sábado, 10 de março de 2012

Poetic-Lit - O Jovem Natanael - 1º Parte

1
A noite esconde segredos
E o dever de os revelar
Cabe ao tempo que, na vida,
Tudo pode apresentar
Como apenas uma parte
Do que se quer desvendar.
2
Seguimos nossa viagem
Em busca de emoção:
Prepara-se o ambiente
Para a realização
De uma procura incessante
Pelo que anseia a visão:
3
Manifestações de afeto,
Fatos, conversas sem par,
Romances, queixas, notícias
Capazes de impressionar
Quem as conta e quem as ouve
Dentro ou fora do seu lar.
4
Eis a real odisséia
Da vida em exposição:
Um namoro se inicia,
Tem fim outra relação;
Ou uma notícia-bomba
Causa outra grande “explosão”.
5
No mundo real há sempre
Algo por se revelar.
Pessoas estão sujeitas
A qualquer sorte ou azar.
E assim a vida desvenda
O que antes quis ocultar.
6
Olhe tudo em sua volta.
Diga-me qual a visão
Que você enxerga agora
Em sua contemplação...
Tudo não é tão confuso
E cheio de indecisão?
7
Então navegue comigo
Na vastidão deste mar.
Deixe-me guiar o barco,
Ensinar-te a enfrentar
Tormentas enfurecidas
Que te desejam tragar.
8
Veja o moço da esquerda.
Quanta preocupação!
“A fim de” quem nem o nota
E escravo de uma ilusão,
Expondo a sua estrutura
À desestruturação.
9
Seu nome é Natanael,
Porém é mais popular
Ser chamado de Natã
(Que é pra poder se tornar
Rápida a comunicação
Na hora de conversar).
10
Ele vive em boa casa
Por ter boa condição.
Seus pais são advogados
De ótima reputação.
E, assim, ele vive a vida
Sem ter preocupação.
11
Em um bairro classe alta
É onde fica o seu lar:
Vários carros na garagem
Que não “dá” nem pra contar;
E tudo o que há de mais caro,
Lá é fácil de encontrar.
12
O Cláudio é amigo seu,
Tem a mesma condição,
Senão ainda maior,
E vive de “azaração”
Num dos clubes do colégio:
O Clube de Natação.
13
Aparece certas horas
Quando tá querendo andar.
Chama o Natã pra um “rolê”.
Só pra beber e “boyzar”
E ver se fisga umas gatas
Somente pra se mostrar.
14
Bem, o Natã, mesmo sendo
Levado à situação
De se portar igualmente
A quem “tem como” um irmão,
Não compactua com toda
Sua vã inclinação.
15
Às vezes lhe dá conselhos
Pra tentar lhe motivar
A ver que a sua existência
Parece andar devagar,
Mas acelera; e, afinal,
É melhor se consertar.
16
Mas Cláudio nem leva em conta
O teor do seu sermão.
Diz que o orgulho é pra poucos.
Que é triste a situação
De quem não tem nem orgulho
Pra lhe dar motivação.
17
Vê a soberba por outro
Lado e não quer se negar
A cultivar esse orgulho
Que, diz ele, “é o pulsar
Da vida de quem tem vida,
Mas não pra se lamentar”.
18
Cláudio namora a Sofia.
Mas só por tapeação,
Pra ter uma “coisa” fixa,
Manter a reputação
De estar “pegando” a mais gata
Daquela imediação.
19
Faz natação “por esporte”,
Pois nunca veio a estar
Preocupado com’os treinos.
Vai só quando quer nadar
E se exibir um pouquinho
Na hora que é pra treinar.
20
À Sofia pouco importa
Se tudo é enganação,
Os encontros, o namoro,
Que, ao fim, a reputação
De estar com’o Cláudio supera
O mal da encenação.
21
O negócio é ter a fama,
Mesmo que isso vá custar
Uma perda incalculável
De um tempo que, ao se passar,
Parte deixando a velhice,
Porém não volta a buscar.
22
O Natã, sem namorada,
Às vezes entra em ação
Com’o Cláudio pra ver se encontra
Quem lhe mereça atenção,
Mas finda com quem não vale
Um miserável tostão.
23
“É só esta vez”, repete,
Como em outra, até cansar.
