quinta-feira, 8 de março de 2012

Outros Sonetos Meus III

Outros Sonetos Meus III

1
Tanta dor para o amor parece nada.
É a mágoa que fere a minha alma.
Nada fazes. O pôr-do-sol me acalma.
Mas, findando, estou triste e vejo em cada

Luz de estrela um negror frente à calada
De uma noite que fere e põe na palma
Da mão tudo o que tenho. E eis o trauma
Que me traga na’estrada. Triste estrada!

É a brisa fugaz. É o meu pranto.
Pode ser que não seja desencanto.
Mas encanto não é. Vê o punhal!

É o vento que sopra. A dor febril.
A canção que deflagra o clima hostil.
O porquê desse mal. Chama infernal!
2
Aparece a aurora. Em mim trafega
A tristeza do dia que inicia.
Oh, deixai-me cantar, que a brisa fria
Me incentiva a cantar. A hora é cega.

Quem padece, lamenta a luz que alega
Um começo que traz desalegria.
Como é triste o desfecho da’energia
Que o momento noturno em si carrega!

Quero a cama. Me deito pra não ver
A manhã que insiste em me dizer
Que o meu canto boêmio arrefeceu.

É a dor me ofertando o que não quis.
É o choro que vem. Hora infeliz
Que “opaquece de luz” o sonho meu.
3
A espada que corta o peito meu.
A estrada sem fim que me extenua.
Canto vil da manhã que se acentua.
Oh, desgraça de luz que corta o breu!

Vaga a alma buscando o leito seu.
Quer dormir. Não suporta a face nua
Do “astro-rei” que machuca a face sua.
Quer dormir. E eis que já adormeceu!

Quando a noite chegar, há, com certeza
De acordar pra viver em meio à mesa
De prazeres que a mesma lhe oferece.

É a mágoa do dia... Mas, a treva
Que há na noite, destrói a luz que eleva
A angústia que ao bardo o mal fornece.
4
É a asa dos ventos. É a brisa.
Clama a paz. A ventura em voz ressoa.
Ave negra de noite que abençoa
O porvir. Colo frio que o eterniza.

Frase dita. Canção. Prece concisa.
É a noite. É a fé que sobrevoa
Ares faltos de crença que afeiçoa
O presente ao prazer de que precisa.

Casta paz. É a paz. Marca que deixa
Uma marca de alento em quem enfeixa
Fantasias pra si em meio ao caos.

Basta a paz. Essa paz. Barca que leva
Corações a pulsarem, se os enleva
E abandona no cais os planos maus.
5
Treme a clava. O desejo deperece.
É o corpo que perde a confiança
Em si mesmo. O cruor da triste dança.
O vagar da visão que se opaquece.

Faltam muitas virtudes em quem desce
Aos frissons da descrença. Há abastança
De caprichos insanos. Há cobrança.
Pagamentos não há. E a vida esquece.

Tola estrada. Lamentos. Pesadelos.
É a vã solidão entre os cabelos
Da peruca tecida pelos anos.

A costura esgarçou. Não há sorrisos.
É a vala que espera. Os “inconsisos”
Zelos bobos. Os ais e os desenganos.
6
Face triste. Motivo de pedir
Pra ficar. A razão que se desfaz.
A barcaça que vai. Vento que traz
Forte sono. É a cama a consentir.

Um adeus. Oh, que dor a persistir!
Lentas horas. O cais. Tristonho cais!
É a dor provocada pelos ais.
É o azar de viver. De não partir.

Um aceno. Uma crise. Vaga prece.
Uma flor despetala. O ser padece.
O conflito por dentro ficará.

É a mágoa que fere. Algo por dentro.
Algo vil. Oh desmando! Um epicentro
De aflições que no peito há tempos “há”.
7
Não é justo! Mas vejo que é maior.
Nada há pra fazer. Nada a falar.
Caos e erros. Conflitos. Lupanar
De “deploros”(^). E o resto eu sei de cor(´).

Esperanças não há. E o melhor
É ficar impassível. Sossegar.
Tantos planos... Somente vaguear...
Vaguear... Caminhar sem pormenor.

Tela opaca. Lamento. Pranto e chão.
Céu de estrelas escuras. Aflição
Que incentiva a sentir. Morre o porvir.

É a negra demanda da’existência.
É a vaga aventura da’ excrescência
De um viver que não pede pra’existir.
8
O encanto sumiu. Vaga a ventura.
Desespero que gera o desapego.
Mão que solta o que quis. Desassossego.
Lenta carga de dor. Vaga procura.

Tenha pena! Mas tudo é amargura.
O que faço, o que digo é fraco ofego (^).
O que penso é inútil. O aconchego
Não existe. E o que há é treva escura.

Barca cheia, vazia de prazeres.
Cheia lua. Porfia de quereres.
Vela atroz e funesta do presente.

Gás mortal. O que finda traz à lama
O que sonha, o’inocente que com fama
Inda insiste em sonhar. Pobre inocente!
9
Só em mente eu revivo os bons momentos.
Primaveras são curtas estações.
E o que fica de tudo são visões.
E o que fica em meu ser gera tormentos.

