Outros
Sonetos Meus III
1
Tanta
dor para o amor parece nada.
É
a mágoa que fere a minha alma.
Nada
fazes. O pôr-do-sol me acalma.
Mas,
findando, estou triste e vejo em cada
Luz
de estrela um negror frente à calada
De
uma noite que fere e põe na palma
Da
mão tudo o que tenho. E eis o trauma
Que
me traga na’estrada. Triste estrada!
É
a brisa fugaz. É o meu pranto.
Pode
ser que não seja desencanto.
Mas
encanto não é. Vê o punhal!
É
o vento que sopra. A dor febril.
A
canção que deflagra o clima hostil.
O
porquê desse mal. Chama infernal!
2
Aparece
a aurora. Em mim trafega
A
tristeza do dia que inicia.
Oh,
deixai-me cantar, que a brisa fria
Me
incentiva a cantar. A hora é cega.
Quem
padece, lamenta a luz que alega
Um
começo que traz desalegria.
Como
é triste o desfecho da’energia
Que
o momento noturno em si carrega!
Quero
a cama. Me deito pra não ver
A
manhã que insiste em me dizer
Que
o meu canto boêmio arrefeceu.
É
a dor me ofertando o que não quis.
É
o choro que vem. Hora infeliz
Que
“opaquece de luz” o sonho meu.
3
A
espada que corta o peito meu.
A
estrada sem fim que me extenua.
Canto
vil da manhã que se acentua.
Oh,
desgraça de luz que corta o breu!
Vaga
a alma buscando o leito seu.
Quer
dormir. Não suporta a face nua
Do
“astro-rei” que machuca a face sua.
Quer
dormir. E eis que já adormeceu!
Quando
a noite chegar, há, com certeza
De
acordar pra viver em meio à mesa
De
prazeres que a mesma lhe oferece.
É
a mágoa do dia... Mas, a treva
Que
há na noite, destrói a luz que eleva
A
angústia que ao bardo o mal fornece.
4
É
a asa dos ventos. É a brisa.
Clama
a paz. A ventura em voz ressoa.
Ave
negra de noite que abençoa
O
porvir. Colo frio que o eterniza.
Frase
dita. Canção. Prece concisa.
É
a noite. É a fé que sobrevoa
Ares
faltos de crença que afeiçoa
O
presente ao prazer de que precisa.
Casta
paz. É a paz. Marca que deixa
Uma
marca de alento em quem enfeixa
Fantasias
pra si em meio ao caos.
Basta
a paz. Essa paz. Barca que leva
Corações
a pulsarem, se os enleva
E
abandona no cais os planos maus.
5
Treme
a clava. O desejo deperece.
É
o corpo que perde a confiança
Em
si mesmo. O cruor da triste dança.
O
vagar da visão que se opaquece.
Faltam
muitas virtudes em quem desce
Aos
frissons da descrença. Há abastança
De
caprichos insanos. Há cobrança.
Pagamentos
não há. E a vida esquece.
Tola
estrada. Lamentos. Pesadelos.
É
a vã solidão entre os cabelos
Da
peruca tecida pelos anos.
A
costura esgarçou. Não há sorrisos.
É
a vala que espera. Os “inconsisos”
Zelos
bobos. Os ais e os desenganos.
6
Face
triste. Motivo de pedir
Pra
ficar. A razão que se desfaz.
A
barcaça que vai. Vento que traz
Forte
sono. É a cama a consentir.
Um
adeus. Oh, que dor a persistir!
Lentas
horas. O cais. Tristonho cais!
É
a dor provocada pelos ais.
É
o azar de viver. De não partir.
Um
aceno. Uma crise. Vaga prece.
Uma
flor despetala. O ser padece.
O
conflito por dentro ficará.
É
a mágoa que fere. Algo por dentro.
Algo
vil. Oh desmando! Um epicentro
De
aflições que no peito há tempos “há”.
7
Não
é justo! Mas vejo que é maior.
Nada
há pra fazer. Nada a falar.
Caos
e erros. Conflitos. Lupanar
De
“deploros”(^). E o resto eu sei de cor(´).
Esperanças
não há. E o melhor
É
ficar impassível. Sossegar.
Tantos
planos... Somente vaguear...
Vaguear...
Caminhar sem pormenor.
Tela
opaca. Lamento. Pranto e chão.
Céu
de estrelas escuras. Aflição
Que
incentiva a sentir. Morre o porvir.
É
a negra demanda da’existência.
É
a vaga aventura da’ excrescência
De
um viver que não pede pra’existir.
8
O
encanto sumiu. Vaga a ventura.
Desespero
que gera o desapego.
Mão
que solta o que quis. Desassossego.
Lenta
carga de dor. Vaga procura.
Tenha
pena! Mas tudo é amargura.
O
que faço, o que digo é fraco ofego (^).
O
que penso é inútil. O aconchego
Não
existe. E o que há é treva escura.
Barca
cheia, vazia de prazeres.
Cheia
lua. Porfia de quereres.
Vela
atroz e funesta do presente.
Gás
mortal. O que finda traz à lama
O
que sonha, o’inocente que com fama
Inda
insiste em sonhar. Pobre inocente!
9
Só
em mente eu revivo os bons momentos.
Primaveras
são curtas estações.
E
o que fica de tudo são visões.
E
o que fica em meu ser gera tormentos.
O
que a vida me oferta são lamentos.
