sexta-feira, 28 de novembro de 2014

A História da Minha Vida - Fragmento 5 - Felipe Amaral

Fragmento 5
 

    Lembro dos fins de ano passados em meu lar. Chamava os mais chegados amigos. Fazíamos a festa, mesmo sem muito requinte. Conversávamos por horas. Tudo começava às sete e meia ou oito da noite. Tomávamos todo o tempo falando de como foi o ano. Ríamos muito. Só depois das doze, pegávamos um carro para Água Branca. Abríamos o champanhe sempre antes de irmos. Mas tudo fica para trás e temos que entender mudanças. Aprender com elas. Viver de olho na estrada à frente. Às vezes o saudosismo erra. Sou um calejado saudosista que já falhou muito. É que o passado, às vezes, inebria-me.
    Por falar em "inebriar", há uma garota no meu "facebook" que está despertando em mim algo que não sentia há muito. Ela não é uma modelo. Sua perfeição é módica, mas seu riso cativa. Mas ela é linda. É linda. Gosto de fitar seus olhos nas fotografias. Adicionei-a faz pouco tempo. Ela começou a dar-me estranha atenção quando me vê na rua. Achei o máximo. Não poderia deixar de adicioná-la. Mas ainda não tive coragem de chamar a sua atenção. E é nesse meu hesitar constante que eu noto o quanto tenho medo de ser reprovado. Há pessoas que nem ligam. Finjo não ligar, mas, no fundo, ligo. Se ela, ao menos, fizesse algo escancarado...
    Não irei a muitas formaturas neste ano. Creio que meus dias de formatura estão por aniquilarem-se. Mas você diz: Bailes?! E eu digo: Não há bailes aqui. Há só artistas que se dizem forrozeiros de verdade, mas não passam de misturebas da moda musical rotulada que tocam sempre com a pior intenção possível. A intenção do que toca preocupa-me. Deve ser por isso que tanto critico o EMO. É um estilo para angariar atenção, mas não doar verdade. Dos trejeitos vocais às indumentárias, tudo não passa de show. Mas a vida não é um show constante! E, quando se acorda para a realidade, o que se tem é um bando de moços de cabelo estranho competindo por atenção entre as patricinhas do "rock". Isso nunca será música. É só o sistema. Só o show, sem a realidade. Mas não que isso não aconteça com outros gêneros musicais rotulados. A ruim e velha competição pela atenção. Na verdade, tudo se resume a má e velha busca por "status". Deve ser por isso que tantos fazem Direito ou Medicina. Os EMO's são como estes. Só que na "música".
    A tola atenção que dou à minha opinião, muitas vezes coloca-me em maus momentos. Há quem esbraveje comigo. Há quem saia com raiva. Há quem demonstre repulsa. O que as pessoas querem mesmo é viver do jeito que a maioria ditar. Há quem dite o certo. Nunca será o indivíduo certo a ditá-lo. Não sei por que, mas nunca é. O que o povo quer mesmo é que jamais seja. O certo é sempre cafona! Retrógrado. Piegas. Sei lá! O correto não agrada. A massa quer a confusão. Ela aspira ao caos. Não adiantaria lutar. Estou há algum tempo neste mundo para ter tido um tempo voltado para tentar saber disso. Tentar resignar-me. É triste, mas é a verdade.
    Não deixando de lado coisas tais, vejo-me impressionado com as meninas que crescem e, logo, viram desencaminhadas. São tantas. Ficarias estupefato (a) com o número. É crescente. O que vinga é mesmo a vulgaridade.
    Estou prestes a enlouquecer com a cobrança ditatorial deste mundo. Não prezo a canseira intensa. Não gosto de dores de cabeça. Não me envolvo com coisas que não são as da minha área do conhecimento. Meu cérebro obriga-me a recusar ofertas. Diante disso, penso sobre o quanto a propensão natural que temos pode ditar nossas vidas. Facilidades que temos em algumas áreas. Prazer que temos de estudar determinados assuntos. Isso vem de berço. Parece nos aprisionar, mas - creio eu - que, ao final, não nos encarcera, guia-nos. Se dissesse para mim mesmo que faria algo estranho ao meu pendor, estaria mentindo. Acho que nunca o fiz, quando não obrigado. A escola impôs-me infinitas exceções. Mas ela me prenderia por pouco tempo. Libertei-me das amarras que impediam movimentos espontâneos. Não que a escola não tenha me ensinado coisas importantes. Mas o amontoado de questões que coloca diante de todos nós a todo tempo não nos dá tempo nem de respirar, "que dirá" de aprender de fato. Era preciso dizer para os doutrinadores que emaranhados nunca poderão dar à luz os simples. Quando na escola, não o disse. Agora quero dizer constantemente. Falta-me a sala de aula. Falta-me o levantar da mão. Falta-me a terceira carteira da fila do meio. Falta-me espaço. Falta-me vontade de retornar a uma sala de aula. Estou perdido! Será que o futuro depende mesmo disso? Será que é só eu que estou errado mesmo? E, isso, não que eu não estude dia após dia. Mas tudo que faço não tem valor algum para o mercado. Posso tocar, compor, cantar, escrever, recitar, fazer arranjos harmônicos dissonantes para canções simples... Nada tem valor! Seria uma perseguição? Não consigo parar de ser eu. Quem poderá me defender? Quem há de ir por mim? De vir por mim? Ó Deus, tem misericórdia da minha pobre alma inconformada com a cópia. Tem piedade de mim. Só o Senhor para me ajudar nessa hora. Desespero-me. Sou só um humano. Humanos são assim mesmo. Perdido estou entre sombras angustiantes. Entre gritos de miséria. Entre leitos de lágrimas. Por que tem que ser assim? Quem ditou as regras? E, quando não há estipulado nada sobre o que é, verdadeiramente, certo ou errado? Como agir? Copiar? Um pedreiro dispõe-se a construir, um poeta dispõe-me a poetificar a vida. Nada errado. Tudo é escolha. Mas quando o poeta é esquecido, como um cachorro na sarjeta imunda, a vida cala e o fedor do viver mecânico toma o ar. Favor não me obrigar a deleitar-me com coisa tal! Gosto de andar bem perfumado.

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