sexta-feira, 28 de novembro de 2014

A História da Minha Vida - Fragmento 4 - Felipe Amaral

Fragmento 4

    Não consigo, no presente momento, contemplar o céu noturno e as estrelas refulgentes sem pensar o que estou fazendo com a minha vida. Talvez devesse mesmo fazer o que todos fazem com ela. Ser comum. Vergar a vontade e me entregar ao marasmo cotidiano imposto pelo sistema que respira à roda de mim.
    Fiz uns concursos. Não passei. Disso tiro o tamanho da minha burrice. E será que o meu destino fora escrito mesmo antes de eu nascer? Embora já tenha me inquirido a respeito disso, nunca cri que um concurso seja solução para tudo. A estabilidade pode vir de onde menos se espera. Mas a cidade carece de boas oportunidades...
    Diante de pensamentos inquietantes, coloco o amor que sinto por ser poeta (modéstia à parte!). Porque, por ser poeta, sinto o amor. Os sentimentos levam-me a olhar a vida com outros olhos. A ver o impossível. Acho que Cruz e Sousa também deveria se sentir assim, em muitos momentos da sua tão aflitiva existência. Augusto dos Anjos também. Tomara Deus, não morra na miséria!
    Esse amor que sinto faz-me imaginar cenas românticas que o cinema teria inveja por não as ter exibido. Eu vivo muito comigo mesmo. Ando comigo (e Deus!). Solitário sou, mas minha mente parece um turbilhão de pessoas falando ao mesmo tempo. Pena é que, quase sempre, a voz da revolta é a única que se destaca em meio ao burburinho. Queria não ser assim, mas sou. Revolto-me com o fato de não ver chances abundantes para todos. Para que não vivam se matando. Para que aceitem competições; sem nenhum rancor sentirem, diante da perda. O mundo é louco! E, enlouquecidas, as pessoas fazem-se lacaios idolatrando seu mestre. O mundo é mesmo louco!
    Escreverei sonetos por toda a minha vida. Não consigo me livrar destas rimas que me afogam as idéias. São tantos. Não os decoro. Nem consegui, de modo algum, granjear admiradoras com as suas quatorze linhas. Nunca mesmo. Os clássicos morreram! O que resta agora é a ostentação. É o declínio.
    Estava pensando em arranjar uma garota. A inspiração tomar-me-ia de assalto. Sempre toma, quando o assunto é mulher. Mulher é algo açucarado. Da sua espádua sorvo a verve. Do seus lábios, a seiva poética do riso. Ah, os seus seios! São como o regato onde o sedento encontra sobrevivência. Estava pensando... Mas hesito sempre frente à realidade devastadora de sonhos. Frente ao ar pesado. Frente às músicas de baixo calão. Frente a frente com o medo de ser apenas um bobo. O amor é difícil. O que veneram por aí é a atração sexual. Nada parece certo. E eu paro. Revolto-me e não quero mais pensar sobre isso. Vou à praça e esqueço... esqueço que o tempo passou para mim.

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