quinta-feira, 8 de março de 2012

Outros Sonetos - 2º Parte

1
Quando a gente encontrar razões pra rir,
Eu irei te dizer com que é que sonho.
Amanhece, anoitece em ar tristonho.
Deixa a vida mudar e hás de me ouvir.

Quando a gente puder se permitir
Ter ao menos o básico que proponho,
Talvez possas me ver bem mais risonho.
Talvez tudo transmute o existir.

Toma o trem. Inda é cedo pra sonhar.
Sonharei eu sozinho. Sei que o lar
Inda fica na mesma rua triste.

Se voltares, então meu desengano
Se fará só engano. E esse é plano!
Só que a dor desta vida ainda insiste.
2
Alguns pensam ser eu um descabido.
Mas sou só mais um cara realista.
Se se apagam as luzes, eis a pista
Posta em trevas. Não há outro sentido!

E, se a vida apresenta o mais descrido
Parecer, eu não vou ser populista.
Que descordem de mim! Isso é simplista,
Mas a pura verdade, e sem partido.

Os asseclas me vão dizer bobagens.
Nada mais a ouvir! Suas roupagens
Opulentas não compram meu saber.

Sigo inócuo por campos já vazios.
Vejo a norte o sossego dos bravios.
Tenho a frente o sossego do prazer.
3
Ando bem, mas me iludo quando rio.
Eis o tempo pra vir pôr fim em tudo.
Melhor fora ficar parado e mudo
Que encontrar alegria em ar vazio.

Mas, ainda que queira, meu estio
É chuvoso. E o erro faz-se escudo.
Nada é nada. Prossigo inda “sisudo”,
Mas o flerte do acaso é arredio.

Um prazer, uma chance, a fantasia...
Mas, ao fim, tudo é dor, que o dia-a-dia
É um “antro” de mágoas e pesar.

“Finda tudo na mesma. Entenda isso!”
Sei que finda, mas sempre submisso
Eu estou ao prazer do “lupanar”.
4
Quem te disse pra seres infeliz?
Quem falou pra sorrires nesta vida?
Olha tudo e contempla a dor sentida
Pelo tudo que intenta planos vis.

Eis os porcos e as garças, os ardis.
O alvor nada tem da’embraquecida
Sã pureza dos céus, a sã guarida
Da Verdade, que, o mal ver, nunca quis.

Tudo bem, sei que sigo a minha estrada.
Sei que insisto, apesar da caminhada
Ser bastante propensa à confusão.

Tenha calma! Que a simples a consciência
Do sofrer não destrói a insistência
De viver, apesar da ilusão.
5
Tudo acaba. Findou! Se foi! E onde
Acharás algo eterno? Só Jesus.
Tudo esgota. Acabou! E onde é que eu pus
Meus sapatos à tarde? Me responde!

Onde estava o teu riso? Corresponde
Ao vazio desta vida que reluz
Por um pouco de tempo e nos conduz
A’ilusão que, no errado, o certo esconde.

Tudo bem, há prazer nesta existência.
E eu não teimo perante a consciência
Dos sorrisos efêmeros do existir.

Mas se tudo é “doente” e passageiro,
Como irei me alegrar? Se, de janeiro
A janeiro, inda há dor a persistir?
6
Vou à rua buscando distrair-me.
Mas, em tudo, o esplim se faz presente.
Digo ser diferente, e diferente
Deveria dizer pra corrigir-me.

Eis que tudo é só tédio a consentir-me
Vis momentos de vida impertinente.
Tudo é dor! E se omite o ser que mente
Pra si mesmo, a sorrir, pra iludir-me.

Vendo o caos do silêncio, permaneço
Lamentando. E é forte o que padeço.
O meu peito mal bate. O sangue é frio.

É nos olhos do tempo que virá
Que eu pretendo encontrar o que irá
Transformar este mundo tão vazio.
7
A caminho de casa eu me incentivo
A pensar sobre a vida e localizo
Uma idéia perdida ante o que viso
Responder. Meu silêncio é decisivo.

