço
Do ambiente rural,
Onde havia se criado,
Sem conhecer o estado
Pleno do mundo atual.
2
Do pai só tinha o aval
De sair na quarta-feira.
E, assim mesmo, com ele
Por companhia primeira,
Que outra era a da sua irmã,
Que lhe causava um afã,
Implicando a tarde inteira.
3
Sua vida era grosseira,
O sítio era o seu “madeiro”.
Havia um grupo escolar,
Mas o ensino era grosseiro,
Igual à sua vivência:
Um roseiral sem essência;
“Flor de aroma” sem cheiro.
4
Se, do convívio roceiro,
Uma vez só por semana,
“Fugia”, por ir á rua
Ver a convivência urbana,
Mas nada a satisfazia,
Porque, no morrer do dia,
Voltava à sua choupana.
5
Betânia nem tinha "grana"
Nem um plano pra seguir.
Não queria estar no sítio,
Mas não podia sair.
De lotação pra cidade
Ia, mas tinha vontade
De não voltar pra não ir.
6
Havia ali um porvir
Que, há muito, já perseguia
Seu sonho de ir-se embora
Pra viver, dia após dia,
Longe da vida rural,
No desfrute social
Dos ares que a rua envia.
7
Ali no seu sítio havia
Um rapazinho “legal”,
Mas que, diferente dela,
Prezava a vida rural.
Esse a queria, em secreto,
Só que não tinha um projeto
Para abordá-la afinal.
8
Francisco Luís Vital
Era o nome do rapaz,
Moço pouco “descolado”
E ainda com pouco “gás”
Pra o “lado” dos “arrodeios”,
“Xavecos” e galanteios
Comuns naqueles locais.
9
Se bem que nada de mais
Seria quebrar a praxe (ch),
Já que a menina em questão,
"De esboço traçado à guaxe" (ch),
À moda se dispusera
E, por causa, disso era
Uma peça sem encaixe.
10
Qual um avião “Apache”,
O tempo passou ligeiro
E Betânia decidiu
Por tomar outro roteiro
Diferente do de outrora
E, não achando melhora,
Seguiu seu viver roceiro.
11
Mas o rapaz, sem dinheiro
E sem qualquer maladragem,
Que antes muito a cobiçara,
Fez do futuro vantagem.
Tomou rumo. Foi à rua.
E, na capital, a sua
Vida mudou de imagem.
12
Francisco, a cada viagem,
Mais e mais compreendia
Que a aparência convence
E a esperteza é a via
Pra se ganhar tudo mesmo…
Mas que, pra “se achar a esmo”,
É só "baixar a quantia" .
13
E o filme do dia-a-dia
Prepararia a surpresa.
O Francisco voltaria
À sua terra indefesa
Pra defender, em visita,
A virilidade aflita
De outros tempos, com certeza.
14
Ao retornar, viu acesa
Ainda a chama do amor.
Agora, bastante audaz
E cheio do’ávido fervor
De um ego experimentado
E, já muito bem treinado
Pelas mãos do destemor.
15
Todos queriam “se pôr
Diante daquela lagoa”.
Mas não sabiam que aquele,
Antes tão boa pessoa,
Estava completamente
Mudado de corpo e mente,
Mas não com mudança boa.
16
Betânia, “na mesma loa”,
“Cantava a mesma cantiga”.
Não estando sem marido,
“Fazia medo uma briga”!
Mas, diante das trevas densas,
Não sendo às suas expensas,
Qual é a mulher que liga?!
17
Ela até fazia figa
Pra que o tal desnaturado,
De aparência diferente
E “status” já confirmado,
“A viesse”, por engodo,
Possuir-lhe o corpo todo
Pra o erro ser consumado.
18
O marido, no arado,
Pensando em fazer feliz
Uma mulher enganada
Pelas serpentes hostis
Do pecado sorrateiro,
Mas a mulher no terreiro,
Querendo o que antes não quis.
19
Depois de uma vez, um bis,
E ela já’stava em total
Controle da “vil serpente
Do pecado original”...
E o mais a fazer foi rir,
Após tentar impedir
Do’homem sair do local.
20
Da traição passional
Ao desfecho desmedido,
Francisco enfiou-se mais
No despudor pretendido,
E a guerra não se atrasou,
E aí foi que o “pau quebrou”,
Mas “nas costas” do marido.
21
Francisco veio bandido
Do mundo da capital.
E, se bandido ele veio,
Sob a couraça do mal,
Não iria “abrir da raia”:
Fez da briga uma gandaia;
Das mortes, um carnaval.
22
Todo o mundo, no local,
Comenta as mortes, que geram
Pra o matador como um prêmio
Dos dias que não fizeram
O papel imprecatório
De evitarem todo o’inglório
Espetáculo merencório
Por risos que não tiveram.

Autor: Roberto Felipe Amaral

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