POÉTIC-LIT
1
Alguns anos se passaram
Até vir a completar
Vinte e um anos de idade
E estar naquele lugar
Onde eu vivi esta
história
Que me disponho a
contar.
2
Lembro que não pude
estar
Tão livre na minha
infância
O quanto pude ao
mudar-me
Praquela espaçosa
estância
Onde achei paz pra o meu
ego
Mantendo a dor à
distância.
3
Findei qualquer
inconstância
Para com’o meu próprio
ser.
Decidi tomar alento
E começar a me ater
À liberdade almejada
Pra encontrar mais
prazer.
4
Mudei assim meu viver.
Comecei a trabalhar
Vendendo os próprios
livretos
Que insistia em publicar
A expensas de uma
herança
Que insistia em
perdurar.
5
Também resolvi entrar
Numa faculdadezinha
Que ficava a duas ruas
De onde se encontrava a
minha,
De sorte que, de
retorno,
Sempre a pé pra casa eu
vinha.
6
Alguns clientes eu tinha
Feito naquele lugar,
Por isso dava “legal”
Pra’eu conseguir “me
virar”
Com minhas despesas
básicas
Sem me desesperançar.
7
Às vezes de lar em lar
Ia pra me permitir
Exceder um pouco as
vendas
E assim poder atingir
Uma meta que eu visava
Pra’um ganho a mais
conseguir.
8
Isso por querer sair
Com’um pouco mais de
dinheiro.
Poder gastar mais um
pouco
E ainda ficar maneiro
De se arcar com as
despesas
Da vivenda o mês
inteiro.
9
Na faculdade, o primeiro
A chegar sempre era eu.
Ficava na praça em
frente.
E ali um amigo meu
Chegava e puxava um papo
Sobre algo que
aconteceu.
10
Eu sempre gostei do seu
Jeito de comunicar
Coisas simples ocorridas
Lá no “ambiente
escolar”.
Falávamos por um tempo,
Depois tocava
pra’entrar.
11
Tinham naquele lugar
Umas garotas bacanas.
Meu amigo era casado,
Então só as levianas
Ainda se aventuravam
Em investidas sacanas.
12
Semanas após semanas
“A estrada era de
espinho”:
O Maik vivia entrando
Nos erros do descaminho;
E eu, pra me desenrolar,
Tinha que tentar sozinho.
13
Não havia desalinho
No meu modo de agir.
Só que sempre alguma
coisa
Me evitava conseguir
Fechar o papo co’a
“gata”
“Chamando ela” pra sair.
14
O Maik, pra revestir
Meu ser de motivação,
Insistia em me falar
Dicas pra “azaração”
Ficar bem mais desenvolta...
E eu sempre lhe dei
razão!
15
Tava um dia no portão,
Quando tive uma suspeita
Que havia uma
professora,
Que se encontrava à
direita
Do Maik, e “estava de
flerte”,
E a isso eu não fiz
desfeita.
16
A “prôfa” era bem aceita
Na galera juvenil.
Ô mulherzinha graúda!
Meu peito ficou a mil.
E o Maik notou de longe
Minha investida febril.
17
Não me fiz de pueril,
Decidi ir lá falar
Com ela pra resolver
A “parada” sem nem dar
Espaço pra timidez
Que me fizesse hesitar.
18
O Maik veio ajudar
(como se eu necessitasse!),
Caminhou meia distância,
Mas acabou com o “impasse”
Quando me viu ir a ela
Pra conversar face a
face.
19
Já prevendo até
o’enlace,
Parou ao focar a cena.
Eu tava a fim de agir.
E a chance ali era
plena,
Pois via que aquela ação
Valeria muito a pena.
20
Ia ficando pequena
A distância entre nós
dois.
Ela sentada em um banco
De onde viria depois
A levantar-se e arcar
Co’aquilo ao qual se
dispôs.
21
Vi bem que ela se propôs
A não fugir do “litígio”,
Que medo, da sua parte,
Não notei nenhum
vestígio.
E arcar, pois, co’a
minha parte
Vi ser pra mim um
prestígio.
22
“Belida nem pterígio”
Me impediriam de ver
Consumar-se tal ação
Que eu insistia em
fazer.
Só mesmo Deus
pra’impedir
De aquilo, enfim,
ocorrer.
23
Cheguei a’empalidecer
A face por um instante,
Só que logo isso passou
E, eu, de uma forma
marcante,
Coloquei-me em frente a
ela
E ela não se pôs
distante.
24
Eis ali belo flagrante
De algo que daria certo.
Ela puxou logo papo
E eu, que já tava mais
perto,
Nem me fiz de
envergonhado,
Nem fiquei semi-desperto.
25
Em tudo fiquei esperto
E decidi lhe fitar
Os olhos com mais
capricho
Pra poder mais lhe
ouriçar
Pra que ela ficasse
atenta
Pra’o que eu queria
falar.
26
Pensei: “Foi bom eu
pegar
Umas aulas tempo atrás
De direção
na’auto-escola
Pra hoje me achar em paz
Quanto a levá-la pra
casa
De carro em momentos
tais”.
27
Corri ao Maik e, sem
“mas”,
Pedi seu carro
emprestado.
E ele, que antes já me
vira
Dirigindo com cuidado,
Emprestou-o sem
delongas,
Reservas ou desagrado.