Há estrelas no céu. E eu, impulsivo,
Me inclino aos meus planos. Já diviso
Uma luz ante as trevas. Somatizo
O que a fé traz à mente. Eis que preciso*.

Foco dias de paz. Faróis à frente.
Marco datas. Feliz sou, tão-somente
Ponho em prática alvos sonhos que esqueci.

Se me lembro, sorrio. Tenho a certeza
Que estarei bem. E o prêmio é a “surpresa”
Que o porvir me reserva, e em sonhos vi.
8
Meus dezembros passaram. E os janeiros
São tristonhos demais pra que eu sorria.
Olho’a’estrada: O caminho é de agonia.
Olho o céu: Há sorrisos passageiros.

Nada fica. Os deleites prazenteiros
São fugazes demais pra que eu, em dia
Tão veloz, me desvie da alegria
Que é buscar por prazeres sobranceiros.

O pulsar desta vida é subalterno
À vil exigüidade. O ar eterno
Só se inspira em uma outra atmosfera.

As canções já não duram. Filmes belos.
Tudo é fraco e fugaz “feito” os anelos
Desta vida, assassina da quimera.
9
Queres mais. Dá pra ver no teu olhar.
O que queres é grande como os céus.
Te entristeces. Não tens. Nem os troféus
Que ganhaste puderam-te aplacar.

Agonia é não ter. Tens um pesar
Por não teres. E os sonhos, como réus,
São trazidos a júri. Os escarcéus
São desejos sonhados ao luar.

Já não dormes. Não andas. Não há dia.
E a tarde, o que é? “Desalegria”!
O viver o que é? “Desaventura”!

Morrerás logo, logo. Inda que cem
Anos vivas. Não há paz em ninguém
Que não tem o que quer. “A vida é dura!”
10
Um balé de tristezas se apresenta
No palanque da vida do que tem
Um viver por viver e não se atém
À certeza da fé que o ser sustenta.

Perfeições não existem na sedenta
Existência em que vives. Não há quem
Possa vê-la. Porém o ser mantém
O desejo de tê-la (e não se isenta!).

“Indifere” o negar, que o coração
Não se nega a visar a perfeição.
É desejo de todos. Dentro está.

Vaga a mente à procura de conforto.
Não encontra. E desfecha em absorto
Desalento que não se findará.
11
Como olhar para a vida co’outros olhos?
Eis a dor adiante. O desprazer.
Um tormento sem fim. Tudo é viver
Sempre imerso de mágoas e de abrolhos.

Há amor de mulher. Mas há escolhos
Até nesse. O desfecho é o sofrer.
Há riquezas. Porém todo poder
Não é mais do que palha atada em molhos.

Nem riqueza e “status” podem dar
Um prazer sempiterno nem doar
Um sentido moral à existência.

Volta o feno ao seu feixe. O peito ao choro.
O viver ao sepulcro. O vil “deploro (^)”
Aos instantes fugazes de vivência.
12
Ricos riem. E a plebe se lastima.
Todos querem fartura. Isso é comum!
Mas há dias de dor pra qualquer um.
Não se foge. Não há quem a suprima.

Pra que a vida do ser não se exima
Do sofrer, não existe ser nenhum
Que não queira demais. E há sempre algum
Vão desejo que muito o subestima.

Um desejo, um querer, um vago anseio...
Sempre há um. Outros vêm. E eis o receio
De não ter o que almeja o ser inquieto.

Ficar sem é penar. Mas ficar com
Não te basta, porque não há tão bom
Que não possa ser mais alto e completo.
13
A vontade é a mola do viver.
O querer predomina em qualquer vida.
É de anseios que vives. Eis a lida.
Tudo é dor. Opções, o desprazer.

Farás tu certa escolha? O teu sofrer
Já precede o teu erro. E a guarida
Do penar é a dúvida permitida
Pela vida cruel que aflige o ser.

Nem poemas, nem cânticos, nem luxúria...
Nada pode isentar-te da lamúria
Desta vida sedenta e sem sentido.

Eis aí o porquê de haver um Deus
De justiça perfeita... Mas só teus
Planos bobos não têm te convencido!

RF Amaral

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