É fraco, influenciável,
Propenso a vir se deixar
Levar por vis investidas
De quem não o quer amar.
24
Anda em busca de um amor,
De alguém sem “enrolação”
Que não o queira na vida
Pela sua condição,
Mas que lhe fale a verdade
Com plena convicção.
25
Como que um conto de fadas
Tivesse um nobre lugar
Na mente desse rapaz
Que só vive pra sonhar
Com’um amor tão desmedido
Que nunca fosse acabar...
26
O Natã sonhava só
Enquanto todos, em vão,
Aconselhavam-lhe sempre
Contra essa sua ilusão
De acreditar num amor
Sem ter dissimulação.
27
“Deixa disso! A vida é dura!
Vai cuidar em se agarrar
Com uma linda mulher
E procura concentrar
As forças naquele amor
Que ela tiver pra te dar”.
28
Só que ele se concentrava,
Mas tinha em seu coração
Algo que o afugentava
Sempre de tal relação
Que parecia verdade,
Mas era só ilusão.
29
Deixar o corpo em conforto
Enganoso e se ferrar
Depois co’a separação
Que nunca iria evitar
Era por demais danoso
Ao seu instinto exemplar.
30
Numa festa juvenil
Alguém, por vil diversão,
Intentou pôr-lhe em engodo
Numa noite de “paixão”,
Volúpia e embriaguez,
Desejo e devassidão.
31
Ele, totalmente bêbado,
Não poderia escapar.
Mas apareceu o Cláudio
E, por se considerar
Culpado daquilo tudo,
Do engodo o pôde livrar.
32
É que uma garota nova,
Mas em plena ovulação,
Tentou “armar” pra o coitado
E, ao vê-lo ali sobre o chão
Do quarto, o assediou
E ele ficou sem ação.
33
Queria uma gravidez
Forçada pra o colocar
Em juízo e lhe extorquir
O que pudesse tirar
E, assim, desfrutar de grana
Sem precisar trabalhar.
34
O Cláudio, que já sabia
Daquele plano e ação,
Encontrou-se arrependido
De toda aquela invenção
E interrompeu a transa
Antes da consumação.
35
Ele pensava em fazer
Natã de fato acatar
A’idéia de que, na vida,
A mulher que a gente achar
Mesmo que inda só um pouco
Amorosa, “é pra casar”.
36
Inda bem que ele evitou
Que naquela ocasião
Seu amigo se ferrasse
Pra sempre por uma ação
Impensada e que o traria
Tristeza e inquietação.
37
Não que o Natã não viesse
A assumir seu lugar
De pai por ocasião
Da menina engravidar,
Mas ficaria envolvido,
Mesmo sem isso esperar.
38
A garota era a Samanta.
Um verdadeiro “avião”.
Perfeita de cima a baixo,
Porém um ser sem noção
Da gravidade dos planos
Que sempre punha em ação.
39
Irmã da Paula Alessandra,
Que só pensava em “farrar”,
Nunca iria achar na vida
Uma influência exemplar
Que a pudesse deixar longe
Daquela vida vulgar.
40
Pensava em achar um homem
Bem vestido em seu carrão
Para então “pegar um bucho”,
Depois se encher do tostão
Ao extorquir o babaca
E sair sem punição.
41
Isso não é novidade.
Está em todo lugar.
É o plano mais usado
Quando não se quer “ralar”.
É só pegar um panaca
E convencê-lo a transar.
42
Claro que sem camisinha,
Que é pra haver condição
De engravidar do otário,
Que se enreda sem razão,
Sujeito a pegar doenças
No ato da penetração.
43
Houve ainda outra festinha
Na casa de um Elimar
Que houvera chegado há pouco
Ali naquele lugar
E pra ficar conhecido
Uma festa ele quis dar.
44
Natã estava na beira
Da piscina por razão
De estar de conversinha
Com’uma “mina”, de roupão...
Mas Cláudio estava na sala
Envolto na “curtição”.
45
Em dada situação
Alguém quis se exaltar.
Mas o Cláudio entrou no meio
Da briga, só pra’apartar
Os conflitantes, porém
Não pôde se controlar.
46
Natã correu da piscina
Pra acabar a confusão.
Se meteu no qüiproquó,
Embora sem intenção
E acabou foi desmaiado
No meio da dissensão.
