quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Recordações por Lembrança

Recordações por Lembrança

Eis o barco da saudade
Levando a docilidade
Dos tempos em que sorri.
Zarpa, flutua e ancora...
Deixa as lembranças de outrora;
Leva os dias que vivi.

Se agora me encontro aqui
Entre frisson, frenesi,
A culpa é dele por ter
Me deixado nas calçadas
Entre pessoas tomadas
De riso; e eu sem prazer.

Meu canto é triste por ver
Que jamais irei poder
Ver a barcaça voltar...
Levou com ela o sorriso.
E a paz que tanto preciso
Não hei de ver retornar.

Tento encontrar um lugar
Onde possa repousar...
Brado à tristeza o seguinte:
- Ó vil! Que te desintegres!
Vejo pessoas alegres,
Mas sofro da dor o acinte.

Embora veja o requinte
Do anoitecer, conseguinte
É o mal que me lacera.
- Volta, barcaça de riso!
Pois que de ti eu preciso!
Revivifica a quimera!

Eis que cada primavera
Jamais me será por mera
Reminiscência infantil.
As senti, sorvi, gozei
De todo o meu ser, e sei
Que à nenhuma eu fui hostil.

O meu sonho juvenil
Pode até ser pueril,
Mas eu insisto em sonhá-lo:
- Ó volta, alva embarcação!
Remonta o meu coração,
Já que insististe em quebrá-lo!





- Quero de novo encontrá-lo
Pulsando e poder lançá-lo
Em vida como te lanças
Ao mar fugindo de mim.
- Ó embarcação ruim,
Por que mais em mar avanças?

O dia é claro, em pujanças
De raios que das andanças
Fazem teor de conflito.
Mas pra mim não se faz claro,
Somente atroz e avaro,
Árduo, doente e ignaro,
Parco, assombroso e maldito.

Mas se o navio da saudade,
Nem que só por caridade,
Retornasse aos dias meus,
Saudade eu não mais teria,
Que o passado voltaria
Como uma bênção de Deus.

Devido aos poderes seus,
Dos dias os apogeus
Tornaria a contemplar.
E não mais me afligiria,
Temendo que algum dia
Partisse pra não voltar.

Que os dias iriam dar
Vazão ao plano sem par
De nunca mais se passarem.
Não haveria passado,
Pois que um presente infindado
Faria os dias ficarem.

Veria as aves cantarem,
Porém depois retornarem,
Se fosse esse o meu pedido.
Jamais me veria triste,
Que o choro que ainda existe,
Soaria como um chiste,
Pois não teria sentido.

Mas vejo o batel perdido
Nas ondas da dor, vencido
Pelo vício de querer
Ao remanso se entregar
Insistindo em não voltar
Só pra poder ver chorar
Quem nunca fê-lo sofrer.

RFAmaral

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