quinta-feira, 8 de março de 2012

Epopéia Sertaneja (1º canto)

Epopéia Sertaneja

1
Ó Senhor, que nos santos céus habitas,
Dai-me a força da tua inspiração
Para aqui decantar ao som da lira
As histórias heróicas do Sertão,
Onde habita o boieiro que apascenta
O rebanho a pisar sedento chão.
2
Ó Espírito Santo, dai-me'a'unção
Que embevece o poeta popular,
Para, imerso em teu mar de inspiração,
Conseguir nestes versos contemplar
A mais alta façanha que um poeta
Possa em vida sonhar em alcançar.
3
Jesus Cristo, Senhor do Santo Altar,
Eu te peço que estendas tua mão
E me toques com teu poder sem par
Pra que eu possa entoar esta canção
Tendo o estro que almejo e a tua bênção
Que preenche de paz o coração.
4
Ó Trindade, que a vida do cristão
Faz mudada pra que ele possa andar
Divulgando o prazer que é prosseguir
Vendo a fé que só vós podeis doar.
Ofertai-me o poder de ver findado
O que agora me ponho a começar.
5
Eis o nosso boieiro a cavalgar
Pelos vales de atroz vegetação
Entre abrolhos que trancam-lhe a passagem,
Entre as pedras que soltam-se do chão.
É valente. É um forte. É a imagem
Das pessoas que vivem no Sertão.
6
Eis que um dia encontrou-se em sedição
Quando um bicho cruel veio a matar
Quase todo o rebanho de animais
Os quais tanto pressou, sempre a cuidar.
E ao ver frangos, cabritos, bois e bodes
Estendidos no chão, pôs-se a chorar.
7
Acordando outro dia, foi olhar
Para o resto da sua criação.
Quando viu a sangria violenta,
Teve a mais aflitiva sensação.
Foi até seu cavalo e, ao vê-lo vivo,
Ajeitou-se e montou no alazão.
8
Adentrou as quebradas do sertão,
Num impulso de fúria tão sem par.
A poeira subiu tomando o vão
Dos buracos nas locas do lugar
E o boieiro partiu encouraçado
Para achar o tal bicho e o enfrentar.
9
No caminho algo estranho pôde achar.
Era um grande portal, feito um tufão.
Viu o bicho de fora e quis entrar.
Fez carreira e não fez hesitação.
Pulou dentro do vórtice veloz
Que girava naquele árido chão.
10
Ao entrar, encontrou-se sem ação
Ante os monstros que via no lugar.
Num rojão sem medida quis fugir,
Por que viu não poder digladiar
Contra os Leviatãs e os Beemotes
Que o seguiam atrás para o matar.
11
Desses Leviatãs ouviu falar.
Foi no Livro de Jó, em pregação
Feita um dia na' igreja do lugar,
Onde há tempos fizera habitação.
Temeu muito, porém ouviu que Deus
Contra os tais lhe daria proteção.
12
Já dos tais Beemotes fez menção
Quando os viu, porque pôde analisar
Que eram eles iguais aos da passagem
Que, num dado momento, pôde achar
Quando lia a' Escritura Sacrossanta
Nos batentes defronte do seu lar.
13
Ao pensar nisso tudo veio a' estar
Mais tranqüilo, porque viu na lição
Da' Escritura Sagrada uma mensagem
De incentivo, de fé e proteção.
Então tudo o que tinha que fazer
Era orar ao Autor da Criação.
14
Na carreira ele orou de coração
E, ao abrir os seus olhos, no lugar
Inda havia os dragões o perseguindo
E os cruéis Beemotes a "urrar",
Só que atrás deles vinha um cavaleiro
Com'a espada e o arco a guerrear.
15
Viu ainda outro ser vindo ajudar.
Co'uma lança e montado num bisão.
E, por fim, outro homem assentado
Sobre as costas compridas de um pavão.
Diante disso, ficou mais confiante
Por não mais estar só nessa missão.
16
Empunhou a peixeira numa mão
E correu pra detrás pra enfrentar
As Serpentes Aladas e os Lagartos
Gigantescos que o vinham confrontar.
Mas agora ele tinha três amigos
Para juntos poderem batalhar.
17
Co'a chibata batia sem cessar.
Co'a peixeira fazia um só rasgão
Que já dava pra pôr muitos dos monstros
Sobre as relvas hostis daquele chão.
Era olhando pra frente e mutilando
Os dragões sem sofrer um arranhão.
18
Mas, de súbito, viu-se sem ação
Outra vez quando pôde contemplar
Mais um outro portal, qual um tufão,
A puxá-lo, querendo-"lhe" tragar.
Foi puxado, adentrou e não mais viu
Os colegas que estavam a lutar.
19
Nesse mundo ficou, sem avistar
Qualquer vil ameaça e fez menção
De voltar pra'ajudar os seus amigos,
Só que, aí, o portal fechou o vão
Por onde ele adentrou e ele ficou
Lá parado sem ter outra opção.
20
Eis que o "sono bateu", mas ele não
Quis de modo nenhum se entregar.
Acabou cochilando, pois que o sono
É mais forte e ninguém pode enfrentar.
Dormiu lá sobre os campos verdejantes
E sonhou retornando pra o seu lar.

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