28
Antes de correr ao lado
E pedir ao meu amigo
Ali seu carro
emprestado,
Eu pedi sem ver perigo
Pra que a “prôfa” me
esperasse,
Que a levaria ao abrigo.
29
Cheguei sem impor
castigo
Àquela que me esperava.
Pedi pra que ela
adentrasse
O carro no qual estava.
Ela entrou e então eu vi
Que mais nada ali
faltava.
30
O transporte já tomava
Uma estrada paralela,
Quando eu percebi que
dava
Pra pedir-lhe sem
querela
Pra pararmos num café
Pertinho da casa dela.
31
Sabia haver algo nela
Que sempre concordaria.
Não hesitei em pedir,
Porque vi que ela queria.
Ela “topou” e paramos
Em uma cervejaria.
32
Mas só que naquele dia
Tava com sorte demais.
Vi que o clima não seria
“Legal” em quaisquer
locais.
E, ao olhar pra’o lado
achei
Algo que deixou-me em
paz.
33
Cervejarias são mais
Pra beber e pra
“farrar”.
Eu queria algo mais
calmo.
E quando quis encontrar,
Achei ao lado um local
Pra um encontro sem par.
34
“Que restaurante
exemplar!”
Pensei ao que o avistei.
Disse-lhe: - É bem mais
tranqüilo
Aquele local que achei.
Ela concordou com tudo.
E eu muito feliz fiquei.
35
Ao sentar-me, eu
constatei
Que tudo iria dar certo.
Me veio à mente
lembranças
E então me senti coberto
De ainda mais garantias
E razões pra’estar “esperto”:
36
Vi o corredor deserto
Na faculdade e olhei
Pra o fundo e lá ela
estava.
Apreensivo fiquei,
Entrei na sala
apressado,
Mas o porquê eu não sei.
37
Ainda ali recordei
De outra vez quando
urinava
No banheiro e, ao sair,
Ela fora me esperava.
Olhou pra mim e sorriu,
Mas mui disperso eu
estava.
38
Lembrei quando me
encontrava
Na sala da reitoria.
Ela entrou, enrubesceu,
Olhou pra mim, só que o
dia
Fora (^) difícil pra mim
E eu evitei “ousadia”.
39
Soube que não deveria
Esperar mais nenhum
décimo
De segundo, mas teria
Que beijá-la sem
decréscimo
De sentimento, pois já
Tava me sentindo
péssimo.
40
Cada lembrança era
acréscimo
À dor que me corroia.
Ela tinha me mostrado
Tudo quanto ela sentia
Em cada olhar, cada
gesto,
Cada apelo que fazia.
41
A minha atroz covardia
Havia sido demais.
Todas as recordações
Feriam como punhais.
Eu tinha que agir de vez
Pra’amenizar os meus
ais.
42
Seus olhos, como
cristais,
Brilhavam postos nos
meus.
Puxei-a suavemente.
Beijei-a (graças a
Deus!).
Pus fim nas decepções
Que havia nos olhos
seus.
43
Depois, perdida nos
breus
Dos meus olhos obscuros,
Ela se sentiu segura;
E eu escapei dos apuros
Nos quais outrora me
achava,
Em momentos inseguros.
44
Meus instantes imaturos
Me custaram muito caro.
Mas, quando agi, me
senti
Livre do engano mais
claro
Que cometia ao privar-me
De um episódio tão raro.
45
Ainda bem que o
“descaro”
Quanto aos enganos de
antes
Fora(^) por ela
esquecido.
E que, naqueles
instantes,
Tudo ali corria bem,
Mantendo os erros
distantes.
46
Em tais momentos
marcantes
“Liz” se abriu cada vez
mais.
Soube seu nome, seus
“hobbies”,
Seus gostos e os mais
“legais”
Detalhes da sua vida,
Que me atraíram demais.
47
Soube o nome dos seus pais
(coisa até muito
incomum!),
Mas só
porque’ela’insistiu
Em também não dar nenhum
Espaço pra’eu escapar
De citar detalhe algum.
48
Comigo era “pá e pum”,
Já que ela queria ouvir.
Conversamos, nos
olhamos,
Nos beijamos sem sentir
Desejo algum de falar
Que já era hora de ir.
49
Só decidimos partir
Bem tarde. “Isso não
importa!”
Ela me exclamou
sorrindo.
Então eu abri a porta
Do automóvel e partimos
Co’a noite já quase
morta.
50
A lembrança me conforta
Quando recordo momentos
Como esses que nós
passamos,
Cheios de bons
sentimentos,
Frases de carinho mútuo
E olhares de dor
isentos.
51
No’outro dia o ar de
alentos
Daquele dia inda estava
A me incentivar a vida,
Pois que ainda me
apontava
Aquele evento tão bom
Que, em tudo, me
confortava.
52
Sei que o meu corpo
lutava
Pra não levantar da
cama.
Era terça e era tarde.
Continuei de pijama.
Trabalhar naquele dia
Seria pra mim um drama.
53
Fiz até um “melodrama”:
- Lá fora o chão tá em
brasa!
Lembrei de umas
livrarias,
A “Leitura”, A “Orbe” e
a “Plaza”
Onde eu tinha que
passar,
Mas findei ficando em
casa.
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