Os
remédios não servem. Prescrições
São
inúteis diante de emoções
Tão
vivazes e más. Vis desalentos.
O
capricho de antes se tornou
Uma
vã fantasia. O que ficou
Foi
a dor que persegue a criatura.
Os
antigos intentos se deixaram
Consumir
pelos novos, que se amparam
Nas
lembranças. E a alma quebra a jura.
10
Um
inverno de risos se passou.
E
a certeza é que tudo se fará
Enfadonho.
Você me deixará,
Já
que as férias se vão. Mas eu não vou.
Estações
passageiras! O que estou
A
fazer? O que digo? O que haverá?
Senão
um longo adeus que ficará?
Senão
dores co’as quais eu não me dou?
Vai-se
o tempo. Você se vai também.
Se
recordo momentos, o que vem
Ao
meu ser não são risos, mas penar.
Eu
queria pedir pra que você
Não
se vá. Mas apenas o porquê
De
partir é razão pra não ficar.
11
Minha
festa não tem tanto esplendor.
Este
quarto é meu mundo. E eu já sei
O
que dizem de mim. Mas não mudei.
Queres
ver-me, verás a mesma dor.
Queres
ter-me, terás o mesmo amor.
Mas,
talvez, não mais venhas. Eu fiquei
Como
sempre. Eu não quis mudar. E hei
De
ficar assim mesmo sem me expor.
Sei
que esperas mudanças. Fique bem.
Não
se importe comigo, que o que vem
Pela
frente virá pra o meu avanço.
Um
adeus. Não lamente o meu estado.
Fique
bem. Não demonstre algum cuidado.
Estou
bem. E hoje o dia é de descanso.
12
O
quintal está cheio de lembranças.
A
varanda não é “de todo” a mesma.
Ventos
fortes de outono. O abantesma
Que
procura assombrar-me co’as mudanças.
Olho
o quarto. O que vejo são cobranças
De
um tempo que roja como a lesma
E
que quer reaver a mesma “resma”
De
momentos de outrora sem tardanças.
O
pendor é de choro. O mal das horas.
O
interno conflito. Alvas auroras
De
negrura ventral. Internas crises.
É
o tempo que impede... A dor suprime
Os
sorrisos presentes e oprime
Os
que tentam, por fim, serem felizes.
13
Cerimônias
de risos. É o show
De
alegrias da vida. E tu estás
Nesse
palco de luzes, onde hás
De
cantar do viver o que mudou.
Hoje
longe, susténs o que tornou
O
teu ser mais feliz. Ainda dás
Tempo
ao tempo como antes era, mas
No
presente você se transformou.
Não
adianta dizer que não pra mim.
Todavia,
se estás tão bem, ao fim,
O
que resta é te dar os parabéns.
Vá,
querida. Mas não se preocupe.
Estou
bem. Vá em paz. Não se “desculpe”!
Curta
os novos amigos que hoje tens!
14
O
segredo de tudo é que, ao final,
O
que importa é se tens algo melhor
Pra
mostrar. Algo bom. Algo maior!
As
riquezas te fazem mais “legal”.
O
que tens embevece o pessoal.
O
que tens te promove do menor
Ao
maior patamar. Põe ao redor
De
ti muitos. É algo sem igual!
Te
regala! Te enleva! Alça o teu vôo
Não
te importes com nada, que o teu show
Não
mais pode faltar. Parar não pode.
Há
mulheres em volta. Tudo é teu!
Há
ofertas sem fim. Você venceu!
Mas
o pobre que vês, ninguém acode!
15
Tudo
acaba. É preciso dá adeus.
E
o fim vem pra causar “desacalanto”.
As
jornadas se findam. E é o pranto
Que
parece sem fim entre apogeus.
Glórias
passam. Se vão. E é nos breus
Da
estrada que se acha o desencanto
Que
insidia o’existir e traz quebranto
Para
os dias felizes teus e meus.
Vão-se
risos. Acabam-se estações.
Dão-se
casos que evocam emoções
Nada
boas. E a vida fica vã.
Não
há nada de bom. O fim se achega.
Vaga
o ser. E a dor se aconchega
Sobre
o peito e faz da’alma o seu divã.
16
Tanto
tempo perdido! Tolos planos!
Nuvens
ralas. O céu não é mais nosso.
Vão-se
as aves. E tudo o que eu posso
Encontrar
do que fiz são vagos anos.
Estações
sem propósito. Muitos danos!
Muitos
erros! E a vida que hoje esboço
É
de choro. Do riso eu não me aposso.
Do
prazer. Mas recordo os desenganos.
Seca
a grama. E a flor perde o verdor.
Sopra
o vento que traz o dissabor
De
lembrar os tropeços da jornada.
Pôr-do-sol
de amargor. Festa sem dança.
Tez
ferida. Deslizes sem mudança.
E
uma morte, por fim, já esperada.
17
A
canção silencia. Pára o vento.
O
navio que se perde, não retorna.
Chuvas
cessam. Negrura que contorna
O
viver. Essa não cessa um momento.
Primavera
no fim. O sofrimento
No
início. O prazer sem o que o torna
Infinito.
A lembrança que transtorna.
O
abismo. A distância. Desalento.
Frases
vagas. A vida que suspira.
Um
arquejo sem força. Uma mentira
De
que tudo virá a ficar bem.
A’ilusão
que acaba. A desventura.
Alma
inquieta. É o fim da criatura
Que
pensava poder ir mais além.
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