1
Quando
a gente encontrar razões pra rir,
Eu
irei te dizer com que é que sonho.
Amanhece,
anoitece em ar tristonho.
Deixa
a vida mudar e hás de me ouvir.
Quando
a gente puder se permitir
Ter
ao menos o básico que proponho,
Talvez
possas me ver bem mais risonho.
Talvez
tudo transmute o existir.
Toma
o trem. Inda é cedo pra sonhar.
Sonharei
eu sozinho. Sei que o lar
Inda
fica na mesma rua triste.
Se
voltares, então meu desengano
Se
fará só engano. E esse é plano!
Só
que a dor desta vida ainda insiste.
2
Alguns
pensam ser eu um descabido.
Mas
sou só mais um cara realista.
Se
se apagam as luzes, eis a pista
Posta
em trevas. Não há outro sentido!
E,
se a vida apresenta o mais descrido
Parecer,
eu não vou ser populista.
Que
descordem de mim! Isso é simplista,
Mas
a pura verdade, e sem partido.
Os
asseclas me vão dizer bobagens.
Nada
mais a ouvir! Suas roupagens
Opulentas
não compram meu saber.
Sigo
inócuo por campos já vazios.
Vejo
a norte o sossego dos bravios.
Tenho
a frente o sossego do prazer.
3
Ando
bem, mas me iludo quando rio.
Eis
o tempo pra vir pôr fim em tudo.
Melhor
fora ficar parado e mudo
Que
encontrar alegria em ar vazio.
Mas,
ainda que queira, meu estio
É
chuvoso. E o erro faz-se escudo.
Nada
é nada. Prossigo inda “sisudo”,
Mas
o flerte do acaso é arredio.
Um
prazer, uma chance, a fantasia...
Mas,
ao fim, tudo é dor, que o dia-a-dia
É
um “antro” de mágoas e pesar.
“Finda
tudo na mesma. Entenda isso!”
Sei
que finda, mas sempre submisso
Eu
estou ao prazer do “lupanar”.
4
Quem
te disse pra seres infeliz?
Quem
falou pra sorrires nesta vida?
Olha
tudo e contempla a dor sentida
Pelo
tudo que intenta planos vis.
Eis
os porcos e as garças, os ardis.
O
alvor nada tem da’embraquecida
Sã
pureza dos céus, a sã guarida
Da
Verdade, que, o mal ver, nunca quis.
Tudo
bem, sei que sigo a minha estrada.
Sei
que insisto, apesar da caminhada
Ser
bastante propensa à confusão.
Tenha
calma! Que a simples a consciência
Do
sofrer não destrói a insistência
De
viver, apesar da ilusão.
5
Tudo
acaba. Findou! Se foi! E onde
Acharás
algo eterno? Só Jesus.
Tudo
esgota. Acabou! E onde é que eu pus
Meus
sapatos à tarde? Me responde!
Onde
estava o teu riso? Corresponde
Ao
vazio desta vida que reluz
Por
um pouco de tempo e nos conduz
A’ilusão
que, no errado, o certo esconde.
Tudo
bem, há prazer nesta existência.
E
eu não teimo perante a consciência
Dos
sorrisos efêmeros do existir.
Mas
se tudo é “doente” e passageiro,
Como
irei me alegrar? Se, de janeiro
A
janeiro, inda há dor a persistir?
6
Vou
à rua buscando distrair-me.
Mas,
em tudo, o esplim se faz presente.
Digo
ser diferente, e diferente
Deveria
dizer pra corrigir-me.
Eis
que tudo é só tédio a consentir-me
Vis
momentos de vida impertinente.
Tudo
é dor! E se omite o ser que mente
Pra
si mesmo, a sorrir, pra iludir-me.
Vendo
o caos do silêncio, permaneço
Lamentando.
E é forte o que padeço.
O
meu peito mal bate. O sangue é frio.
É
nos olhos do tempo que virá
Que
eu pretendo encontrar o que irá
Transformar
este mundo tão vazio.
7
A
caminho de casa eu me incentivo
A
pensar sobre a vida e localizo
Uma
idéia perdida ante o que viso
Responder.
Meu silêncio é decisivo.
Há
estrelas no céu. E eu, impulsivo,
Me
inclino aos meus planos. Já diviso
Uma
luz ante as trevas. Somatizo
O
que a fé traz à mente. Eis que preciso*.