47
A discussão sem motivo
Teve início no andar
De cima, onde se encontravam
Paula, Samanta e Elimar
E um cara que só estava
Ali mesmo pra brigar.
48
O nome do indivíduo?
Sandro, vulgo “Valentão”.
Deixou as “minas” de lado
Pra se agarrar com o irmão
Da gata que o Elimar
Tava de azaração.
49
E o Elimar quis partir
Pra cima pra ajudar
O irmão da Beatriz,
Que era, naquele lugar,
A “mina” que ele escolhera
Pra tentar desenrolar.
50
A gata gritou: - Ajuda!
E o Elimar, numa ação
Impensada entrou na briga
Com’uma garrafa na mão.
Fora só pra apartar,
Mas findou na confusão.
51
O Cláudio tinha já feito
Amizade no lugar
Com o dono do recinto
E, pra não se acovardar,
Tomou as dores do amigo
E foi pra o meio apanhar.
52
Já Natã, que nunca fora
De briga, viu que a questão
Envolvia o seu amigo,
O qual tinha por irmão,
E decidiu resolver
Aquela situação.
53
Mas só que não deu pra ele.
No final teve o azar
De levar a garrafada
Que Elimar pensava em dar
No valentão de plantão
Que só viera brigar.
54
Foi chamada a ambulância
Pra vir à habitação
Onde se dera o conflito;
E a polícia fez questão
De aparecer no local
Para uma averiguação.
55
Sobrou para o desmaiado,
Pois o que estava a brigar,
O valentão de plantão,
Fugiu pra não se encontrar
Com seu pai que era o “tira”
Que fora àquele lugar.
56
Ninguém quis se explicar.
Até Cláudio, por razão
De ter se envolvido feio
Lá naquela confusão,
Não quis livrar nem a cara
Do amigo ali no chão.
57
Pra ver como é o negócio.
Natã entrou pra apanhar,
Ao ver o Cláudio apanhando,
Mas esse não o quis dar
Um apoio, mesmo o vendo
No chão daquele lugar.
58
A menina da piscina
Poderia, e com razão,
Ser aquela que ele estava
Buscando, na intenção
De poder constituir
Duradoura relação.
59
A garota era prezada
Por todos em singular
Admiração que houvera
Em tempos feito brotar
No coração das pessoas
Que sempre a viam passar.
60
Seu bairro, um tanto distante
Do de Natã, com razão,
Era o motivo dos dois
Ficarem sem condição
De se encontrarem e, ao fim,
Se unirem pela atração.
61
Às coisas do coração
Nada se faz similar.
O Natã ficou de cama
Em um leito hospitalar,
E adivinha quem ficou
Para esperá-lo acordar?
62
Acertou quem disse: a Ana.
E ela chorou sem parar
Ao ver o Natã na maca
E a ambulância a andar
Pra o hospital pra que ele
Pudesse ali repousar.
63
O médico, ao observar
O rapaz, não viu razão
Pra ficar tão abalado
Com’a sua situação,
Mandou pôr algo em seu soro
E saiu sem comoção.
64
Já a garota que, ao lado
Do rapaz quis esperar
Pra fazer todo o possível
Para o poder ajudar,
Não continha as suas lágrimas,
No seu semblante a "rolar".
65
“A menina da piscina”,
Essa era a única menção
Que o menino poderia
Usar na ocasião
De precisar de uma ajuda
Naquela situação.
66
Pensou não haver falado
O seu nome no lugar
Onde conhecera o jovem;
Nem se deu a perguntar
O nome dele que, agora,
Sabia sem o indagar.
67
É que quando o tal rapaz
Chegou pra internação
O médico já tinha pego
Com’alguém da recepção
Seu nome e o proferira
Pra identificação.
68
Por certo os seus documentos
Eles puderam achar
Em posse dele, em seus bolsos,
E puderam’analisar
Seu nome na identidade,
Já no espaço hospitalar.
69
Mas Ana era o nome dela...
Sua identificação
Fora (^) do acesso de todos,
Todavia dele não.
E muito isso a’incomodava,
Lhe causando comoção.
70
Pra recapitulação.
Eu antes ousei falar
Que esse jovenzinho (agora
Em um leito hospitalar)
Alimentava paixão
Por quem nunca o quis notar.
