sexta-feira, 28 de novembro de 2014

A História da Minha Vida - Fragmento 3 - Felipe Amaral

Fragmento 3

    Deixei-me guiar por sentimentos na vida, em vários momentos. Adormeci sobre plumas; e acordei nas nuvens. Tipos de fraseados como este são típicos dos amantes.
    Românticos genuínos são raros. Não são de fazer muito sucesso, a não ser que tenham uma boa aparência e bastante dinheiro para rasgar. E, convenhamos, os que têm muita grana não estão nem aí para algo que significaria mostrar-se vulnerável. Os afortunados e de boa aparência estão rodeados de mulheres como de taças de champanhe e amigos oportunistas. Não ligam para isso de fiel sentimento.
    As músicas falam - quando têm poéticas letras - do amor com tal propriedade que chega a ser espantoso. Mas descrevem, não a realidade, mas a fantasia inexperienciável. Não que eu queira com isso dizer que não podemos viver um amor verdadeiro. Podemos! Porém nunca ninguém viverá, dia após dia, o que propagam as canções e filmes adocicados. A rotina existe! O que é corriqueiro mata o que é mágico. E o suportar o cotidiano, isso sim, é o verdadeiro amor.
    Houve uma menina. Seu nome? Perdoe-me não poder mencionar. Ela era tão doce! Hoje está um pouco diferente. Vi-a passar em frente à praça central. Num passado não muito distante, eu me vi envolvido em sentimentos com ela. Dar-lhe-ei um nome fictício para que possa seguir a narrativa mais delimitadamente.
    Vívia era um céu em flor. Gostava de ser diferente também. Tinha um anel no polegar. Um riso jovial nos lábios e um monte de sonhos por realizar.
    Hoje a vejo mais séria. Fita-me com olhos quase que arregalados! Talvez a rotina tenha-a deixado mais propensa à tal transformação, que aconteceu - creio eu - regada com muito suor e lágrimas. Não queria que isso lhe tivesse sobrevindo! Sofro por vê-la tão adulta! Penso que a maturidade não precise ser, necessariamente, a perda da meiguice. Sei que muitas mulheres feitas se dizem meigas, porém não acredito muito nelas, não.
    Vívia foi chegando aos poucos. Um amigo nos apresentou, em um dia que tiramos para "passarmos" umas músicas minhas no violão. E o ela ter vindo à minha casa deve ter-se devido a algum convite prévio desse meu amigo também! Foi chegando, chegando e, de repente, eu estava envolvido em amores.
    Lembro ter que acordar de manhã para pegá-la na escola e levá-la em casa. Para mim sempre fora desconfortável acordar de manhã. Estudei uma pequena parte da minha vida em período matutino. Quando estudava à tarde, ainda tinha por costume o acordar de manhã. Mas, quando passei para o período escolar noturno, deixei de acordar cedo. E, quando eu me envolvi com a Vívia, eu já estava formado! Não queria acordar de manhã de jeito nenhum! Nem quero hoje!
    Ao parar de ir buscá-la na escola, por pura negligência, demonstrei falta de afeto para com ela. Ela revoltou-se. Tinha toda a razão! Sou um bruto mesmo! Senti muito perdê-la. Acho que só pensei em mim. Na verdade, eu queria poder sair com ela à noite. Por causa dos seus pais - se eu me lembro bem - ela não podia sair à noite. Era um tanto nova! Mas - penso eu - dezesseis já é idade para se sair à noite! Ora bolas! Tudo bem. Nossa história acaba aqui. Findou-se em poucos meses, por isso só conto relacionamentos como sendo eu um simples "ficante", não um namorado. Vívia foi a de maior tempo... E o sol, raiando ao meio-dia, fez murchar a rosa.

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