sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Assombrações de Tabira - A Isquina do Açôgue Antigo


Assombrações de Tabira - A Isquina do Açôgue Antigo
1
Zé do Tejo vêi contá
Uma istóra acunticida
Cum ele, há um tempo atrás,
Numa rua cunhicida...
Foi lá na rua onde tá
O açôgue antigo. Foi lá
Que o negóço acunticeu.
Dixe preu ficá calado,
Pra num torná ispaiado
Esse acunticido seu.
2
Só queu num sô de guardá
Segredo de seu ninguém,
Intão dicidi contá
A tá istóra a arguém.
Aí deu a fébe tife.
Apois num é que o patife
Do que caba a quem eu contei
Meteu a boca no mundo!
Ô caba véi vagabundo!
Num sei pruqué que eu falei!
3
E agora que a coisa tá
Já ispaiada pru povo,
Arresuvi de narrá
A mêrma istóra de novo.
Sabeno que Zé do Tejo
Foi morá em ôto brejo,
Num tá mais nessas istança,
Num tenho quaiqué recêi.
Intão vô contá, pois sei
Que num vai dá imbuança.
4
Zé do Tejo me contô
Que, quando foi visitá
Uma cunhicida sua,
Saiu numa rua lá
Que é mêrmo a rua da frente
Do açôgue - e num passa gente
Naquelas hora da noite.
Chamô na casa vizinha.
Sintiu um frii na ispinha,
Már nada com que se afoite.
5
A muié dixe: - É a ôta
A casa que tu procura!
Intão ele foi pra ôta,
Már a casa tava iscura.
Dicidiu num chamá mais.
Danô-se a vortá pra tráis,
Aburrido cum caso.
Foi pelo mêrmo camim,
Ainda andano sozin,
Ligêro e sem vê atraso.
6
Porém num é que um negóço
Estrãi tumô sua frente!
Foi como uma sombra preta
Cum aparença de gente.
Meteu-se no mêi da rua
Pra aprontá falcatrua,
Cum ele inda no camin.
Ô troço malamanhado!
Era o capeta invurtado
Na réstia do Coisa-Ruim!
7
Só sei que ele quis corrê
Daquela troço medõi,
Már num achava manêra,
Que esse isprito sem-vegõi
Le pirsiguia dum jeito,
Que le fartava no peito
Á pra pudê prossiguí.
Daí, dicidiu pará,
Só pra mode de discansá
E, adispois, pudê partí.
8
Já tano muito asustado
Cum toda aquela trepeça,
Num tinha corage arguma
De falá numa’hora dessa.
Só quiria era corrê,
Chegá em casa e dizê
Pra muié o acunticido.
Már nada dele chegá.
Quanto mais pegava andá,
Mais o trecho era cumprido.
9
Uvia o bicho dizeno
Ali arguns impropéro,
Só que num dava atenção
Aquele isprito funéro.
Foi quando uma véa rôca,
Caxêxa, das costa ôca,
Apariceu no lugá.
Puxava um cachorro preto,
Magro dos pé de graveto,
Meteno o pau a uivá.
10
Dixe Zé: - Istremici
Quando vi essa maimota.
E o sangue fugiu da cara
Foi quando eu vi uma frota
De cachorro iguá a esse.
Chega fartô-me interesse
De contininda vivo.
Num vi ninguém que pudesse
Me socorrê e tivesse
Pru medo um paliativo.
11
Fato é que Zé consiguiu
Iscapá dessa desgraça.
Már quando acordô na cama,
Achô cumido de traça
Cada lençó do seu quarto.
E quage teve um infarto
Ao vê a casa vazia.
Deu ânsia, tontura e asma
E ele pensô que o fantasma
Tinha levado a famia.
12
Só se consolô dispois
Que achô sua isposa Tonha
E os quatro fii, que pensava
Já sê refém da visonha.
Isso ele contô tremeno
E, ao uvi, fui sabeno
O quanto é ruim vê isprito.
Já faz um tempo que uvi,
Már nunca mais isquici
Daquele caso isquisito.

Autor: Roberto Felipe Amaral

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