72
Isso é verdade de fato,
Pois tivera a propensão
De ficar a mendigar
Um instante de atenção
A quem não lhe houvera tido
Jamais consideração.
73
Tivera sido a missão
Da sua vida tentar
Achar um jeito eficaz
De enfim poder desfrutar
De um momento de atenção
De alguém que pensava amar.
74
Seu nome, Sandra Cristina,
Mocinha de lar cristão.
Aparentava pureza,
Mas só que na perdição
Já estava mergulhada,
Mesmo após a “conversão”.
75
Era só mais uma hipócrita
Que gostava de pensar
Que por “enrolar” seus pais
E o restante do seu lar
Bem poderia iludir
Quem mais ousasse tentar.
76
Claro que um dos induzidos
Ao erro dessa ilusão
Era o besta do Natã
Que insistia sem razão
Em querer ser enganado
Por causa de uma atração.
77
Mas a Sandra nem ligava
Pra o fato de se encontrar
Em condições de poder
Ao Natã ludibriar
Com seus embustes e farsas
Que sempre ousava em testar.
78
Pra caras como o Natã
Não havia precisão
De se portar diferente
E usar dissimulação,
Que a paixonite dos tais
Já os punha em sua mão.
79
Porém a situação
Tava prestes a mudar.
O Natã tinha ao seu lado
Alguém em quem confiar:
A “garota da piscina”
Que o esperava acordar.
80
Aquela sim era a certa
Pra ter tal dedicação
Ao seu dispor, pois estava
Envolvida em emoção
Verdadeira e duradoura,
Todavia a Sandra não.
81
Os pais de Natã, ao virem
Ao recinto hospitalar,
Encontraram’aquela jovem
Ali sentada a olhar
Pra o seu filho e se sentiram
Bem por ela ali estar.
82
Na recepção haviam
Recebido a’informação
De que aquela jovenzinha,
Que lhe segurava a mão
No leito, estivera ali
Desde a sua internação.
83
Já muitíssimo agradecidos,
Resolveram conversar
Com’a mocinha atenciosa
Para poderem’estreitar
Relações e a conhecerem
Melhor naquele lugar.
84
- Querida, se já quiser
Ir à sua habitação,
Meu marido levará,
Com toda satisfação,
Você pra que não precise
Ter que pegar condução.
85
- Amor, a chave do carro.
- Quer ir agora ao seu lar? –
Pergunta o marido à moça,
Que ainda iria ficar
Pra ver com grande alegria
O rapazinho acordar.
86
Disse ela: - Eu ainda quero
Esperar. Faço questão.
O marido consentiu
Sem fazer objeção,
Mesmo vendo estar bem tarde
E escondendo a apreensão.
87
Passou-se poucos minutos
E, “aí”, puderam notar
Um movimento na cama
Onde estava a repousar
O jovem Natã, há horas,
Sem reação demonstrar.
88
Os pais ficaram contentes,
Cheios de satisfação
Ao verem-no ali desperto
E olhando com gratidão
Para aquela que o ficara
A vigiar com’atenção.
89
Não que ele soubera ali
Por algum dom singular
Que ela o havia ficado
Aguardando despertar,
Mas seu olhar demonstrava
Algo por se analisar.
90
Bem, de certo ele lembrou
Da mocinha por razão
De ter se comunicado
Com ela em ocasião
Passada, naquela festa
Onde houvera a confusão.
91
O médico o examinou.
O pediu pra se virar
Pra ele olhar sua nuca
E assim se certificar
Se o corte em sua cabeça
Já parara de sangrar.
92
Tudo estava bem com’o jovem.
Mesmo assim, por precaução,
O médico pediu pra que ele
Ficasse ali por razão
De ele o desejar deixar
Inda em observação.
93
É bom saber que o rapaz
Pouquíssimo pôde falar.
E foi por isso também
Que o médico intentou deixar
O mesmo ainda em repouso
Naquele âmbito hospitalar. 
94
A “garota da piscina”
Apertou a sua mão,
O abraçou e o deixou
Com sua mãe por questão
De ser tarde e ter que ir
Para a sua habitação.
95
O seu pai com cortesia
Levou-a para o seu lar.