Foco
dias de paz. Faróis à frente.
Marco
datas. Feliz sou, tão-somente
Ponho
em prática alvos sonhos que esqueci.
Se
me lembro, sorrio. Tenho a certeza
Que
estarei bem. E o prêmio é a “surpresa”
Que
o porvir me reserva, e em sonhos vi.
8
Meus
dezembros passaram. E os janeiros
São
tristonhos demais pra que eu sorria.
Olho’a’estrada:
O caminho é de agonia.
Olho
o céu: Há sorrisos passageiros.
Nada
fica. Os deleites prazenteiros
São
fugazes demais pra que eu, em dia
Tão
veloz, me desvie da alegria
Que
é buscar por prazeres sobranceiros.
O
pulsar desta vida é subalterno
À
vil exigüidade. O ar eterno
Só
se inspira em uma outra atmosfera.
As
canções já não duram. Filmes belos.
Tudo
é fraco e fugaz “feito” os anelos
Desta
vida, assassina da quimera.
9
Queres
mais. Dá pra ver no teu olhar.
O
que queres é grande como os céus.
Te
entristeces. Não tens. Nem os troféus
Que
ganhaste puderam-te aplacar.
Agonia
é não ter. Tens um pesar
Por
não teres. E os sonhos, como réus,
São
trazidos a júri. Os escarcéus
São
desejos sonhados ao luar.
Já
não dormes. Não andas. Não há dia.
E
a tarde, o que é? “Desalegria”!
O
viver o que é? “Desaventura”!
Morrerás
logo, logo. Inda que cem
Anos
vivas. Não há paz em ninguém
Que
não tem o que quer. “A vida é dura!”
10
Um
balé de tristezas se apresenta
No
palanque da vida do que tem
Um
viver por viver e não se atém
À
certeza da fé que o ser sustenta.
Perfeições
não existem na sedenta
Existência
em que vives. Não há quem
Possa
vê-la. Porém o ser mantém
O
desejo de tê-la (e não se isenta!).
“Indifere”
o negar, que o coração
Não
se nega a visar a perfeição.
É
desejo de todos. Dentro está.
Vaga
a mente à procura de conforto.
Não
encontra. E desfecha em absorto
Desalento
que não se findará.
11
Como
olhar para a vida co’outros olhos?
Eis
a dor adiante. O desprazer.
Um
tormento sem fim. Tudo é viver
Sempre
imerso de mágoas e de abrolhos.
Há
amor de mulher. Mas há escolhos
Até
nesse. O desfecho é o sofrer.
Há
riquezas. Porém todo poder
Não
é mais do que palha atada em molhos.
Nem
riqueza e “status” podem dar
Um
prazer sempiterno nem doar
Um
sentido moral à existência.
Volta
o feno ao seu feixe. O peito ao choro.
O
viver ao sepulcro. O vil “deploro (^)”
Aos
instantes fugazes de vivência.
12
Ricos
riem. E a plebe se lastima.
Todos
querem fartura. Isso é comum!
Mas
há dias de dor pra qualquer um.
Não
se foge. Não há quem a suprima.
Pra
que a vida do ser não se exima
Do
sofrer, não existe ser nenhum
Que
não queira demais. E há sempre algum
Vão
desejo que muito o subestima.
Um
desejo, um querer, um vago anseio...
Sempre
há um. Outros vêm. E eis o receio
De
não ter o que almeja o ser inquieto.
Ficar
sem é penar. Mas ficar com
Não
te basta, porque não há tão bom
Que
não possa ser mais alto e completo.
13
A
vontade é a mola do viver.
O
querer predomina em qualquer vida.
É
de anseios que vives. Eis a lida.
Tudo
é dor. Opções, o desprazer.
Farás
tu certa escolha? O teu sofrer
Já
precede o teu erro. E a guarida
Do
penar é a dúvida permitida
Pela
vida cruel que aflige o ser.
Nem
poemas, nem cânticos, nem luxúria...
Nada
pode isentar-te da lamúria
Desta
vida sedenta e sem sentido.
Eis
aí o porquê de haver um Deus
De
justiça perfeita... Mas só teus
Planos
bobos não têm te convencido!
RF Amaral
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