O que a vida me oferta são lamentos.
Os remédios não servem. Prescrições
São inúteis diante de emoções
Tão vivazes e más. Vis desalentos.

O capricho de antes se tornou
Uma vã fantasia. O que ficou
Foi a dor que persegue a criatura.

Os antigos intentos se deixaram
Consumir pelos novos, que se amparam
Nas lembranças. E a alma quebra a jura.
10
Um inverno de risos se passou.
E a certeza é que tudo se fará
Enfadonho. Você me deixará,
Já que as férias se vão. Mas eu não vou.

Estações passageiras! O que estou
A fazer? O que digo? O que haverá?
Senão um longo adeus que ficará?
Senão dores co’as quais eu não me dou?

Vai-se o tempo. Você se vai também.
Se recordo momentos, o que vem
Ao meu ser não são risos, mas penar.

Eu queria pedir pra que você
Não se vá. Mas apenas o porquê
De partir é razão pra não ficar.
11
Minha festa não tem tanto esplendor.
Este quarto é meu mundo. E eu já sei
O que dizem de mim. Mas não mudei.
Queres ver-me, verás a mesma dor.

Queres ter-me, terás o mesmo amor.
Mas, talvez, não mais venhas. Eu fiquei
Como sempre. Eu não quis mudar. E hei
De ficar assim mesmo sem me expor.

Sei que esperas mudanças. Fique bem.
Não se importe comigo, que o que vem
Pela frente virá pra o meu avanço.

Um adeus. Não lamente o meu estado.
Fique bem. Não demonstre algum cuidado.
Estou bem. E hoje o dia é de descanso.
12
O quintal está cheio de lembranças.
A varanda não é “de todo” a mesma.
Ventos fortes de outono. O abantesma
Que procura assombrar-me co’as mudanças.

Olho o quarto. O que vejo são cobranças
De um tempo que roja como a lesma
E que quer reaver a mesma “resma”
De momentos de outrora sem tardanças.

O pendor é de choro. O mal das horas.
O interno conflito. Alvas auroras
De negrura ventral. Internas crises.

É o tempo que impede... A dor suprime
Os sorrisos presentes e oprime
Os que tentam, por fim, serem felizes.
13
Cerimônias de risos. É o show
De alegrias da vida. E tu estás
Nesse palco de luzes, onde hás
De cantar do viver o que mudou.

Hoje longe, susténs o que tornou
O teu ser mais feliz. Ainda dás
Tempo ao tempo como antes era, mas
No presente você se transformou.

Não adianta dizer que não pra mim.
Todavia, se estás tão bem, ao fim,
O que resta é te dar os parabéns.

Vá, querida. Mas não se preocupe.
Estou bem. Vá em paz. Não se “desculpe”!
Curta os novos amigos que hoje tens!
14
O segredo de tudo é que, ao final,
O que importa é se tens algo melhor
Pra mostrar. Algo bom. Algo maior!
As riquezas te fazem mais “legal”.

O que tens embevece o pessoal.
O que tens te promove do menor
Ao maior patamar. Põe ao redor
De ti muitos. É algo sem igual!

Te regala! Te enleva! Alça o teu vôo
Não te importes com nada, que o teu show
Não mais pode faltar. Parar não pode.

Há mulheres em volta. Tudo é teu!
Há ofertas sem fim. Você venceu!
Mas o pobre que vês, ninguém acode!
15
Tudo acaba. É preciso dá adeus.
E o fim vem pra causar “desacalanto”.
As jornadas se findam. E é o pranto
Que parece sem fim entre apogeus.

Glórias passam. Se vão. E é nos breus
Da estrada que se acha o desencanto
Que insidia o’existir e traz quebranto
Para os dias felizes teus e meus.

Vão-se risos. Acabam-se estações.
Dão-se casos que evocam emoções
Nada boas. E a vida fica vã.

Não há nada de bom. O fim se achega.
Vaga o ser. E a dor se aconchega
Sobre o peito e faz da’alma o seu divã.
16
Tanto tempo perdido! Tolos planos!
Nuvens ralas. O céu não é mais nosso.
Vão-se as aves. E tudo o que eu posso
Encontrar do que fiz são vagos anos.

Estações sem propósito. Muitos danos!
Muitos erros! E a vida que hoje esboço
É de choro. Do riso eu não me aposso.
Do prazer. Mas recordo os desenganos.

Seca a grama. E a flor perde o verdor.
Sopra o vento que traz o dissabor
De lembrar os tropeços da jornada.

Pôr-do-sol de amargor. Festa sem dança.
Tez ferida. Deslizes sem mudança.
E uma morte, por fim, já esperada.
17
A canção silencia. Pára o vento.
O navio que se perde, não retorna.
Chuvas cessam. Negrura que contorna
O viver. Essa não cessa um momento.

Primavera no fim. O sofrimento
No início. O prazer sem o que o torna
Infinito. A lembrança que transtorna.
O abismo. A distância. Desalento.

Frases vagas. A vida que suspira.
Um arquejo sem força. Uma mentira
De que tudo virá a ficar bem.

A’ilusão que acaba. A desventura.
Alma inquieta. É o fim da criatura
Que pensava poder ir mais além.




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