Retornou depois com pressa
Para então poder estar
Com seu filho no hospital
Onde ele iria ficar.
96
Pela manhã os doutores,
Após avaliação
Detalhada do seu caso,
Viram que a situação
Era boa e optaram
Por sua liberação.
97
Assim o carinha pôde
Retornar para o seu lar.
Ainda tinha a cabeça
Enfaixada a lhe causar
Desconforto, mas, enfim,
Tava pronto pra voltar.
98
Após dias muito longos
De uma recuperação
Pra se ver livre das faixas
E pronto pra diversão,
Quis fazer visita à Ana
Pra demonstrar gratidão.
99
A mãe dela, ao recebê-lo,
Mal podia acreditar
Que aquele moço, que a filha
Tanto insistia em citar
Em seus diálogos em casa,
Vir-lha-ia visitar.
100
Bem, eis então uma chance
De uma comunicação
Bem mais comprometedora,
Talvez munida da’ação
De fazer os dois poderem
Dar azo a uma paixão.
101
Ele ficou esperando
A menina se arrumar.
“Por certo era isso que ela
Fazia pra demorar
Tanto como demorara
Para atendê-lo em seu lar”.
102
“Toda garota é assim”.
Disse na’imaginação.
Passou a mão na camisa
E olhou se cada botão
Tava bem abotoado
Pra não dar má impressão.
103
Mas sim, a’impressão foi boa.
Dava pra ver pelo ar
Que ela esboçara de longe,
Já quando o pôde avistar
Ali no sofá sentado
E apreensivo a esperar.
104
- Tudo bem? Cê tá melhor? –
Numa dupla indagação
Ela “quebrou logo o gelo”
E tomou a decisão
De não deixar que o silêncio
“Roubasse” a ocasião.
105
- Tudo certo. Eu tô melhor. –
E agradeceu por estar
Ela tão preocupada
Com ele e por se mostrar
Tão decidida a fazê-lo
Muito à vontade ficar.
106
- Nada disso. Eu só tô sendo
Eu mesma em ocasião
Tão delicada, já que
Sua recuperação
Deu-se faz só poucos dias...
E, é “ótimo”, uma animação!
107
- Vamos a algum local
Bem “legal” pra “se encontrar”...
- Mas nós já nos encontramos!
- É só modo de falar.
Um lugarzinho legal.
Sabe? Só pra conversar.
108
- Eu conheço um bom lugar.
- E a localização?
- Eu te falo no caminho.
- Perdoe a minha tensão.
Há muito eu não vejo alguém
Com tanta motivação.
109
- Como assim? – perguntou ela,
Num riso peculiar.
E ele, ao ouvir a pergunta,
Começou logo a suar.
Foi falar, perdeu a fala.
Começou a gaguejar.
110
Pensava que ela o havia
Achado na intenção
De deixá-la ali sem graça,
Mas todavia isso não
Estava em seus pensamentos
Em nenhuma ocasião.
111
Ela o olhou nervosinho
E o tentou acalmar.
- Calminha. Eu só perguntei
Somente por perguntar.
Vamos? O sol nos espera
Pra’um “passeio à beira-mar”.
112
Depois de tamanha pista
Ele viu, pra’indagação
Que antes fizera, a resposta.
A tal localização
Do canto pra onde iriam
Era o fim do quarteirão.
113
Lá tinha um canto chamado
De “Passeio à Beira-Mar”,
Um restaurante tranqüilo,
Bem legal pra namorar.
E era ali que eles iriam
Sentar-se pra conversar.
114
- Tô sabendo que você
Faz Administração
Na faculdade aqui perto.
Como é? É verdade ou não?
- Sim. É verdade eu estou
Fazendo o curso em questão.
115
- Cê sabe que o seu pai
É muito familiar?
- Como assim? Cê o conhece?
- Mas não pude imaginar
Que ele escondesse uma filha
Tão linda assim em seu lar.
116
Ela corou e tentou
Disfarçar, mas foi em vão.
Natã a notou vermelha,
Então pegou sua mão
E apertou pra dar-lhe apoio
Diante daquela emoção.
117
- Cê tá gelada, menina!
- Que é? Cê quer me esquentar?
- Ah, isso vai depender
Se o seu pai me deixar. –
O clima tava esquentando
Ali naquele lugar!
118
É bom ressaltar que os dois,
Como mostra a narração,
Não se importavam com isso
De ficar na’inibição
Pra dar um tom mais “certinho”
À tal comunicação.
119
Deixavam rolar o clima,
Mas de modo salutar:
Sem quebrar os bons costumes,
Mas sem se preocupar
Também com qualquer besteira
Que alguns pudessem pensar.
120
Eram de fato perfeitos
Um pra o outro; e a relação
Era provável que fosse
Seguir sem indecisão,
Obstáculo, intransigência
Ou vil dissimulação.
121
- Tu vai pra onde nas férias? –
Ela pôs-se a perguntar.
- Vou ficar por aqui mesmo.
E você? Vai viajar?
- A pena é que me parece
Que não vai dar pra ficar.
122
- Sabe? É que meus pais marcaram
Uma viagem... E eu não!...
- Por que tu não diz a eles
Que quer ficar, por razão
De ter pensado outra coisa
Pra fazer por diversão?
123
- É que, bem provavelmente,
Eles vão me pressionar.
Mas de uma forma legal,
Sabe? Para eu não ficar
Longe deles, já que sempre
Eu escolho viajar.
124
- Mas tenta e vê se dá certo.
- Bem... Isso é uma opção.
- Se eles disserem que sim,
Vai ter comemoração.
Ao menos da minha parte...
E da tua parte, não?
125
- É bom que a gente se vê
Por aí pra conversar. –
Desviando um pouco o foco,
Só pra ter o que falar
E pra não deixar o clima
Ir pra outro patamar.
126
Era cedo, isso é verdade,
Mas não havia razão
Pra desanimar de tudo.
Havia ainda a questão
De que não seria agora
Tomada tal decisão.
127
- Mas vai ser daqui uns dias.
Sete dias, a contar
De hoje. Mas vai dar certo.
Bem provável que vá dar.
Mesmo se eu for, logo, logo
Volto. Não vou demorar.
128
- Espero você aqui
Pra gente rir de montão.
Vou te levar pra’umas festas.
Vai ser boa a distração.
- Só diz, e a gente vai.
Tô pronta pra diversão!
129
Depois de um rápido beijinho,
Andaram em direção
Ao carro dele e entraram
Sem pressa, mas (com razão!)
Tendo em vista muito mais
Para aquela relação.
130
Já no outro dia o Cláudio
Ligou pra o seu celular.
- E aí, rapá. O que houve,
Que não deu para eu te achar?
Tu tava onde? Eu te liguei...
Nada de tu retornar!
131
- É que eu tava com’uma gata.
- Ah... Tava na diversão!
Quem foi a gata da vez?
Samanta, aquele “avião”?
Ou foi outra assanhadinha?
Qual foi a da vez, irmão?
132
- É que essa é diferente.
É uma “mina” sem par.
- Mas tu já não tá com ela?
- É só modo de falar!
Essa é muito “gente fina”,
De uma família exemplar.
133
- Já tá amarrado assim?!
É bom pegar o carrão
E dar um rolê legal
Pra tu pegar um montão
De mulher e ver que ela
É só outra diversão.
134
- Ih, rapá isso não é
Coisa nem de se falar.
A menina é “gente fina”...
- Desculpa aí por pensar
Assim. Eu nem refleti.
Falei sem imaginar.
135
- Da próxima então imagina...
Vem cá... E na’internação?
Por que tu não ficou lá?
- Eu tava envolvido, irmão!
Eu disse a Ana pra ir,
Pois não dava pr’eu ir não!
136
Natã tinha se informado
De tudo e quis indagar
O Cláudio só pra saber
Como ele ia se explicar
Por não ir ao hospital
Ao menos pra’o visitar.
137
Ele sabia que o Cláudio
Nem ligara pra questão
De ele ter levado a culpa
De toda aquela tensão
Que houvera naquela festa
Que acabara em confusão.
138
Está armado o cenário
Para uma apresentação
Da verdadeira faceta
Da narrativa em questão
Cheia de tramas e arte.
E é daqui que a gente parte
Para em outra parte entrar.
Deixando tudo ordenado
Pra que neste palco armado
A’história possa atuar.
[Fim da primeira parte]
RF Amaral

Nenhum comentário:

Postar um comentário